Uma aldeia perdida em um local esparsamente habitado, com uma forma de organização não tão comum praticando rituais e cotidianos pouco compreensíveis é encontrada por um grupo de genuinamente nobres exploradores e cientistas do centro da civilização. Diante da incompreensão destes representantes do mundo avançado das coisas que estão testemunhando, a sua única ação é tentar proteger os inocentes daqueles eventos.
Na realidade, não havia nada de errado com o que se passava. Foi a pura incompreensão dos exploradores e suas preconcepções de que eles estavam certos que levou a conclusão errada… e inevitavelmente, isso geraria uma tragédia; fizerem vítimas para salvar pessoas que não precisavam ser salvas. Este cenário deve ter se repetido inúmeras vezes na história da humanidade – e, até não muito tempo atrás, as ações dos “civilizadores” não seriam entendidas como problemáticas. Felizmente as coisas mudaram. E chegou a vez de Guerra nas Estrelas fazer uma alegoria a essas situações e fazer de A Acolita uma obra relevante do ponto de vista social e político.
Uma pena que o resultado foi uma merda.

Uma figura controversa, para dizer o mínimo, a cabeça do por trás da série, Leslye Headland, teve uma postura decisiva para o fracasso de The Accolyte. Ela acabou por sequestrar o seriado, e o universo de Star Wars, dentro de uma proposta sua para transformá-la individualmente, a diretora, supostamente, em um bastião de movimentos feministas e LGBTQIA+; o que por si só não é ruim. O sequestro teria a ver com o uso – desproporcional, eu diria, pois não são elementos centrais da obra – dessa proposta por ela – e pela Disney, evidentemente – para gerar uma bolha engajamento sobre o seriado, inflado por ódio e preconceito.
Ganhar em cima do mau comportamento alheio não seria problema, pelo contrário. Existir ódio e preconceito jamais pode se apresentar como impeditivos de produzir obras ousadas. O problema é que a série foi horrível e o efeito foi totalmente o contrário, acusando injustamente o resultado de ser ruim devido às temáticas envolvendo “minorias” e inflando ainda mais o ódio e o preconceito.
Agradou: premissa
Durante a Alta República, na história do universo ficcional de Star Wars, a Galáxia vivia seu mais glorioso período. Com a ameaça dos Sith encerrada a séculos atrás, restava aos Jedi explorar os confins do espaço e descobrir os mais profundos segredos da Força. Naturalmente, diante de tanto poder e monopólio sobre a “religião”, os cavaleiros se sentiam no direito de intervir em qualquer situação envolvendo questões “religiosas” – e sabemos por obras do universo expandido, G-Canon e Disney Canon, que havia vários tipos de usuários da Força.
E, com certeza, algumas dessas intervenções sairiam de forma desastrosa para as pessoas que eram alvo da ação dos nobres guerreiros da paz e da justiça que tinham certeza que estariam fazendo o bem. E se uma dessas vítimas de um efeito colateral da nobreza dos Jedi decidisse se vingar da ordem? Essa é a boa premissa e a única boa ideia de The Acolyte. Uma alegoria ao processo civilizatório e suas vítimas, justificativa para as piores coisas que a humanidade já fez.
Mas para além disso, o resto da série é puro desastre.
- Direção de arte com relação à tecnologia: Queria dar um destaque mais avulso. Achei que o desenho dos eletrônicos e naves, em especial, do seriado foi bastante competente em fazer parecerem as coisas ligeiramente mais antigas que a Ameaça Fantasma. As embarcações utilizadas pelos Jedi são grandes mas não grandiosas, com um desenho opulento. Isso é um feito e tanto utilizando o universo de Star Wars, em que quase não há mudanças tecnológicas em milhares e milhares de anos.
Não agradou: tudo, mas destaco direção, motivação dos personagens e propaganda “política” sobre o seriado.
Não é preciso muito mais que dois ou três cliques neste blog no nas redes sociais para perceber que minha linha de pensamento política é fortemente a esquerda. Mas provavelmente, The Acolyte foi o momento em mais concordei com pessoas do polo oposto. Todas as entrevistas de produtores e atores para divulgação da série eram carregadas em teor “político” – que nem é bem esse o termo, mas fica uma discussão para outro momento. Dizendo que essa seria o obra mais gay de Star Wars, que seria a obra mais feminista, uma verdadeiro manifesto contrário à misoginia.
O pior de tudo é que, mantendo a mesma a linha dessas agendas sócio-políticas liberais vindo de grandes empresas – da grande burguesia, diria um marxista – não tem nenhuma crítica profunda a esses temas em A Alcólita. Foi tudo uma cortina de fumaça, a forma antes do conteúdo, para gerar engajamento em torno de algo marginal. As temáticas gay e feminista, que estariam presentes nos núcleos referentes às bruxas e às gêmeas, são bastante pontuais e sutis – e nesse sentido, boas, e marcam uma importante presença no universo ficcional. Todos entenderíamos que a comunidade das bruxas era exclusivamente matriarcal e baseada em laços homo afetivos sem precisar esfregar nada na cara de ninguém. Não fossem as desastrosas entrevistas, provavelmente isso sequer seria levantado como “problema” do seriado, exceto por uma camada extremamente conservadora que acabaria falando sozinha. Mas a opção de focar no engajamento em primeiro lugar, foi prejudicial para enfraquecer a crítica central: a alegoria do civilizador intervindo sobre os bárbaros, encarnados aqui com os Jedi atacando, ainda que por motivos nobres, grupos de minorias religiosas da Força.
Inclusive porque essa confusão do que é o principal tema, ou alegoria, da série dificulta entender as motivações dos personagens. Por exemplo, inspirada por Frozen, Headland concebeu a mensagem feminista através de focar o drama no amor de uma irmã pela outra. Assim, deslocando o foco do amor e devoção de relacionamentos românticos, hétero ou homo afetivos, normalmente um clichê de motivações femininas nos enredos; uma ótima ideia.
Entretanto, como em tudo o que fez em A Acólita, ela se mostrou muito incompetente: a questão central, a vingança de Mae contra os Jedi, simplesmente é esquecida em alguns capítulos. Em um deles, Mae tenta salvar um dos que buscava assassinar minutos antes; para, minutos depois, voltar a atacar os cavaleiros. Isso em decorrência do amor pela irmã; mas que também não valeu de nada em alguns momentos em que uma tentou matar ou prender a outra; no mesmo capítulo elas querem se encontrar, mas depois uma foge da outra. Essa situação acontece o tempo todo, personagens que querem matar outros, em instantes estão tentando salvar as mesmas pessoas; e vice-versa. O papel de Bazil, o rastreador, é bastante simbólico para essa confusão.

Entretanto, ainda que sejam todos problemas graves, nada disso é comparável à direção horrível. É gritante o quão fraco é o trabalho; iniciado pela própria criadora da série, Leslye Headland, nos primeiros episódios, que são patéticos. Basta lembrar que a primeira cena da produção é uma personagem pedindo informação e recebe a indicação de andar reto na única rua do lugar. E as coisas apenas se agravam, são coreografias fracas, geografia de cena confusa, especialmente, cortes terríveis: numa das lutas (que é uma das melhores, ainda assim), um personagem é golpeado e para mostrar ele levantando usa-se um wipe; em outra cena uma nave pousa, e um corte na sequência mostra os tripulantes desembarcando. Nós sabíamos que eles estavam viajando, era o caso de ter a cena só do desembarque, por exemplo se era necessário cortar.
Há também confusão de gênero, especialmente naqueles que foram dirigidos pela própria Leslye, que usa uma linguagem de comédia romântica: há cenas de personagens aparecendo sem roupa e outros ficando sem graça pelo flagra, ou diálogos de cavaleiros não querendo que um colega vá junto numa missão por ele ser um “cara estranho”. Da mesma forma que, nas cenas de ação, há profunda incompreensão do material, incompreensão de Star Wars, por exemplo, com o abuso de câmeras lentas, coisa que, se foi usada, foi na trilogia sequel, e para plasticidade da cena e não explicar o que ocorre. Os Jedi não têm supervelocidade ou superforça; a sua destreza vem dos reflexos rápidos provenientes da Força. Eles não são capazes de desviar de um golpe como em Matrix, por desafiar o espaço-tempo, mas porque a Força faz com que eles saibam antes que vai vir um golpe ou tiro.

É um trabalho péssimo – mas não deixa de ser uma consequência. Afinal não se sabe exatamente que história contar ou qual é a crítica principal, e muito menos o que cada personagem quer… a dificuldade de contar a estória fica bem latente quando vemos o quão dependente os diretores são da cena de Osha acordando para iniciar um novo arco. Há capítulos que isso acontece mais de uma vez, demonstrando que para passar de um momento para outro do enredo, é necessário manter a protagonista inconsciente. Ridículo.
Outros problemas pontuais:
- Passagem do tempo: mais uma grande deficiência do roteiro. Nos primeiros episódios a cronologia dos próprios eventos é absurdo. Osha é acusada de um assassinado ocorrido horas antes em planetas diferentes. A duração das viagens em Star Wars é um debate acirrado desde o primeiro filme, mas aqui é levado ao limite, fica incapaz de gerar tensão. Nós não conseguimos acreditar que os Jedi não vão perceber o absurdo. Assim como a queda da nave, a busca pelos fugitivos, dá a impressão terem passados minutos.
- Reviravolta final: eu gostei do plot twist da versão oficial apresentada pela Ordem sobre os eventos, entretanto, no começo de toda a trama, a própria Venestra tinha como objetivo esconder as coisas para ninguém imaginar que os Jedi estariam atacando uns aos outros.
- Dores na coluna: eu achava que a atriz principal, Amandla Stenberg estava indo bem ao interpretar duas pessoas diferentes, especialmente na expressão faciais. Entretanto, depois que me falaram da “escoliose”, não consegui mais des-ver. Boa parte do trabalho de Amandla baseava-se em ficar mais ou menos curvada com cada uma das gêmeas, nos primeiros episódios não ficava tão claro por conta das vestimentas. Na segunda metade, com a troca delas, essa muleta da atriz ficou muito nítida.
- Jedis “Nerfados”: é um problema mas não tinha muito como escapar. Com o foco do seriado nos Jedi, em sem auge, teríamos problemas para criar tensão e suspense diante de pessoas tão poderosas. É preciso enfraquecê-los para deixá-los mais vulneráveis, entendo. Mas ainda assim, conforme apontamos acima, havia uma incompreensão do que era a Força; os Jedi continuavam super fortes, mas perderam as habilidades de sentirem as pessoas – ao mesmo tempo habilidades overpowered como, simplesmente, apagar a memória e ver imagens do passado, foram introduzidas.
Episódios
S01E01: Lost/Found – Uma mestre Jedi jogava seu truco numa boa em um bar perdido na galáxia até ser atacada por uma misteriosa assassina, sensitiva da Força. Após reconhecê-la, a mestra é morta e a Ordem envia dois outros cavaleiros para prender a principal suspeita; uma antiga padawan que decidiu desistir da carreira e trabalhava como mecânica para a Federação de Comércio.

O episódio nunca empolga, mesmo apelando para a muleta narrativa de sempre piorar a situação da protagonista. Temos uma cena de luta logo no início, que, não por acaso, devido a atriz envolvida, lembra Matrix, e que sinceramente não sei é digna de elogios e críticas. É boa, mas um estilo de linguagem em câmera lenta que nunca vimos ser utilizada em Star Wars, parece mais imitação e falta de criatividade – na melhor das hipóteses uma brincadeira com Carrie-Anne Moss.
Digo isso porque a série já começa com uma cena ridícula do personagem misterioso pedindo informação, e, melhor, recebendo a indicação de seguir reto na principal rua do local. Tudo isso me faz desconfiar muito da direção, trabalho de Leslye Headland, com experiência majoritária em comédias românticas – algo que se faz perceber em algumas cenas, por exemplo, envolvendo o jovem cavaleiro Yord, que aparece constrangido sem camisa diante de uma outra moça.
Exatamente na mesma pegada das outras séries em streaming de Star Wars, temos primeiros capítulos singelos demais. Pelo menos há um texto explicativo do que se trata o contexto – só porque é a primeira produção live action da Alta República, imagino; mas de resto não temos nada muito relevante a ser apresentado além dos protagonistas; não sabemos pra onde vai a trama ou qual o objetivo de ninguém.
Ruim (2/5)
S01E02: Revenge/Justice – A assassina misteriosa tenta fazer outra vítima, um cavaleiro Jedi em um remoto planeta que está em meditação profunda há mais de 10 anos. Sua primeira tentativa é frustrada, mas é suficiente para provar a inocência de Osha, que estava com seu antigo mestre durante os eventos. Sendo assim, todo o grupo liderado por Sol vai para o local tentar descobrir mais informações.
Já chama a atenção o quão curto o capítulo é, não atingido nem 30 minutos de exibição real (tirando créditos); um dos grandes problemas das séries de SW atualmente é a duração dos capítulos, irregular e normalmente curta. Neste caso, nitidamente este e o episódio anterior foram feitos para ser uma única estória; já que era para serem lançados juntos porque não um único capítulo especial de 1 hora?

Gostei mais das coreografias aqui, com menos câmeras lentas; entretanto, por força justamente da narrativa, os Jedi precisam ser bem menos poderosos que conhecemos para as coisas poderem desencadear outros eventos – nerfados, diriam os jovens. Como foi possível uma personagem escapar fazendo uma nuvem de poeira em cima de 4 pessoas sensitivas da força? Na direção, ainda acho tudo bastante problemático. A sequência da descoberta do que houve com o Jedi Torbin é péssima: os personagens estavam indo para o mesmo lugar e depois se separam para se encontrarem no final no objetivo comum. Tudo para criar uma tensão inócua, que se resolve exatamente no diálogo seguinte com a entrada de Yord – e fiquei com a impressão que a linguagem da cena seria uma preparação para ele estar ali e ficar contrário a Osha, mas pode ser só eu pegando no pé da série.
Com um norte geral do enredo mais bem apresentado, personagens tomando forma e outros interessantes sendo introduzidos – o “boticário” é muito divertido – a história ganha corpo: Mae quer se vigar de um grupo específico de Jedi, manipulada por alguém, e a ordem quer esconder algum podre. Quanto melhor as coisas poderiam ser se já tivéssemos essa informação na apresentação de A Acólita.
Mediano (2,5/5)
S01E03: Destiny – Em um episódio composto totalmente de um flashback, descobriremos a história de origem dos principais personagens da série: há mais de uma década, o remoto planeta de Brendok se tornou o lar de uma seita de bruxas que são usuárias da Força, mas não em caminhos aprovados pelos Jedi. Exatamente por isso, elas estão sob vigilância da ordem.
Finalmente algo ímpar que Acólita oferece. O que é apresentado aqui explora o que considero dois pontos fantásticos e polêmicos da mitologia de Guerra nas Estrelas: outros usuários da Força que não são os Jedi, e a relação de tensão entre as crianças e as famílias que são separadas coercitivamente pela ordem por serem sensitivas. Isto é, o monopólio da Força que os Jedi possuem na Galáxia colocado em perspectiva, algo sempre muito interessante.
Tem algumas coisas que deixam a desejar, todavia; a série realmente precisa refinar seus roteiros e direção. Todas os diálogos e cenas das crianças são previsíveis e forçados, como ficarem se batendo enquanto os adultos falam, ou se contrapondo por pirraça: uma solta a borboleta outra a prende. Já caminhando para o final; em uma das falas os Jedis dizerem que o planeta era desabitado, mas haviam várias pessoas na aldeia ao redor do refúgio das bruxas, elas todas seguem a seita? E um planeta cheio de vida, totalmente habitável, não seria povoado por nenhuma outra forma de vida? E ainda isso seria um lugar para “se esconder”? Precisei rever o episódio para ter certeza que eu que não tinha entendido algo errado.

Mas o que é especialmente ruim é a sequência envolvendo a deixa para um grande mistério. Um grupo de pessoas é assassinado (algo que se revela como o estopim do seriado) e nitidamente não foi pela causa explicada agora – o incêndio. É tudo muito tosco e explícito de que será um mistério; já ficando claro nem que foi o incêndio nem os invasores que causaram as mortes – e tem um gerador introduzido durante o episódio, um CGI horroroso, que serviu só para causar um desmoronamento.
Os dois conceitos gerais – outros sensitivos da Força e os Jedi levando as crianças contra vontade dos pais – são ótimos e dão um gás para a trama da série, mas individualmente ainda é um episódio que tem gritantes fragilidades.
Bom (3,5/5)
S01E04: Day – No distante e selvagem planeta de Khofar estão reunidos os dois grupos atrás do mestre Jedi Kelnacca. O Wookie é o próximo alvo da assassina de cavaleiros; um grupo liderado pelo mestre Sol e acompanhado por Osha é destacado pela ordem para protegê-lo.
Mesmo escorregando na direção e diálogos, o seriado vinha em um crescente com uma trama mais encorpada, entretanto, chegamos em um limite de tolerância. O episódio já começa muito mal com uma despedida de personagens que acabam de se conhecer – as coisas estão estruturadas como se fosse um epílogo, para o episódio que começa a jornada principal da série, bizarro. Depois temos uma reunião que, na cena seguinte, é ignorada: após uma conversa, outra nova equipe é montada e a despedida de antes também não serviu de nada.
É tudo uma grande bagunça. Temos quase um corte a cada um ou dois minutos, horrível; um em especial é tão ridículo que mostra uma nave pousando por alguns segundos, há um corte seco, e os passageiros da mesma nave, já estão em solo. Não era o caso deles já estarem solo? Nós já sabíamos que eles estavam viajando. Os diálogos são ruins até se estivéssemos assistindo a um seriado infantil. Osha é perguntada “se não está curiosa” para saber o que sua irmã fez nesse tempo em que supunha-se estar morta. Este é o seu maior trauma da vida – algo estabelecido pelo próprio capítulo, aliás – e saber mais sobre o evento é uma questão de “curiosidade”.

Com o início da aventura no planeta, há até algumas coisas divertidas, como o alienígena rastreador, e a reviravolta final é realmente inesperada, mas ainda a estrutura é muito ruim. Os tais dos “perigos” da floresta se resumem a uma cena, muito exagerada, e solta sobre um inseto atraído pela luz – talvez um recurso a ser utilizado no próximo episódio – e, claro, o elefante na sala: a mudança de postura de Mae é extremamente súbita, eu até achei que as gêmeas haviam sido trocadas, tipo em Operação Cupido.
Provavelmente este é pior roteiro, e, especialmente, a pior direção da breve história das séries de Guerra nas Estrelas.
Muito Ruim (1/5)
S01E05: Night – Uma vez que o “proto-Sith” misterioso se revelou aos nossos heróis, uma feroz luta entre ele e os Jedis começa no meio da perigosa e escura floresta de Khofar; identidades serão reveladas e importantes baixas acontecerão neste episódio – que, na realidade, é a segunda parte do anterior e continua muito curto, com cerca de 25 minutos reais de projeção.
Muito focado na ação, quase toda a totalidade do episódio é dedicada a combates de sabres de luz, e finalmente, com boas coreografias e efeitos. A direção ainda é fraca, tudo muito granulado, provavelmente para consertar efeitos de iluminação que não ficaram bons, e há alguns erros de continuidade e cortes abruptos: em uma das lutas um personagem se defende e fica agachado e um corte é um utilizado para colocá-lo levantado em seguida. A Floresta é apresentada como um grande “perigo”, até achei que seria alguma coisa que remetesse à árvore de Dagobah, inclusive o episódio fecha com uma visão do local à distância, como se fosse significativo, mas não o foi, qualquer cenário ali levaria aos mesmos desfechos.

E isso nos leva ao grande elefante na sala, o texto. O roteiro é ousado em apresentar importantes revelações e mesmo em matar alguns personagens – pelo menos por enquanto, depois dos inquisidores de Kenobi não acredito em nenhuma morte das séries de Star Wars – entretanto é tudo sem pé-nem-cabeça. O “Sith” deu a entender que já conhecia Sol, e de fato eles se encontraram alguns capítulos antes, mas é daquilo que estão falando? Ou era algo mais profundo? Se era este último, por que não notou anteriormente? Há outras coisas muito ruins, como o sabre de luz ser utilizado como lanterna, ou o vilão ser derrotado, que aniquilou meia dúzia de cavaleiros, porque prenderam um papel com “me chute” nas costas dele.
Ainda, as irmãs decidem por se encontrar no episódio anterior, mas neste aqui elas ficam fugindo uma da outra por boa parte dele. E, por fim, falamos em Operação Cupido, e olha só o que acontece por aqui. Se já não estávamos abusando dos clichês em histórias envolvendo gêmeos, toda mais um aqui – e talvez o pior deles. Que funcionaria ainda menos aqui, já que todos os envolvidos são sensitivos da Força e deveriam notar o que houve – e se não bastasse, cada uma tem TATUAGENS para indicar quem é quem, e aparentemente, ninguém nunca as percebeu (e, terceiro, ainda tem o “cão farejador” que poderia notar).
Mediano (2,5/5)
S01E06: Teach / Corrupt – As gêmeas trocadas acordam cada um com o mestre da outra; Osha está com Q’mir e Mae com Sol. Obviamente, nossa heroína não esconde quem é, e tenta entender melhor as motivações do ameaçador vilão. Por sua vez, Raquel finge ser Ruth e tentar arrancar de Sol a verdade do que ocorreu com suas familiares e o papel do Jedi na tragédia.
Provavelmente a cena mais gravada do seriado é a atriz Amandla Stenberg, a protagonista, acordando. Só neste episódio isso acontece duas vezes, uma para cada gêmea, mas em todos os capítulos tem pelo menos uma dessas; revelando a direção muito fraca que só consegue engatar um novo arco se os personagens estiverem desacordados. Patético.

Ainda assim, é uma historinha mais ou menos que temos aqui. A conversa franca entre as aprendizes e mestres, em posição invertida, é legal, e poderia ser ainda melhor, se o episódio não perdesse tanto tempo tentando manter o “mistério” de que Sol não sabe que quem está ali é Mae. Algo que nitidamente foi um tropeço do roteiro, já que o personagem de Bazil (a toupeirinha) fica o episódio inteiro tentando revelar isso e suas ações são completamente indiferentes ao desfecho.
Há uma trama B envolvendo o pedido de socorro, a mestre Venestra, e o conselho Jedi que possui até elementos interessantes de worldbuilding dessa Alta República e a relação de poder dos cavaleiros. Todavia, é gasta em outra perda de tempo com a suspeita do Mestre Sol como o assassino por trás de tudo – algo que não faz o menor sentido, por enquanto – e ainda com mais um tropeço, pois esquecem da morte que desencadeou tudo, o do Jedi Kelnacca.
Se for o episódio que inicia o arco final da temporada, funciona relativamente bem como posicionamento dos personagens e preparação, mas ainda é fraco e mantém todos os problemas do seriado até aqui.
Ruim (2/5)
S01E07: Choice – Em novo episódio de flashback, retornamos para Brendok para assistir ao que ocorreu há 16 anos de atrás com o congregação em que viviam as gêmeas. Mas agora a partir da visão dos cavaleiros Jedi, em especial, do mestre Sol. E pela primeira vez devemos elogiar a direção da série, pois há algumas poucas cenas recicladas do terceiro capítulo da série, inevitavelmente, mas a imensa maioria são tomadas diferentes dos mesmos eventos.
Isso é muito importante porque conseguimos de fato ter a visão dos Jedi sobre os eventos – nem eles, nem nós como espectadores, vemos o que as bruxas estão fazendo durante interim, ainda que já saibamos por ter acompanhado Destiny, mais anteriormente. Foi realmente uma decisão muito competente de posicionar este capítulo agora e desta forma.

A resposta para o mistério é satisfatória, consegue explorar uma alternativa cinzenta em que todas as partes contribuíram de alguma forma para a tragédia. Da mesma forma, fica claro que realmente os Jedi foram decisivos para tudo que houve, ainda que tenha sido um “erro honesto”. Uma crítica inteligente e condizente com o contexto da Alta República, no auge da Ordem e do Regime, e os cavaleiros se achando no direito de intervir com qualquer grupo social; e, com certeza, causando desastres. Algo recorrente na história da humanidade – é uma forma de Star Wars mostrar-se relevante.
Ainda assim há altos e baixos; a luta entre os Jedi é ótima, bem coreografada e tensa; assim como todo o lore envolvendo a “vergência” da Força e o planeta ganhando vida. Por outro lado, nunca fica claro do porquê da obsessão de Sol por Osha, e era questão de simplesmente justificar por alguma interferência da Força; assim como a cena que causa o mau entendido seja incompreensível. O que a mãe estava fazendo? Teletransportando? Fica muita coisa pela metade mas vamos dar um voto de confiança.
Muito Bom (4/5)
S01E08: The Acolyte – Esclarecidos os acontecimentos de 16 anos atrás, pelo menos para nós expectadores, chega a hora do embate entre todos os personagens sobreviventes daquele incidente, e exatamente em Brendok; Jedi contra Sith, irmã contra irmã. Há algum vai-e-vem, com a Mestre Venestra chegando para sair de novo, e uma enrolação com ambas as gêmeas, que hesitam ou fogem de serem levadas ao lugar do confronto final. Isso irrita pois desde o começo está claro que o objetivo do capítulo é colocar todos eles no mesmo lugar, desta forma, fica o sentimento de que os personagens não estão colaborando com a estória – nem com o expectador.
Mas uma vez com partes interessadas reunidas, as confrontações já se começam e há opções interessantes na direção, com dois duelos acontecendo simultaneamente, há bastante energia por todo o capítulo. A parte que é uma nota abaixo é a perseguição espacial, não chega a ser tediosa, tem até bonitas cenas envolvendo os anéis espaciais, mas toda a tensão envolvendo Bazil (a toupeirinha) não fez o menor sentido. Ele era quem sabia desde o começo que Mae era uma impostora, agora ele quis protegê-la? As motivações dos personagens, de longe, são o que temos de pior na escrita na série.
O desfecho apresentado é satisfatório e constitui-se a partir de alguns bons e ousados plot twists. O que não quer dizer que não tenham ficados muitas coisas capengas; pensando até mesmo na reviravolta envolvendo o destino de Sol, ela é muito mais efetiva que a mistery box, o grande segredo, relativo à origem das gêmeas. Era algo que poderíamos saber já no episódio 3, o do primeiro flashback. Há uma revelação aqui, mas sem impacto e abordada de forma rasa, não suficientemente integrada a questão da “Vergência” nem a obsessão de Sol com as meninas. Não justifica criar tanta expectativa em cima. Da mesma forma, não fez o menor sentido a nova troca das irmãs: por que uma merece ser a Acolita e a outra não? Qual o impacto delas não serem exatamente gêmeas? Muitas pontas soltas.

Apesar de algumas coisas inteligentes tais, como a “versão oficial” do que houve, carregamos os mesmos problemas do resto da série. O final é fraco em roteiro, como o arco despropositado envolvendo Bazil, e diálogos, que continuam muito juvenis: um personagem confronta outro dizendo “você não gosta de mim“, por exemplo. O nó final e toda a questão envolvendo a intervenção desastrosa dos Jedi naquela comunidade isolada de usuárias da Força é muito boa, mas a execução ainda ficou devendo.
Bom (3/5)
Melhor Episódio
Choice – Como martelei bastante ao longo das resenhas, o argumento central do seriado é, de fato, interessante. No seu auge, os Jedi se sentiam no direito de intervir em qualquer situação envolvendo a Força, e isso com certeza teria todo o potencial para tragédias. E aqui neste episódio conseguimos ver isso acontecer, de forma muito divertida e competente. Especialmente ao observarmos que mesmo contando a mesma história do terceiro capítulo, consegue mostrar ângulos totalmente diferentes dos eventos. E digo isso em sentido literal, são muito poucas as cenas reutilizadas.

Não a toa que o outro episódio que é realmente interessante do seriado é o anterior, Destiny, que conta a visão das bruxas sobre os mesmos acontecimentos em Khofar.
Pior Episódio
Day – Fico imaginando a produção reunida, olhando para os títulos dos episódios, e se achando extremamente inteligentes por usar apenas palavras soltas para nomeá-los. Parabéns, conseguiram fazer o pior capítulo – por enquanto – da história de Guerra mas Estrelas na TV com tão somente três letras. É tudo muito ruim, em escrita, em visuais, em direção e roteiro. Impressionante. O mais gritante em narrativa é a mudança de objetivos de Mae, que decide, do nada, mudar lado (para desmudar depois), mas o comecinho, que mostra os personagens se despedindo, em tom de epílogo uma situação que iria, na prática, iniciar a jornada principal – pois tivemos um flashback previamente.
E em direção, o que mais me chamou a atenção foram os cortes, foi em média quase um por minuto. Os cara conseguiram derrubar Star Wars até mesmo nos aspectos técnicos, isso é para poucos.
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