Discovery – 5ª Temporada – encerrando em alto nível

Jornada nas Estrelas: Discovery


Após 5 temporadas em 7 anos, a mais polêmica série de Jornada nas Estrelas chega ao final; Star Trek Discovery se encerrou em 2024. Seus erros e acertos são materiais para outro texto em seguida, entretanto, inegavelmente foi o seriado repleto de altos e baixos – mais baixos que altos, é verdade – mas este foi o berço do Modern Trek e, felizmente, foi concluída em alto nível.

Sem depender de um grande mistério ultra master blaster secreto mega urgente e ameaçador plus advanced, e sem mergulhar os personagens em turbilhões emocionais, chororô, DRs ou palestras coach, o foco deste ano foi pura e exclusivamente na aventura e na exploração – como Jornada nas Estrelas deve ser.

Com exceção da aparência dos Klingon na primeira temporada, acho que os dois pontos baixos e fundos do poço da série ocorreram na terceira e quarta temporadas: em primeiro lugar, a revelação final sobre A Queima, ocorrida devido a um personagem chorar no lugar errado na hora errada, e depois, no ano seguinte, quando o computador nave desenvolve sua personalidade própria com transtorno de ansiedade e déficit atenção.

Dois dos principais problemas de Discovery: depender constantemente de “mistery boxes“, grandes mistérios que ganham cada vez mais importância e antecipação até normalmente serem revelações frustrantes, e o excesso de dramalhão; todos os personagens tem alguma patologia ou transtorno psicológico, incluindo a própria nave. Felizmente neste último ano a opção foi em não usar essas duas muletas.

Desde o começo sabemos exatamente qual o objetivo da aventura: encontrar a tal tecnologia dos progenitores. E as coisas que vão sendo adicionadas ao longo da jornada são explicadas e somam, não subtraem da compreensão geral: como a guerra civil entre os Breen – gostaria que isso tivesse mais desenvolvimento, todavia – e os momentos sobre relacionamentos, como os romances de Michael e Book ou Saru e T’Rina. Os namoros foram bem cadenciados, geram empatia pelos personagens e não atrapalharam o desenvolvimento do enredo.

Situações emocionais estas muito mais saudáveis e menos conturbadas entre as pessoas daquele universo que nos anos anteriores: Adira finalmente faz seu trampo como oficial cientista (ainda que tenha sido uma personagem desperdiçada, na qual seu simbionte não fez menor diferença) mesmo terminando o namoro; Culber e Stamets têm suas aventuras solo sem atrapalhar o casamento; Tilly provoca Rayner e um se acostuma com o outro. Michael finalmente precisou parar de sussurrar para os demais: o clima foi bom na tripulação da nave em seu último ano.

Algumas coisas pontuais:

  • Conexões com a Guerra Fria Temporal – gostei muto que continuaram aumentando o lore desse evento, que particularmente gosto, especialmente porque acabou abortado em Enterprise. Esforço que foi, literalmente, até os últimos minutos de projeção com uma revelação sensacional.
  • Breen – Utilizar essa espécie como vilões principais foi muito legal, e assim dar espaço para aumentar pontos “cegos” do lore prévio de Star Trek. No final, acho que ficou devendo coisa mais aprofundada sobre a guerra civil deles, suas origens e, especialmente seu final, que acabou apenas subentendido.

Se a trajetória do enredo desta temporada foi mais linear, com um destino já mais ou menos traçado, e com um final acabou por se mostrar consideravelmente insonso, conforme falaremos no final da resenha, o que deveria importar era a jornada. E de fato foi o que importou mais. Todavia, não se achou um meio termo entre os roteiros convulsionantes dos anos anteriores e a pegada mais calma deste aqui.

Dos 10 episódios, metade tem o mesmo formato e tema, um para cada uma das cinco peças do puzzle dos progenitores: os heróis descobrem onde mais ou menos está a parte do quebra-cabeças; os envolvidos ou artefatos estão lá pacientemente esperando há séculos; Michael e amigos enfrentam algum contratempo para conseguir reavê-la, um desafio bobo, sem grandes dilemas – até uma brutal explícita quebra da primeira diretriz é feita simplesmente porque os heróis querem – e o resultado é uma moral genérica, tais como como valorizar toda a forma vida ou conhecer a si mesmo.

Os capítulos que fogem dessa temática foram bons, com energia e inovações, entretanto, o final teve um tom mais baixo. Insonso, todo mundo toma as melhores e mais nobres decisões possíveis e faz com que os principais antagonistas da temporada mostrem-se despropositados. Concluímos que Moll e L’ak serviram apenas de “atraso de vida” para os protagonistas. Suas ações não têm repercussões duradouras ou decisivas para nenhuma das partes envolvidas – na grande batalha, a “irmã” de Book apenas para criar um pouco de turbulência espacial.

Algumas outras questões:

  • Saru sumido: envolvido em outras produções, Doug Jones, provavelmente o ator mais renomado do seriado, não conseguiu aparecer em muitos episódios todas suas tramas foram fracas. Acho que era o melhor personagem não-humano da série e se despediu de forma apagada.
  • Tripulação da Ponte: Apesar do destaque um pouquinho maior dado ao Comandante Rhys, que se tornou o terceiro em comando da nave, mais uma temporada em que todos ali não serviram de mais nada exceto cheerleaders de Michael. O uso de Rayner foi um acerto, e o retorno de Book não foi ruim (não deveria ter saído, se era pra voltar logo depois), mas nitidamente suas presenças em missões e discussões tiraram espaço de outros tripulantes que, agora, passaram a série inteira sem relevância.

S05E01: Diretiva Vermelha – Durante as comemorações de mil anos da Federação, a tripulação da Discovery é convocada para uma missão ultra secreta e urgente, missão de Diretiva Vermelha: uma nave romulana perdida desde o século XXIV é encontrada e nossos heróis precisam chegar até ela antes de outro outro oportunista da galáxia pois ela transportava algo muito precioso. O problema é que provavelmente alguém já a achou antes.

Gostei desse início de temporada, já com uma missão bem delimitada e revelada agora, dando um norte para nossos heróis – depois de temporadas arrastadíssimas do Modern Trek, cujas tramas principais eram reveladas lá pra metade do ano, é bom ter algo mais organizadinho. Por outro lado, o começo in media res, com uma sequência de ação intercalada, foi totalmente despropositado.

Entretanto, vencido esse recurso surrado, o capítulo tem um ritmo muito bom, com uma grande aventura em curso, várias localidades sendo visitadas, e efeitos especiais maravilhosos. Há algumas coisas muito interessantes, como a presença do sintético de centenas de anos, e outras menos, como a parceria com um capitão durão que tem métodos mais rígidos que Burhman, clichê velho de Star Trek; mas as coisas funcionam muito bem.

Não gostei muito de mais uma desculpa para trazer Book de volta para o convívio da tripulação – para quê tirá-lo antes, se era para volta já no primeiro episódio – e também estou com uma má impressão de arrastar a dupla de ladrões Moll e L’ak por tempo demais. Ainda assim, um início promissor para a temporada final.

Avaliação: 4 de 5.

S05E02: Sob as luas gêmeas – De posse das primeiras pistas atrás da tecnologia dos progenitores, a tripulação da Discovery segue para um planeta perdido que foi usado como cemitério pelos lendários Promelianos. Enquanto isso, o capitão Rayner passa por uma acareação após os eventos que quase levaram a milhares de mortes no episódio anterior.

Imprimindo um bom ritmo de aventura, o capítulo é quase que totalmente centrado na aventura de Michael e Saru na superfície desse planeta – a referência aos Promelianos é muito legal. Há uma sensível mudança de tom entre a temporada anterior, que era centrada em depressão, superação, e coach, para a atual, que está no tom de amizade e companheirismo. Algo muito positivo, mas parece fora de lugar, caindo de paraquedas, como o tal apelido “action-saru“. Discovey não tem meio termo, ou está todo mundo querendo morrer de tristeza ou em pura felicidade.

O arco de Rayner me pareceu forçado ao puni-lo por algo que não chegou a acontecer, mas foi uma boa saída para a questão do novo imediato – falando nisso, novamente, mais uma personagem que saiu da nave volta na primeira oportunidade com Tilly.

A aventura em si é legal, mas não é nada demais. Muitos lugares-comuns do gênero; exploração em ruínas na selva, armadilhas, eclipses e até uma constrangedora “tomada aérea” dos heróis se aproximando do local principal – que no final não foi visitado, aliás. Lembrar dos Promelianos foi bacana, mas a referência terminou no nome, nenhuma rima com A Armadilha de TNG, qualquer outra civilização daria na mesma. Por fim, diálogos de conclusão da expedição são muito corridos, tecnoblablá e difícil compreensão da linha de raciocínio dos personagens; agravando a noção de aventura genérica.

Avaliação: 3 de 5.

S05E03: Jilal – A próxima pista para encontrar a tecnologia dos Progenitores está em Trill, e para lá seguem nossos heróis. No planeta, um dos mais velhos simbiontes vivos foi contemporâneo do cientista romulano e guarda na memória sua parte no quebra-cabeça que a Discovery está montando – também é o momento de finalmente Adira rever seu namorado, Gray.

Temos mais um episódio com uma estrutura similar de fetchquest, e está se tornando repetitivo. O erro não exatamente está na jornada por colher as peças e os diferentes artefatos, mas sim pois novamente temos um cenário dos objetivos estarem lá aguardado a chegada dos heróis, lembrando um vídeo game. Mais uma vez se apresenta um “teste”; que, apesar da moral que realmente se encaixa bem, referente a entender diferentes formas de vida, é problemático ao passar por um segundo exame – seria possível vencer aquele dilema não fossem as habilidades de Dr. Dollitle telepata de Book? Da mesma forma, ainda depende-se de clichês como a personagem que estava escondida o tempo todo sem ninguém perceber para encerrar o episódio.

Algumas outras tramas se abrem e causam desconfiança; a estadia do, agora, comandante Rayner na nave foi legal, mas apenas um alívio cômico e a conveniente descoberta sobre a mercenária ser uma espécie de parente do Book parece levar para o mesmo caminho da temporada passada e o personagem de Tarka – vamos descobrir algum trauma do passado para ela, que ficará num dilema sobre ajudar ou prejudicar os heróis.

Avaliação: 3 de 5.

S05E04: Enfrente o estranho – Tentando entender onde a última pista leva, a Discovery chega aparentemente a um beco sem saída. Enquanto buscam enxergar a situação em que se encontram de outras óticas, nossos heróis são alvo de uma estranha arma temporal, que acabam colocado a Capitão e seu imediato em um loop passando por vários momentos da história da nave.

Uma saudável mudança de temática na temporada, que desde sua estréia estava dependente da jornada em busca de um artefato misterioso; e fazendo isso com um clássico da Ficção Científica e de Jornada na Estrelas, o loop temporal – sobra até para uma ótima quebra de quarta-parede numa rara boa piada da engenheira Reno. O episódio guarda muitas similaridades com Shattered, da última temporada de Voyager, mas acredito que conseguiu ter sua identidade própria; desde o conceito da arma temporal, muito interessante, a mesclar a temática do loop com as diferentes cronologias dentro da nave.

As coisas só ficam devendo com relação a alguns diálogos, característica que deveria ser o ponto alto do enredo. Se é legal ver como Rayner consegue convencer a Michael do passado de sua redenção, ao mesmo tempo ele levar Rhys na lábia por saber qual sua nave favorita (que era a mais famosa de seu período) foi um pouco ingênuo. E, especialmente, é incompreensível como a Michael do presente é capaz de levar a falecida tenente Airiam – a ciborgue – seguir suas ordens ao dizer que ela morrerá em breve. Mas ainda assim é um capítulo que consegue se distinguir tanto dentro da temporada, quanto na sua temática – e lembra o classic trek.

Avaliação: 4 de 5.

S05E05: Espelhos – Após uma melhor investigação de onde a última pista havia nos deixado, a tripulação da Discovery descobre um buraco-de-minhoca oculto e Michael decide atravessá-lo ao lado de Book. Chegando lá dentro, encontra a nave de Moll e L’ak destruída, mas um verdadeiro tesouro: a ISS Enterprise da era de TOS, perdida do Universo Espelho.

Apesar de já começar exigindo força de vontade do espectador, com o papo do buraco-de-minhoca invisível e imperceptível, e só agora notado, o capítulo empolga bem em seu início: ver a nave dos antagonistas destruída e encontrar um resquício do Universo Espelho foi bem legal, criando uma boa antecipação para o que viria. Infelizmente, não temos nada demais.

Com exceção de descobrirmos o real rosto de uma espécie, toda aquela situação é despropositada. Há uma contribuição para o lore de Star Trek ao sabermos mais sobre as “Reformas de Spock” – que, por sua vez, também implica em algumas contradições, já que fontes prévias havia dito que elas tinham um resultado e aqui implicam em outro, ainda que não necessariamente sejam excludentes – mas poderia ser qualquer outra nave naufragada para o cenário deste enredo.

O encontro entre Book e Moll, transformados em espécie de irmãos indiretos, mais uma bobeira – um bom momento pra dizer que eu até tinha esquecido que Michael era irmã adotiva de Spock, quando ela citou este fato aqui – serve de pretexto para flashbacks sobre como os bandidos amantes se conheceram. O conceito é até bom, sobre L’Ak ser um excluído e simplesmente querer sair da sua casa e assim se apaixonar pela forasteira, mas os diálogos, novamente, são fracos: a impressão é que Moll queria seduzir para enganá-lo e não um genuíno amor a primeira vista.

Da mesma forma, a jogada de Michael sobre a pista falsa foi incompreensível, por culpa dos diálogos, mais uma vez. Assim como a conversa entre ela a Airiam no capítulo anterior, você até entende o conceito da conversa – o ponto era que a androide se sacrificaria pela nave, e aqui que ela misturou uns objetos de diferentes tempos e universos para confundir os vilões – mas as falas em si são mancas.

Avaliação: 2.5 de 5.

S05E06: Compares – A próxima pista dos progenitores está localizada em remoto planeta desértico, originalmente quase não-habitável, mas que, devido a interferência de um cientista denobulano foi capaz de ser um confortável, e úmido, lar de uma simpática civilização pré-dobra. Nossos heróis precisam se infiltrar naquela sociedade e buscar a nova parte do quebra-cabeças sem quebrar a Primeira Diretriz.

É claro que na hora que há todo esse cuidado para explicar o estado primitivo daquela civilização nós já sabemos que a questão do episódio estará em torno da Primeira Diretriz. É um tema que eu gosto bastante, mas aqui poderia ter um trabalho um pouquinho melhor. Se pararmos para pensar, essa sociedade já era fruto de uma quebra da diretriz, entretanto, esse efeito não é alvo de discussão, é só aceito como um dado.

O esforço de Michael e Tilly de se infiltrarem lá, conhecer um pouco daquele povo, que tem suas características interessantes são pontos altos do episódio – mas que também aparecem e desaparecem a bel prazer do roteiro, como a comunicação por assobios que some totalmente, e o sacrifícios que só são explicados no último instante. Entretanto, esse tema da interação entre a Federação e planetas pré-dobra precedem de algum dilema moral ou ético para dar fôlego à trama, coisa que não ocorre.

Se a interferência anterior é livre de debate, como já é tida como dado, a discussão do que pode ocorrer aqui é deliberadamente dispensada pelos próprios personagens. Há até uma oposição, mas decidem a fazer porque sim e todos acatam – uma perda de oportunidade terrível – que se complementa ainda com uma uma decisão questionável (que mais pareceu um esquecimento) de, então, não levarem até o final sua intervenção e ajudar o resto do planeta.

Apesar de alguns conceitos interessantes, o episódio acaba empolgando pouco porque a estrutura continua repetitiva – está lá uma peça do quebra cabeças esperando nossos heróis a encontrarem, nem para alguma outra facção ou mesmo os nativos a pegarem, por exemplo – e porque a trama B é uma questão arrastadíssima sobre as sensações do Dr. Culber depois da sua experiência com o simbionte.

Avaliação: 2.5 de 5.

S05E07: Erigah – Michael recebe a informação de que outra nave da Federação conseguiu capturar o casal bandido, Moll e L’Ak, e corre para o quartel general da Frota, onde todos vão se reunir. Entretanto, parece que os Breen também têm essa informação e querem cumprir a risca a condenação de morte de seu fugitivo.

Gostei da agilidade em já nos levar direto para os prisioneiros; dado o ritmo de Discovery eu esperava um dramalhão e uma coisa mais arrastada até vermos eles. Felizmente tudo foi bem direto, assim como já somos apresentados ao dilema principal do capítulo: entregar ou não o casal ao potencial inimigo. Há uma trama sobre os Breen e sua instabilidade política que não sei se eu deixei passar ou só foi apresentada agora. Ela amarra melhor a estória do antagonista, e encaixa bem a trama “menor” com a “maior” da disputa no quadrante; mas contradiz sensivelmente a noção dessa civilização ser a maior ameaça da vizinhança se estão rachados.

Há uma porção de reuniões neste episódio, os personagens frequentemente se reúnem para discutir as coisas; há altos e baixos, e foi possível haver energia e tensão em todas a partir de opções simples, como a presidente não estar disponível, ou exageradas, com constante desacordo do Comandante Rayner – coitado, ninguém o ouviu em momento algum, baita desperdício do personagem, que vira e mexe acaba se mostrando um alívio cômico; mesmo involuntário.

A trama B sobre desvendar a próxima pista é regular, mas pouco empolgante, os personagens têm momentos de descobertas muito convenientes e súbitas, quase uma iluminação divina. Temos alguns clichês aqui e ali envolvendo casais de criminosos, sacrifícios e choros, que nos fazem revirar os olhos, mas o capítulo termina bem com as decisões finais, tanto de Moll, quanto dos heróis.

Avaliação: 3 de 5.

S05E08: Labirintos – A Discovery entrou numa corrida contra o tempo – e contra a maior e mais poderosa nave Breen – para encontrar a última peça faltante do quebra-cabeças que levará à tecnologia dos progenitores. Ela está em uma misteriosa biblioteca itinerante que guarda livros e documentos há mais de mil anos; uma vez lá, Michael precisará passar por mais um teste para se mostrar alguém digna de confiança para tão poderoso conhecimento.

O cenário da biblioteca é muito interessante, seria um local fabuloso, assim como é interessante seus “funcionários” serem pessoas nerds desajeitadas – além disso, o toque do enredo sobre o artefato Kwejian foi uma coisa de muito bom gosto. Entretanto, fora estes pontos, todo arco desse arquivo milenar é um desperdício: já começamos com uma situação um pouco estranha, a biblioteca é ultra secreta misteriosa, mas chegou lá, é só conversar com o pessoal que tudo certo, “bem vindos”. Esse contexto, com tudo o que será apresentado depois, dá a entender que o Arquivo tem algum sistema refinado de defesa ou poder que poderia resistir a qualquer grupo com más intenções – o que não se mostra verdadeiro rapidamente.

E toda aquela aventura para chegarmos em um dos testes mais bobos e menos empolgantes possíveis, com atenção a spoilers a seguir: referentes à conhecer a si mesmo e entender seus erros e defeitos. O final mais frouxo o possível para essa sequência cada vez menos engajadora de testes que aguardam nossos heróis.

Somos salvos, ao menos, por um final com uma reviravolta interessante sobre os Breen. Ainda que, realmente, acho que toda essa trama da mudança de liderança deveria ter sido melhor construída, demonstrando como paulatinamente os demais tripulantes vão comprando a ideia de Moll da ressureição e um caráter místico sobre essa ressureição – mesmo porque L’ak, até onde sabíamos, era um párea entre seus companheiros. E, igualmente surpreendente, foi a decisão dos protagonistas, que leva a um bom gancho para o próximo episódio.

Avaliação: 2 de 5.

S05E09: Ponto Lagrange – A Discovery consegue, aos trancos e barrancos, chegar ao final da jornada e encontrar o artefato que carregaria a tecnologia dos progenitores. Infelizmente isso não quer dizer muita coisa, pois os Breen chegam logo em seguida e de posse de todo o poderio de sua colossal nave são capazes de recuperar o misterioso objeto antes. Agora nossos heróis precisam descobrir um jeito de recuperá-lo de dentro do encouraçado inimigo.

O episódio repleto de energia; começando já com uma importante “reviravolta” ao fazer com que os inimigos coloquem as mãos no artefato antes. O primeiro caminho é usar uma linguagem de “heist movie” (filme de grandes assaltos), que tem seu valor e é uma abordagem válida, pois raramente foi utilizada em Star Trek. Entretanto, algumas coisas desse tipo de narrativa se tornam muito batidas e previsíveis quando optam pela comédia; em especial as conversinhas entre os “assaltantes” são uma bobagem – e furos de roteiro, ninguém mais escuta eles conversando entre si? Tem algum comando mental que a armadura sabe o que transmitir para fora e em canal seguro?

Há algumas coisas bem legais nessa aventura toda, por sua vez, como os “astronautas” enviados para explorar o dentro do artefato, uma referência bem legal a todas as estórias com essa temática de atravessar portais. E a sequência final com a Discovery entrando um local apertado é ótima. A ação é intercalada com uma trama B sobre Saru servir de enviado diplomático que é boa, mas não sai de um estágio de preparação neste episódio, deixando as coisas meio mancas, por ora.

O final deixa um gancho ainda muito interessante – apesar de parecer que faltou uma cena nessa cadeia de eventos, explicando como escaparam ou morreram naquelas grandes explosões – para encerrarmos a temporada e a série; o episódio seria excepcional não fosse por uma dispensável abordagem cômica da primeira metade.

Avaliação: 4.5 de 5.

S05E10: A vida em si – Michael explora um novo lugar dentro do portal dos Progenitores, enquanto isso, a Discovery precisa segurar os Breen em um ferrenho combate até a capitão – e Moll – entenderem as regras daquele misterioso lugar. Originalmente, concebido apenas para ser o final da temporada, a Paramount cedeu um pouco mais de verba e tempo para filmagens de aproximadamente 20 minutos de exibição como epílogo e assim encerrar Discovery neste episódio.

Apesar da divisão muito clara do que era original e do que foi adicionado posteriormente, não há prejuízo – já seria um episódio mais longo mesmo – embora acabem ocorrendo dois epílogos, um para cada final, após o encerramento da crise em torno do portal, e crie uma espécie da cacofonia.

Há um sentimento um pouco insonso em todo o arco dentro do portal pois não há nenhum grande acontecimento ou reviravolta – o auge de todos os eventos se dá quando o tripulação da Discovery descobre uma forma de se livrar dos Breen, fora de lá. O que, por sua vez, é razoável pois esta temporada não se baseou em nenhum grande mistério ou revelação, todo mundo estava atrás da tecnologia da qual todos já sabiam mais ou menos do que se tratava: criar vida.

Um ponto baixo foi interferência de Moll na estória toda, enfadonha, funcionou apenas como um dispositivo para atrasar as ações de Michael. Brigou com ela diversas vezes apenas para impedir da história andar, depois usou a tecnologia de forma indevida, mas que não gerou nenhuma consequência decisiva – e a questão da trava de segurança num puzzle simples demais foi uma bobagem.

A resolução é anticlimática por um motivo maduro, e que rimou em ser o final do seriado: “a vida que já temos é suficiente”. Todavia, ficamos com a sensação de faltar mais alguma coisa, alguma clarividência, alguma retrospectiva, alguma revelação ou reviravolta; pois a protagonista chegou lá, viu o que era, achou que era areia demais pro caminhão dela e tomou a melhor decisão possível – faltou um pouquinho de sal. Talvez uma clonagem de Lak que “desse errado” e interferisse na disputa Breen, por exemplo.

Os encerramentos foram protocolares e dentro do espero; casamentos, reconciliações, pazes, filhos, e pessoas bem sucedidas no futuro (e uma forçada de barra para encaixar com um Short Trek que nem me lembrava que existia). Não acho que seja ruim esse final feliz – hoje a moda é ter finais frustrados, e gostei de uma variação disso – mas faltou um pouco mais de reviravoltas; a única foi a revelação sobre Kovich, que eu particularmente gostei muito.

Avaliação: 4 de 5.

Ponto Lagrange – Diante do confronto final para a posse da tecnologia dos progenitores, somos surpreendidos desde o começo com os Breen ganhando a vantagem nessa corrida. Inicialmente o episódio tem contornos de heist movie, dispensáveis, especialmente quanto tenta fazer comédia (Discovery é horrível com comédia) mas a energia é constante durante toda sua duração que consegue sempre ter reviravoltas empolgantes e decisões intensas dos personagens, e é o ápice da temporada.

No meio da temporada, em Enfrente o Estranho, talvez temos o capítulo mais inovador e diferente deste último ano da série – que ficou preso na jornada pelas pistas – não decepcionando com uma inteligente armadilha temporal, e muito técno-blá-blá-blá típico de Star Trek.

Labirintos – Um dos poucos problemas dessa boa temporada foi a repetitividade da jornada pelas pistas deixas pelos cientistas, em todos os casos era algo que estava lá esperando pelos nossos heróis. Alguns contextos mais interessantes, outros menos, mas este aqui foi o ponto baixo – e, ainda, ironicamente, a última das peças. Um belo cenário da biblioteca itinerante que acumula todo o conhecimento da galáxia, uma possibilidade de confronto direto com os Breen, mas que serve para uma jornada, piegas e oca, de autoconhecimento de Michael – os coachs voltaram a trabalhar nos roteiros de Star Trek.

Além disso, em Espelhos, apesar de uma conexão profunda com o lore de Jornada nas Estrelas e de universo espelho – mas que, por sua vez, gera uma contradição sensível desse arco – o episódio não é muito mais que um cenário bacana.


Jornada nas Estrelas: Discovery


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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