Jornada nas Estrelas: A Nova Geração – 3ª Temporada – O século XXIV veio pra ficar!

Jornada nas Estrelas: A Nova Geração


O momento em que Jornada nas Estrelas se transformou em algo maior que que uma série perdida dos anos 60 – com seus filmes – e na maior expressão da Ficção Científica na TV, foi aqui. Depois de duas temporadas sofríveis, a Nova Geração conquistou sua identidade e seu espaço, consolidando-se e dando início a Era de Ouro de Star Trek, que gerou produções ininterruptas de 1989 até 2005.

Após mais uma troca na liderança da produção, a saída de Maurice Hurley, brigado com elenco e equipe de roteiristas, deixou espaço para o novato Michael Piller. Inicialmente contratado por Hurley para auxiliar em roteiros, assumiu como showrunner a partir do quinto capítulo e foi um dos principais responsáveis pelo sucesso, finalmente, de TNG.

Para termos ideia de seu talento, entre seus créditos de escritor da terceira temporada, temos A Armadilha, O Inimigo, Elo Perdido e O Melhor dos Mundos. Alguns dos melhores episódios de toda a franquia.

Agradou: alta (e constante) qualidade dos roteiros

Com algumas exceções, notadamente concentrados na reta final da temporada; este terceiro ano quase não tem capítulos genuinamente ruins. Há algumas coisas meia boca, alguns clichês aqui e muletas acolá, ou algumas extravagâncias, típicas de Jornada nas Estrelas; entretanto os 10 primeiros episódios são todos, pelo menos, interessantes – e a imensa maioria bons.

Histórias bem conectadas, e personagens mais bem relacionados, deixaram mais espaço para o desenvolvimento dos personagens – ainda que com a unidimensionalidade característica de TNG, com todos muito bonzinhos. Achou-se uma fórmula de desenvolvê-los sem quebrar a regra de ouro do não-conflito entre os protagonistas. Não foi necessário ter uma personagem odiosa como a Dra. Pulaski para servir de escada para os demais bons-moços. Tornou-se possível criar uma trama sobre o órfão para explorar a fragilidade de Worf; ou algumas aventuras solo de Data e Geordi, por exemplo, para que eles pudessem brilhar como oficiais independentes. Não a toa, vários elementos colocados aqui foram reutilizados posteriormente na trajetória desses personagens, como o período de Picard como Borg ou Data e sua busca por uma filha.

Episódio 06: A Armadilha

Ainda, houve muito espaço de criação de lore. Se na temporada anterior são jogadas sementes, aqui realmente nos aprofundarmos em Jornada nas Estrelas: temos a Enterprise C, a família original de Worf, as querelas políticas dos Klingon, os Romulanos com maiores ofensivas à Federação, guerra contra os Borg, e introdução de personagens que farão outras aparições, como Vash e Barcklay.

A história da Ficção Científica como gênero têm um antes de um depois da terceira temporada de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.

Um preço que é possível percebermos que TNG pagou ao fazer seu sucesso, foi a incapacidade de fazer bons episódios com alegorias e críticas históricas ou sociais. Uma das marcas da primeira temporada, no contexto da Perestroika, como abordamos aqui, gradualmente essa temática vai desaparecendo e neste terceiro ano da série, há apenas dois episódios que trabalham nessa direção de maneira mais clara – é possível encontrar outras tantas inspirações ou referências a problemas contemporâneos (ao seriado) em vários capítulos de forma mais tímida.

Os dois episódios com essa proposta, Tudo pela Causa, que deveria fazer um comentário sobre terrorismo e Independência da Irlanda do Norte – que, aliás, pela previsão de TNG, a reunificação irlandesa acontecerá este ano, em 2024 – e O Caçado, que seria uma alegoria a forma como as sociedades (a americana em especial) descarta os veteranos de guerra, são fraquíssimos.

Episódio 11: O caçado

Há defeitos pensando neles isoladamente como episódios de Scifi – como o teleporte dimensional de um deles – mas as mensagens são moralistas ou ingênuas, e os roteiros ficam longe de ser minimamente inteligentes. Terroristas e militantes são pessoas fúteis e megalomaníacas; e os veteranos de guerra merecem respeito por defender o “extraterrestrial way of life“.

Elo Perdido – Depois de ter acompanhado Enterprise, havia deixado de assistir com freqüência Jornada nas Estrelas; por uma razão qualquer descobri a Memory Alpha e a vasculhando, a história da Enterprise C, e queria ver de qualquer jeito este capítulo; e foi o que me fez assinar Netflix lá nos idos de 2011. Só para ver Yesterday’s Enterprise – o título em português é coerente, mas perde muito pro original. Esta estória é fantástica do início ao fim, ver as duas tripulações prontas para se sacrificar, linhas do tempo alternativas, retorno de Tasha, o cuidado com os uniformes – poucas episódios são completos. E poucos são tão marcantes, como eles mesmos dizem: o nome Enterprise jamais será esquecido.

Não há como não mencionar, em pé de igualdade, O Melhor de dois mundos, provavelmente o maior cliffhanger de todo Star Trek e o primeiro grande conflito com os borg – o que ganha ainda mais força por toda a trama de fundo que prepara a nave para a substituição de seu capitão, ainda que saibamos que isso não vai acontecer. Também gostei demais de O Desertor; o personagem do romulano é muito interessante, e todo seu dilema nos faz simpatizar com ele – e o episódio se encaixa numa sequência boa de estórias envolvendo os inimigos da Federação.

No panteão dos grandes episódios de TNG sempre figura Descendência, e a história de Lal. O capítulo é ótimo mesmo, mas acho que acabou ficando ambicioso demais para seu tempo e algumas coisas ficaram apressadas no desenvolvimento da filha de Data. Marcou-me muito também A Armadilha, por sua trilha sonora maravilhosa, e pela vivacidade de Picard diante daqueles acontecimentos.

E não falta mais coisa boa; Os Imperativos do Comando consegue colocar Data em uma grande missão solo, e Quem Observa os observadores é palco de boas discussões sobre a Primeira Diretriz. Ainda gostaria de destacar Pecados Paternos, que inaugura uma trama sobre os Klingon e sobre Worf que irá durar toda a série; além de Existência Vazia, que é capaz de dar uma boa profundidade ao personagem de Barclay, que até não me lembrava devido aos usos mais cômicos dele posteriormente.

Tudo pela Causa – O que os produtores de Jornada nas Estrelas tem contra os irlandeses? Mais uma vez um péssimo episódio fazendo referência à ilha, e neste caso aos norte-irlandeses. Tentando emplacar uma alegoria e uma reflexão ao terrorismo, mais uma vez TNG erra a mão nos episódios mais críticos à contemporaneidade. Um retrato dos rebeldes – mirando no IRA – plenamente baseado em senso comum, como pessoas egoístas que, pura e simplesmente, buscam tão somente fama e realização individual. Além da abordagem moralista; ele, como história de SciFi, usa de um dispositivo preguiçoso do ponto de vista narrativo; um máquina capaz de teletransportar as pessoas sem qualquer tipo de restrição ou rastro.

Mantendo (ou inaugurando) a tradição, temos péssimos capítulos envolvendo o planeta paradisíaco Risa e a intragável Lawaxana Troi. Em As Férias do Capitão, uma trama completamente sem pé nem cabeça sobre viagem no tempo e artefatos roubados é mais conhecida pela imagem do peito cabeludo do capitão em trajes de banho (e pela introdução de Vash); e Ménage a Troi mais uma bobajada envolvendo a personagem, mas que ao menos tem uma cena engraçada de flerte com o capitão.

Começando e encerrando mal a temporada, temos Evolução e Transformações. Há conceitos e ideias interessantes em ambos os episódios, não são nem perda de tempo e nem alegorias mal feitas como os demais, mas ainda assim chatos e repleto de clichês.

Como já havíamos dizendo por todo este texto, esta temporada é excelente e vale a pena assistir cada capítulo. Ao mesmo tempo, como também destacamos, várias sementes de lore e de desenvolvimento de personagens foram plantadas aqui, então temos muita coisa para assistir.

Episódio 17: Pecados Paternos

A boa notícia é que a maioria desses episódios que são fundamentais para compreender a trajetória dos protagonistas e do universo de Jornada nas Estrelas são muito bons e já entrariam como os essenciais aqui; Imperativos do Comando, A Armadilha, Pecados Paternos, Existência Vazia e O Melhor de Dois Mundos são alguns dos exemplos.

Alguns outros não tão geniais mais ainda interessantes com a mesma proposta, são Laços de Família, Sarek e Deja Q. Dentre os ruins, acredito que seja importante assistir Tudo pela Causa (ou o Caçado se precisar escolher um) para compreender como TNG não consegue fazer mais episódios baseados em alegorias a problemas contemporâneos.

EvoluçãoRuim
Os Imperativos do ComandoMuito Bom
Os SobreviventesBom
Quem observa os observadoresMuito Bom
Laços de FamíliaBom
A ArmadilhaMuito BomMelhores
O InimigoBom
O PreçoMediano
O Fator VingançaBom
O DesertorExcelenteMelhores
O CaçadoMediano
Tudo pela CausaMuito RuimPiores
Deja QBom
Pontos de VistaMediano
Elo PerdidoExcelenteMelhores
DescendênciaMuito BomMelhores
Pecados PaternosMuito Bom
Lealdade e Obediência Mediano
As Férias do CapitãoMuito RuimPiores
Homem de LataBom
Existência VaziaMuito Bom
O ColecionadorBom
SarekMuito Bom
Ménage à TroiRuimPiores
TransformaçõesRuimPiores
O Melhor dos Mundos, parte IExcelenteMelhores
Em negrito, os essenciais.

Jornada nas Estrelas: A Nova Geração


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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