Os Anéis do Poder – 1ª Temporada – Um legado (e uma narrativa) de peso

O Senhor dos Anéis já foi considerado um livro “inadaptável”. Desde os anos 30, já haviam discussões sobre animações com o enredo de O Hobbit, e a partir dos anos 50, sobre a trilogia principal. Os direitos chegaram a ser comercializados para várias partes diferentes, e o próprio Tolkien teve discussões com cineastas para verificar a viabilidade. Não só pela grandeza da obra, mas as próprias intenções do autor não eram bem compreendidas – entendiam os livros como um grande conto de fadas ou algo do tipo.

Felizmente um neozelandês provou que todos estavam errados e conseguiu fazer uma sequência de obras primas que até hoje é a recordista de óscares. Quando fora anunciada a produção de um seriado, ainda mais com um enredo original, a discussão voltou a tona.

Originalmente pensava-se em contar sobre Quarta Era, após os eventos da trilogia, algo totalmente inédito; mas mudaram para a Segunda Era. Esta que, apesar de haver escritos sobre, é a menos explorada do Legendariun de Tolkien; uma decisão ainda mais ousada. Acredito que, assim como os longas-metragens, mostrou-se que sim, a obra é adaptável.

Não sem alguns percalços; ninguém será capaz de ter a mesma visão que o próprio autor na adaptação – até hoje os debates sobre o quanto que Christopher Tolkien tem de autor em suas edições são calorosos, por exemplo. Particularmente acho que os roteiristas não conseguiram captar a essência dos elfos nesse período, e o ritmo da narrativa é irregular, conforme discutiremos mais logo a seguir, mas o saldo é muito positivo – a qualidade é excepcional.

Agradou: Cuidado na explicação do lore; adições originais; diversidade do elenco; efeitos especiais; e ótima produção.

Coitada da minha esposa; a cada 10 minutos dos primeiros episódios eu pausava a exibição e tentava explicar alguma coisa que eu lembrava dos termos e personagens citados. O problema é que eu li a obra de Tolkien há exatamente 10 anos atrás – e até por influência dela, que gostou dos filmes e eu não (na época) – e já não me lembro tão bem das coisas assim. E qualquer um que se aventure a falar do tema tem que ir bem vacinado: a genialidade do autor é conhecida; mas o cuidado com seu lore é enorme.

O seriado conseguiu ir paulatinamente apresentando os elementos principais – com exceção de um contexto sobre os elfos que tratarei na secção seguinte – de forma calma e bem didática; em capítulo aprendemos sobre as árvores de Valinor, em outro sobre as Silmarils e assim sucessivamente. Os diálogos expositivos foram supreendentemente poucos se pensarmos o quão carregado é o contexto.

E isso é feito de forma bem interessante ao articula-los com elementos originais da série,envolvendo um minério, que acabam sendo explicados em conjunto. Que achei bons e sóbrios; tenho ressalvas com relação ao disfarce não previsto de Sauron, mas não por ser algo original, e sim pelo desfecho que coloca em xeque a inteligência dos protagonistas (supostamente os mas sábios seres da Terra); não convence nossa Galadriel como uma jovenzinha inflamada, tratando-se do ser vivo mais velho entre todos que apareceram – ela é parte da segunda geração dos Eldar; Gil-Galad e Celebrimbor da terceira.

Não gostei da escalação das versões jovens do personagens, conforme falaremos a seguir; entretanto a diversidade do elenco é bastante interessante. Atores e atrizes de diversas partes do mundo, assim como de etnias variadas são capazes de dar um ar mais internacional à produção; que é excepcional, todo episódio é um pequeno filme.

Provavelmente se você já zapeou por aí nas críticas sobre o seriado, encontrou entre as primeiras reclamações o ritmo narrativo; acompanho os relatores. Não chega a tornar a série ruim; não caiam nessa, há um papo furado sobre ela ser woke, seja lá o que isso signifique nas mentes doentias das pessoas que acreditam nisso, conforme já apontamos; mas a narrativa pesa um pouco. Há capítulos em que após um segundo exame, parece que não aconteceu nada, enquanto há outros que aconteceu coisa demais e não fomos capaz de entender tudo; especialmente no início da temporada.

Estava bastante difícil caminhar com os diferentes núcleos e frentes narrativas; a partir do terceiro episódio, os roteiristas conseguiram se organizar melhor e alguns arcos simplesmente desaparecem, em um bom sentido, para podermos focar em outros. Conforme as tramas vão se conectando as coisas melhoram nesse sentido; mas esbarramos em outros problemas. Há muito “vai-e-vem” nos episódios finais: os personagens perdem algo para ganhar algo, e perder de novo; pazes são feitas, desfeitas e refeitas. Quando juntamos uma coisa a outra – uma estória com tanto para contar em seu início, que passa a ficar patinando ao encerrar – o problema fica nítido.

No encerramento, por sua vez, fica latente um outro problema, e aqui já entramos mais profundamente nas implicações do universo ficcional de Tolkien; veremos que a forja dos anéis está diretamente ligada à arrogância dos imortais, de acordo com os escritos do autor. Entretanto, isso não é bem trabalhado ao longo do seriado – pelo contrário, a exceção de Gil-Galad, que é mais tratado como soberbo; a impressão é que todos os elfos são puros e ingênuos, idealistas e bobinhos, apesar de terem alguns bons milhares de anos de idade. Celembribor é um senhor de meia idade tolo e sorridente que aceita qualquer coisa; Elrond é praticamente um adolescente e Galadriel, que inclusive provavelmente é a mais velha que todos os citados aqui, uma jovenzinha que não sabe se comportar em um ambiente de corte.

As versões “jovens” dos personagens que vimos em Senhor dos Anéis não só não se parecem com suas contrapartes fisicamente, como agem de forma muito diferente – toda a caracterização deixa a desejar nesse sentido. E compõe um retrato dos elfos que não corresponde ao contexto, não só a obra original, como do próprio seriado. Os Anéis do Poder mostrou que sabe despejar bem e de forma inteligível o lore de Tolkien, e podia explicar de forma muito melhor como os elfos, de fato, têm uma presença controversa na Terra Média, especialmente desde o final da Primeira Era, quando foram convocados de volta para Aman (Valinor) e ainda assim alguns decidiram permanecer.

Em conjunto com a queda de Númenor, a estória da Segunda Era é justamente composta por arrogância dos mais nobres habitantes da Terra Média; os elfos (Noldor) que permanecem por lá se entendendo como guardiões de uma terra não é sua, e os númerorianos, que deveriam liderar os homens mas se fecharam em sua ilha como criaturas superiores. O seriado não é competente na tarefa – até o final da primeira temporada – de demonstrar isso e ficamos com um final no qual só parece, ao seguir adiante mesmo sabendo quem era quem e com tanta coisa mal contada, que eles foram só burros.


S01E01: A sombra do passado – Mil anos antes dos eventos de O Senhor dos Anéis, a Terra-Média parece se encaminhar para, finalmente, um período de paz. Galadriel, uma das Eldar mais renomadas é a encarregada de caçar os últimos servos de Morgoth. Mesmo de posse de algumas pistas, sua busca é infrutífera e os Elfos decidem por encerrar seu estado de guerra e tentar inaugurar um novo período de harmonia e prosperidade – e despachar nossa heroína para as terras imortais.

Começando com uma introdução sobre o período em Valinor, passando para a busca de Galadriel; também conhecemos uma caravana de pés-peludos; voltamos para a capital élfica, conhecer Gil-Galad e Elrold, e ainda ver a rotina de um posto avançado dos elfos no sul – destinado a vigiar territórios povoados por humanos descendentes de antigos aliados de Morgoth. Que viagem pelo passado da Terra Média!

A primeira impressão do seriado é a que fica para toda a obra, para bem e para o mal. Muito cuidado na introdução dos elementos e do contexto ficcional – por exemplo, ainda não era necessário mencionar as Silmarils e não o foram – mas também muitas estórias interconectadas, algo que parece dificultar o ritmo geral. Ainda assim, não sentimos muito aqui pois o objetivo é introduzir todos os núcleos principais dessa jornada – todavia, a estória principal sequer é apresentada, em um segundo exame, temos apenas a consolidação do “worldbuilding“.

Na estrutura, o capítulo tenta remediar essa falta de movimento ao começar com uma sequência de ação e depois fechar com a adição de um monte de mistérios e perguntas. E aí há essa questão de ritmo, pois algumas coisas nem precisariam ser mistérios: como os projetos de Celebrimbor, por exemplo; sabemos depois que é algo muito marginal, mas tratados como segredos que alterariam tudo. Todavia, essa combinação geral é competente e nos querer fazer continuar assistindo.

Avaliação: 4.5 de 5.

S01E02: À deriva – Enquanto as crianças dos pés-peludos, Nori e Poppy, tentam entender de quem se trata o homem que caiu do céu; um destemido elfo-da-floresta se recusa a partir da sua missão de vigia – em parte por uma paixão impossível, e, em parte, por perceber algo estranho na região, assim, decidindo investigar. Galadriel é encontrada por um grupo de náufragos após fugir de seu transporte para Valinor; e, finalmente, conhecemos o reino dos anões em seu grande esplendor quando Elrond deseja reencontrar um velho amigo em Khaza-dum.

Se Os Anéis do Poder já parecia grandiosa – e difícil de acompanhar – agora mais uma nova trama é aberta com a introdução dos anões. Este é o grande atrativo do capítulo; ver a cidade enterrada nas montanhas em seu auge é algo esperado há muito e é preenchida com tramas interessantes; a amizade rompida que escancara a forma como as diferentes raças vêem a passagem do tempo e a vida é tocante; e todo um arco de uma agenda oculta por parte dos anões é também inaugurada.

O elo fraco acaba me parecendo a trama nas terras do sul; o romance entre homens e elfos é citado, na própria série, como algo que ocorrera uma vez (e a segunda será no Senhor dos Anéis) mas calhou de vermos mais um aqui e agora. Embora, ainda há uma grande cena de ação e perigo. É um episódio muito movimentado, para compensar a trama de Galadriel, que fica virtualmente paralisada. Acontece muita coisa, mas não sentimos a trama andar; na realidade, ainda aumentam-se as perguntas – e fica, enfim, rimando com título e a trama dos náufragos: estamos à deriva na estória.

Avaliação: 3 de 5.

S01E03: Adar – Galadriel e seu parceiro de naufrágio são resgatados e levados a mais magnífica e importante cidade já construída pelos humanos: a ilha de Númenor. Apesar do passado de alianças entre seus habitantes e os elfos, nossa heroína não é bem recebida e encontra um reino completamente fechado em si mesmo. Enquanto nisso, no outro extremo, Arondir, o vigia elfo, acorda num campo de prisioneiros – e encontra os seus antigos companheiros de guarda.

Mais focado, o episódio consegue fazer avançar no enredo; foi considerado pelos produtores como o segundo piloto da série devido à introdução do núcleo em Númenor – a principal localidade da Segunda Era. Foi interessante essa opção, e maior parte do tempo de tela deste (e do próximo) episódio é utilizado por lá; para tentar explicar mais ou menos aquele contexto – a maior parte que há de escritos sobre o período por Tolkien são justamente descrições da ilha, sua administração e personagens ilustres, sendo necessária calma para introduzi-los.

Percebemos, como será recorrente, que algum dos outros núcleos desaparece – aqui, no caso, o envolvendo os anões – para termos mais tempo em outro – Númenor por ora. Não é de todo mal, são muitas estórias diferentes correndo ao mesmo tempo, ficando saudável focar em uma ou outra frente, entretanto, causa estranhamento quando notamos o sumiço de, até mesmo, protagonistas, como o caso de Elrond.

Há um espaço, ainda, para desenvolver o lore dos pés-peludos e entendermos mais sua relação com as migrações – embora as incógnitas sobre o “estranho” apenas se avolumem. O capítulo movimenta bastante o enredo e a ação; mas se a briga é boa nas trincheiras dos Orcs, também a série começa a dar sinais de alguns diálogos corridos. Eu havia suspeitado que os elfos eram os mesmos do batalhão, mas algum diálogo deveria existir para estabelecer a conexão entre os envolvidos – algo simples na linha “vocês também vieram parar aqui?” – mas desencanei, e achei que eram vários prisioneiros diversos feito ao longo do tempo (em conjunto com os habitantes das vilas atacadas). Com tanta coisa para contar e mostrar; parece que estão cobrindo a cabeça para descobrir os pés em alguns momentos.

Avaliação: 4 de 5.

S01E04: A Grande Onda – A marcha dos acontecimentos se aceleram na Terra Média: conhecemos o grande comandante dos Orcs do sul, um elfo rebelado chamado Adar; também entendemos melhor qual a agenda oculta dos anões que tanto têm medo de serem descobertos; e Galadriel faz de tudo e mais um pouco para tentar sair de Númenor com alguma vantagem.

Se no segundo episódio parecia que aconteceu muito e não andou nada, aqui a impressão é que aconteceram coisas demais e perdemos algo. Pela primeira vez achei um episódio mal escrito: os eventos que ocorrem envolvendo os anões são quase incompreensíveis. Claro que deduzimos mais ou menos, mas as coisas foram muito corridas; os anões já estavam lá trabalhando com os elfos e aconteceu alguma coisa, não sabemos exatamente o que, que fez com que Celebrimbor desconfiasse de Durin – que já voltara para sua Terra natal (quando ocorreu então o desentendimento?). Uma vez lá, temos uma trama bobinha que se resolve rapidamente ao revelar o segredo dos anões e tudo termina bonitinho demais – fechando com um diálogo muito fraquinho entre pai e filho.

Também resolve-se a jornada de Galadriel por Númenor, que oscila muito, mantendo-se o nível dos diálogos muito baixos. Essa elfa que simplesmente é um dos seres mais antigos na existência, que talvez tenha mais de 7 mil anos durante estes eventos, mas não sabe lidar com reis e rainhas não convence – tudo bem, pode ser um fase, vamos relevar. Entretanto, a “lição de moral” do seu companheiro de cárcere é outra conversa incompreensível e termina com uma série de clichês sobre como todo mundo sabia o que todos estavam fazendo.

Saídas previsíveis e fáceis são constantes neste capítulo; todo mundo sabia onde Galadriel iria; a mensagem de Adar para os humanos era um ultimato; tudo entre elfos e anões era um mal entendido; pais e filhos se amam – embora estou gostando muito como o lore do Silmarillion é apresentado paulatinamente conforme surgem os temas. O episódio parece encerrar uma espécie de primeiro ato da temporada; e a impressão é que precisavam resolver algumas tramas rapidamente aqui antes de passar para a próxima – pegando as saídas mais sem sal para tudo.

Avaliação: 2.5 de 5.

S01E05: Partidas – Galadriel ainda luta contra a oposição em Númenor para realizar sua expedição contra as forças malignas nas Terras do Sul, e, por lá, o bicho ainda parece que vai pegar. Os orcs se preparam para atacar os humanos refugiados na torre, mas dentre os flagelados, há os que desejam aceitar a proposta de submissão a Adar. Enquanto isso, verdades são reveladas entre elfos e anões, e seus respectivos interesses – e o estranho começa a ser alvo de desconfiança de sua amiga.

Achei que o capítulo anterior encerrava um ato da temporada; e aqui temos a mesma sensação – o que não é bom. Na Grande Onda achávamos que “agora vai”, Galadriel vai pra Terra Média, os Orcs vão atacar a torre… mas nada disso acontece e continuamos na mesma toada em praticamente todos os núcleos. Todo o arco da explosão dos barcos é puro desperdício, não tem efeito na oposição à guerra dentro da ilha e o filho do primeiro ministro é um dos personagens mais unidimensionais da série. Da mesma forma, tanto mistério sobre o punho, agora chave, e continuamos patinando, nada é explicado. Há uma rima interessante – e a transição entre as duas estórias a partir da hesitação de Halbrand é maravilhosa – mas tudo isso, conforme a narrativa caminha, tem cara de continuação do episódio anterior (e vem ao final de quase 2h de projeção).

A parte mais polêmica, do ponto de vista do universo ficcional, está na agenda oculta dos elfos com os anões: a origem do Mithril através das Silmarils é uma invenção do seriado – e na hora me causou estranheza; o roteiro compensa dizendo que é algo apócrifo com uma inteligente quebra de quarta parede. Ainda não me convenceu; não gostei muito dessa questão os elfos estarem com o prazo de validade vencendo na Terra Média ser colocada agora, pois era uma pauta da Terceira Era; todavia pode ter alguma conexão com os planos de Sauron – e os diálogos ficaram muito melhores e bem explicados aqui, vou dar um voto de confiança.

A parte que ficou mais bem acabadinha é a envolvendo os pés-peludos e o Estranho; que acaba, justamente por não exigir muita ação e drama, não sentindo tanto a falta de ritmo e de movimento na narrativa – é tratada como algo secundário, em um bom sentido, que não precisa de repostas rápidas. O problema é que gastamos mais de 70 minutos parados no mesmo lugar justamente nos personagens e enredos com a proposta diametralmente oposta: tensão e mistérios.

Avaliação: 3 de 5.

S01E06: Udûn – Não há mais escapatória para os homens do sul, as forças de Adar estão todas reunidas e vão tentar, de todas as formas, reaver o misterioso artefato de Sauron; matando quem precisar matar e destruir o que precisar ser destruído.

Foi surpreendente escrever uma sinopse tão curta como esta para um episódio do seriado; é o primeiro em que apenas uma das linhas narrativas aparece – embora, no caso é porque duas delas irão se encontrar, com o perdão do mínimo spoiler – e os demais núcleos ficam em suspenso. E isso é permitido porque todo o capítulo é integralmente dedicado a sequências de batalha; as lutas pela posse das “Terras do Sul” de forma esplendorosa – ainda que suscite algumas dúvidas de passagem de tempo.

Ainda que eu ache que a sequência inicial deveria pertencer ao capítulo anterior, tão pouco movimentado, aqui funcionou muito bem. Todas as cenas são ótimas, e constituem um crescendo de tensão cada vez mais interessante com novos elementos adicionados em cada etapa da luta – algumas inspirações são óbvias da temática dos aldeões em defesa da sua vila, mas é difícil escapar delas. O problema, nesse sentido, encontra-se no seu final com uma grave falha de roteiro envolvendo o “Macguffin“; o punhal de Sauron.

O seriado abusa muito da nossa boa vontade de aceitar que nenhum personagem sequer abriria o pacote – especialmente Galadriel, que foi incumbida da perseguição dele nunca quis verificar do que se tratava. Assim como Théo, o garoto, saber a localização foi algo inesperado em um mau sentido; inclusive cheguei a achar que a salvação dos heróis viria pelo fato que ele teria dado o embrulho errado aos vilões já que não era verossímil ele saber de seu esconderijo, cuidadosamente escondido por Arondir – até mesmo de nós expectadores.

O desfecho é ótimo e marcante, a criação de tal lugar tão emblemático da literatura; gostei demais, e amarra muita coisa da temporada, mas o roteiro se enrolou muito para fazer as cenas que o antecederam – e sem necessidade, era só posicionar diálogos mais importantes (como o entre o elfo e seu “enteado”) antes e a revelação se fizesse assim que Galadriel chegasse no acampamento e a transformação do local sendo feita de forma mais espaçada.

Avaliação: 4 de 5.

S01E07: O Olho – Enquanto os sobreviventes da criação de Mordor tentam se encontrar em meio a cinzas e chamas; os demais grupos da estória voltam a se movimentar: o “estranho” tem seus poderes colocado a prova pelos pés-peludos, que ainda o encaram com desconfiança; e, nas minas de Khazad-dum; Elrold e seu amigo, Durin, tentam de todas as formas convencer o rei anão a ajudar os elfos com a mineração do Mithril.

A narrativa volta a se abrir, mas com os núcleos aglutinados as coisas ficam mais organizadas e parecem caminhar melhor – ainda que ache que o começo, entre os destroços, ficou devagar demais; especialmente sabendo que nos encaminhamos ao final da temporada. Ao menos serviu para termos um raro momento de Galadriel sem ser diretamente envolvida nas suas batalhas – embora há uma sutil mas aguda contradição de cânone envolvendo seu marido.

O que irrita um pouco neste episódio é que todos os conflitos ficam maçantes, com vai-e-vem, nitidamente para prolongar a estória em um momento tão crítico: o estranho ganha a confiança da tribo para logo em seguida perdê-la; Elrond leva um não, para em seguida ganhar um sim, para reverter em um não; os numenorianos querem sair da luta para depois continuar… isso, novamente, em reta final de temporada, dá uma sensação terrível de tempo perdido pois estamos desesperados por respostas e resoluções.

Avaliação: 3 de 5.

S01E08: A Liga – Em clima de ressaca, Galadriel e Halbrand retornam aos elfos para prestar conta dos ocorridos nas Terras do sul – mas acabam encontrando-se com Elrond e descobrindo todos os outros problemas que sua raça está enfrentando. Uma espiral de crise se abate entre os imortais, e as soluções começam a emanar, supreendentemente, de um homem.

Talvez o mais polêmico de todos os capítulos ao conter as principais revelações do seriado até o momento e, de fato, iniciar a trama que dá título à obra. Antes de chegarmos ao cerne da questão, gostaria de fazer apontamentos sobre as tramas marginais: em Númenor as coisas tiveram cara de nota de rodapé e contadas pela metade, contendo apenas alguns flashes e cortes dos eventos. Levando em conta os 72 minutos de projeção, é uma sensação problemática de se passar. Por sua vez, com os pés-peludos e o Estranho, há o mesmo ritmo de sempre, uma estória mais leve e com um avançar em pedaços, com um final comovente e satisfatório – embora me desagradou mais um “vai-e-vem” de se separarem, para se encontrarem de novo na sequência.

Com isso tudo posto de lado, podemos nos deter sobre o núcleo élfico e a grande reviravolta da série; nos é revelada a verdadeira identidade de Sauron e, infelizmente, se mostra decepcionante. Toda essa fase inicial de seu disfarce não existia na obra original (apenas o disfarce que ele tomará nas próximas temporadas); o que por si só não é um problema, mas sim que o seriado não constrói bem o contexto para essa revelação. O personagem tinha um passado nebuloso, sim, mas não parecia ser esse (a única cena na qual há uma indicação nesse sentido é sua discussão com Adar), algo que só se revela agora – em sua interação com Celebrimbor. Pelo contrário, na verdade, há uma cena muito destacada (até a citei acima sem saber) de hesitação interior dele sobre seguir ou não adiante.

O que nos leva a uma situação que causa mais estranheza, na qual os elfos passam a saber da origem por trás dos anéis e ainda assim decidem continuar. Algo que não seria tão absurdo se um dos fatores principais de toda essa estória dos anéis fosse melhor levantado; a arrogância dos elfos e, especialmente, de Celebrimbor. Muito da sua forja, na obra de Tolkien, vem desses sentimentos por parte dos imortais, na ânsia do artesão se comparar a Feanor (o autor das Silmarils) e de se considerarem guardiões da Terra Média. Pelo que vi da segunda temporada, talvez isso seja melhor trabalhado lá, mas aqui ficou capenga… os elfos todos ingênuos e bobinhos caindo na armadilha por burrice e falta de fazer as perguntas certas para Galadriel.

O final consegue amarrar tudo e terminar em alta, com a confecção dos artefatos e conclusão dessa jornada que acompanhamos até agora – apesar da “moral” da narrativa, na falta de melhor palavra, não ser a melhor.

Avaliação: 3.5 de 5.

A Sombra do Passado – conforme levantamos, o primeiro episódio é uma amostra muito competente de todo o seriado. Um cuidado extremo ao despejar o lore de Senhor dos Anéis, um dos mais densos e ímpares da fantasia, e uma porções de núcleos diferentes se movimentando simultaneamente. O que destaca esta abertura é que ela é extremamente competente em te fazer querer continuar assistindo; cada nova frente narrativa é mais intrigante que a outra – o episódio consegue emular o tom épico da trilogia original.

Além deles, gostaria de destacar Adar e Udun – curiosamente remetendo o mesmo personagem – que são bastante centrados (este último trata apenas de uma narrativa) e grandiosos. O primeiro tem a difícil tarefa de apresentar Númenor, em seu auge, mas subterraneamente em decadência; e o segundo é o mais agitado repleto de batalhas em um crescendo de tensão e brutalidade.

A Grande Onda – Talvez a principal crítica do seriado seja em relação ao seu ritmo narrativo predominantemente muito lento, mas que em alguns pontos avança, dando um senso de irregularidade. Há alguns episódios em que parece acontecer muita coisa mas a trama continua parada; neste aqui, paradoxalmente, a trama avança muito mas não acontecem muitas coisas. Temos a sensação que foi um episódio igual aos filmes editados para TV na Sessão da Tarde, os personagens falam de coisas que não vimos, e as passagens de tempo não ficam muito claras – especificamente tudo envolvendo a disputa entre anões e elfos por aí. Diálogos muito fracos abrem e encerram este episódio, talvez o único ruim da temporada; especialmente, sabendo dos desdobramentos posteriores, quase tudo aqui foi uma grande perda de tempo.

Essa sensação de tempo perdido reaparece também em O Olho; enquanto abrimos com uma lenta – mas justificável – sequência envolvendo os sobreviventes da erupção, o capítulo começa a andar em círculos – inclusive na mesma trama criticada no parágrafo anterior na minas de khaza-dum – personagens levam um não para ganharem um sim, e terminam com outro não, por exemplo.


Os Anéis do Poder


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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