Uma das coisas que mais me decepcionou nos tempos mais recentes das produções de Guerra nas Estrelas, foi o encontro entre Ahsoka e Luke, encaixado no péssimo O Livro de Boba Fett. – por sua vez, esse evento se passou em episódios de O Mandaloriano que estavam perdidos por lá, vale lembrar. Uma conversa entre os dois seria maravilhosa: histórias sobre Anakin e Padmé, conselhos e críticas sobre a antiga ordem Jedi… algo para ser marcante e emocionante. Mas, no final, não rolou nada. O encontro foi rápido e protocolar, porque o objetivo era fazer Grogu voltar logo para Mando e a dupla socorrer aquele seriado fraquíssimo.
Esse tom é o tom que se tornou hegemônico nas produções americanas após o sucesso da fórmula Marvel/Disney. Com raras exceções, a maioria dos filmes desse universo são todas obras que são incompletas por natureza, lançam-se tramas para serem tão somente para continuadas em outras num círculo vicioso; os filmes se tornaram as próprias cenas pós-créditos.
O mesmo aconteceu com Guerra nas Estrelas.
Com o sucesso de O Mandaloriano, aquele seriado se tornou uma espécie de central de spinoffs envolvendo o período posterior ao Retorno de Jedi; um buraco dentro do lore de Guerra nas Estrelas que precisa ser preenchido já que a trilogia sequel não explicou absolutamente nada. A ideia é interessante, entretanto, a intenção parece ser mais distante de explicar qualquer coisa, e mais próxima de simplesmente dar espaço para criar novas produções – qual a contribuição do Livro de Boba Fett para o universo de Star Wars? Nenhuma. O resultado são obra vazias, que servem apenas para gerar as próximas.
Esta é uma sequência de Rebels? Um sequência de Clone Wars com personagens de Rebels? Um spinoff de Mandalorian? Um prequel de uma nova trilogia? Ahsoka prometeu muito, mas seguiu para o mesmo caminho de ser uma obra esvaziada; ainda que com qualidade um pouco superior.
Agradou: Thrawn, misticismo e Império pós-apocalíptico
A aparição de Thrawn, um personagem com grande presença de tela, em versão live-action correspondeu a altura. Talvez um outro ator com um físico mais imponente pudesse contribuir de alguma forma – o que me incomodou foi a postura curvada dele e, como vários dos personagens transferidos da animação, suas cores e maquiagem – mas a interpretação, e em, especial, a voz (foi exatamente seu dublador em Rebels que reprisou o papel) tornaram-se decisivos para trazê-lo em carne-e-osso de forma satisfatória.

E, quando ele chega, trás consigo o melhor do seriado: a visão da espécie de um Império Pós-Apocalíptico: uniformes em frangalhos, naves semidestruídas, armaduras reconstruídas com pedaços de outras… fabuloso. Isso poderia ter sido uma versão ótima de uma trilogia sequel, por exemplo.
Por sua vez, ao contrário do que ocorreram nos miseráveis episódios VII, VIII e IX, nos quais a Primeira Ordem chegou com tudo novinho em folha, brilhando, em números enormes e com uma força avassaladora; esse Império caído precisou recorrer a outras formas de se tornar ameaçador, e formas subversivas. Buscou aliar-se com usuários incomuns da força, como as irmãs da noite de Dathomir ou a escória imperial infiltrada na administração da Nova República. Uma roupagem verdadeiramente nova de ameaça aos mocinhos, não o reboot meia boca que tivemos em o Despertar da Força.
- Retorno de Anakin: mesmo eu achando que, no frigir dos ovos, o encontro entre mestre e aprendiz foi algo inócuo e resumindo-se a diálogos sem sentido; foi maravilhoso ver o retorno do ator e uma encarnação em live-action do mestre e da aprendiz com Hayden Christensen.
Não Agradou: uma obra que nasceu para ser incompleta; e seus “mistérios” não ou mal explicados.
Vários foram os memes que surgiram na estréia de Ahsoka, defendendo ou criticando, a necessidade de assistir outras tantas obras além dos filmes e seriados live-action atuais para compreender a nova produção. Esse é um debate antigo: filmes e séries as quais são necessárias materiais de apoio para uma completa compreensão, é uma uma desculpa para problemas na produção? Por exemplo, um filme o qual é necessário ler o livro original para entender melhor, ou uma história em quadrinhos original que compensa os furos de roteiro.
O problema não é a quantidade de bagagem é necessária para ter a apreciação total de Ahsoka; uma infinidade de séries multimídias possuem essa característica de ter seu universo ficcional espalhado em várias obras. A trilogia Senhor dos Anéis é uma obra prima nesse sentido, assistir os filmes sem ler e depois de ler os livros são experiências completamente diferentes; a produção soube deixar referências ou cenas com mensagens que apenas os leitores entenderiam. Entretanto, a referência para os “iniciados” não pode prejudicar os “não-iniciados”.
Ainda assim, esse não é exatamente o problema de Ahsoka e sim que – seguindo ao pé da letra o formato Marvel – este é um seriado cujo próprio enredo que está pulverizado no meio de outros tantos. Um pedaço de Ahsoka está em Mandalorian, outro em Boba Fett, outro em Rebels, outro em Clone Wars… mesmo eu tendo assistido tudo isso, fiquei perdido – eu nem lembrava que Elsbeth era a mesma personagem daquele episódio de Mando.
Não há esforço algum desta série em tentar dar sentido a esse monte de pedaços de sua história espalhados por aí: ainda são apresentados outros personagens sem a menor introdução – como a dupla de (falsos?) Jedi, que não tem história de fundo, não têm conclusão… nem o nome da aprendiz eu consegui pegar.

Há até um terceiro Sith (também não são Siths…?), sobre quem que até havia um mistério envolvendo sua identidade, mas no final não era ninguém e morre sem cerimônia alguma. Os “mistérios” plantados por Ahsoka lembram os mistérios da trilogia sequel: totalmente mal administrados, aparecem e são esquecidos a toa sem serem respondidos… o que Thrawn estava fazendo? O que ele veio fazer de volta? Para onde ele foi? O que ele estava carregando? Aqueles que são respondidos, como nos episódios VII, VIII e IX, são de forma simplória: onde Ezra estava e o que ele fez esse tempo todo? Esperou, pura e tão somente isso.
Se o começo é uma decepção, com cada pedaço das premissas estando em outros trabalhos, o encerramento é ainda pior. Apesar de um salto com a aparição do Grão-Almirante, não há resolução das tramas de nenhum personagem, não há epílogos, não há despedidas, não há diálogos expositivos… ainda desconfio que o final de Ezra não era aquele, e mudaram só para, de fato, o seriado ter alguma mudança entre seu início e fim.
Ahsoka foi uma não-história, sem começo e finalizando em uma não-conclusão.
- Cores demais: um problema da transição dos personagens animados para o live-action foram foram as cores vivas dos personagens. Cores de pele, cabelo, roupas; todas agrediam a visão do espectador e algumas se mostraram em visuais ruins, como a maquiagem de Thrawn ou o cabelo de Jacen. Além disso, também desapontou que os personagens oriundos de animação, estavam com as mesmas roupas de Rebels, tal como uma linguagem de animação, quando as vestimentas se repetem, o que empobrece a direção de arte da série.
- 5ª temporada de Rebels: sem identidade, oscilou entre uma série sobre Ahsoka ou uma nova temporada de Rebels.
- Fora de personagem: achei que Ahsoka ficou muito distante de seus retratos tanto de Clone Wars quanto de Rebels. Uma interpretação soturna, observadora, falas vazias ou outras que explicam exatamente o que fará em seguida – um cacoete de todos os personagens aqui – e uma mestre autoritária é muito diferente da intensa padawan e da calma e terna agente Fulcrum da Aliança Rebelde.
- Lutas repetitivas: com exceção de um combate final, a maioria das coreografias são pobres. Apesar de uma novidade com Ahsoka usando dois sabres, poucos foram os momentos que isso fez diferença; há pouco uso da força; e os novos personagens também não contribuem em novidades nesses cenários. Tudo foi bem repetitivo: uma correria com os heróis cercados, Ahsoka dançando e Sabine atirando.
- Trama política extremamente juvenil: lembrando também desenhos animados, a contextualização social e política é péssima. Os mocinhos sabem a verdade e nenhuma figura de autoridade não só não acredita, como quer atrapalhar os nossos heróis. É um recurso infantil que tenta emular aquela sensação da criança e do adolescente não compreendidos pelos adultos. Todo o contexto entre a trilogia original e a sequel é muito pobre e mal explicada; este seriado apenas continuou a tendência.
- Ritmo: se por um lado temos momentos muito juvenis, como a adolescente rebelde acelerando uma moto com música alta fugindo da responsabilidade, em outros há longas sequências contemplativas dos personagens desvendando coisas.
- Diálogos péssimos: com o seriado de dedicado a não contar história alguma, partindo de todos os lugares e indo para lugar nenhum, raríssimos são os bons diálogos. A maioria são extremamente rasos, em especial o reencontro entre o mestre e a aprendiz, completamente oco. Ou falas vazias, no qual os personagens abusam do clichê de preparar o espectador para algo “surpreendente” em seguida, não explicarem o que vão fazer.

Episódios
S010E1 – Master and Apprendice – Uma estranha dupla de usuários da força aborda um cruzador da Nova República alegando serem Jedi. Uma vez dentro da nave, eles resgatam uma importante prisioneira: Morgan Elsbeth, uma “bruxa” da irmandade de Dathomir (espécie introduzida no romance de 94, A Corte da Princesa Leia, jamais editado no Brasil, e tornada canônica na terceira temporada de Clone Wars), que havia sido capturada por Ashoka (durante os eventos da segunda temporada de O Mandaloriano) junto com pistas sobre um mapa que indicaria a localização do Almirante Thrawn (desaparecido após a quarta temporada de Rebels). Enquanto a antiga jedi tenta decifrar o mapa, a vilã libertada partirá em busca de retomá-lo.
Só pela sinopse já dá pra perceber que é está série é uma muito intrincada: é necessário um conhecimento profundo do lore de Star Wars para compreender cada componente. As reclamações contra e a favor de uma série tão mergulhada no universo ficcional viraram memes. Entretanto, o problema não é esse; e sim que parte dela estão presas, indissociavelmente, a outra: não se tratam de referências, mas de parte integrante de Ashoka que está perdida em outros seriados (como o Livro de Boba Fett tem dois episódios que, na realidade, são de Mandalorian). Uma opção que apenas empobrece todas as obras envolvidas, pois todas se tornam incompletas.

Este episódio de estreia oscilou em vários tons: se em um momento era totalmente contemplativo, com uma longa sequência da protagonista decifrando um artefato, em outro, há um velho clichê de uma jovem rebelde-sem-causa dirigindo em alta velocidade escutando música alta. Conhecendo o ritmo e apresentação das obras de Star Wars, a impressão é de estarmos vendo um segundo filme de uma trilogia – no sentido há uma história previa, e pegamos as conseqüências do que aconteceu no filme anterior para embarcar ainda em outra aventura.
E, na realidade, o que tivemos aqui foi uma nova temporada de Star Wars: Rebels. Apesar disso por si só não ser ruim, o episódio não empolga como deveria: as sequências envolvendo Ashoka são boas, tanto as mais lentas quanto as mais rápidas, entretanto as aparições dos demais personagens são juvenis, como era na animação (incluindo o fato de estarem usando as mesmas roupas daquele seriado, que se passa anos atrás) e estamos assistindo a uma história como se pegássemos uma conversa no meio.
Mediano (2,5/5)
S01E02: Toil and Trouble – Com os vilões de posse do mapa que levaria a Thrawn, restou aos nossos heróis buscarem alguma pista que explique o que está acontecendo. Estudando os droides que a atacaram, Sabine descobre que eles foram enviados dos estaleiros de Corellia – que eram de posse da própria Elsbeth (a prisioneira resgatada) durante o Império – e Ahsoka vai até lá verificar o que está acontecendo.
Passada a barreira – criada pelo próprio seriado – de conectar pontas soltas de outras produções, o capítulo é capaz de nos envolver muito mais em sua trama genuína. Toda a conspiração nos estaleiros é muito interessante e é capaz de nos convencer que há engrenagens maiores se movimentando. Entretanto, ainda há problemas de ritmo; acabamos usando muito tempo (de um episódio que é mais curto) com uma tensão despropositada sobre a cabeça de um robô explodir, e sobra menos para a tensão na sala de comando do estaleiro – e ali estava o ouro, o melhor do episódio.

Da mesma forma, mais focado na ação, se não temos muito tempo de tensão, também temos pouco sobre a resolução deste problema. Enquanto assistimos a luta de sabre e a perseguição aérea, as coisas se resolveram fora-de-tela no que se refere à conspiração – e desenvolvimentos fora-de-tela são constante no seriado.
Bom (3,5/5)
S01E03: Time to Fly – Rastreando o hyperdrive que fugiu de Corellia, Ahsoka – que tenta retomar o treinamento de Sabine – chega até a órbita do planeta Seatos, na qual há uma gigantesca nave espacial em estágios finais de construção. Enquanto isso, Hera tenta convencer o Senado da Nova República de que há uma conspiração em andamento.

Não há como não se decepcionar com a falta de profundidade desta série após assistimos Andor. A cena da reunião entre Hera e os senadores é ridícula. Um diálogo escrito de forma juvenil – como absolutamente todos os que precisam explicar o contexto dos filmes e séries que se passam após O Retorno de Jedi, vale lembrar – deixa a impressão que todos ali são burros ou egoístas e não conseguem entender a nobre e sagaz lógica de Hera. E, na realidade, quem comete o erro é própria general em sua argumentação e do roteiro; ao invés de mostrar que o problema é o desvio do hyperdrive gigantesco para um objetivo escuso, foca-se nesse mistério de Thraw e Ezra. No caso, teríamos que nos perguntar se os senadores assistiram e leram todos os seriados e livros necessários para compreender de onde estamos partindo.
Enquanto isso, a jornada de Ahsoka é mais interessante e rende uma cena um pouco exagerada, mas divertida, dela combatendo no casco de sua nave. Infelizmente, tudo fica previsível demais, especialmente por estar emulando as sequências da Millenium Falcon do episódio IV – exercícios Jedi na nave, nave sendo perseguida por caças e combatida por um canhão operado por uma artilheiro. E além disso, fica claro o grande elefante branco da sala da série; Sabine não sendo sensitiva da força (como focado neste capítulo) e sendo treinada Jedi.
Ruim (2/5)
S01E04: Fallen Jedi – Após pousarem em Seatos, Ashoka e Sabine decidem se preparar para atacar de frente os seus inimigos que estão tentando desvendar o mapa secreto. Enquanto isso, um pequeno esquadrão de caças da Nova República, liderado por Hera, decide investigar o que está ocorrendo naquele planeta.
Nos detalhes, é possível perceber como o seriado é decisivamente menos caprichado que deveria na escrita dos roteiros. As heroínas desconheciam que os inimigos estavam fazendo alguma coisa na superfície do planeta, mas decidem que lá existe uma base e precisam atacar. Os bandidos, por sua vez, compreensivelmente descobrem onde elas estão, e enviam ondas de inimigos para combatê-las. Enquanto isso, preferem ficar parados em estado catatônico olhando para o nada e falando frases vazias.

Há uma reviravoltinha com relação a separação entre Sabine e Ahsoka que causa uma tensão interessante, mas, ao mesmo tempo, ocorre uma frustração quando percebemos que o esquadrão de caças não tem utilidade alguma. O capítulo é bacana, a série vai se tornando mais divertida conforme desenvolve sua trama própria, independente de pontas soltas de outras obras, mas algumas coisas pegam a gente, como o citado clichê dos caras maus olhando pro nada, que é recorrente – e acabam criando cenas sem movimentação (e nem diálogos) que contrastam com o tom juvenil do seriado.
Bom (3/5)
S01E05: Shadow Warrior – Hera chega a superfície do planeta, encontra Ahsoka e Sabine desaparecidas, e precisa buscar pistas. Enquanto isso, a antiga Jedi acorda em uma outra realidade, “o mundo entre os mundos” e encontra seu antigo mestre, Anakin Skywalker.
O tão antecipado retorno de Hayden Christensen acontece neste episódio, e realmente não deixa de ser maravilhoso ver, finalmente, os depois personagens contracenando em carne-e-osso. Ainda, de surpresa, somos apresentado a uma seqüência que se passaria durante o seriado Clone Wars, com uma versão “criança” de Ahsoka. Tudo muito bonito, lindo e emocionante visualmente… mas, sinceramente, oco.
Diálogos completamente vazios sobre Ahsoka “entender um real significado de alguma coisa” e se “libertar do seu passado” só fazem adicionar novas marcações na cartela dos clichês que o seriado utiliza o tempo todo. Era de se esperar algum confronto mais em diálogos que apenas em luta bonitas de sabres. Ahsoka não quis passar nada a limpo, não perguntou sobre sua queda ao lado negro, nem Anakin quis saber sobre Luke ou Leia, que nesse momento já conviviam com Ahsoka. E estou achando que erraram a mão na versão live-action da personagem, que está soturna demais em comparação à enérgica aprendiz das Guerras Clônicas.

O encontro acaba sendo relativamente curto e, em mais uma interpretação capenga da Força, Hera é capaz de escutar o combate no “além” e Ahsoka retorna. Por sua vez, o final, no qual ela descobre uma forma de seguir os viajantes através de um meio não-convencional, dá um fôlego.
Mediano (2,5/5)
S01E06: Far Far Away – Nossa protagonista fica de escanteio neste episódio, no qual acompanhamos a chegada dos vilões, levando Sabine, até o planeta Peridea, nos limites da galáxia, e habitado por algumas remanescentes das irmãs da noite de Dathomir. Uma vez lá, um local esquecido e desolado, finalmente podemos ver o herdeiro do Império.
Acredito que seja uma infeliz coincidência que este capítulo seja o melhor até o momento e não conte, justamente, com Ahsoka. O que rouba a cena é aparição de Thrawn, mesmo com uma aparência um pouco tosca – as maquiagens coloridas são particularmente fracas na série – que vai desde o uniforme, aparentemente mal ajustado ao corpo, até a postura do ator, ligeiramente curvada; a aura do vilão, e, em especial, sua voz – não a toa, o ator é o mesmo dublador do personagem em Rebels – conseguem passar a ameaça que ele representa.

Além disso, a chegada desse novo núcleo inaugura uma estética nova que é excepcional, de um Império pós-apocalíptico, com armaduras e naves construídas a partir de restos de outras coisas e dá uma identidade nova que o seriado estava precisando. Já pensou se, ao invés do reboot meia boca que recebemos na trilogia sequel, fosse uma proposta desta para continuar nos episódios VII a IX?
Enquanto isso, um pouco mais água-com-açúcar, temos a aventura de Sabine no desolado planeta, com uma divertida nova espécie alienígena, e ainda rende alguns bons diálogos, o primeiros da série. Finalmente a dupla de sabe-se-lá-o-que de Jedi deixam de ser apenas personagens com olhar catatônicos e recebem alguma explicação.
Excelente (5/5)
S01E07: Dreams and Madness – Enquanto Hera se apresenta a um comitê senatorial para explicar suas ações e descobertas, ferozes combates ocorrem no perdido planeta de Paldea. Liderados pela dupla de Jedi caídos, bandidos nômades atacam o grupo itinerante dos pacíficos Noti, com quem Sabine e Ezra viajam, e Ahsoka está correndo contra o tempo para ajudá-los.
Thrawn rouba a cena nesta reta final, e acompanhá-lo avaliando a perseguição a Ahsoka é um dos melhores momentos do seriado – e realmente consegue te transportar lá para os livros originais do Herdeiro do Império. E o brilho termina por aí; apesar de alguma criatividade nos alienígenas que acompanhavam Ezra, de resto as coisas ficam pasteurizadas.
Os bandidos são mascarados que andam de vermelho; diálogos pouco inspirados – Sabine diz que vai explicar as coisas depois, e o velho amigo apenas aceita isso após reencontrá-la depois décadas; e as lutas não são criativas, aliás, repetitivas. Poderia haver uma forma diferente de Ezra lutar, já que ele recusa o sabre, mas não acontece nada demais, assim como Sabine não oferece muita coisa nova, hesitando entre o sabre e as pistolas; com uma correria no fundo.

O grande duelo entre todos os Jedi não se concretiza, com o mestre sombrio se separando da aprendiz; jovem cujo desfecho também é um clichê oco – os heróis oferecem salvá-la após a luta, mas sem dialogo algum entre os envolvidos, algo extremamente raso, acontece porque os bonzinhos são bonzinhos. Esse final muito bobo rima com o começo, no qual o arco de Hera, que já era juvenil, é resolvido com um outro personagem “caindo do céu” para explicar melhor a situação, e tudo se resolve com os chatos do Senado ficando com cara de tacho.
Mediano (2,5/5)
S01E08: The Jedi, The Witch and the Warlord – Com os bandidos e os mocinhos reunidos, o combate final se aproxima. Thrawn se prepara para partir com sua carga misteriosa para os confins do espaço, e lançará mão de recursos cada vez mais obscuros e sombrios para atrasar Ahsoka, Sabine e Ezra de impedir sua retirada; incluindo uma nova bruxa e soldados zumbi.
O corpo principal do episódio é muito legal; sem muito tempo a perder, com uma linha narrativa mais simples e direta, e enxugado de personagens, as coisas se tornam muito ágeis. Tudo o que ocorre é no sentido de atrasar ou adiantar o percurso dos protagonistas, que têm como único objetivo alcançar o grão-almirante (e demonstra quanto faltou de agilidade durante o seriado); incluindo coisas muito legais, como os citados zumbi e a cena de luta mais bem coreografada, entre Ahsoka e Morgan – não é por acaso, pois a atriz que interpreta a vilã originalmente é dessa área, artista marcial e dublê – que, por sua vez, contrasta com inúmeras outras batalhas repetitivas com uma correria de figurantes e Sabine oscilando entre o sabre e as pistolas mais uma vez.
As coisas começam a desandar quando o episódio conclui, ou melhor, não conclui o seriado.

Há uma opção deliberada de não responder absolutamente nenhum mistério levantado pelo seriado. Saímos sabendo exatamente as mesmas coisas de quando entramos – e nada me tira da cabeça que o final original de Ezra seria continuar perdido, pois seu desfecho é inexplicável, porque ele precisou ficar disfarçado se iria voltar para a frota? Como ele conseguiu voltar e os demais não? O planeta não era um local que precisava ser acessado através de um mapa secreto?
Um dos grandes motivos do fracasso da trilogia sequel foi justamente a dose cavalar de mistérios que apenas se avolumavam ao longo dos filmes e que invariavelmente levaram a resposta decepcionantes. Poderia elencar tudo que não foi respondido aqui, mas provavelmente duplicaria o tamanho do post. Seguindo a máxima do mundo Marvel, as obras só existem para encaminhar umas as outras; algumas coisas foram plantadas aqui para serem respondidas em outras séries e, provavelmente, um filme envolvendo Thrawn.
O resultado é uma série que não cansa de se apequenar. Não só os pontos de partida do seriado estavam em outros produtos, os pontos de chegada também; como a patética jornada de Baylan Skoll (o mestre do mal), personagem desapareceu do final para ter apenas uma cena com uma referência obscura a “família da força” – uma mitologia das séries animadas que, mesmo tendo assistido, só consegui pegar após pesquisar – e concluir com a cena padrão do personagem: olhar para o nada. Numa triste coincidência, o ator faleceu recentemente, e provavelmente seu destino jamais será explicado.
Paradoxalmente, ao aumentar cada vez mais suas ambiciosas conexões com outras coisas, Ahsoka se torna cada vez menos relevante.
Bom (3,5/5)
Melhor Episódio
Far Far Away – É o episódio que vale assistir ao seriado; provavelmente o ideal, se realmente Ahsoka levasse a um filme, que este episódio fosse mais encorpado e servisse como primeiro longa de uma trilogia (e esta série não existisse). É o único que oferece algo mais genuíno, com o visual magnífico desse Império em frangalhos apelando para tudo para tentar se reerguer. Mais organizado, consegue fazer sentido por si só: temos ali um antigo almirante buscando mais poder e os heróis tentando impedir, e uma jornada deles por um lugar desconhecido.

O último episódio – The Jedi, the witch and the warlord – tirando, exatamente as (não)conclusões da (não)-estória, tem muita energia, novidades do ponto de vista dos recursos dos vilões e é bastante divertido.
Pior episódio
Time to Fly – Após um longo prólogo que coloca os principais pontos do enredo de Ahsoka (a maioria originalmente inseridos em outras obras, não me canso de repetir), a aventura finalmente terá início. Mas um início bem morno, se é que começa algo de fato. Tentando fazer uma “crítica-social-foda”, o episódio começa com uma patética cena em que autoridades não acreditam no protagonista e já demonstra o quão raso e adolescente o seriado é.
Depois disso, apesar de uma cena divertida da Jedi combatendo no casco de sua nave, o que assistimos é uma longa sequência que tenta emular o célebre “Here they come!“, o ataque de TIE Fighters à Millenium Falcon em Uma Nova Esperança, mas sem substância nenhuma no qual temos apenas a informação de que sim, existe uma nave gigante em construção.

Por sua vez, mesmo estando em uma segunda metade melhor, Dreams and Madness, parece ser um exemplo da não-estória que Ahsoka se mostrou ser. Diálogos ocos, cenas de luta repetitivas, clichês e desenvolvimentos pasteurizados.
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