Luz dos Jedi

Luz dos Jedi (Star Wars: The High Republic) – Charles Soule

Tradução: Leonardo Alvares – Editora: Universo dos Livros

Ano de Lançamento: 2021 – Minha Edição: 2022 – 416 páginas


No início dos eventos de A Ameaça Fantasma temos precisamente o ponto de virada do auge dos Jedi para o seu declínio: acompanhar a história de como a Federação de Comércio apareceu e criou uma crise em planeta pouco relevante a ponto de derrubar o governo da República, usando os Jedi como peões, nos mostrou como dentro do regime e da ordem dos cavaleiros todos os motivos da sua queda já estavam lá: arrogância, prepotência, miopia… entretanto, como era antes disso? Na série de Livros sobre a Alta República vamos explorar o real auge dos Jedi, seres de luz, paz e justiça que ajudam o desenvolvimento da galáxia.

Neste primeiro livro acompanhamos a história do “grande desastre do hiperespaço“, ocorrido cerca de 200 anos antes do episódio I, quando bilhões de mortes são causadas por um fenômeno inexplicável: centenas de objetos não identificados começam a sair do hiperespaço em pontos aleatórios da galáxia, como se fossem cometas próximos à velocidade da luz. Em sua rota estão estações espaciais, luas e planetas cuja população não sobreviveria a esses impactos.

Os Jedi são acionados para ajudar no que for possível no sistema Hetzal, altamente populoso, alvo de dezenas desses fragmentos hiperespaciais. Os cavaleiros calharam de estar lá por perto pois voltavam do “Farol da Luz Estelar“, uma ambiciosa estação espacial que está em vias de ser inaugurada na Orla Exterior, e representará um novo passo na integração de toda a Galáxia à República.

A estrutura narrativa do livro é curiosa: o terço inicial é totalmente dedicado a operação de salvamento e resgate em diversos pontos de Hertzal, são 18 capítulos quase que simultâneos, apresentando aquela grande tragédia a partir de diversos pontos de vista. Particularmente, gostei muito desse início, uma opção trabalhosa, o que não é comum em trabalhos licenciados.

Fica bem difícil acompanhar os personagens, ainda mais com os nomes malucos de Star Wars. Já imaginava que nem todos ali seriam importantes mas ressalvas devem ser feitas para como esse começo de muitos personagens, e nem todos interessantes; algo que fica agravado por uma escolha de usar seres de diferentes espécies do universo ficcional. Tenho um conhecimento acima da média do lore de Guerra nas Estrelas, mas a maioria das raças dos personagens não reconheci e isso atrapalha na identificação de quem é quem – algo que repete-se por todo o livro.

A estória depois segue de uma forma mais linear na investigação do que causou esse incidente, o que por si só não é um problema, entretanto as coisas passam a se arrastar um pouco mais. É muito legal ver os Jedi no auge, os verdadeiros guardiões da paz e da justiça na galáxia, que só não são capazes de fazer chover… opa, até isso eles conseguem. Também é interessante ver a República em situação equivalente, buscando uma integração real e nobre de todo a Galáxia ao regime.

Isso exige, por sua vez, outros fatores para contrabalancear a bondade extrema de um lado; e aí entram os vilões, os Nihil. Representando a pura maldade em total anarquia – em oposição a busca pela organização dos heróis – eles são um grupo de piratas espaciais que não respeitam nem desejam ordem ou orientação, nem mesmo entre si. Apenas querem pilhar, extorquir e roubar.

Esse arquétipo não me prende, acho sempre juvenis – e me lembraram muito os Kazon de Jornada nas Estrelas: Voyager, igualmente bobos. Vilões sem objetivos e dispersos, sempre com a fraqueza óbvia do individualismo. Tentando não revelar muito mais que o necessário, a estória de Luz dos Jedi é menos sobre os cavaleiros e mais sobre a transição desse inimigo, os Nihil, para algo novo e mais ameaçador. Eles são os protagonistas da estória.

Meticulosamente planejada, a iniciativa editorial da Alta República compreende livros e revistas em quadrinhos – em segundo plano a série A Acólita – e este parece ser o pontapé inicial para estabelecer os grupo de piratas anárquicos como o grande inimigo dessa nova Era do universo Star Wars. Este começo tem potencial, mas não me prendeu totalmente. O final do livro e integralmente dependente da muleta do vilão que sabia e planejou tudo desde o começo, quase que jogando xadrez consigo mesmo.

Nem de longe o livro te convence que era isso que ocorria desde a primeira página, e acaba deixando a imagem dos vilões sendo ameaçadores apenas pela necessidade de sê-los. Não importa o que os heróis façam, os antagonistas sempre estarão um passo a frente, uma espécie de plot armor ao contrário. Isso é especialmente prejudicial aqui pois observando bem, Luz dos Jedi não é uma história sobre os cavaleiros e sim sobre os Nihil. Sobre como poderia existir uma ameaça à Ordem e à República em sua era mais dourada; e essa proposta ainda não ficou bem consolidada.

Bom (3/5)

O pontapé inicial dessa empreitada da Alta República é menos sobre os Jedi e mais uma história dos vilões, originais deste livro, mas que ainda precisam de muito mais para se consolidar – e fazer com que nos preocupemos com eles.

Iniciativa Multidisciplinar: em 2018 a LucasFilms convidou 5 autores, veteranos de trabalhos com Guerra nas Estrelas, para criar uma nova Era dentro do universo ficcional, com a sugestão da Alta República. Em oposição à Velha República, no qual os Sith eram uma ameaça constante, o auge do regime deixaria o caminho livre para a Ordem Jedi explorar a galáxia e compreender melhor a Força.

Foram previstas originalmente três fases, de um ano cada, a partir de 2021, tudo iniciado por esta obra. A espinha dorsal são os livros, as “novels“, que orientam os passos gerais desse período histórico do universo ficcional; em conjunto com as revistas em quadrinhos que exploram pontos mais específicos. Mas também há livros para adolescentes e crianças, que compõe esse novo universo. Ainda há áudio dramas, webséries, contos e, em especial, as séries de TV: os Jovens Jedi e a polêmica A Acólita.

Todos os livros principais da fase um foram lançados no Brasil, e parcialmente as histórias em quadrinhos, todas pela editora Universo dos Livros (sob o selo universo Geek) e pela Panini. Ainda não há previsão da edição de obras da segunda fase – quatro livros lançados entre outubro de 2022 e maio de 2023.

Hiperespaço: este é um dos raros trabalhos que tenta explicar mais ou menos como funcionam as viagens interplanetárias de Star Wars. Provavelmente um dos piores pontos do desenvolvimento do universo ficcional da saga são suas viagens e tempos de deslocamento; ir de um local a outro da galáxia em horas, como o fazem por lá, é algo inimaginável.

Uma das principais vantagens dos vilões deste livro é com relação ao uso do hiperespaço. Ele é explicado como a nave viajando em uma “bolha de nada”. Fora do espaço comum, ele funcionaria como um atalho capaz de distorcer as dimensões do espaço do tempo – quase como um buraco de minhoca. No universo de Star Wars, o uso do hiperespaço é arriscado pois esse atalho precisa ser milimetricamente calculado para você não sair dele em locais indesejados, e portanto maioria das viagens são realizadas nas “hipervias” (hyperlanes), rotas pré-calculadas de saltos. Sem entrar muito nos detalhes do enredo, o os Nihil são capazes de usar outros recursos para viajar no hiperespaço.

Hiperdrive: arma de destruição em massa– Um dos principais problemaa da fase Disney de Guerra nas Estrelas para mim é com relação ao uso do hiperespaço. Sei que é teimosia minha já que trata-se de pura fantasia, mas é muito melhor quando o universo ficcional respeita suas próprias regras. Em Rogue One uma nave é capaz de saltar dentro da atmosfera, algo sempre pontuado como impossível, mas o pior estava por vir.

Ou veio antes; em Despertar da Força, a Millenium Falcon sai do salto na atmosfera do planeta, algo absurdo, e inviabiliza uma série de outras coisas daquele universo (escudos, blindagens…). Mas no pavoroso, horripilante, terrível Os Últimos Jedi é estabelecido que uma nave entrar no hiperespaço em rota de colisão com a outra é capaz de causar uma explosão de proporções galácticas; por que não então as guerras estelares não são apenas travadas com uma série de naves não-tripuladas saltando umas nas outras?

Aqui algo parecido acontece, não tão ridículo quanto aquela merda de filme, mas da mesma forma torna-se um recurso capaz de obliterar planetas e sistemas – no caso por ser um objeto grande que sai do hiperespaço em alta velocidade e colide com outro corpo, algo mais palatável. Sempre foi estabelecido que o salto errado é um risco para a nave, e não para quem está fora do hiperespaço. Mas se existem tantas possibilidades assim de usar o salto como arma, não faria sentido sequer construir Estrelas da Morte.


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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