Na edição de 1966 dos Prêmios Hugo, o mais tradicional da literatura fantástica, foi oferecido uma categoria que nunca havia sido dada e jamais se repetiu novamente: Melhor Série de Todos os Tempos. Nos bastidores do meio editorial, os comentários eram de que se tratava um jogo de cartas marcadas, de uma honraria feita e encomendada para premiar O Senhor dos Anéis.
Para a surpresa de todos, o prêmio foi para a trilogia da Fundação, escrita originalmente entre 1942 e 1950 por Isaac Asimov, o escritor soviético, radicado dos EUA – e um dos que repetia os comentários maldosos sobre o jogo viciado naquele prêmio de 66. Embora não muito conhecida do público em geral, e ainda mais fora dos Estados Unidos, a série Fundação é talvez a mais influente da Ficção Científica – e aquela que botou Senhor dos Anéis no chinelo há 50 anos atrás.
Entretanto, muito do espanto que pode causar saber que essa obscura série dos anos 40 foi considerada melhor que a obra de Tolkien se deve ao fato que as adaptações da Saga do Anel foram, igualmente obras primas, e geraram filmes magistrais. Infelizmente, este não será um privilégio compartilhado por Fundação.

Agradou: qualidade dos visuais
A única unanimidade do seriado é referente aos seus visuais; os efeitos especiais são fabulosos – muito embora se tornem cada vez menos impressionantes ao passar dos capítulos; nitidamente uma parte considerável da verba foi alocada nos primeiros episódios. Uma grandeza incomparável em termos de TV; a sensação em várias das cenas é de estarmos no cinema tamanha a amplitude dos objetos e enquadramentos.
Por outro lado, além dessa monumentalidade ficar cada vez menor com o passar dos tempos; os elogios se concentram apenas em sua qualidade. Faltou muita identidade; os cenários ficaram cada vez mais genéricos – como Terminus – ou derivativos – não raras vezes parece que estamos assistindo a uma série baseada em Duna.
Não agradou: ritmo lento, incompreensão e total infidelidade ao material de origem.
O grande elefante branco na sala é, inevitavelmente, a falta de fidelidade. Com exceção dos nomes e parte do primeiro episódio, a história contada aqui é apenas muito marginalmente baseada na obra de Asimov. Entendo que a trilogia original está perto de completar 100 anos (escrita na década de 40, publicada posteriormente como livros nos anos 50) e são necessárias importantes atualizações. Alterações de gênero e tecnologias mais avançadas são sempre bem vindas, por exemplo, assim como eventualmente certas mudanças no enredo – Battlestar Gallactica é uma obra prima nesse sentido – mas o que houve aqui foi um assassinato.

A questão é uma total incompreensão da mensagem de Asimov. Impactado pela leitura do clássico Declínio e Queda do Império Romano, ele decidiu desenvolver uma analogia ao contar queda de um império galáctico que dominou todo o universo conhecido. Mas, de forma muito refinada, não uma queda causada por uma guerra ou invasão, mas uma queda causada por suas próprias contradições – como foi Roma. E, dentro daquele universo, a compreensão de como isso ocorreria se daria através da psico-história, uma complexa metodologia de estudo entre História, Sociologia, Matemática e Psicologia, baseada no estudo das massas. Embora nunca admita, provavelmente temendo ser rotulado dada sua origem russa, Asimov criou uma versão ficcional do Marxismo.
Nada, absolutamente nada, dessa reflexão suscitada pela obra de Asimov está presente no seriado. Ao invés de demonstrar a decadência do mais monumental Império que existiu através da sua perda de força e desagregação, uma história de clones no governo é colocada no centro. No lugar da análise do movimento das massas na História, somos apresentados a batidas histórias sobre os “escolhidos”, pessoas, sabe-se lá o porquê, com poderes sobrenaturais que conseguem resolver todas as situações possíveis. Nesse sentido, não é a toa que o pior que a série oferece é a trama de Gaal e Salvor, uma estória infanto-juvenil de “escolhidos” (the choosen one); prodígios renegadas pela família ou sociedade, que descobrem poderes excepcionais e se mostram grande heroínas apesar da descrença geral – sobre até um mistério sobre a real paternidade delas. É para completar a cartela do bingo dos clichês.
Além de tudo, mesmo relevando esses pontos, a série é muito chata, extremamente parada, sem nenhum ritmo. Com vários vais-e-vens, furos entre os episódios e mesmo dentro de um mesmo capítulo, repetitiva, e com significativos momentos ruins de montagem e edição. Temos desde um pôr do sol instântaneo, a cortes bruscos, e até personagens em posições diferentes de uma tomada para outra.

Outros destaques negativos:
- Narrações em off. Apesar da bela voz e dicção da atriz por trás de Gaal, as narrações que as vezes pipocam nos episódios são despropositadas, não têm objetivo narrativo, e sequer correspondem ao que estamos vendo em tela. As vezes até possuem mensagens interessantes, mas simplesmente não deveriam estar lá.
- Identidade Visual e Narrativa: Como comentei acima, em alguns capítulos parece que estamos assistindo Duna, em outros Enigma do Horizonte; o primeiro episódio lembra Interestelar com cenas contemplativas e o quinto, durante a invasão de uma cidade, nos recorda de 300 de Esparta; um episódio é calmo, outro é ação e um terceiro é terror; Hardim oscila entre uma ninja ou uma samurai pós-apocalíptica; enquanto os planetas, por sua vez, acabam por ser sempre genéricos – um planeta água, um planeta deserto, um planeta cidade…
- Retrato de Demerzel: difícil explicar bem sem dar spoilers sensíveis. Visualmente, a atriz faz um grande trabalho e achei bem-vinda a mudança de gênero; entretanto tá tudo errado. A personagem é uma adição posterior, aparecendo apenas nas últimas obras da vida de Asimov, já nos anos 80 e 90. Uma das raríssimas coisas de fora da trilogia original que a série tenta trazer. Buscando não revelar pontos muito importantes dos livros, que espero que vocês leiam um dia, sua real identidade é um segredo para o leitor e para os demais personagens e age como um “infiltrado” naquele contexto. Aqui, por outro lado, é, e não é, segredo ao mesmo tempo, está na corte por séculos, mas ninguém se tocou que é algo estranho. Muito embora, a questão principal é que várias de suas principais ações, envolvendo violência, são contraditórias aos pilares de todo o universo de Asimov.
- Inteligência dos personagens: Demerzel é simbólica no que quero dizer, a personagem conviveu uma dezena de gerações com os imperadores e fez aparições públicas nesse tempo todo conforme estabelecido em sua presença na sala do trono; mas nunca ninguém se tocou que um ser humano normal não viveria 300 anos. A crise em Terminus, por outro lado, envolve um grupo significativo de personagens que não avisam coisas uns aos outros, não se antecipam aos problemas e têm planos malignos simplórios. E até mesmo a trama dos Imperadores tem seus momentos burros; como conversar com personagens vendados e amordaçados, ou propor como solução para uma crise religiosa fornecer água a um santuário baseado em uma jornada pelo deserto.
Episódios
S01E01: The Emperor’s Peace – Uma estudante prodígio de um longínquo e pobre planeta é convidada a viajar para a capital do Império Galáctico, onde ela se encontrará com Hari Seldon. Este grande matemático alega ter desenvolvido a Psico-História, uma ciência capaz de estudar o passado e prever o futuro. O problema é que seus cálculos indicam que o Império, que já dura 10 mil anos dominando a Galáxia, vai ruir em breve.
Um grandiosíssimo episódio que, na realidade, é um prólogo – literalmente, pois o título da série é a última cena – de mais de 1 hora. Nitidamente o que desejavam fazer era dar a série a cara de um filme (e eu recomendo que você tente emular o máximo o possível a experiência de cinema em casa, escuro, silêncio, para aproveitar os visuais), mas não achei que as coisas ficaram bem dimensionadas para isso – mesmo porque o material original que inspirou este episódio (e boa parte da temporada) tem apenas 30 páginas.
Tudo já começa mal, quando perdemos tempo com inócuos e lentos “flashfowards” sobre como será a vida em Terminus para o grupo de Sheldon. Na medida em que não revelam nada, tentam criar expectativas em cima de algo que tudo mundo já sabe que vai acontecer (inclusive alguns personagens) – o exílio – ou que, por outro lado, não vai ser atendida tão em breve – a história do cofre.

Há uma meiúca onde o capítulo ganha em agilidade com um determinado ataque terrorista – quando o ritmo parado faz sentido, para degustarmos os belíssimos efeitos especiais – mas a grande atração, que deveria ser o julgamento de Seldon, não passa de uns 5 minutos de tela. A própria menção da Enciclopédia Galáctica é em apenhas uma linha de diálogo e ficamos preso com um devagar-quase-parando desenvolvimento dos personagens dos imperadores e Dornick.
Bom (3,5/5)
S01E02: Preparing to live – A equipe de Seldon se dirige até Terminus em uma longa viagem. Enquanto isso, os Imperadores decidem fazer valer sua força para realizar uma resposta ao ataque ocorrido em Trantor. Daqui em diante não há absolutamente nada que lembre a obra original a não ser os nomes.
O núcleo dos Imperadores é um pouco mais consistente, com algumas cenas inteligentes contrapondo as várias versões de Cleon, incluindo a original, mas ainda corre atrás do próprio rabo. Um vai e vem de reuniões com os embaixadores dos planetas e que rende cenas patéticas e desnecessárias: como quando um Imperador sussurra no ouvido de prisioneiros, estes que estão vestindo armaduras que os fazem ficarem cegos e surdos.
Por outro lado, a jornada dos enciclopedistas (nome que eu estou dando ao grupo a partir do livro de Asimov, pois a série não o faz) é um desastre. Com exceção de um único diálogo, muito curto, aliás, no qual a Enciclopédia é discutida com uma interessante questão sobre nem mesmo os números serem coisas neutras, é uma bobagem do começo ao fim. Foram três cenas de Dornick nadando na piscina e duas de sexo para chegarmos numa mais-que-idiota trama sobre Raych e a estudante (que parece ter alguma espécie de poder sobrenatural, quando pela segunda vez é capaz de pressentir tragédias) contarem ou não para Seldon sobre seu relacionamento.
Muito Ruim (1/5)
S01E03: The Mathematician’s Ghost – Começando como se nada do capítulo anterior tivesse ocorrido, passamos algumas décadas no futuro, e assistimos como se dá a transição de poder entre os clones do Imperador. E, enquanto isso, somos apresentados ao cotidiano de Terminus, a pobre e esquecida colônia estabelecida para o funcionamento da Fundação.

A protagonista da história agora passa a ser Salvor Hardin, que, diferentemente do livro, quando era representava a figura do primeiro prefeito de Terminus, um hábil diplomata, é uma espécie de Ninja Pós-Apocalíptica que tem algumas visões sobrenaturais. Novamente com a questão da missão da Fundação – a Enciclopédia Galáctica – citada apenas muito marginalmente de fundo – eu sei o desfecho disso tudo, mas era importante para os personagens acreditarem na função deles naquele momento.
Mais um capítulo muito parado que deveria funcionar para contextualizar a personagem de Hardin. Infelizmente, essa importante figura do universo ficcional acabou se tornando extremamente genérica ao forçar a barra baseando-a tão somente em estereótipos de “prodígio incompreendida”.
Muito Ruim (1,5/5)
S01E04: Barbarians at the gate – A Colônia de Terminus está em perigo! Nossa samurai pós-apocalíptica Salvor Hardin descobre que a cidade está cercada por tropas de Anacreon, um planeta expurgado do Império devido ao ataque em Tranton, busca uma vingança contra o poder central ao atacar este afastado posto científico. Enquanto isso, na capital imperial, uma querela religiosa se anuncia, assim como mais jovem imperador está em uma crise existencial.

Provavelmente o capítulo mais movimentado até agora, consegue imprimir uma grande energia e tensão do começo ao fim. Desta vez, o núcleo em Trantor ingressa numa trama que desconfio muito. Uma que a série arrumou para si mesma, sobre uma certa religião que prega rejeição aos clones imperiais – seres que não existem nas obras de Asimov. Sozinha, até seria uma questão até interessante, mas fica difícil confiar em algo tão fora da linha assim.
Menos difícil ainda de deixar passar, é uma incompreensão das próprias analogias históricas que a série está se propondo. Originalmente, a inspiração da queda do Império de Asimov referia-se a queda do Império Romano, que passou a classificar de bárbaros os reinos os quais ele não dominava ou perdia o controle devido sua paulatina degradação. Anacreon, aqui, é um povo extremamente subjugado pelo poder central, exatamente o contrário.
Entretanto, ainda assim, a série ganha em ritmo e este é o primeiro – e único – episódio que realmente consegue te manter interessado por toda sua exibição.
Bom (3,5/5)

S01E05: Upon Awakening – Enquanto acompanhamos o cerco de Terminus pelas forças de Anacreon, descobrimos mais do passado de Gaal Dornick, quando ela acorda sozinha numa nave 30 anos depois do incidente envolvendo Hari Seldon. Infelizmente, a personagem de Gaal caminha a largos passos para ser a mais odiada da série: temos uma interessante, mas despropositada, sequência dela calculando seu destino; entretanto, fora disso, há uma série de flashbacks para dar várias informações que já sabemos sobre ela.
Todas essas sequências de Gaal tomam praticamente metade do episódio – incluindo uma tediosa tentativa de suicídio que parece um clipe musical dos anos 90 – enquanto a outra metade está envolvida na ação em Terminus, quando o cerco colocado à colônia pelos invasores bárbaros chega a um desfecho.
Tinha tudo para ser interessante, é uma situação relativamente engenhosa – embora os personagens são burros demais (todo mundo já sabia que determinado canhão estava posicionado lá, mas esqueceram de informar). Infelizmente, em montagem e edição, acaba lembrando até aqueles filmes de ação que surgiram na década passada – 300, Invictus – que tentam brincar com a iluminação. Não sei foi uma decisão tomada posteriormente, ou houve algum problema no processo, ou simplesmente tacaram um foda-se, mas temos um pôr do sol instantâneo que não tem como deixar passar.
A única coisa que a série vinha sendo até agora impecável, era nos visuais. Mas, aparentemente, sabendo que era a única coisa boa, a produção resolveu apelar demais e tacou uma noite absolutamente do nada para tentar criar imagens mais bonitas de um massacre inócuo – no qual os Anacreons, apesar de argumentar o oposto, se mostram realmente os bárbaros classificados pelo Império.
Muito Ruim (1/5)
S01E06: Death and the Maiden – Enquanto o Imperador Dia viaja até a lua na qual fica a sede da principal ordem religiosa da galáxia, o Imperador Amanhecer descobre o amor. Já em Terminus, com a cidade dominada, os invasores bárbaros decidem selecionar alguns dos habitantes e cientistas para realizar alguma tarefa misteriosa.
O núcleo do imperador e da seita religiosa tenta ser extremamente inteligente, ao trabalhar de forma muito confusa uma oposição à clonagem imperial, mas é muito superficial. Tanto que, no final, descamba para uma questão de falta de água o planeta – como se a principal religião do universo fosse ficar relegada a um paupérrimo planeta, ou, se fosse esse realmente o caso, essa pobreza toda com certeza teria um significado muito importante para os religiosos e tentar suborná-las com água seria infantil.

A questão de Demerzel ser uma fiel da religião até me simpatizou de início, mas já gera outro furo: a galáxia sabe ou não sabe da sua natureza, já que ela é parte da corte há séculos? Neste caso, como ela é aceita pela irmandade? Por fim, o clímax de toda essa viagem acaba sendo em um discurso totalmente oco de uma líder religiosa e, patético, um tom e fonética como uma pregação de igreja batista dos Estados Unidos. Parece até uma esquete humorística – faltou um “haleluia!!” para encerrar.
Na capital, por incrível que pareça, temos a parte mais interessante, ainda que não seja grande coisa, na qual o irmão amanhecer revela um importante traço que possui. Já na outra ponta, na periferia do Império, apesar da ação, as coisas continuam chatas em Terminus e a série escorrega muito em qualidade. Uma montagem ruim coloca personagens em posições diferentes em determinadas tomadas; visuais inexplicáveis (aparentemente a cidade fica sobre uma finíssima camada de terra sobre um vulcão); roteiros fracos (os invasores, tão crueis, não empreendem nenhuma retaliação); e diálogos péssimos e confusos – eu não entendi nada da conversa revelada entre Seldon e Raych.
Muito Ruim (1/5)
S01E07: Mysteries and Mathyrs – A equipe reunida pelos invasores de Anacreon chega até a Invictus, uma nave lendária, capaz de destruir planetas, e perdida há 700 anos. Enquanto isso, o Imperador Dia continua em queda de braço com as freiras da ordem Luminista e o Imperador Amanhecer abre seu coração a sua namorada e revela seus principais medos como clone. E, ainda, na misteriosa nave, Gaal se reencontra com Hari Seldon.
Difícil acompanhar, mas neste momento o seriado está dividido entre 4 núcleos diferentes. E mais perdido que cego em tiroteio, cada um corre para um lado e com linguagens diferentes. Enquanto a saga dos imperadores fica entre política e drama, as aventuras nas naves espaciais tentam emular um terror, com resultados inconstantes: a consciência digital de Seldon revivendo sua morte não fez o menor sentido; mas a ambientação da Invictus foi bastante interessante – e está me lembrando o clássico O Enigma do Horizonte (de 1997) – uma pena que completamente despropositada e destoante com o tom que a série deveria ter.
Ainda que a trama dos imperadores seja a coisa mais interessante, ainda acho bastante superficial todas as discussões sobre a relação entre religião e poder que estão sendo injetadas. Na questão do irmão amanhecer há um fundo intrigante sobre suas características diferentes, mas acaba estagnando numa ambientação adolescente. Esta que é, na realidade, a fórmula narrativa da série: as estórias de Gaal e Salvor vão se transformando na surrada fórmula do jovem “escolhido” de aventuras infanto-juvenis.
Ruim (2/5)
S01E08: The missing piece – O Imperador Dia decide passar pela grande provação Luminista e fará uma caminhada pelo deserto para provar ter alma de verdade. Na Invictus, a crise chega ao clímax quando a nave está prestes a saltar de novo; e Gaal não consegue se entender com o “fantasma na máquina” de Seldon.

Eu falei que estava me lembrando O Enigma do Horizonte! A ponte da Invictus é uma recriação da ponte da Event Horizon! E esse núcleo acaba empolgando bem, uma pena que é uma coisa absolutamente destoante com o que Fundação deveria ser. Mas criando também alguns furos óbvios: a questão de não existir os navegadores para o salto na época é legal – e eu curto muito quando as séries de ficção colocam essas mudanças de tecnologia com o passar do tempo – mas ninguém tinha pensado nisso até agora? Os Anacreons bolaram esse plano por décadas e ninguém se ligou que a nave de 700 anos atrás teria esses problemas?
Enquanto isso, na outra nave, temos uma sequência muito pouco compreensível. Temos um roteiro confuso, estruturado sobre condições cada vez piores de suporte de vida da nave que foram colocadas de supetão – mais uma vez demonstrando uma montagem ruim com as coisas aparecendo instantaneamente. Roxann Dawson (B’Lana Torres) é uma diretora experiente, para ela deixar essas coisas passar é porque a equipe está um caos. De novo batendo na tecla do “escolhido” e, de fato, ela realmente tem poderes sobrenaturais, demonstrando total incompreensão da obra de Asimov (ainda que a telepatia sim exista naquele universo ficcional, mas é algo muito diferente de previsão do futuro).
O que rouba a cena é a conclusão deste arco envolvendo o Imperador Dia e sua caminhada no deserto. Realmente um toque excelente o desfecho de sua peregrinação, ótima reviravolta – mas infelizmente a cena que fecha, com um assassinato, é totalmente contrária ao conceito mais fundamental da obra de Asimov (um determinado traço dos robôs). A questão é que neste capítulo, não sabemos se estamos assistindo Fundação ou Duna – caminhadas no deserto, uma religião de freiras, premonições, navegadores…
Bom (3/5)
S01E09: The First Crisis – Após uma intensa disputa, a Invictus realiza o salto e aparece na órbita de Terminus já que sabe-se-lá-Deus-como um personagem foi capaz de fazer essa rota; entretanto, a colônia está incomunicável e isso deve estar relacionado ao Campo Nulo que o “cofre” emite. Enquanto isso, na capital, as desavenças entre o imperador mais velho e o mais novo são cada vez mais evidentes e o Irmão Dia decide fugir do palácio.
Ainda não consegui pegar a ideia desse tal campo nulo? Qual o objetivo de deixar as pessoas desacordadas? Um recurso que não fez sentido em momento algum. Originalmente o Cofre era um local onde Seldon havia deixado mensagens para a Fundação sobre suas análises da Psico-História e as pessoas sabiam o que era, o mistério eram as mensagens que eram reveladas em momentos especiais, mas aqui ele se transformou em algo com ares de sobrenatural e um mistério bobo. Ainda, a conclusão da história simplória da caçadora, os Tespians caindo de pára-quedas; é tudo muito superficial.

Passando da periferia para o centro, em Trantor a fuga do Irmão Dia é cheia de clichês e joga fora toda uma trama que parecia se encaminhar muito bem. Imaginava que suas diferenças fariam o jovem mudar radicalmente a sua dinastia; mas tudo descambou para reviravoltas previsíveis a partir da surrada jornada do “pobre menino rico que conhece o mundo fora de sua bolha”, e sobrou até para uma personagem, antes discreta, se revelando uma vilã femme fatalle sensualizando e sentando no colo de outro antagonista, de Duna vamos a 007. Que besteira – e ainda uma justificativa, também simplória, para as diferenças genéticas de Dia.
Este episódio deixou bastante evidente uma coisa que já me incomodava há algum tempo: a despropositada narração em off de Gaal. Apesar de falas bonitas e da bela dicção e voz da atriz, não guardam a menor relação com o que está acontecendo em tela – uma lição sobre a escrita da História no momento em que Salvor pousa a nave no planeta deserto? Por quê?
Ruim (1,5/5)
S01E10: The Leap – Após revelar-se, o segundo “fantasma” de Hari Seldon decide explicar seus planos para todos os presentes e lança as bases para a criação de uma união entre os planetas da região como forma de sobreviver à queda do Império. Já na capital, os imperadores estão em conflito sobre o que fazer em relação ao Irmão Dia após sua tentativa de fuga do palácio.
Um final tosco em uma temporada tão fraca. As coisas vão chegando mais ou menos onde deveriam, mas não deixa de ser bobo o “mistério” por trás do cofre – na obra original, todos sabiam o que se tratava, a antecipação era a hora em que Seldon se pronunciaria. Além de ser muito furada a teoria de que o Império não se preocuparia com o seu destino, sendo que no exato momento em Trantor os Imperadores lembram de Seldon. No livro, o Império simplesmente já não tem mais poder na região.
Mais uma de tantas incompreensões da obra – e martelo nisso porque é a razão por trás de ser tão ruim – a aliança entre os planetas a missão da Fundação na série é retratada como uma revolta contra a opressão do Império, um movimento de Libertação. Até seria simpático a essa ideia, mas não é nem remotamente o caso; e sim uma sobrevivência à queda dele.
Disso sai uma outra trama paralela, que acaba por fechar o seriado e cai de pára-quedas no meio de tudo, referente à “verdadeira” maternidade de Salvor. Mais uma forma de bater em todos os clichês possíveis para história do “escolhido” de ambas as personagens, saber que ele é na realidade filho de alguém muito especial. De longe, a jornada do escolhido é parte mais fraca dessa adaptação pois é uma ideia completamente na contramão da obra – posteriormente Seldon acaba tendo esse papel nos lançamentos mais tardios. O que, na realidade, não passou de uma desculpa para transportar as atrizes para a segunda temporada que se passará séculos depois.

Por outro lado, a trama dos imperadores, a mais coesa, acaba caindo no mesmo erro de se achar muito mais inteligente do que é. Ao invés de demonstrar a decadência do poder imperial por suas próprias contradições, o que funcionaria como a comprovação material da psico-história, resolve invejar “revelações” inócuas. E, no final, aposta absolutamente tudo num plot twist envolvendo um assassinato que serve apenas para coroar a completa incompreensão e desrespeito com o material no qual se baseia.
Muito Ruim (1/5)
Melhor Episódio
The Emperor’s Peace – Não posso dizer que o episódio inicial da série foi uma propaganda enganosa, pois todos os principais defeitos já se apresentam lá. Um ritmo extremamente lento, sensíveis alterações na obra original e protagonistas desinteressantes. Por outro lado, ainda acaba sendo o episódio mais fiel da série e é no qual os visuais, grande ponto positivo de Fundação, estão em seu auge – realmente, são maravilhosos, de deixar qualquer um boquiaberto.
Mais adiante, Barbarian’s at the gate, consegue ser o primeiro episódio que consegue te manter interessado por toda a exibição. The Missing Piece, já na reta final da temporada é o ponto alto da trama envolvendo os Imperadores.
Pior Episódio
Preparing to live – Nossa, foi difícil. Tirando os três citados acima, todos os episódios da série são muito ruins. Acredito que este se destaca pela total desorientação; e não a toa, a viagem da Fundação até Terminus nunca foi alvo de nenhuma passagem em nenhuma obra de Asimov, sua estória, mais que toda a temporada, foi tirada do nada. Acabamos tendo três cenas iguais de Gaal nadando, uma série de vais-e-vens, personagens em atitudes sem sentido e para tudo culminar com a trama desaprovação de um namoro pela figura paterna.
Todos os demais episódios poderiam estar aqui e compor este parágrafo.
Últimos Posts
Movimento 78
Em um futuro não muito distante, um candidato humano e uma inteligência artificial disputam a eleição à presidência; o momento decisivo é um debate em rede nacional.
Justiça Ancilar
Após testemunhar decisões controversas da governante de um poderoso Império Galáctico, a inteligência artificial de uma nave destruída planeja vingança.
Babylon 5 (1ª Temporada) – Episódios
A primeira temporada do seriado tem um ritmo mais “antigo”, e muito noventista, mas já foi capaz de lançar as bases para essa obra prima.