Babylon 5 – 4ª Temporada – Na correria!

Babylon 5


Ao iniciar a série com o monólogo de Sinclair – o ano é dois mil duzentos e cinqüenta e oito, e o nome do lugar é Babylon 5 – Joseph Michael Straczynski tinha um plano: contar sua estória, e a estória da quinta e última estação desse programa, em 5 anos, de 2258 até 2262, ou de 1993 até 1998. Durante a exibição desta temporada, ele recebeu a triste notícia que teria menos tempo para concluir seus planos. A série fora cancelada pelo extinto canal PETN, Prime Time Entertainment Network, de propriedade conjunta da Warner Bros. e das indústrias Chris-Craft.

A relação entre Straczynski e a Warner nunca foi muito boa, os executivos do PETN seguidamente reclamavam da baixa audiência do seriado e prejuízo constante. Até hoje as contas são um mistério: o criador alegava que a série era sim saudável financeiramente, mas os contratos eram onerosos. A questão é o canal PETN foi fechado logo na sequência – B5 era um de seus carros chefes. A Warner criou seu canal sozinha, assim como também a contraparte também criou o seu – a UPN – e assim as coisas nunca se esclareceram completamente já que provavelmente, com exceção dos produtores de Babylon 5, todos os demais torciam para as coisas darem errado e o PETN acabar.

Há males que vem para o bem: a TNT entrou em contato com Straczynski e bancou a produção e exibição da última temporada, enquanto o PETN, como falamos, desapareceu. Infelizmente, algumas decisões já haviam sido tomadas e causaram consequências neste ano; a quarta temporada foi uma correria para fechar mais ou menos a história principal do seriado – a Guerra das Sombras e a Guerra Civil Terrestre – os resultados foram satisfatórios, mas nitidamente a seqüência final foi afetada decisivamente. Inclusive contendo um bizarro monólogo em que uma das personagens entrega todo o enredo da quinta temporada.

Agradou: qualidade geral muito elevada

É até injusto ter só essa frase de elogios à temporada que é tão boa, mas ela diz muito. Não houve um episódio genuinamente ruim, há alguns mais lentos, como o começo sem o capitão na estação, e outros decepcionantes, como a trama de Garibaldi rogue-agent, mas em momento algum deixaram a peteca cair.

Foi possível encerrar dois grandes arcos em uma única temporada, a Guerra da Sombras e a Guerra Civil Terrestre, com alguma correria, é verdade, como apontaremos abaixo, mas o trabalho é excepcional. É uma obra que você fica incapaz de imaginar pular um único capítulo; tudo tem alguma informação nova, algo acontecendo, um personagem se desenvolvendo. É uma produção televisiva extremamente densa.

Durante as filmagens, os produtores receberam a notícia de que a série não seria renovada para uma quinta temporada. Originalmente, Straczynski queria uma série de 5 anos para contar sua história, com tudo bem concebido e encaixadinho. Ao ser pego de surpresa com o horizonte do cancelamento, precisou pisar no acelerador e estabelecer conclusões para as principais linhas narrativas do seriado.

Isso passa a ser prejudicial, obviamente, na reta final da temporada. A Guerra Civil Terrestre deveria terminar só no ano seguinte, mas foi necessário encerrar tudo aqui. Particularmente, achei mais anticlimática a conclusão anterior, a da Guerra das Sombras, do que o conflito interno do nosso planeta, mas após a prisão de um personagem principal, nitidamente o ritmo fica muito corrido: pá pum, vapt vupt e sobra até para uma narração em off explicar o destino de certos personagens.

Ainda assim seria um fim digno para Babylon 5, tudo seria mais ou menos resolvido. Felizmente, não foi o caso, pois novas negociações levaram à renovação para o ano final em outra emissora.

Entretanto, o que mais me incomodou não teve a ver com essa correria final, e, já era uma abordagem da série: o final de Clarke. Sem tentar revelar mais que o necessário, apenas digo que o grande ditador terrestre sequer tem falas. Bizarro. Straczynski acredita que isso fortalece a ameaça e a sua mensagem, pois o mal pode ser extremamente maligno mesmo sem sequer aparecer, algo como a Banalidade do Mal. Mas pode ter efeito contrário: ao tratar como uma coisa excêntrica e sem rosto, sem voz, sem personalidade (como quase todos os comandantes inimigos das forças terrestres), a impressão pode ser de que aquilo foi um ponto fora da curva, uma coisa inumana e sem cúmplices que concordavam com suas ações. Sabemos muito bem que os mais brutais regimes e políticas continham em suas fileiras simpatizantes.

Além disso, há algumas morais muito duvidosas que não necessariamente são endossadas pelos personagens – mas também não exatamente contrariadas – como o discurso de que os grandes bilionários têm boas intenções lá no fundo, ou, por ainda, de que havia uma elite do bem na Terra dando corda para o Clarke, que ele até tinha boas ideias no começo, mas depois viram que tinha coisa errada; e agiriam na hora certa sem necessidade da guerra civil.

Tudo muito problemático; especialmente na figura da Presidente Russa que coloca os políticos (os civis), novamente, como pessoas mesquinhas e covardes e os militares como os virtuosos. A mensagem militarista de B5 sempre me incomoda; talvez a principal vítima dessa correria final da temporada foi a presidente, que não teve melhor desenvolvimento, o que talvez deixaria a situação toda mais tridimensional.

No surrender, no retreat – Se houve muita correria e isso prejudicou as conclusões da temporada, elas ajudaram em seus inícios. O começo da guerra civil terrestre foi excepcional, a impressão é de estar assistindo a uns três capítulos em sequência, em bom sentido, dentro de 40 minutos. Tem espaço para tudo, para a construção da batalha, para seu acontecimento e seu desfecho. Um raro episódio de CGI razoável e compreensível, e, especialmente, um precioso momento em que os opositores tem rosto. A série ganha muito quando vemos os oficiais adversários e suas ponderações, uma pena que isso não se repete com freqüência.

No encerramento da Guerra das Sombras, Into the Fire foi bom, mas um único diálogo expondo as contradições das facções envolvidas ser o suficiente para resolver as coisas forçou um pouco a barra e contribuiu para a noção de correria, ainda que a série não tivesse sido cancelada naquele momento. O destaque desse fechamento para o episódio anterior, The Long Night, com o sacrifício de uma tripulação e a inesquecível “festa macabra” que tomou o palácio dos Centauri em Narn, uma das melhores cenas da série.

No encerramento da temporada, Between the Darkness and the Light e o confronto com a última frota legalista, e o final bem conceitual de The Desconsctrucion of Falling Stars são pontos altos de Babylon 5.

Conflitcts of Interest – Como comentamos, não houve realmente episódios ruins nesta temporada, mas acho que este aqui foi o piorzinho. O arco de Garibaldi tem seus altos e baixos, acho se tornou muito datado, e provavelmente a cena da troca de olhares nos dutos de ventilação é um desses; foi um momento totalmente incompreensível. Por outro lado, a trama B envolvendo a transmissão interplanetária é ridículo; não pelos motivos ou conclusões, mas leva a uma viagem totalmente oca ao planeta Epilson, que se resume a um diálogo para avisar que os personagens têm mais o que fazer – um momento irônico pelas causas erradas.

O comecinho da temporada, com The Hour of the Wolf e The Summoning são mais difíceis de vencer. Os personagens desolados e desmotivados com o desaparecimento de Sheridan acabam por nos contaminar também; e não vemos a hora de resgatarem o cara logo e a todo mundo voltar a andar.

Difícil, perder qualquer episódio aqui fará com que você entenda menos o seriado. Acredito que os 3 primeiros episódios envolvendo o desaparecimento de Sheridan e Garibaldi poderiam ser pulados se você obtiver as informações em outros os lugares. Da mesma forma, toda a trama envolvendo a resistência em Marte e o arco de Garibaldi agindo por conta própria também poderiam ser acelerados.

Fica difícil porque mesmos nos capítulos dedicados a essas tramas num primeiro plano contem outros bons momentos de outros arcos envolvidos. Os destacados abaixo são os mais agradáveis e mais importantes, mas é necessário, pelo menos, ver a sinopse de cada um dos demais.

Hour of the WolfMedianoPiores
Whatever Happened to Mr. GaribaldiBom
The SummoningMedianoPiores
Falling Toward AphoteosisMuito BomMelhores
The Long NightExcelenteMelhores
Into the FireMuito Bom
EphiphaniesBom
Ilusion of TruthMuito Bom
AtonementMuito Bom
Racing MarsBom
Lines of CommunicationMuito Bom
Conflicts of InterestMedianoPiores
Rumors, Bargains and LiesMuito Bom
Moments of TransitionBom
No surrender, no retreatExcelenteMelhores
Exercise of Vital PowersBom
The face of EnemyBom
Intersections in Real TimesBom
Between the Darkness and the LightMuito BomMelhores
EndgameBom
Rising StarBom
The Desconsctrucion of Falling StarsMuito BomMelhores
Em negrito, os essenciais, mas advirto que, ainda assim. pular qualquer episódio desta temporada fará você entender menos o seu enredo.

Babylon 5


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

3 comentários em “Babylon 5 – 4ª Temporada – Na correria!

  1. Só digo uma coisa: deveria ser obrigatório assistir e discutir “The Illusion of Truth” pelo menos uma vez por ano em todas as escolas primárias e secundárias do planeta!

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