Condição Artificial – Martha Whells
Tradução: Laura Pohl – Editora: Aleph
Ano de Lançamento: 2018 – Minha Edição: 2025 – 233 páginas
Livre de suas amarras computacionais, contratuais e morais, o nosso Muderbot decide finalmente tomar as rédeas da sua vida artificial e vai em busca de respostas sobre seu passado nebuloso no segundo livro da série Diários de um Robô Assassino. Desta vez, ele faz amizade com um transporte científico e cria uma parceria inusitada em sua nova aventura no planeta minerador no qual ele teria se voltado contra um grupo de trabalhadores.
A autora soube bem introduzir elementos novos para manter o interesse do leitor vivo. Vencida a novidade da premissa ao final do primeiro livro: o robô rebelde que, na verdade, não tem ambição alguma e só quer viver a vida como um ser medíocre, agora finalmente está livre, a atração pela série tenderia a diminuir. Especialmente porque desta vez a postura do protagonista muda radicalmente: ele quer ir mais a fundo nos seus objetivos – aliás, é bastante interessante que, em alguns momentos, ele ainda fica em dilemas sobre enfrentar a situação ou desistir e só procrastinar como sempre havia feito até então em sua vida.
Particularmente acho que nesses momentos, poderíamos tem algo mais sutil, sem o personagem explicar exatamente sua indecisão. Mas, pela opção de escrita da obra (com narrador em primeira pessoa), fica difícil conseguir fazer diferente – e, claro, é um livro muito divertido mas longe de ser genial, e nem almeja ser algo assim.
O que é muito interessante e consegue suprir o vazio deixando pela perda da novidade que o primeiro livro trazia, é a relação do robô rebelde preguiçoso com outros robôs. Embora haja contraceno com outros humanos, os principais personagens deste volume são demais computadores, especialmente o “TED”. Este é o apelido “carinhoso” que nosso protagonista decidiu chamar a nave que o transporta, e o ajuda em toda sua missão de revisitar o local onde ele teria massacrado a equipe de mineiros.
TED é um personagem bastante interessante, porque ele tem uma visão muito diferente do protagonista em vários aspectos. Sobre sua condição, sobre a condição dele, sobre os humanos e o trabalho; é uma outra ótica (robótica) daquele mesmo universo. Foi uma adição muito rica. Diferentemente do grupo de humanos que o Robôssassino vai prestar serviço desta vez. Uma equipe muito parecida com a anterior e que serve apenas a funções pontuais na estória.
Continua como um texto bastante curto, muito focado em personagens e na ação envolvida. Nesse sentido, temos pouca adição de lore e worldbuilding, na falta de expressões em português para o tema. A própria resposta para o mistério do passado do protagonista é relativamente simples – e eu não entendi muito bem de primeira, acho que li rápido demais, talvez. O que é bom para não ser algo tão extravagante e estragar justamente a característica de medíocre do Robôssassino; mas também vai tirando um pouco o gás daquele universo ficcional.
O livro ainda é uma leitura extremamente agradável e divertida; você até precisa se segurar se não quiser acabar com ele em poucas horas – mesmo porque ainda é bem curto. A autora conseguiu trazer características novas daquele mundo para compensar as que perdeu, mas a série deixou de ter um pouco de sua característica um pouco mais única; veremos como serão nos próximos volumes.
Bom (3,5/5)
Perde um pouco o gás das premissas, superadas, do livro anterior, mas é capaz de oferecer novas características no lugar.
Adaptação: após uma bem sucedida adaptação do primeiro livro em formato de série, os produtores já sinalizaram uma renovação de Diários de um Robô Assassino. Entretanto, por vários motivos, ela terá algumas alterações e a segunda temporada deve, diferentemente da primeira, não seguir exatamente os eventos deste livro aqui, e algumas coisas devem ser alteradas para que a temporada também englobe os livros seguintes.
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