História Medieval

História Medieval – Marcelo Cândido da Silva

Ano de Lançamento: 2020 – Minha Edição: 2020 – 158 páginas


Pensar em Fantasia e Aventura, em vários formatos, de livros à vídeo games, quase que automaticamente nos leva ao cenário medieval; tendência, senão criada, fortalecida pela obra de Tolkien, em especial O Senhor dos Anéis, e pela série de RPGs de Mesa, Dungeons & Dragons (algumas vezes adaptado no Brasil como Caverna do Dragão) ao longo do século XX. Nos anos 90, na onda especialmente dos jogos de computadores (CRPGs), o significado de História Medieval quase que se fundiu aos gêneros citados acima em games, livros e filmes.

O curioso é que nem sempre a História Medieval foi sempre assim “tão querida”. Até o início do século passado, o espaço de tempo entre os anos de 476 até 1453 era conhecido como a Idade das Trevas; a época mais sombria e desoladora da humanidade. Apenas a partir do início do século XX ela começou a ser vista de forma mais “amigável”, especialmente a partir do trabalho de historiadores franceses, na escola dos Annales, nome da revista mais influente do campo no mundo.

Até o próprio uso da Idade Média como cenário para essas aventuras parte de um pressuposto de uma era de estagnação e desconhecimento, espaço que permitiria misticismo, magia, ocultismo e uma relativa falta de desenvolvimento tecnológico que na qual anos e anos se passam num mesmo contexto artístico, técnico e cultural. Nesse sentido, quase todos os estudos acadêmicos mais recentes sobre o período têm uma postura defensiva, como é o caso também desta obra do professor da USP.

Como os demais livros desta série da Contexto, o que temos é uma apresentação do que seria uma matéria do tema num curso de graduação. De forma muito hábil, é estruturada por temas, em primeiro lugar; tais como os Reinos Bárbaros, a Igreja ou a relações feudais; e, ao mesmo tempo, consegue dar uma linearidade cronológica dos eventos do período.

O livro se inicia, justamente, com o contexto da queda do Império Romano e nos demonstra como os “bárbaros”, na realidade, eram povos que já se relacionavam com os romanos por muito tempo, inclusive realizando tratados de governança sobre regiões imperiais e vários deles adotavam também sua língua, seus costumes e algumas de suas estruturas administrativas. Mesmo o que conhecemos como feudo, de forma mais genérica, já partia de certos nomes e organizações romanas presentes no final do Império. Tudo extremamente elucidativo.

Justiniano, imperador Bizantino, foi o mais famoso governante daquela civilização ao reconquistar parte considerável do que havia sido o Império Romano do Ocidente em 565 dc; o norte da África, a Península Itália e parte da Ibéria. Entretanto, justamente suas conquistas – que foram revertidas no século seguinte – fragilizaram os novos reinos bárbaros, que conservaram parte da institucionalidade romana; e permitindo muito da instabilidade, violência e pulverização dos centros de poder que caracterizaram a alta Idade Média.

O autor também se debruça por bastante tempo sobre a dominação senhorial, que acaba por ser a essência do feudalismo e da Idade Média como um todo. Embora, alerte para várias nuances alegando que esse contexto não significaria uma equação que sempre resultasse em relações de suserania e vassalagem; e a sociedade medieval não se constituía tão somente de senhores e servos, estes últimos, cuja proporção poderia oscilar de 5% até 50% das populações, em diferentes regiões da Europa. Várias camadas e grupos sociais formavam uma teia complexa de relações.

Entretanto, especialmente neste o ponto, o texto deixa essa postura defensiva muito latente; e de modo a muitas vezes até atrapalhar um pouco a compreensão. Por exemplo, numa passagem em especial Marcelo Cândido alerta que o termo “senhorio” seria mais apropriado que “feudalismo” para explicar as relações medievais por ser um conceito mais amplo, que permite englobar as hierarquias e conflitos sociais que envolvem também as cidades. Isto porque feudalismo tende a evocar o que envolve a concessão de “feudos”. Estes que, por sua vez, não somente corresponde ao que imaginamos, uma grande propriedade fundiária, mas também a distribuição de rendas e trabalhos urbanos. Da mesma forma ainda que feudo seja uma palavra contemporânea ao medievo, o conceito do “feudalismo” só aparece a partir do século XVII. Embora ele admita que senhorio também seja um termo não utilizado na época. A conclusão que se chega é que “feudalismo” era o melhor mesmo, a questão é que “feudo” teve o significado simplificado; seria o caso de ampliar, não inventar outra palavra exógena ao contexto.

Em outras passagens, também há constatações de que a Idade Média não foi um período de miséria e pobreza disseminada. Índices produtivos não eram tão ruins assim com relação à Antiguidade; e havia capacidade para cultivo e distribuição de alimentos o suficiente. A fome e a carestia não eram um problema de tecnologia medieval; mas sim que apenas a parcela mais pobre da população sofria desses problemas devido às relações sociais do período – ou da luta de classes, na terminologia marxista, embora só o fato de citar o nome de Marx poderia levar a um ataque cardíaco dos medievalistas

São reflexões importantes e centrais para compreender melhor aqueles tempos; especialmente em termos “técnicos”, na falta de melhor palavra. Entretanto, muitas vezes há uma sensação de patinar na análise. Da mesma forma, ao comentar sobre a violência durante o medievo, período considerado especialmente perigoso por falta de um estatuto jurídico, tal como o direito romano, pulverização de centros de poder, e um enfraquecimento geral da burocracia e instituições públicas, o professor argumenta que o fato de existirem relatos sobre a violência da época e conjuntos de leis com a descrição de crimes particularmente cruéis, indica que havia também vontade de combatê-los. Não consigo deixar de ter uma sensação de tautologia ao ler essas reflexões.

A palavra feudalismo não é boa porque não se utilizava na análise da época, vamos usar senhorio, mas senhorio também é uma linguagem contemporânea – curioso que feudo era; num aparte, me parece que a briga é mais com o marxismo, que sedimentou esses termos na historiografia, que qualquer outra coisa. Também, não é que as pessoas eram pobres, mas sim que só os pobres, que por um acaso compunham a imensa maioria da população, eram realmente pobres. A violência existia, mas não era tão grande assim porque as pessoas queriam que ela diminuísse e tentaram implantar meios de combate; mas se queriam que diminuísse, era porque ela era muito grande. O gato ou o Quico?

Se até então é compreensível, e tecnicamente preciso; a coisa muda de figura. Essa questão torna-se problemática ao juntar estes dois últimos temas; o autor apresenta que a violência era algo de significado ambivalente, para a dominação senhorial. Ela permitia que o senhorio (vassalagem) “se consolidasse em grupo de reticentes, camponeses livres ou pequenos senhores, que não desejavam entrar em uma relação de dependência” (p. 62); e “um instrumento que garantia a apropriação dos excedentes camponeses” (p. 63). Mas, na página seguinte, atenua: “a paz era uma condição importante para o funcionamento das relações senhoriais: sem ela havia o risco de diminuição de renda dos senhores […] em suma, não era um dado estrutural da dominação senhorial” (p. 64).

Estes clássicos resumos do que seria um feudo não são falsos, mas representam, ainda que a fração e cenários dominantes, apenas parcialmente as estruturas sociais e econômicas da Idade Média e são vistos hoje como ultrapassados. O “feudo” não necessariamente era uma concessão terras nesse formato; até a prestação de serviços através de um laço senhorial em centros urbanos também levava este nome.

Isto é, a violência a repressão que permitiam que as pessoas fossem colocadas a força dentro das relações de vassalagem, e garantia que elas fossem exploradas. Mas também, os senhores haviam de se policiar para não reprimir demais a ponto de comprometer a própria renda. Fico imaginando historiadores daqui há mil anos assistindo a vídeos de empreendedorismo atuais como fonte, e chegando a conclusões parecidas sobre a nossa exploração: “os salários eram ínfimos com relação ao lucro das grandes empresas mas os grandes burgueses também tinham que observar que poderiam diminuir a capacidade de consumo dos trabalhadores e a própria possibilidade de reprodução de novos burgueses e empresários. Então a exploração através da mais-valia não era um dado estrutural da dominação capitalista“.

As coisas chegam em pontos mais baixos, quando Marcelo Cândido destaca a possibilidade de mobilidade social, ou que até mesmo ao ponto, citando uma fonte eclesiástica para provar, de dizer que a “dominação senhorial se assentava no consentimento” (p. 67). Bizarro. É o mesmo discurso e jogo de palavras, por exemplo, que vimos que os defensores do imperialismo utilizam para justificar a dominação, como no livro de Anthony Padgen; algo severamente confrontado ao vermos a realidade dos povos colonizados em Holocaustos Coloniais.

Essa comparação é muito pertinente; Mark Davis aponta como a administração britânica forçava os habitantes da Ásia a entrarem no mercado capitalista mundial através de suas políticas e intervenções públicas, o que selava seu destino e inaugurava uma era miséria e exploração. Na lógica de Marcelo Cândido, ao relativizar o uso da repressão e da violência, que ele mesmo cita como ferramentas que eram usadas para integrar à força os camponeses à “dominação senhorial”, podemos ver a outra face dessa moeda.

Daqui há mil anos, os historiadores deverão apontar que o imperialismo não foi uma época tão ruim assim, a violência não era estrutural nas colônias, elas possibilitavam a integração forçada dos povos conquistados ao mercado mundial, mas a Inglaterra não desejava que todos morressem de fome, para assim manter uma época de florescimento econômico como a vitoriana. Hoje o discurso é de que a culpa do trabalhador ser pobre é dele mesmo, que não sabe poupar ou não estudou, por exemplo. Se os senhores feudais não precisavam estruturalmente da violência e da repressão para explorar os camponeses, e podiam usufruir o consentimento deles; podemos também concluir que a culpa do camponês ter sido miserável no século X ou XI, era, de fato, dele próprio.

Há ainda uma observação, bastante tragicômica, quando Cândido cita grandes historiadores que contribuíram com essa renovação dos estudos medievais. Ele apresenta as reflexões de Jérome Baschet, cujo estudo demonstrou que a dinâmica estabelecida pela Civilização Feudal que possibilitou o desenvolvimento europeu, em todos os sentidos, e tornou o continente “capaz de conquistar o mundo todo“. Uau! Que maravilha, tanta coisa boa surgiu disso, ficamos muito felizes ao saber que o Imperialismo se deve aos pioneiros medievais. Bacana demais. Encaixa-se perfeitamente no que destacamos acima sobre as comparações com as fraseologias referentes aos estudiosos do medievo e do Impérios Coloniais.

Depois desses graves tropeços, a obra retoma bem, em especial no capítulo sobre a Igreja. Este é o que eu achei o mais completo, com os recortes temáticos e cronológicos andando muito bem juntos, e provavelmente é o que tem a maior preocupação no estabelecimento de grandes marcos e eventos – que infelizmente este formato da Contexto não possibilita os autores a focarem muito, e às vezes faz falta – ao contar sobre os Concílios e Concordatas, como Latrão, Lyons e Worms que marcam o apogeu do poder do monarquia pontífice, assim como o Papado de Avignon e as Cruzadas. Outros temas interessantes, como a arquitetura de catedrais, antissemitismo e milenarismo são apresentados.

Em seguida, o texto parte ao que ficou conhecido como a baixa Idade Média, isto é, o declínio do modo de produção feudal – diria eu, um marxista, provavelmente um medievalista morreu em algum lugar do mundo a ler essa frase. No século XIV, uma série de tragédias de diversas ordens assolaram a Europa e geraram um período de crise muito intensa que passou a ser interpretada como a Conjuntura dos [anos] 1300. O acontecimento central do período foi a Peste Negra, que foi sentida a partir de 1346-47, com taxas de mortalidade que beiravam o 100% dependendo da manifestação da doença, essa depressão demográfica foi decisiva para mudar os rumos da humanidade.

A “Dança Macabra“, se tornou uma gênero artístico muito popular na baixa Idade Média – esta aqui é uma ilustração 1493 – que representava cadáveres dançando e comorando suas mortes, muitas vezes ao redor de suas próprias tumbas e com “celebridades” da época, como reis e clérigos. Essas ilustrações são associadas à Peste Negra; todavia, o autor resgata que registros escritos de que a Dança Macabra já aparecia antes da grande epidemia. Mais um momento tragicômico; de que a morte disseminada no Medievo, embora do que “os anti” podem vir querer difamar a Idade Média, já existia antes das milhões de fatalidades da Conjuntura do 1300. E vocês aí falando mal…

Marcelo Cândido alerta, todavia, que isso não significou um “colapso da civilização ocidental”, como foi por muito tempo interpretado aquele trágico século. Talvez, fora exatamente o contrário: a mortalidade do período foi um estopim para uma nova forma da sociedade europeia encarar a vida a morte, uma noção maior de individualismo foi surgindo paulatinamente, assim como a preocupação com registros, legados e até mesmo gestão de patrimônio. Sementes do que acabou por se tornarem pilares da modernidade.

O autor é muito competente em demonstrar como algumas interpretações mais batidas são insuficientes para explicar o declínio da Idade Média; como por exemplo, a associação entre fome e a Peste Negra são conjecturais: regiões mais e menos afetadas pela carestia previamente tiveram taxas de mortalidade idênticas. E que, da mesma forma, o século XIV não foi precedido de uma crise ou retração econômica antes da pandemia; há indícios de diversificação alimentar, aumento de índices de letramento e integração de mercados.

Entretanto, ainda temos uma sensação de tautologia; o que me lembrou também o pouco inspirado ensaio de Jacques LeGoff: a História deve ser dividida em pedaços? Apesar de toda a crise generalizada que a peste deixou na Europa ao final dos anos 1300, e do desaparecimento de uma série de características do período e o surgimento de outras, insiste-se em negar que a Sociedade Feudal tinha contradições suficientes para colapsar e que, especialmente, feudalismo ruiu ao confrontar-se com todos os acontecimentos do século XIV que o colocou a prova.

A História deve ser dividida em pedaços?

Apesar da pergunta do título, o livro praticamente não trata do tema; aborda uma discussão dos marcos entre Idade Média e Idade Moderna, e se houve o Renascimento como período autônomo da história.

Ao longo do capítulo, o autor demonstra como, ao lado da peste, da quase extinção da humanidade no continente europeu; uma série de guerras começaram a eclodir entre os domínios senhoriais cada vez mais fragilizados, o que, por sua vez, espirrava na esfera econômica e social. Violência desenfreada diante de uma população doente e minguante, e como se não bastasse isso; para financiar os combates, uma agressiva política tributária passou a ser empreendida por diversos senhores – o que por sua vez gerava revoltas cada vez mais intensas nas cadeias feudais e até mesmo desenvolvimento de sistemas de empréstimos.

Isto é, foi a crise do 1300 que acabou por estabelecer os primeiros passos do fim da Idade Média, como o próprio autor aponta na última frase do capítulo dedicado à ela: “Não é um equívoco afirmar que o mundo moderno começou a se constituir na Europa medieval, a partir do século XII [anos 1100]”. Mas falar de declínio ou fim do Medievo é proibido, um verdadeiro tabu de fazer inveja aos maiores conservadores, e voltamos a tautologia: “A peste e outras epidemias que se seguiram, as crises alimentares e as guerras provocaram uma depressão demográfica sem precedentes. No entanto, tal depressão não trouxe consigo uma ruptura econômica estrutural” (p. 134), são as palavras imediatamente anteriores. O copo medieval está meio cheio ou meio vazio.

A descrição é justamente de um mundo em escombros, totalmente arrasado, e desse contexto de ruínas surgiu um mundo novo; mas não podemos falar que a Idade Média acabou, temos que falar que a Idade Moderna surgiu ali – é muito forte a presença do conceito da “longa idade média”, conceito este criado por Jacques LeGoff, talvez o maior historiador medievalista de todos os tempos. Apesar da minha profunda admiração, é uma grande conversa mole que aponta que tudo da Idade Média já existia antes e continuou existindo depois; o que no limite podemos aplicar a qualquer período histórico. É só inverter a chave; por que não falar então numa Longa Idade Moderna, que na realidade, já existe desde o século XI, quando foram plantadas suas sementes? Mas se muita coisa dos reinos bárbaros já existiam no final do Império Romano; poderíamos dizer que a Longuíssima Idade Moderna começou, na realidade, quando Enéias chegou ao Lácio e vem até o terceiro governo Lula.

O grande fascínio dos historiadores normalmente são às crises que levam às transformações históricas; entender as continuidade e rupturas. Todo o Marxismo, por exemplo, é dedicado à entender o colapso dos modos de produção, dentre eles o feudalismo. Não tem mal nenhum nisso, aliás, é o grande objetivo da maioria de nós, entender como os nossos objetos de estudo têm suas contradições e eventualmente suas derrotas e desaparecimentos. Mas, com certeza, os medievalistas não encaram muito bem esse cenário.

Muito Bom (4/5)

Ao que se propõe, é uma panorâmica excelente que contempla eixos temáticos e cronológicos de forma magistral e apresenta uma introdução ótima à idade média. Mas o texto escorrega e entra em tautologias ao adotar uma postura defensiva para mostrar que o medievo “não era tão ruim assim como dizem”.

Coleção Contexto: esta é uma obra da coleção da editora Contexto composta por essas panorâmicas de períodos históricos que, não por acaso, correspondem normalmente às disciplinas dos curso de graduação em História: História Medieval, História Antiga, História da América e assim por diante. Livros de autoria dos professores mais renomados de cada área, ainda que mais localizado nos professores que atuam em São Paulo.

A coleção é extremamente competente em realizar panorâmicas e resumos; esta é a primeira na qual publico uma resenha no blog, mas já li vários e são todos muito bons. Funcionam como apresentações perfeitas para cada dessas disciplinas. Recomendo a estudantes de ensino médio que desejam fazer o curso de História para entenderem melhor como funciona o campo de estudo; a estudantes da graduação que vão se deparar com essas disciplinas, e a formados, como eu, que já perderam contato com os outros campos que não relacionados ao seus objetos de estudo ou interesse.

Igreja Cátara: surgidos na Europa no início do Século XII, os cátaros, termo grego que significaria algo como “aqueles que são puros”, foi o principal grupo combatido pela Igreja Católica durante a Idade Média. Eles fariam parte de uma espécie de anti-igreja, renegando os concílios e determinações do corpo burocrático católico, na falta de um melhor termo, e tinham interpretações e rituais sobre acerca dos ensinamentos cristãos. Sua crença seria mais ligada a um retorno aos ideais de privação e carência, e uma rejeição ao “mundo material” – uma crítica ao enriquecimento da monarquia papal e seus representantes.

Pintura de 1414 retratando a expulsão dos Cátaros de Carcassonne, em 1209, durante a Cruzada Albigense.

A ameaça representada por esse grupo foi motivo para a realização de uma “mini-cruzada”, entre os anos de 1209 e 1229, que, na realidade, tratou-se de uma caça a esses grupos, também conhecido como Albigenses, no sul da França, na região de Langedoc, e uma intensa disputa entre os senhores feudais locais, do Condado de Toulouse; os quais o Reino da França tinha cada vez menos poder. O problema é que, ainda que eles existissem, e em número expressivo, inclusive com algumas edificações dedicadas a esse culto, nunca houve uma coesão, organização ou mesmo uma crença comum entre os Cátaros – a “Igreja Cátara” provavelmente nunca foi mais que um mito.

Não havia um “corpo diretivo” e muito menos algum tipo de liturgia ou coerência entre essas diversas crenças englobadas como Cátaras – eles deixaram pouquíssimas fontes, a maioria do que se sabe sobre os cátaros encontra-se em textos da Inquisição. O fato de alguns senhores feudais abraçarem esses ideais religiosos – como oposição à coroa francesa e o papado – acabou dando um corpo maior a algo que era muito frágil. O resultado foi centenas de milhares de mortes (números indicariam cerca de 200 mil vítimas) causadas pelas batalhas, massacres e inquisição; e vultuosos ganhos aos senhores feudais que se alinharam ao reino francês.


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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