Jornada nas Estrelas: Discovery – 4ª temporada – This is Us no Espaço

Jornada nas Estrelas: Discovery


Já que a Discovery não conseguiu retornar ao seu tempo de origem, nossos heróis precisaram se estabelecer definitivamente como habitantes do século XXXII e também como membros da Federação em sua época de reconstrução. Agora eles participarão do combate a mais uma ameaça a Galáxia.

Agradou: reconstrução da Federação, trama mais delimitada

Diferentemente da temporada anterior, quando, dependendo da forma que você olhasse, foram episódios demais ou episódios de menos, este ano não tivemos essa sensação graças a uma trama mais delimitada. O DMA é um risco generalizado, e acabou se tornando uma oportunidade da Federação se mostrar como algo necessário e de benefício mútuo ao nosso cantinho da galáxia.

Os capítulos que não avançavam de forma tão direta na resolução do problema geral da temporada normalmente foram bons, em missões com a cara da Federação, como a espécie em hibernação ou os presidiários deixados para trás. O saldo foi sempre uma sensação de caminhar para frente – enquanto na terceira temporada capítulos inteiros passavam sem novas pistas porque um personagem esqueceu de apertar um botão para decifrar alguma coisa.

Não Agradou: This is Us no espaço

Estrando em 2016, essa série se tornou um fenômeno de crítica e público; com uma carga alta de drama, o objetivo era fazer qualquer um chorar: o pai negro que abandonou a criança, que depois se descobre gay e ainda tem uma doença terminal, é um belo exemplo. Os gêneros se conversam na TV. Após o sucesso de Gray’s Anatomy todas as séries de fundo profissional (direito, policial, hospital) passaram a ter o foco nos relacionamentos e vidas pessoais dos personagens, e a ficção científica não é imune – Stargate Universe foi uma mistura, frustrada, de Lost, Stargate e Gray’s Anatomy. This is Us é uma evolução de sucesso dessa fórmula, e tentando capitalizar isso, Discovery cada vez mais passou a injetar esses dramas pessoais entre os personagens.

Chegamos ao limite onde a própria nave criou uma personalidade perturbada e precisando de terapia. Falando em terapia, a primeira metade é repleta de cenas extremamente desinteressantes com todos os clichês possíveis de conversas com psicólogos na TV. Claro que tudo isso numa pseudo-terapia, porque na realidade, o que temos nos primeiros capítulos é uma intensa propaganda coach, com mensagens sobre como sair da zona de conforto.

Diálogos se tornaram extremamente carregados. O papo de chamar a tripulação de família é bizarro – isso sim deveria ser investigado por um psicólogo; o pessoal ali tá com PTSD da viagem forçada no tempo e tá criando laços familiares com qualquer um – e inclusive atrapalha um pouco a compreensão de algumas conversas. Ou qualquer revelação de algum outro personagem sobre seu passado envolve algo como doença, abandono ou morte de ente querido.

E o pior é que tudo se resolve como no mundo coach, na picaretagem, não há cicatrizes psicológicas ou novos traços de comportamentos nos personagens. Para resolver os problemas é só uma questão de olhar para frente, sair da zona de conforto e amar os demais. A única personagem que realmente é tridimensional com o trauma que todos passaram ao ficarem presos no futuro, foi Nhan em sua participação especial. Nesse sentido, acabamos com uma tripulação extremamente pasteurizada feliz, contente e confiante com tudo – mas numa direção completamente oposta de TNG, por exemplo, pois aqui eles tem muitos problemas emocionais, de fato.

Ainda, vários episódios com problemas de roteiro, normalmente relacionados a antecipação de mistérios ou perigos que não se concretizam; como a trama de mistério e intriga política de Tudo é Possível, que se resume aos protagonistas pedirem mais uma vez para reconsideração das partes sobre o acordo, ou em Roseta, que a aura de terror e perigo jamais toma forma. Mas também algumas cenas e furos, em A Barreira Galáctica, a nave sem explicação que estava no esconderijo de Tarka ou a cena final onde o posicionamento dos personagens não corresponde ao desfecho.

Alguns outros pontos que incomodaram de formas mais pontuais:

  • Dinâmica de Saru como Imediato de Michael – Era provavelmente o personagem mais interessante e mais classic trek de Discovery, e ele ficou completamente perdido como imediato da nossa Space Jesus. Todo o arco de Michael foi centrado em desafiar os superiores, por isso ela nunca foi a capitão; e sempre sobrava para Saru segurar seu ímpeto. Agora com ela no comando, ela “desafia” os almirantes e altas autoridades de forma muito sutil, como todos os capitães o fizeram anteriormente, deixando Saru sem função alguma. Arrumaram um romance que caiu do céu para tentar dar sentido para ele.
  • Ni’Var e os romulanos – Houve até oportunidade para isso, mas o roteiro foi muito fraco e não explorou nada. Falta muito worldbuilding sobre o papel dos romulanos no novo planeta; eles abraçaram as ideais de Surak? Ou os vulcanos se abriram mais? Como funciona essa nova entidade governamental?
  • Adira Tal – Infelizmente a personagem foi um completo desperdício na temporada anterior e aqui foi ainda mais: em nenhum momento o simbionte teve algum papel em todo o enredo ainda que Adira apareça em todos os episódios.
  • Falatório e TecnoBaboseiras – Outro traço da primeira metade; um intenso falatório na ponte e uma pesada de mão no “vocabulário técnico”. E se tentarmos uma equação de Shumpter-Engels? Não! Isso vai alterar as partículas Hobsbawm do campo de Ônions!
  • Humor – Quando vão desistir de fazer humor em Discovery?
  • Trama política sacrificada – Muito da trama política decorrente da ameça do DMA e da reconstrução da federação é canalizada para tumultuar o namoro de Michael e Booker; não importa os rumos dos planetas e da galáxia, os episódios são estruturados para sabermos se um vai aceitar ou não a posição do outro. De certa forma, todos as estórias fazem isso, mas aqui, convergindo com as demais características da temporada, mais uma vez a carga dramática pesou.

Episódios

S04E01: Kobayashi Maru – Muita positividade tóxica neste começo de temporada; querendo estabelecer que os personagens estão acostumados e se dando bem no futuro, todo mundo está sorridente, se amando e falando rápido até a nave precisar participar de uma missão de resgate. Uma estação espacial da Federação está desgovernada e devido ao motor de esporos, a Discovery é a única capaz de chegar lá a tempo.

A série é competente em fazer a transição entre as histórias da terceira e da quarta temporada; fica tudo bem explicadinho. Entretanto, esse comecinho, ao mesmo tempo, incomoda. Com certeza os pontos mais baixos de Discovery são quando tentam fazer humor. A estética da série, o roteiro, a direção, as muletas interpretativas dos atores, tudo é construído para dramalhão; desta forma, ver todo mundo feliz é muito falso.

Há alguns elementos legais aqui e ali (tocar o tema do encerramento de Enterprise me arrepiou), o argumento é competente e a moral envolvendo o famoso teste imbatível do Kobayashi Maru é excelente. Mais inteligente do que eu esperava. Entretanto, Discovery continua como sempre pesando nos personagens e diálogos. Tudo é muito denso do ponto de vista emocional, mesmo coisas bobas. E o pior, não e lá muito efetivo justamente por isso… fica tudo extremamente previsível e as coisas não causam o impacto esperado, a destruição final até te surpreende, mas não te causa comoção.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S04E02: Anomalia – A Federação reúne seus principais integrantes e aliados para bolar algum plano de ação contra o misterioso evento gravitacional, mas antes de tudo é necessário colher a maior quantidade de dados possíveis sobre ele; e a Discovery é encarregada de fazer isso.

Apesar de belíssimos efeitos especiais – os momentos sem gravidade artificial são simplesmente fabulosos – toda ação, que domina o tom capítulo, acaba sendo arrastada e mal explicada. Ficou corrido para entender o estava acontecendo, o porquê das coisas e o próprio encadeamento dos problemas que estavam acumulando. Contratempos que são intercalados com diálogos mal escritos entre Stamets e Booker; demorei para notar que por família ele dizia a tripulação. Era só falar “amigos”; mas não… precisava de mais carga emocional. Interação dos personagens coroada com o recurso usado a exaustão na série do personagem-em-estado-catatônico-olhando-para-a-câmera.

O que vem me incomodando profundamente é que, na eterna promessa de desenvolver os personagens secundários, a solução encontrada foi transformar a ponte num falatório constante durante as adversidades. Aliás, não só a ponte, todos os personagens ficam num bate papo constante, não importa onde estejam. E soando tudo extremamente falso, pois o diálogo fica encadeado bem demais, um completando a fala do outro. Especialmente porque Discovery está pesando a mão demais no tecno-blábláblá, deixando as conversas ainda mais inverossímeis.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S04E03: Escolha Viver – As entregas de dilítio pela Federação estão sofrendo assaltos constantes de uma Qowat Milat, a seita romulana de freiras ninjas. Visando a retomar relações com Ni’Var (Vulcano), é aceita uma missão conjunta entre a Federação e essa ordem romulana, liderada pela capitão da Discovery, para investigar o porquê desses ataques – o último deles resultou na morte de um oficial.

O capítulo intercala a busca de Michael – acompanhada de Tilly e sua mãe (?? ainda é difícil engolir essa) – com a sessão no Instituto de Ciências de Ni’var, em dois interessantes enredos. Neste último, há um inteligente diálogo sobre a contraposição entre a “repulsa” dos vulcanos pela emoção e a necessidade delas pela espécie de Booker; enquanto no primeiro argumento, temos uma grande premissa para a “causa perdida” a qual a atacante Qowat Millat se engajou desta vez. Um belo pano de fundo digno do classic trek.

Infelizmente, Discovery continua a pesar tudo com um constante dramalhão; o arco de Booker rende frases como “precisava saber se ele me ama de verdade“; e o arco de Michael flerta com uma bobajada coach sobre a personagem de Tilly “sair da zona de conforto”. Tudo para revirarmos nossos olhos.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S04E04: Tudo é possível – Pelo título, aparentemente, um coach passou a comandar os roteiros de Discovery. Enquanto finalmente a Federação consegue chegar a um acordo para que Ni’var retorne à aliança interplanetária, a academia da frota solicita oficiais da nave para auxiliar na formação de cadetes. Como eles fizeram parte da “era de ouro” da Frota, em um passado distante, saberiam melhor lidar com os novos e desmotivados alunos oriundos da galáxia pós-Combustão.

O pior de tudo é que essa questão da Frota é excelente, um dos argumentos mais inteligentes de todo o seriado. Entretanto, descamba rápido e completamente para um arco protagonizado por Tilly querendo sair da sua “zona de conforto”. Ela fez isso liderando os cadetes numa adversidade extrema de forma péssima; conseguindo motivá-los, mudar sua visão da Frota e uns dos outros, apenas gritando para eles se acalmarem, falar amenidades em situações estressantes e descobrindo “segredos do passado” de um deles.

Para ajudar a naufragar o interessante argumento, ela é acompanhada, sabe lá Deus porque, de Adira Tal – exatamente, vamos nos lembrar, outra pessoa que cresceu em um planeta que se fechou (a Terra). E se recusando a usar o conhecimento do simbionte para essa missão. Provavelmente, para dar um ar de superação individual, de mudança de “crenças limitantes” dela, sem interferência externa. O coachismo se manifesta ainda quando temos vários minutos de tela de sessões de terapia do Dr. Culber com Booker e Tilly, que é apenas uma coletânea de clichês. Acabei me surpreendendo que tudo não terminou com Constelação Familiar.

A premissa do problema em Ni’Var também é boa, Michael e Saru chegam a conclusão que existem ainda há elementos no planeta que não desejam o retorno do planeta à Federação, deixando as autoridades mãos atadas. Ótimo. Mas, neste caso, somos vítimas de um roteiro péssimo com péssimos diálogos: o “mistério” por trás sugerido, não existia de fato; e o que os protagonistas fazem (que só eles e nenhum outro presente poderia fazer) é apenas pedir para cada lado ceder um pouquinho. Da mesma forma, a solução final é pouco inteligível.

Um destaque que ilustra o péssimo roteiro é que até a geografia do arco de Tilly é extremamente confusa. Ela sempre pula de um lugar para o outro; por exemplo, o capítulo começa com a Discovery sobre Ni’Var, Michael explica a missão e na cena seguinte ela está na sede da Frota. Era muito mais fácil colocar essa cena antes da Discovery chegar no planeta.

Avaliação: 1.5 de 5.

Muito Ruim (1,5/5)


S04E05: Os exemplos – No meio do caminho do DMA (o nome que essa anomalia gravitacional recebeu) há uma colônia habitada, um antigo posto avançado da Corrente Esmeralda. Liderada pela Discovery, a Federação precisa evacuar os asteroides antes da catástrofe. Uma vez lá, as autoridades locais não desejam salvar uma parcela ínfima da população; presidiários.

Provavelmente o que mais chama a atenção neste episódio (além do criativo visual do “planeta”) é a quantidade de referências; desde naves nomeadas a personagens importantes do passado à menção de várias das espécies mais interessantes já criadas no universo de Star Trek. A trama por trás deste capítulo é bem nobre também e carrega alma de Classic Trek, embora eu gostaria que aparecesse mais confronto entre a Federação e as autoridades dos asteroides – o diálogo final entre a capitão e o Magistrado foi maravilhoso.

A linha narrativa do seriado preferiu, como sempre, focar nos dramas interiores dos protagonistas, perdendo tempo na tensão despropositada entre Booker e Michael sobre o destino de um personagem, apenas para conflitar mais o romance dos dois. Uma trama B sobre o experimento do micro DMA preenche o tempo de tela de forma mediana, para a introdução de (mais um) cientista de personalidade forte.

Para uma série tão focada em dilemas pessoais, problemas psicológicos, tá na hora de alguém estudar a cultura acadêmica da Frota nos séculos XXIII e XXXII que só produzem cientistas pau no cu.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S04E06: Tempestade What if starships have feelings? Em uma de suas últimas aparições, o DMA deixou uma fenda subespacial aberta, a qual a Discovery irá explorar em busca de novas informações do fenômeno. Uma vez lá, é claro que vai dar problema e nossos heróis se vêem presos em um espaço hostil.

Ao colocar na ponta do lápis é um capítulo em que absolutamente nada acontece, inclusive visualmente. A opção de colocar o espaço completamente vazio ao redor da Discovery não é de todo errado, e achei até legal a decisão da capitão em encerrar a missão. Entretanto, para algo assim é necessária uma trama de fundo para manter o capítulo ainda em aberto.

E a opção encontrada de como manter tensão numa missão que falhou novamente só permite a nós concluirmos que um coach tomou de assalto a direção da série, de fato. O computador da nave criou uma personalidade, e pior, uma personalidade insegura que precisa da tripulação levantando sua bola, a acalmando, a animando, dizendo que confia nela…. A cereja do bolo é que a Discovery está sofrendo, ainda, com déficit de atenção. Tudo isso para culminar em uma cena da nave cantando, um dos momentos mais patéticos de todo o Trek.

Sem condições. Faça um favor a si mesmo e pule este episódio; a única coisa relevante é que eles encontram uma pista de que quem criou o DMA pode ter vindo de fora da galáxia.

Avaliação: 0.5 de 5.

Horrível (0,5/5)


S04E07: Para conectar – A Federação sedia um encontro interplanetário aberto para não-membros com o objetivo de deliberar sobre o curso de ação ser tomado contra o DMA: buscar sua destruição ou sua compreensão. Enquanto isso, Zora, a personalidade desenvolvida pela nave, passa por uma espécie de julgamento devido suas ações.

Essa questão sobre a Discovery ganhando vida dá uma melhorada aqui; ao invés do foco completo na insegurança de sua personalidade, isso é dividido com um dilema ético sobre o computador da nave e sua postura. Um dilema suave, claro, o importante é mostrar como todo mundo se ama; o que está gerando um efeito colateral, os tripulantes da Discovery estão se tornando todos muito pasteurizados no seus papeis de coachs. Todo mundo está lá para levantar a bola dos demais.

A grande tensão se dá na assembleia; a discussão é interessante mesmo com o foco, de novo, como em Os Exemplos, está em colocar Michael e Booker em posições opostas. Toda aquela dezena de espécies estão ali apenas para ver o romance dos dois em jogo; tornando a votação final anticlimática em certo sentido. que importa é se o namorado vai aceitar a posição da namorada e vice-versa, não os planetas e raças concordarem com o curso de ação. As implicações de cada proposta e o gancho gerado, todavia, são bons.

Avaliação: 3 de 5.

Mediano (2,5/5)


S04E08: All in – Booker e Tarka estão atrás do material necessário para construir a arma que será capaz de acabar com o DMA; enquanto isso, a Discovery tenta encontrar mais informações sobre a espécie que criou a anomalia – e ambos vão parar no mesmo lugar. Acho interessante episódios retratando o “submundo” em Jornada nas Estrelas, tem sempre um valor; e aqui a caracterização geral e alguns detalhes são bem interessantes – como os desenhos do baralho ou a aparição de um metamorfo.

O roteiro e a trama são razoáveis (especialmente por ser mais focado, sem tramas B dividindo atenção) ainda que, novamente, os momentos de humor sejam muito fracos. O grande problema é que tudo é muito previsível, você sabe exatamente o que vai acontecer quando uma personagem deseja lutar ou quando outra toca em um determinado objeto (com diálogos bem previsíveis também, você já sabe que vai haver uma lição de moral quanto a tenente aborda Tarka.

O resultado é um episódio correto mas pouco inspirado, que de forma muito pobre, tenta criar tensão ao editar em ritmo de vídeo clipe um jogo de cartas, e depende muito do ponto mais fraco do seriado, o humor. Ainda que talvez tenha sido a primeira vez que a bela Owosekun teve algum tempo maior de tela no seriado, o que é positivo.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S04E09: Rubicão – A Discovery se prepara para interceptar Booker e Tarka, que estão prestes a atacar o DMA; mas, sob desconfiança da Federação, a nave recebe a presença de uma velha conhecida com a missão de garantir que Michael siga com seu dever. O arco de Nhan é bastante interessante, e aparentemente foi a única pessoa que sentiu, de fato, ter ficado presa no futuro a essa altura do campeonato. Sua história foi muito mais efetiva que as horas perdidas com cenas de sessão de terapia, personagens em estado catatônico e diálogos dramalhões.

Infelizmente, apesar de toda a preparação para seu retorno, parece que se perderam na de usar a personagem. Os confrontos entre ela e protagonista foram tímidos. Colocaram-na com uma possibilidade muito agressiva – matar todo mundo – logo de cara, o que forçou, inevitavelmente, pisarem no freio ao longo do capítulo. Ao mesmo tempo, essa disputa evidenciou como o personagem de Saru ficou perdido nesse rearranjo das posições da nave; ele de imediato e Michael de capitão não me pareceu funcionar bem até agora.

O ápice do episódio foi uma incrível sequência de perseguição entre as duas naves envolvidas que se tornou um dos momentos mais memoráveis do seriado. Apesar de um desfecho ousado que move a história adiante de forma ágil, não gostei exatamente desse intervalo entre a perseguição e ação final, um “compromisso” inverossímil, com um ar de otimismo também pouco crível, e a personagem de Nhan perdida nessa história toda, para forçar ainda mais surpresa com a reviravolta final.

Avaliação: 3.5 de 5.

Bom (3,5/5)


S04E10: A Barreira Galáctica – Sem mais alternativas, a Federação precisa seguir até os limites da Via Láctea para tentar entrar em contato com espécie 10C; e a Discovery receberá uma porção de delegados de vários planetas em uma comitiva diplomática com essa missão.

Temos um capítulo de altos e baixos; se o pano de fundo dessa grande delegação é interessante, inclusive com dramas pontuais de alguns dos membros dela, rapidamente isso é sacrificado para aumentar a tensão – o que se torna uma muleta constante desse roteiro. Você achava que a missão era urgente, então ela é mais urgente ainda; opa, correção, agora tem que ser ainda mais rápido… e tudo isso é entregue apenas em diálogos. Não são ações dos personagens que tornam a missão mais apressada, apenas informações que eles recebem.

Nesse caso a Discovery estar ou não carregando dezenas de pessoas importantes para aquele universo ficcional pouco importa. Os dilemas do episódio, a iminência do perigo cada vez maior, deveriam ser tratados, ou até mesmo gerada, entre esses diversos representantes. Algo nessa direção até acontece, ainda que provavelmente da forma menos interessante o possível; com apenas duas personagens que já conhecemos discutindo sobre uma informação.

Por outro lado, um ponto alto inquestionável é a viagem da Discovery por dentro da barreira. A responsabilidade era grande; essa intransponibilidade dela é um item presente desde o segundo piloto, em 1966 e, finalmente, passar por ela, exigiria muito – o que foi correspondido. Toda a jornada e os visuais dentro dela foram excelentes.

Ocupando tempo demais de tela, temos uma trama secundária revelando mais sobre o passado de Tarka, O personagem está se tornando bem tridimensional, algo positivo, mas essa estória está se mostrando já com vários furos.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S04E11: Roseta – Finalmente chegamos à origem do DMA; entretanto, antes de encarar de frente os tão poderosos seres, nossos heróis decidem explorar um planetoide próximo, de onde talvez a espécie 10C teria se originado e, assim, terem mais informações sobre o que podem esperar e como realizar o Primeiro Contato.

O capítulo tem premissas e conclusões muito interessantes e, devo admitir, conseguiu amarrar bem a questão do foco nas emoções com o enredo central da temporada. Entretanto, tive uma percepção de problemas de ritmo e roteiro; ao chegar na superfície do planeta, a trilha sonora e visuais te colocam num clima de terror, de perigo crescente, mas que, na realidade não se concretiza. As ações dos protagonistas são pequenas e meio que a impressão é que tudo se resolve sozinho. Isto porque são feitas rápidas conclusões de rápidas observações e, de posse delas, os personagens já se mostram satisfeitos.

Enquanto o corpo principal do episódio é lento e pequeno em ações, a tensão fica depositada no núcleo dos antagonistas do momento, que também é relativamente devagar, embora explore de forma interessante uma divergência entre os heróis. Todavia, o roteiro aqui se torna problemático ao final, pois a conclusão não corresponde com o que vimos anteriormente, quando a personagem que tem a vantagem aparece subjugada sem explicação.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S04E12: Espécie 10-C – É chegada a hora; nossos protagonistas estão prontos para realizar o contato com a civilização mais poderosa já conhecida no universo. E é realmente um episódio bem interessante; extremamente focado, não há tramas B nem perda de tempo – claro que um diálogo de “está tudo bem” ou “eu confio em você” não pode faltar na temporada coach – para a reta final desta estória.

Todos os personagens estão dedicados no Primeiro Contato com a tão antecipada Espécie 10-C, ou em realizá-lo ou em impedi-lo, já que a dupla de antagonistas continua trabalhando contra o nobre propósito. A inserção de uma terceira personagem, que eu até particularmente não gosto, nessa relação se mostrou boa e cumpriu um importante papel desenvolvimento desse núcleo – ainda que tenha sido tudo previsível demais, especialmente porque teve a descoberta de mais uma tragédia pessoal da tripulação.

Enquanto isso, a trama principal foi sempre muito boa. Ainda que com uma dose razoável de tecno-baboseiras, foi tudo muito bem construído. Você se sente realmente descobrindo junto dos personagens a resolução dos quebra-cabeças e como será possível conversar com a poderosa raça desconhecida. Falando nela, apesar de anticlimático não ter aparência revelada, eu achei que foi uma boa e elegante decisão.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S04E13: Volta para casa – Mais uma vez a Discovery empreende uma perseguição contra Tarka, que decide atacar sozinho a fonte de força do DMA. Enquanto isso, será necessária muita habilidade diplomática para superar a desconfiança da Espécie 10C depois de tudo o que houve neste final pouco corajoso da temporada.

Não desgosto de finais bonzinhos, afinal é praticamente disso é constituído Jornada nas Estrelas, entretanto, para uma série que deseja ter tanta carga dramática como Discovery, este encerramento não deixa de ser decepcionante. O conflito principal contra a 10C não me incomodou tanto. Ainda que a história deles não se verem como indivíduos e a forma como a tradução avançou tanto em uma ou duas horas dão uma fragilidade ao desfecho; e diferentemente do capítulo anterior, tiram um pouco a força de você ver heróis superando e desvendando o problema.

Uma coisa que me chamou a atenção e demonstrou mais uma vez falta de cuidado no roteiro é que Michael, pela primeira vez desde que saíram do quartel da Federação, lembrou dos delegados diplomáticos que a Discovery estava transportando para o Primeiro Contato. Completamente ausentes de todas as decisões tomadas, eles são rememorados, apenas para serem ignorados logo em seguida. Quando vi uma comitiva descendo ao planeta para a conversa final, imaginei que seriam eles, mas inexplicavelmente são os tripulantes da ponte.

Acredito que a covardia se deveu muito ao desfecho dos personagens; o único que se deu mal foi justamente o “vilão” – quando vocês perceberam que não há vilão nesta temporada? – todo o resto, inclusive quem trabalhou contra os protagonistas, não viu consequência alguma do ocorrido na temporada. Já que tudo deu certo com a poderosa-mas-de-bom-coração civilização extra-galáctica, seria necessário contrabalancear com alguns probleminhas dos personagens. Até mesmo as cenas que se passaram na evacuação da Terra, se mostraram completamente desnecessárias, não houve nenhum dilema ou escolha (nem visuais muito interessantes).

Um final extremamente pasteurizado tudo deu certo de forma pouco inventiva.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


Melhor Episódio

Espécie 10-C – O antecipado Primeiro Contato com a espécie homônima não decepciona. A opção do episódio é muito elegante e inteligente, ao invés de tentar surpreender com a aparência aterrorizante dos antagonistas da história, ou focar numa ameaça que ela representaria, o roteiro é dedicado a fazer você caminhar junto com os protagonistas nas descobertas. E é muito competente, você se sente junto com eles desvendando o mistério. Uma sensação maravilhosa que remete à essência da Ficção Científica, um dos melhores episódios do seriado (e de Jornada nas Estrelas).

Infelizmente, o núcleo na nave de Tarka, apesar de caminhar para frente, é muito previsível. Você já sabe o que vai acontecer a cada diálogo – inclusive que algum outro personagem revelará uma tragédia do passado, como comentamos, Discovery virou um This is Us no Espaço. Acho que funcionou bem – a Reno, particularmente, é insuportável, com as tiradas repetitivas, mas deu certo para mexer na dinâmica – só não é nada demais.

Pouco antes dele tivemos o belo Barreira Galáctica, quando nossos protagonistas vão enfrentar o maior obstáculo conhecido no universo de Star Trek e não decepciona. Uma aventura belíssima e divertida. Já no começo da temporada, tivemos o Escolha Viver, um raro “episódio episódico” de Discovery que conta uma pequena historinha bem interessante e que tem a alma do Classic Trek.


Pior Episódio

Tempestade – É impressionante a capacidade que esse seriado tem para ser humilhado, e desta vez eu falo seguramente. Isso está registrado no comentário que eu fiz na Rádio Bandeirantes. Discovery deu o maior vexame de sua história, e não vai ter um vexame pior que esse. Ser cancelado, não vai ser pior que ser humilhado, execrado, ser pisoteado, ter a história cuspida e escarrada por uma nave com TDAH. A tal da Zora é uma nave de várzea. Discovery não existia no cenário do mundo até 2017.

Além daquela palhaçada, Tudo é possível foi realizado apenas para justificar a saída de Tily do seriado através de uma história coach de sair da zona de conforto em uma trama muito ruim e um roteiro péssimo.


Jornada nas Estrelas: Discovery

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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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