Jornada nas Estrelas: A Nova Geração – 3ª Temporada – Lista de Episódios

Para uma avaliação geral da temporada, os melhores episódios, os piores episódios e a lista dos mais essenciais, clique no botão abaixo!


S03E01: Evolução – Wesley Crusher está trabalhando em um ambicioso projeto de ciências, mas tem seu trabalho interrompido para assumir o leme da Enterprise, que transporta um importante pesquisador. O dr. Stubbs utilizará a nave para lançar uma sonda durante uma explosão estelar que acontece uma vez em centenas de anos… bom, ele tentará, pois o computador central da Enterprise passa a apresentar graves falhas.

Como a Nova Geração tem o dom de começar as temporadas com episódios sem-sal, impressionante. Há alguns elementos legais, em especial a obsessão do cientista em realizar seu experimento, entretanto, parece que falta alguma coisa ali. Não sei se é a identificação posterior do ator com a comédia, a impressão é que teríamos piadas com o personagem – e até havia um arco cômico sobre a biografia não-autorizada dele, e que Wesley leu, mas as cenas foram deletadas.

O capítulo consegue conectar bem as duas premissas do episódio, e tudo fica encaixadinho. Mas, por outro lado, tudo termina de forma muito bonitinha, como a permissão de um organismo invadir Data, e, em especial, inconsequente: a ação de Wesley criou uma forma de vida totalmente nova e ficou como um acontecimento comum sem maiores implicações.

Avaliação: 2 de 5.

S03E02: Os Imperativos do Comando – A misteriosa e poderosa raça dos Sheliak deseja fazer valer um antigo acordo diplomático com a Federação e colonizar um planeta cedido a eles. O problema é que lá reside uma colônia humana; mas não uma colônia comum. Os habitantes de Tau Cygna V são um grupo orgulhoso de pessoas que conseguiu sobreviver às inóspitas condições a vida humana e até criar uma pequena, mas próspera, civilização.

Alçado a protagonista em uma missão solo, o Androide é o responsável por convencer a população local em um dilema extremamente humano; o orgulho – no bom e no mau sentido. Há uma boa química com a carismática jovem que deseja ajuda-lo e há uma real construção de sua jornada em tentar diversas abordagens para completar seu objetivo. Ainda que com uma resolução simplória; mostrar a força de um phaser, como se aquele povo não conhecesse os poderes das armas modernas – e eles foram para lá na época da TOS.

A sinopse acabou se tornando clichê no gênero, mas a situação é tornada complexa em vários ângulos diferentes; o povo é orgulhoso e não deseja sair do local; também há o componente da civilização alienígena que menospreza os humanos – e ainda se comunica de forma não convencional, um ótimo bônus. Esse tema é recorrente em Jornada nas Estrelas, e em outras obras da Ficção Científica, mas este foi um dos primeiros episódios nesse sentido, e um dos melhores.

Avaliação: 4 de 5.

S03E03: Os Sobreviventes – Uma distante colonia da Federação envia um pedido de socorro após sofrerem um pesado ataque de uma espécie desconhecida. Chegando no local, a Enterprise encontra um planeta completamente devastado e apenas dois sobreviventes, um casal de idosos, vivendo numa idílica mansão de campo.

Confesso que não dava muito para esse episódio, especialmente depois que começou com a história da música na cabeça da conselheira Troi – raríssimos são os bons exemplares de terror na franquia – mas felizmente as coisas vão ficando cada vez mais interessantes. Um elemento de uma nave desconhecida, Picard desvendando o mistério e um quase-antagonista com uma comovente história pessoal dão corpo a um belo dilema e roteiro.

Não poderíamos esperar uma grande batalha ou grandiosos inimigos sanguinários, não é o perfil de Jornada nas Estrelas, mas o que temos no lugar é uma boa resolução.

Avaliação: 3.5 de 5.

S03E04: Quem observa os observadores – Um posto de estudos “antropológicos” que observa uma civilização pré-dobra sofre um mau funcionamento de seus equipamentos. Durante a visita da Enterprise para ajudar nos reparos, os problemas pioram e os visitantes acabam contaminando aquela cultura decisivamente e, ao final, o autóctones consideram o Capitão Picard como um deus.

Um tema sempre muito interessante, as violações da primeira diretriz sempre dão pano para a manga, em especial neste cenário de influência em espécies mais primitivas. A ideia sobre a divindade dos astronautas não é original, mas naquele momento não era tão surrada. Posteriormente houve autoplagio dentro de Star Trek, e também repetições da temática – uma muito parecida foi usada em The Orville.

Neste aqui, os méritos estão em como os desdobramentos são naturais com as ações dos personagens – uma porção de desencontros. Da mesma forma, as discussões despertadas pelo agravamento da situação são boas e tridimensionais, inclusive sugerindo que se agravasse a contaminação. O único problema é a questão sobre ser uma espécie “proto-vulcana”, que não faz o menor sentido. Mas este é um belo episódio que pode ter seu brilho diminuído injustamente pelas incontáveis cópias.

Avaliação: 4 de 5.

S03E05: Laços de Família – Em uma missão de rotina, o grupo avançado da Enterprise sofre um acidente com uma armadilha deixada por uma antiga civilização extinta por constantes guerras, levando a morte de uma tripulante. Na nave, os oficiais precisam contar ao seu filho o que houve – e Worf decide levar essa missão um pouco mais adiante.

Este episódio decide abordar um dos pontos mais controversos de TNG; a presença dos familiares da tripulação, em especial, crianças, na nave. E a escolha é bem feita, através da tragédia não da perda de um desses “civis”, mas sim do olhar deles diante da morte de um dos tripulantes. Bem escolhido também é àquele que se tornará o mais preocupado com a situação do órfão: Worf.

O grande problema é, como normalmente acontece ao depositar em crianças o peso de ser protagonista, a falta de carisma (e a caracterização exagerada de bom menino) do ator mirim. O roteiro compensa a natureza parada da trama com uma pequena reviravolta envolvendo a tal antiga civilização que habitou o planeta, e consegue dar um tempero a mais no capítulo.

Avaliação: 3 de 5.

S03E06: A Armadilha – O capitão Picard fica feliz como poucas vezes vimos em sua carreira; a Enterprise encontrou a deriva uma histórica nave, um cruzador de batalha Promelliano; esta foi uma poderosa civilização extinta há mais de mil anos em decorrência da guerra em que a aquela mesma embarcação lutou. Entretanto, uma vez explorando aquela relíquia, nossos heróis se vêm presos numa mesma condição que vitimou aqueles tripulantes.

O início do episódio é um momento mágico de TNG, com a minha trilha sonora favorita de toda série, e o capitão feliz ao encontrar aquela nave; quando assisti pela primeira vez senti aquele arrepio de empolgação, maravilhoso. Na época, achei que o episódio acabou se enveredando por uma opção menos interessante que esperava, queria mais exploração e interação com a nave do passado.

Revendo, ainda acho que fez falta alguma conexão maior entre as descobertas envolvendo o cruzador antigo e a solução para o problema, que acaba sendo depositada totalmente na trama romântica de Geordi. Não é tão interessante, mas ainda assim é uma questão bem construída – especialmente porque a personagem da Dra. Leah aparecerá futuramente – relacionando a paixão do engenheiro pela nave com sua procura por um amor humano.

Ainda assim, o episódio termina em alta com a pilotagem manual da nave, algo raríssimo (e com outra ótima trilha), e justamente o fato da Enterprise ter sido pega na armadilha o passado, é uma argumento bem interessante.

Avaliação: 4 de 5.

S03E07: O inimigo – Explorando um inóspito planeta, coberto em tempestades eletromagnéticas que restringem o uso do tele-transporte, o grupo avançado descobre destroços e um sobrevivente de uma nave romulana em território da Federação. Entretanto, ao mesmo tempo que levam o alienígena ferido para Enterprise, a tripulação acaba deixando Geordi para trás até a próxima janela de transporte.

A idéia central já um clichê antigo – e até havia sido abordado pouco tempo antes com o quase-clássico do SciFi, Inimigo Meu: soldados adversários em em situação na qual um precisa ajudar ao outro para sobrevivência mútua. E se já era utilizado antes, foi revisitado pela ficção científica exaustivamente desde então, incluindo dentro de Jornada nas Estrelas. As sequências no planeta, envolvendo essa interação, são bacanas mas não empolgam – provavelmente estou influenciado pela repetição do tema.

Felizmente, TNG coloca mais tempero na estória com a adição do elemento romulano; o fato de haver uma conspiração inimiga envolvida e claro, algo que rouba o capítulo, o dilema de Worf sobre ajudar ou não o alienígena ferido. Se esta primeira linha narrativa não termina de forma tão interessante – acabamos não sabendo o que eles queriam – a segunda tem o destaque principal, e leva a resoluções inesperadas.

Avaliação: 3.5 de 5.

S03E08: O preço – A Federação tem interesse em comprar os direitos de exploração do buraco-de-minhoca nas proximidades do sistema Barzan, que leva ao quadrante Delta. As negociações ocorrem com a concorrência de outras potências do setor, como o Ferengi e os Chrysilianos. Entretanto, estes últimos estão sendo representados por um humano, que imediatamente se interessou pela conselheira Troi.

O capítulo imediatamente é prejudicado pela presença do ator que interpreta o negociante Ral, dono de um poderoso – e desconfortável olhar – ele é mais associado à comédia: um marcante personagem louco em Seinfeld, e um dos tresloucados recrutas da academia de polícia (papeis posteriores ou contemporâneos a este episódio). Assim que ele fixa o olhar em Deanna, a reação é rir ou também ficar desconfortável – longe do sedutor esperado que ele interprete.

Vencendo este problema – que não é pequeno, especialmente com as constrangedoras cenas sensuais envolvendo o casal improvável – o que tem lugar é uma história razoável e envolvendo uma ardilosa negociação, um mistério sobre o wormhole, e as habilidades betazoides colocadas em perspectiva, algo ainda não trabalhado pelo seriado. E, muito interessante, as implicações deste capítulo, referente às divisões da galáxia em quadrantes e os buracos-de-minhoca serão todas retomadas adiante em alguma outra obra – incluindo os Barzan, por Discovery.

Avaliação: 2.5 de 5.

S03E09: O Fator Vingança – Um posto avançado de pesquisa da Federação é atacado por um grupo de alienígenas conhecidos como os Coletores. A questão é que eles são um grupo dissidente de outra civilização, os Acamarianos, que superou esse filosofia e hoje vive em relativa paz. Para colocar ao fim a atividade dos saqueadores espaciais, a Enterprise se oferece para mediar um acordo entre as facções.

Surpreendentemente, uma abordagem muito adulta deste problema, com a Federação realmente servido como uma voz de paz entre os grupos – mesmo sofrendo um ataque dos Coletores. Da mesma forma, as demais partes são bastante maduras e verossímeis – ainda que haja um certo exagero, compreensível, da rebeldia dos “piratas”, com sua falta de modos e roupas de couro.

As coisas se encaixam bem na resolução do problema, ficando a dever apenas na conclusão. Temos uma explicação muito extravagante referente à idade da grande vilã – era apenas o caso de ser uma descendente perdida – e uma cena final, quando Riker toma atitude drástica e há um ar de indiferença para a gravidade do que acabou de ocorrer; este último evento é explicado parcialmente pelo efeito da desintegração, que precisou de uma imagem estática, mas ainda assim em roteiro dá a impressão que o que houve não foi nada demais.

Avaliação: 3 de 5.

S03E10: O Desertor – A Enterprise é surpreendida por um piloto em fuga do Império Romulano, ele está sendo perseguido e deseja pedir asilo na Federação. Seus motivos são nobres; apesar de ser um oficial de baixa importância ele alega ter informações sobre uma ofensiva que os romulanos planejam na Zona Neutra e para evitar derramamento de sangue em uma nova e grande guerra entre as potências, deseja que isso seja impedido.

Há um problema neste episódio, sentido pela própria produção, que é a ocorrência de apenas uma cena de interrogatório – não muito condizente com a situação. Haviam sido escritas outras, mas não chegou ao produto final. Não acho que houve grande prejuízo: pareceu natural que a utópica Federação não apelasse para esses métodos, mas cria uma sensação um pouco estranha de que faltou mais reação a algo tão grandioso quanto uma iminente guerra, ainda mais com o cenário de uma decisão tão importante quanto essa ficar nas mãos do capitão de uma única nave.

Em substituição, temos grandes diálogos entre o desertor e Picard – estes que poderiam ser realizados em um interrogatório “civilizado”, e faria o roteiro ganhar em tensão – e mesmo entre ele e Data. E há lugar uma trama complexa, com vários elementos e eventos adicionados que nos fazem chegar a uma terceira resposta de uma pergunta que originalmente seria de um simples sim ou não.

Avaliação: 5 de 5.

S03E11: O caçado – Nossos heróis têm a importante tarefa de fazer um relatório sobre o planeta Angosia III, que está pleiteando a entrada na Federação. Entretanto, durante a estadia da Enterprise no planeta, um prisioneiro foge de uma colônia penal e dá margem que alguns esqueletos no armário daquele local sejam descobertos.

A mensagem do capitulo é muito clara: uma crítica a forma como a sociedade americana trata os veteranos de guerra. Entretanto, achei clara até demais, faltou um pouco de sutileza; diálogos como “eles estavam defendendo o angosian way of life” parecem fora de lugar, especialmente porque não há desenvolvimento exato do que foram as guerras que aquele planeta se envolveu. Inclusive, com estas palavras, pode até dar a entender a mensagem que seus conflitos eram justos e eles tinham bons motivos para a modificação genética dos soldado – afinal os americanos acreditam que realmente massacrar pessoas em países pobres ao redor do mundo é algum tipo de defesa.

É sempre legal ver um vilão inteligente, como o antagonista neste episódio, entretanto, há o cuidado de não fazer os heróis se passarem por burros – e algumas ações da tripulação não são das mais sagazes diante das ações de Danar. Da mesma forma, há também muita extravagância em alguns pontos, em especial a cena em que ele consegue “bugar” o teletransporte, mas de forma a se sair exatamente como ele esperava – eu sinceramente achei que havia sido um suicídio, o que deixaria tudo mais comovente.

O final foi um ponto de inflexão na escrita do capítulo: originalmente havia a intenção de uma crise nervosa dos prisioneiros que, então, atacariam a todos indiscriminadamente – lembrando os filmes de Rambo – mas a opção foi por outra saída, que também seu charme devido a posição de Picard. Entretanto, enfraqueceu ainda mais a moral do episódio – ainda mais com uma questão capenga na qual os genes são apenas despertados em questões de vida-ou-morte – que mirou em Programado para Matar, o ótimo Rambo original, mas ficou mais próximo de suas continuações não tão inteligentes.

Avaliação: 2.5 de 5.

S03E12: Tudo pela causa – A Enterprise é enviada para Rutia IV para entregar suprimentos médicos; apesar da nobre intenção, esta encomenda faz parte de esforços do governo local em combater uma insurreição armada de uma região que deseja independência e vem lançando mão de ataques terroristas. E, em um destes atentados, há tripulantes da nave presentes.

Na sequência, temos outra alegoria sócio-política mal feita. Originalmente a intenção era uma abordagem tridimensional dos grupos armados, com referência à Independência americana – e uma participação dos romulanos na trama – mas a decisão foi remeter ao IRA e a questão da Irlanda do Norte, considerada mais atual, e recebemos uma versão extremamente moralista do problema.

Poderia ser pior, é verdade, mas o retrato consiste em líderes terroristas totalmente egocêntricos, terroristas, que desejam morrer de forma gloriosa; enquanto as forças repressoras estão representadas por uma ponderada militar que gostaria que tudo acabasse logo e não quer exagero na violência. Tudo floreado por um conceito OP (overpowererd, super poderoso) de teletransporte que mal se sustenta e teria implicações gigantescas se utilizado em outros episódios.

Há alguns diálogos interessantes envolvendo Picard e o líder inimigo, Finn, o tabuleiro político da situação, mas de resto, é puro moralismo barato, sobrando até para situações de preocupação “com o futuro das crianças”. O retrato foi tão desastroso que o episódio, exibido originalmente em janeiro de 1990, nunca foi o ar na TV aberta na Irlanda, e, no Reino Unido, apenas em 2007.

Avaliação: 1 de 5.

S03E13: Deja Q – Enquanto tenta salvar um planeta de uma catástrofe natural com a queda de sua lua na atmosfera, a Enterprise é visitada por ninguém mais, e ninguém menos, que Q. Todavia, desta vez a entidade alega que foi transformada em um reles humano, sem nenhum dos seus poderes.

Ainda que essa premissa do Q com problemas com seus pares ou superiores comece a ficar repetitiva, o episódio consegue uma abordagem nova ao transplantar ele para nossa realidade. John de Lancie rouba a cena mais uma vez, e com grande presença é capaz de manter o humor por todo o episódio – embora, claro, nem tudo tenha graça – e mais uma vez sua interação com Guinan é ótima.

O arco do personagem é interessante, e mantém a dúvida sobre as intenções de Q constante, embora com um desfecho previsível a partir do momento que fica clara sua condição, e é capaz de fazer um bom desenvolvimento. O que fica devendo, por outro lado, é justamente a trama de fundo; não há explicações para o comportamento do satélite do planeta – Q dá uma, mas não entendemos se é a correta – como também não há para a solução, ficando apenas subentendido o envolvimento dos “deuses”.

Avaliação: 3.5 de 5.

S03E14: Pontos de Vista – O comandante Riker é o último tripulante a retornar de uma estação de pesquisa; e logo após sua saída, o local explode, matando um renomado cientista. O problema é que isso não parece ter sido um acidente, na noite anterior, o imediato da Enterprise teria tentado assediar a esposa do pesquisador.

Star Trek: TNG's 10 Best USS Enterprise-D Bottle Episodes

Um dos clichês mais abusados, não só da ficção científica; o homem acusado de algum crime após um mal entendido romântico. Pelo menos não há tantos lugares comuns; não é a mulher que é assassinada e nem Riker está sem memória do que houve. No lugar, o roteiro oferece uma inovação possibilitada por TNG, o uso do holodeck para desvendar o crime. Esse recurso é bem empregado, e dá lugar a um tipo de capítulo que eu gosto muito: meta-história, na falta de melhor termo. Ao invés de assistirmos ao que ocorreu, vamos acompanhar as diferentes versões das testemunhas, o que é muito legal.

Por outro lado, uma vez as peças conectados, as coisas ficam muito frágeis: há uma engenhosidade bacana de como o holodeck, sem querer, é capaz trazer riscos à nave, entretanto, o produto final nos entrega uma porção de furos, parecendo que faltaram alguns componentes no enredo. Toda a história de que todos os personagens estavam falando a verdade em suas versões dá a entender que havia alguma conspiração por trás de alguma das memórias que não se concretiza – poderia, claro, ser simplesmente interpretações diferentes do ocorrido, mas o roteiro e os diálogo deveriam ser muito mais refinados e as diferença entre os testemunhos mais sutis. Apesar de algumas boas ideias, o capítulo acaba sendo lembrado por mais um com uma premissa batida.

Avaliação: 2.5 de 5.

S03E15: Elo perdido – A Enterprise dá de cara com uma estranha fenda espacial, após leituras inconclusivas, dela sai uma outra nave muito significativa, a Enterprise C, desaparecida 22 anos atrás. O detalhe é que sua aparição joga nossos heróis em uma linha do tempo alternativa, na qual a Federação está em guerra contra os Klingon.

Vencendo a premissa absurda e súbita, na qual aleatoriamente uma nave viaja no tempo após um pico de energia de uma batalha e aparece em outro local – com a quantidade de batalhas que ocorrem ao longo dos seriados, deveria ter uma viajação de tempo adoidada – temos aqui um dos episódios mais marcantes de toda a Jornada nas Estrelas. Foi o desejo de assistir este capítulo que fez assinar a Netflix há mais de 10 anos atrás pois não encontrava fácil os DVDs da Nova Geração.

Tudo aqui é feito para ser marcante: o retorno de Tasha Yar; a única aparição da Enterprise C; os uniformes intermediários entre a época dos filmes da TOS com TNG; o desenvolvimento da sensibilidade temporal de Guinan; guerra contra os Klingon; tudo é uma amostra de como mesmo com pontos de partidas não muito bem trabalhados é possível fazer um capítulo maravilhoso e comovente: ver a tripulação de duas Enterprises se sacrificando é um momento de ápice em Jornada nas Estrelas, e, em especial o arco de Tasha é extremamente bem trabalhado dando um final digno para a personagem.

Avaliação: 5 de 5.

S03E16: Descendência – Data reúne seus principais amigos na Enterprise para dar uma feliz notícia: ele teve uma filha! Apresentando-lhes Lal, uma androide construída por ele mesmo a partir de suas próprias especificações técnicas. Entretanto, para além das implicações éticas da sua capacidade de reprodução, a existência de um segundo androide do Dr. Soong certamente terá grandes implicações.

Um dos episódios mais marcantes de toda a Jornada, nos faz sentir a dor de Data diante do questionamento de sua paternidade. Assistindo agora, através dos streamings, com poucos meses de diferença entre um e outro, pareceu um capítulo muito similar ao Valor de um Homem, com novamente a Frota Estelar querendo diminuir o livre abrítio do Androide – não sei se essa seria a impressão, na época, com um ano de intervalo entre os dois. Não seria apenas essa a forma de questionar a ética por trás da reprodução de Data.

O início do capítulo, já introduzindo a figura do novo robô, foi certeiro, sem muitas delongas; foi uma ótima forma de ganhar tempo pois o argumento central era ambicioso. Infelizmente, uma trama sobre Lal escolher sua aparência, ao meu ver, acabou exigindo tempo demais de tela e faltou para o final, no qual poderia ser mais explorada justamente a causa do “defeito” da filha de Data.

Ficou apenas nas entrelinhas o motivo do desfecho do episódio – a inabilidade em lidar com as emoções – entretanto, de onde elas vieram? Como foi possível tanto avanço? Foram plantadas poucas sementes de que ela seria “melhor” que o pai em alguns aspectos, ao mesmo tempo que era mais fraca em outros tantos, e poderia ser o caso de explorar mais essa diferença ao invés de focar no “almirante do mal”, uma muleta recorrente de TNG. Ainda assim, este é um dos episódios mais comoventes da série – ainda mais estando na sequência de Elo Perdido.

Avaliação: 4.5 de 5.

S03E17: Pecados Paternos – Desta vez a Enterpise que participará do programa de Intercâmbio de Oficiais com os Klingon, recebendo Kurn como novo Primeiro Oficial da nave. Entretanto, o novo imediato não é bem recebido pela tripulação, e, em especial, constrói um difícil relacionamento com o Tenente Worf.

Normalmente, capítulos ambiciosos sempre parece que faltou tempo de tela para abordar a tudo o que se propõe. Este aqui, por outro lado, consegue usar sua duração muito bem, incluindo começar com uma trama não-exatamente relacionada com a questão central do episódio. O início, aliás, é muito salutar: mesmo já sabendo dessa história toda, não me lembrava de quem era Kurn e achei que a indisposição dele com Worf seria algo mais genérico, e fui surpreendido.

Uma vez chegada a segunda parte do capítulo, com a trama envolvendo a política interna dos alienígenas, o episódio não deixa a peteca cair com as revelações do ranzinza oficial de intercâmbio. Não é exatamente das mais refinadas e complexas tramas de fundo com as acusações de traição, mas provavelmente por isso se encaixa tão bem e mantém o episódio satisfatório mesmo com a sua ambição.

Avaliação: 4 de 5.

S03E18: Lealdade e Obediência – Após mais uma missão bem sucedida, a Enterprise segue sua rotina espacial até um estranho fenômeno atingir o Capitão Picard, que aparentemente foi substituído por um clone, enquanto o original acorda em uma cena com outros misteriosos alienígenas.

Mais um bottle show (episódios confinados a poucos cenários e atores) para compensar o gasto com Elo Perdido (Yesterday’s Enterprise). Supreendentemente o outro capítulo com corte de gasto foi Descendência, mas se aquele se tornou um dos maiores da série, este aqui foi um dos mais esquecíveis. Todas as tramas envolvidas já eram repetitivas, mesmo sendo um dos episódios mais antigos da franquia: tripulantes sequestrados para experimentos, impostores em um lugar, impostores em outros; tudo o que já havíamos visto antes – e continuaríamos vendo depois.

O que salva, por sua vez, é o desempenho de Patrick Stweart. Com pouco capricho no roteiro, nunca fica exatamente claro o quanto a cópia sabe do original, mas provavelmente esse é melhor impostor que já se passou por um capitão de Jornada nas Estrelas. Tanto por ser muito convincente nos primeiros momentos – ele consegue dar um nó em todo mundo para seguir suas ordens estranhas – e, depois, fazer várias estripulias na pele de Jean Luc, como quase levar Bervely para a cama. Nitidamente o ator estava se divertindo muito e levou a situações muito únicas com o personagem.

Uma pena que essa interpretação maravilhosa esteja perdida em um episódio tão despropositado quanto este.

Avaliação: 2.5 de 5.

S03E19: As Férias do Capitão – Depois de uma exaustiva negociação, Riker e Troi percebem que Picard está exaurido e os dois sugerem ao capitão que ele tire alguns dias de férias no paradisíaco planeta Risa. Após livre e espontânea pressão, ele é convencido pelos dois a desfrutar do merecido descanso, mas assim que ele chega ao local, ele começa a se envolver em altas confusões.

Como todo capítulo em Risa, é uma bobagem do começo ao fim. Ao invés de aproveitar e desenvolver características novas ou demonstrar uma outra face do protagonista do seriado, o foco é tentar colocá-lo em situações embaraçosas – para ajudar na bobajada, injeta-se uma trama absurda e muito pouco inteligível de viagem no tempo, roubos, romance e que se acha muito inteligente ao resolver-se com um paradoxo temporal.

Infelizmente, há algo muito relevante neste capítulo e que vai obrigar aos fãs mais obstinados a assisti-lo: imagens do peitoral cabeludo de Picard. Ah, e também a introdução de Vash. Um dos mais marcantes interesses românticos do capitão, a personagem é de fato muito interessante e aparecerá em outros dois episódios. Uma pena que é apresentada nesta trama besta que inaugurou um clichê em Jornada nas Estrelas de uma aventura de sessão da tarde nas férias dos tripulantes.

Avaliação: 1 de 5.

S03E20: Homem de Lata – Nossos heróis são subitamente contatados pela USS Hood, que transporta um importante passageiro. A Enterprise recebe a missão de fazer contato com o “homem de lata”, um estranho e incompreensível ser vivo gigantesco que está orbitando uma estrela prestes se tornar supernova; com a ajuda de um poderoso telepata, especialista em fazer primeiros contatos, a Federação espera avisar o alienígena do perigo.

O episódio conta com uma porção de boas ideias; a começar pelo próprio passado do telepata – antigo paciente da conselheira Troi, seus incríveis poderes, sua experiência anterior mal sucedida (o que também ajuda a explicar nas entrelinhas porque esse procedimento de telepatas não é padrão nesse tipo de missão) – e mais tempero é jogado com a inserção dos romulanos nessa conta.

Infelizmente, as coisas acabam nunca chegando “lá” exatamente. A história do “homem de lata” é comovente, mas acaba se resolvendo de uma forma extremamente previsível – culpa dos próprios diálogos que estabelecem desde o começo que o objetivo do betazóide é ficar sozinho. E acho que todos os elementos adicionados, ainda que contribuam muito dar ação e tensão ao capítulo – os romulanos e o problemático telepata – acabam ofuscando um pouco do o que passado da antiga nave poderia render. Não sei bem como daria para resolver isso, pois tudo parece necessário, mas ficamos com a sensação de que tinha mais lenha pra queimar.

Avaliação: 3.5 de 5.

S03E21: Existência Vazia – Um dos tripulantes da equipe de engenharia está dando trabalho aos oficiais superiores; o tenente Barclay sempre chega atrasado em todas suas atividades além de ter um desempenho longe do exemplar. Uma das explicações é que ele está passando tempo demais no holodeck, com um passatempo que provavelmente todos nós faríamos se fosse possível: recriar os colegas de trabalho e fazer o que quiser com eles.

Provavelmente uma das premissas mais interessante a ser abordada em Star Trek referente ao holodeck – e que foi retomada, em uma forma muito mais sombria, no episódio USS Callister da quarta temporada de Black Mirror – esta estória teve vários desdobramentos em suas temáticas, tanto da “holo-dependência” e o vício nessa tecnologia, como nas diversas aparições que Barclay continuou fazendo em TNG e VOY.

Mesmo não tendo muita ação nem mistérios, o capítulo funciona legal, especialmente pelo protagonista ser um personagem tão bem escrito. Não me lembrava da profundidade de Barclay, achava que era introduzido apenas como um bananão, mas não; é alguém que entende seu problema e mesmo assim continua afundado nele – sua fala sobre se atrasar “de propósito” é excelente. O que é mais fraquinha é a trama de fundo, sobre as falhas na nave, bastante previsível, mas também encaixa de forma orgânica ao drama do tenente.

Avaliação: 4 de 5.

S03E22: O Colecionador – Durante uma negociação na qual a Enterprise comprou toneladas de um elemento químico extremamente volátil e inflamável, um grave acidente ocorre com uma nave auxiliar e o comandante Data morre. Bom, pelo menos é isso que aparenta para nossos heróis, pois, na realidade o comerciante deu um jeito de surrupiar o bom androide.

Apesar da premissa “engraçadinha” e de um vilão que opta por alguns momentos mais cômicos, provavelmente é um dos episódios mais sombrios da série – mérito justamente do ator do antagonista, que consegue sempre passar uma persona extremamente doentia e poderia fazer qualquer maldade.

Muito sombrio também acaba sendo, involuntariamente, a naturalidade que os personagens aceitam a morte de Data. Esse início acaba sendo fraco, e deixa uma primeira impressão de que o episódio não será tão interessante, mas felizmente o vilão eleva o nível, e acaba gerando um final bastante polêmico que coloca Data em perspectiva e faz o episódio ter uma profundidade que talvez nem esperava alcançar.

Avaliação: 3.5 de 5.

S03E23: Sarek – A Enterprise terá o privilégio de ser o local de negociações diplomáticas envolvendo o embaixador mais importante da história da Federação; o vulcano Sarek. Entretanto, uma vez que a legação diplomática entra a bordo da nave, seus assistentes apresentam um comportamento suspeito e não querem que ninguém tenha contato com o pai de Spock.

O episódio já começa prometendo muito pelo título, e, felizmente não decepciona. Claro que fica a gosto do freguês, pois o episódio não tem nenhum grande mistério ou trama política, como parece pela sinopse e pelos primeiro minutos de tela; em lugar, há um drama pessoal muito forte envolvendo esse personagem que transcendeu eras de Jornada nas Estrelas.

Por não serem exatamente o foco do episódio, as consequências das brigas despertadas pela nave acabam se tornando apenas anedotas ou momentos engraçadinhos, enfraquecendo o produto final – e também desaparecem subitamente, o procedimento final feito com o capitão seria suficiente para interromper isso também? Aliás, falando nisso, os momentos finais são dos mais marcantes de Picard no seriado.

Avaliação: 4 de 5.

S03E24: Ménage à Troi – Betazed é a sede uma grande conferência comercial, e a Enterprise está ajudando nas negociações ao receber uma delegação Ferengi a bordo. O problema (dos personagens e nosso também, como expectadores) é que Lawaxana Troi também está a bordo e mexe com o coração de um dos Ferengi, que deseja tê-la a qualquer custo.

Na hora que você a sinopse, o teaser, qualquer coisa já sabe que o capítulo vai ser ruim, nem adianta florear, Lawaxana Troi é sinônimo de porcaria, e mais uma vez não é diferente. Bom, sendo sincero, o desfecho no qual o capitão se vê obrigado a flertar através de recitar poesias é engraçado, mas é só isso mesmo.

As coisas são mal escritas, nem dá para entender direito quem são os personagens Ferengi (problemas de figurino e maquiagem), e há um inexplicável beijo entre Deanna e Riker que eu até achei que fosse algum flashback ou sonho, porque ou eu não sabia que eles estavam namorando naquele momento ou os roteiristas pisaram na bola – desconfio que seja o segundo.

Avaliação: 2 de 5.

S03E25: Transformações – A Enterprise encontra uma nave severamente avariada caída em um planeta, e um único tripulante com a vida por um fio. Após umas manobras médicas pra lá de extravagantes, a vítima é resgatada e apresenta uma melhora incompreensivelmente rápida, entretanto, sofrendo de uma amnésia completa.

As cenas iniciais contém, provavelmente, uma das curas mais absurdas já vista em Jornada nas Estrelas, o cérebro de La Forge assume o comando das funções involuntárias do ferido, meu Deus. É tão maluco que diverte. Pena que depois disso, só fica um capítulo morno e essas extravagâncias se tornam apenas furos de um roteiro preguiçoso.

Se tocar a mente de Geordi o “cura” de sua timidez, algo já bizarro, não é suficiente para curar as memórias do paciente – que voltam convenientemente quando sua origem já seria revelada, por exemplo. Além há uma porção de outros atalhos, como ele ser capaz de ressuscitar alguém que ele mesmo matou, ou o paciente que se apaixona pelo médico; e ainda uma arma ou poder sobrenatural avassalador que é demonstrado por uma nave rival também fica sem explicação. Há alguma boas ideias por aqui, mas não muito mais que isso.

Avaliação: 2 de 5.

S03E26: O Melhor dos Mundos, parte I – Não há mais como evitar a assimilação; descobrimos que os Borg chegaram no espaço da Federação após o ataque que dizimou completamente a afastada colônia de Nova Providência. Desde o contato com a espécie, a Frota iniciou um programa de aprimoramento de táticas e armamento especificamente para lidar com os ciborgues, liderado pela ambiciosa comandante Shelby.

Considerado o melhor final de temporada de Jornada nas Estrelas, para quem não viveu, dificilmente será possível compreender o impacto do gancho deixado lá em 1990; e é um grande capítulo mesmo. Já começamos com o pé esquerdo, por um bom motivo, o problema já está posto e não há perda de tempo em estabelecer algum mistério por trás dos eventos, apenas uma confirmação.

Atrelado à ameaça dos borg, há uma um outro drama que serve como condutor das ações destes personagens que, infelizmente, acabou envelhecendo mal – mas não por culpa sua. Shelby deseja ser a imediata da Enterprise e fará de tudo para mostrar como é merecedora do posto; e suas ambições foram despertadas pois ela descobriu que Riker recebeu mais um convite para se tornar capitão. Como hoje já sabemos que essa história de Riker capitão se repetirá outras trocentas vezes e nunca vai dar em nada, já dá vontade de revirar os olhos quando começam o papo dele sair da Enterprise.

Ainda assim, tudo funciona bem; a energia de Shelby cai bem para criar conflito com o pessoal meio morto de TNG – ainda que pareça mais uma caricatura algumas vezes – e é muito importante para enfrentar a maior ameaça já enfrentada pela Federação.

Avaliação: 5 de 5.


Últimos posts

Condição Artificial

Livre de todas suas amarras, o robôssassino vai atrás de entender seu passado. A novidade agora é sua interação com outros robôs e androides.

Lênin: uma introdução

Faz um esforço enorme de condensar vida e obra de Lênin em um livro de bolso; mas, ainda que seja uma boa introdução, oscila muito entre uma abordagem e outra, entre sua produção textual e eventos que ele participara.

Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

2 comentários em “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração – 3ª Temporada – Lista de Episódios

Deixe um comentário