Quando Star Trek: Strange New Worlds chegou, fiquei muito feliz. Eu, e vários outros fãs, decretaram: o Classic Trek voltou! Veio a segunda temporada, e teve algumas coisa muito boas, mas foi um ano perigosamente medíocre, e, por isso, batizei a resenha como o Classic Trek em perigo. Infelizmente estava certo: a série escapou por muito pouco do cancelamento, mas foi renovada por apenas mais duas curtas temporadas (totalizando somente mais 16 capítulos) e nos entregou um exemplar bem fraco em 2025.
Os problemas que o seriado não só continuaram como foram agravados ou apenas mudaram de direção: se a aparição dos personagens era estranha, ela melhorou, mas o desenvolvimento deles andou de lado; e tivemos mais tempo dedicado a gente de fora da Enterprise que aos protagonistas. Ao mesmo tempo a trama envolvendo os Gorn; sequer entendemos se ela foi resolvida ou não, e, então, passamos por uma série de capítulos usando de recursos surrados e repetitivos, com autoplágios e lugares-comuns; sem foco no próprio desenvolvimento seriado. Para termos noção, apenas um dos episódios envolveu realmente a exploração de um novo planeta.
Agradou: visuais
Strange New Worlds é uma série que, nitidamente, carrega graves problemas de produção. Atores que somem, ameaças de cancelamento, temporadas curtas que levam mais de dois anos para serem concluídas; mas, a qualidade visual e técnica permanecem ótimas desde o começo. Mesmo episódios fracos, que compõe a maioria desta temporada, temos visuais legais; tais como uma lua de um gigante gasoso ou uma nave com ovas gorn.

A série sabe usá-los muito bem: as vezes alguns dos efeitos não são tão detalhados, mas o contexto das imagens conseguem disfarçar a “baixa resolução” de alguma coisa ou mesmo tornar CGIs mais cartunescos, diluídos em paisagens mais coloridas. Da mesma forma, a identidade visual é também fiel – com exceção dos flares, que o pulha do JJ implantou e até hoje não sumiu – a SNW, mas especialmente fiel à TOS. Quando um personagem dela reaparece aqui, é facilmente reconhecido mesmo com outro ator, por conta de seu figurino; atualizado mas remetendo ao original.
Não agradou: temporada desorientada com premissas fracas e repetitivas
Eu me pergunto se ninguém da produção coloca em perspectiva o prqueno número de episódios que a série tem (apenas 30) e quantas vezes já vimos episódios com argumentos repetidos. Toda temporada temos um episódio cômico com Spock e relacionamentos – o 5º, o 15º e o 22º episódio possuem esse tema, nesse caso 10% da série; aplicado à TNG seriam quase 18 episódios com o mesmo tema e tom. Aliás, os três poderiam fazer parte de uma mesma temporada das séries do Classic Trek que tinham, em média, 24 capítulos. Também já somamos dois episódios que vimos uma vida alternativa do Capitão Pike (e, as duas vezes, o season finale); o comportamento vulcano é alívio cômico pelo menos uma vez por temporada – aliás, episódios de comédia, há pelo menos dois todo ano; correspondendo a 20% da temporada.

Se não bastasse repetir temáticas dentro da série; uma porção de episódios ficaram numa linha tênue ao autoplágio; como um inexplicável episódio de Holodeck quase idêntico ao primeiro lá de TNG (O Último Adeus S01E11); ou mais uma estória de inimigos unido forças para sobreviver. E mesmo os “originais” também são pouco criativos; num episódio temos “zumbis” e no outro uma espécie de “fantasmas” capazes de possuir corpos. É uma temporada composta só de lugares-comuns, mesmo no melhor episódio, derrotar o monstro é apenas atirar a coisa certa na sua boca – a resposta mais batida o possível.
O desenvolvimento dos personagens também foi muito prejudicado; em um dos primeiros episódios temos uma oficial não só desobedecendo ordem diretas, como forjando uma situação para isso. Ao invés de caminharmos, então, para uma “queda” dessa personagem – que precisa sair da Enterprise para dar lugar a outro piloto icônico – ela é redimida de seu trauma; Chapel e Spock continuam em dois triângulos amorosos que sabemos que não vão dar em nada. Mas não só os protagonistas não caminham, como quem tem o maior desenvolvimento são personagens externos, como a Capitão Batel – poderiam usar qualquer um dos oficiais que precisam sumir para encaixar o Canôn – e Kirk (que recebe o melhor episódio da temporada).

Nesse sentido fica nítido como a série está desorientada, e, paradoxalmente, ao mesmo tempo andando em círculos. Não sabe quais personagens desenvolver e como tirá-los da nave a tempo ou mesmo receber os novos – Scotty foi simplesmente adotado. Não sabe para onde caminhar; uma hora é uma comédia, outro um episódio de homenagem, depois um autoplágio, daí volta pra comédia… e ficando num ciclo pontuado por inserções de personagens e referências inócuas a TOS. E o pior de tudo, recheada de episódios ruins e medianos.
- Spock pegador – Em ST09 um romance da linha do tempo alternativa entre o meio-vulcano e Uhura foi uma brincadeira engraçada; detesto aqueles filmes, mas esse namoro foi um ponto alto. Em mais uma amostra de como os roteiristas estão desorientados e precisando apelar para buscar argumentos iguais, o Spock volta a ser o pegador. O romance dele com Chapel era algo interessante e complexo, plantando em TOS. Aqui, virou algo adolescente de clichês de comédias românticas e rendeu ainda um inexplicável romance com La’an.
- Dona Bela – Eu, pessoalmente, acho a personagem de Pelia insuportável. Ela até tem uma premissa relativamente interessante, sendo praticamente uma imortal, mas ela passa do limite de uma caricatura. Com uma cadência de voz irritante, e algumas piadas de duplo sentido, lembra a Dona Bela da Escolinha do Professor Raimundo; e provavelmente a agenda da atriz – que, por incrível que pareça é muito renomada e até vencedora de Oscar – não comporta as gravações e rende explicações constrangedoras para ela não aparecer.
Episódios
S03E01: Hegemony, parte II – Após o devastador ataque Gorn, a Enterprise precisa se reagrupar e tentar descobrir uma forma de recuperar os humanos capturados pelos inimigos. Uma vez com a Frota, Pike recebe orientações de não provocar mais os Gorn – enquanto isso, alguns dos tripulantes pegos pelos alienígenas conseguem acordar e buscam fugir daquele cenário de pesadelo.
O episódio tinha uma difícil tarefa, recuperar a tensão do gancho deixado mais de dois anos antes; a solução foi usar bem os visuais e a ação, que deixam o capítulo muito movimentado. Mas, por outro lado, precisando começar “do zero” no crescendo dos dilemas e conflitos, uma vez que ninguém mais se lembra do episódio anterior, precisa apelar para uma série de empecilhos que servem tão somente para serem superados na cena seguinte.
No início Pike teve a crise apenas para se recuperar dela quando Una grita; o almirante April ordena à Enterprise não cutucar os Gorn para, logo em seguida deixar Pike agir; os tripulantes estavam desacordado nos casulos para depois acordarem; Scotty esquece como construiu tal coisa para, na próxima cena, lembrar. Fica um roteiro apelativo, criando tensão barata. Muito embora, gosto demais da dinâmica do Pike liderando em várias dessas situações, abrindo para ideias dos tripulantes e depois amarrando tudo no plano de ação – uma heresia diante de Picard, mas acho ele o melhor dos capitães.

Da mesma forma, o lore dos Gorn é muito interessante ao relacionar os ciclos de expansão deles com os comportamentos estelares, mas algumas coisas ficaram pela metade, não deu para entender se trama se resolveu ou não. É um início espetacular em ação e visuais, mas faltou um pouquinho de refinamento.
Muito Bom (4/5)
S03E02: Wedding Bell Blues – Após os intensos eventos dos últimos episódios, a Enterprise é recompensada com uma licença de três meses, e, ao término desse período, toda tripulação irá comemorar o Centenário da Federação, em 2261. Inclusive a enfermeira Chapel, que retornou de seu período do estágio em arqueologia com o dr. Korby… agora sendo algo a mais que sua orientanda.
O capítulo já começa provocando o espectador mais quadrado com as aulas de dança de Spock; e me obriga a concordar que foi uma besteira. Impressionante como a série se encaminha para a sua metade e ainda estamos presos numa fórmula de Spock + relacionamento = alívio cômico. Ethan Peck é um ator talentoso e suas expressões funcionam muito bem com a comédia, entretanto, virou uma muleta para o seriado.
E o episódio não consegue sair, em momento algum, dessa fórmula. Absolutamente tudo gira em torno da tentativa de fazer piadas nessa linha, desde as primeiras cenas. E, justamente por conta dessa previsibilidade, não dá nem pra esboçar um sorrisinho em nenhuma delas – a única coisa que genuinamente achei engraçado foi o “discurso” ao final do capitão Pike, tentando relacionar aquela loucura toda com a Federação.

O enredo ficou totalmente em segundo plano para o foco no humor, algo sentido em vários furos. O que quebrava o “feitiço” era o quê exatamente? Por que o dr. Korby não estava afetado desde o início? Apenas os tripulantes da Enterprise foram afetados? E as diversas naves em volta? Por que especificamente a entidade estava lá? Ela era o “fantasma” detectado no transporte? Então ela veio junto com Chapel, por quê? Qual a relação com arqueologia médica? Por quê Spock achava que ela era andoriano ou vulcano em alguns momentos?
Um roteiro muito mal escrito que aposta tudo na mesma piada, o Spock com dor de cotovelo, e acharmos legal rever um personagem da série clássica – o que foi um total desperdício e uma cutucada desnecessária no cânon, aliás, pois no episódio original, a peça central é que aquele ser observava a Terra com anos-luz de distância, achando que ainda estávamos na Idade Moderna, mas aqui ele então nos visitou antes e sabia que já estávamos no século XXIII.
Muito Ruim (1/5)
S03E03: Shuttle to Kenfori – Apesar dos esforços da equipe médica e das transfusões de sangue Iliriano de Una, a situação da Capitão Batel volta a se deteriorar com o embrião gorn em seu corpo. A única solução que Spock e o dr. M’Benga conseguem encontrar, é a de usar as propriedades medicais de uma flor muito rara, que só é encontrada em Kenfori, um planeta que ficou proibido de ser visitado devido aos tratados de praz da Guerra contra os Klingon.

Confesso que o início do episódio me causou uma impressão negativa, com uma série de lugares-comuns: o capitão pede ir no lugar de outro tripulante devido ao risco da missão; os óbvios alertas que são ignorados pelos protagonistas; a instalação de pesquisa abandonada com um mistério; os sensores que não captam nada mas evidentemente há uma ameaça… já estava revirando os olhos, especialmente quando as principais ameaças do capítulo aparecem; os zumbis.
Entretanto, quando a estória se encaminha para a conclusão; as amarrações todas são fabulosas, assim como os conflitos construídos. Gostaria muito de não revelar mais nada do que o necessário para comentar: os Klingon que vão atrás dele não serem apenas capangas aleatórios, ótimo; uma consequência para um grave ato pretérito do médico, que parecia passar desapercebido, maravilhoso; e até mesmo os clichês tem explicação: do porquê o capitão precisar se voluntariar ou até mesmo daquelas determinadas criaturas.
Ao final somos brindados, ainda, com um conflito de insubordinação – e premeditada, algo que raras vezes vimos em Jornada nas Estrelas. Nesse sentido, parece que Strange New Worlds vem preparando terreno para contar a transição da tripulação de Pike para a de Kirk.
Bom (3,5/5)
S03E04: A space adventure hour – Uma vez que as missões da Frota Estelar estão cada vez mais prolongadas e exaustivas para os tripulantes, o comando decidiu iniciar um projeto de criar áreas nas naves na qual eles possam simular locais e situações externas, e, assim, desligarem um pouco da rotina. Esse dispositivo criado tem o nome de holodeck, e a Enterprise receberá um protótipo a ser testado pela Tenente La’an.
Lá na primeira temporada eu avisei; cuidado com o que desejamos, queríamos muito o Classic Trek de volta e recebemos um episódio do holodeck sem holodeck com The Elysian Kingdom; e agora ganhamos efetivamente um episódio de holodeck, 100 anos antes do necessário – por quê nos abandonastes, Q?

A estória, ao fazer vários paralelos com a própria história de Jornada nas Estrelas, tem seu charme – tenho sempre um fraco com metalinguagem – mas fora isso, não há absolutamente nada de novo. Uma trama de detetive, fazendo referência à provinciana literatura pulp do Estados Unidos; a inteligência artificial que se torna um risco e passa por cima da programação; o holodeck que prende quem está lá dentro e coloca em risco a nave… faltará dedos nas mãos para contar outros tantos exemplares com as mesmas temáticas.
Nem temos muito a comentar, ficamos sempre em um limiar entre ser uma homenagem e autoplágio. O problema é, como sempre, que Strange New Worlds tem só 10 episódios por ano, e gastar uma preciosa exibição com uma coisa dessas só trabalha contra o seriado.
Ruim (2/5)
S03E05: Through the Lens of Time – As pesquisas de Chapel e do Dr. Korby levam a Enterprise até um planeta relativamente avesso à Federação, onde está localizado um artefato que poderia dar novas pistas da pesquisa de uma antiga civilização sobre a imortalidade. Os nativos, apesar também interessados nos resultados, uma vez que podem ser descendentes desses pioneiros, restringem a equipe de descida a poucas pessoas.
Finalmente alguma exploração no seriado que se chama Estranhos Novos Mundos; e temos aqui vários elementos legais desse tipo de história: escavações arqueológicas, línguas desconhecidas, câmaras secretas, seres antigos, mistérios… o ponto fraco foi tentarem armar uma equipe apenas compostas de casaizinhos. Algo que só tinha como resultar em problemas: no final, o recurso não teve interferência alguma nos relacionamentos. Nenhum deles assumiu namoro ou terminou, por exemplo, após os eventos, nem houve discussões sobre ciúmes, deixando a seleção de amantes inócua; mas, também acho que, se caminhasse pra isso, seria algo bem desagradável.
Há algumas coisas que me incomodaram: essa equipe reduzida de descida com 6 pessoas, é maior que a boa parte do que vimos até hoje ou o comportamento do embaixador é errático, algumas vezes falava em inglês, outras não, soturno e calado mas sai correndo na hora crítica. Entretanto, uma grande decepção foi o debate ensaiado sobre a imortalidade, que poderia ser algo bem profundo do ponto de vista ético, ficou restrito a um diálogo que, na dinâmica das duplas, pareceu birra entre os dois personagens.

Uma coisa que chama a atenção é que pareceu inaugurar uma nova subtrama com os “espíritos” antigos, que, se parece interessante, soma-se a outros enredos de fundo que o seriado não está desenvolvendo satisfatoriamente; como os próprios Gorn ou, ainda, Sybok, por exemplo, que apareceu na primeira temporada e não retornou mais.
Bom (3,5/5)
S03E06: The sehlat who ate its tail – A USS Farragut está em uma missão padrão de observação geológica, e o seu primeiro-oficial, o Comandante Kirk, frequentemente entra em conflito com sua capitão. Entretanto, absolutamente do nada, uma grande catástrofe atinge tanto o planeta quanto a nave, que fica desabilitada até a chegada da Enterprise em seu resgate.
Focado na trajetória de Kirk e suas contradições como comandante de uma nave, temos um capítulo muito bom. Longe de um oficial perfeito, como as próprias idiossincrasias de William Shatner tentavam nos convencer; aqui ele é um personagem tridimensional: por vezes sua confiança se confunde com egocentrismo e suas decisões erradas têm consequências. Da mesma forma é interessante a desconfiança dos demais tripulantes, de sua postura e capacidade. Parabéns para Paul Wesley, também, que conseguiu emular alguns dos gestuais de Shatner.
A dinâmica dos personagens é excelente; assim como a distribuição do tempo de tela entre as duas naves. Fica bem organizado para nós o que acontece na Farragut e na Enterprise, e pareceu justa a atenção dada para cada uma das embarcações e tripulações. Há algumas coisinhas aqui e ali que daria para reclamarmos, como o ar comprimido ter aquela força toda na manobra da nave ou mesmo a solução final para vencer os inimigos que parecia óbvia.

Os inimigos, por sua vez, já me dividiram um pouco. Achei que não ficou muito bem estabelecido aquela nave ser um mito, mas também algo com a capacidade de destruir planetas inteiros – o que seria fácil de verificar ser real – e, ao mesmo tempo, originária de uma “civilização” mais primitiva. A discussão levantada ao final, sobre como foi possível os melhores de uma época se tornarem aquilo, é interessante, mas acabou caindo de paraquedas e tudo ao mesmo tempo – assim como a tragédia que abre a estória. O correto seria ao longo do episódio, recebermos algumas pistas sobre quem eram eles realmente, e a revelação ao final ter sido o motivo da transformação.
Não havia tempo pois a ação estava dividida entre duas naves, e aí caímos, novamente, no principal problema de Strange New Worlds: um número muito pequeno de capítulos para o formato que a série almeja ter.
Muito Bom (4,5/5)
S03E07: What is starfeet? – Finalmente é lançado o documentário do irmão de Ortegas; o qual ele esteve gravando nos últimos tempos. Vamos descobrir os bastidores de uma das missões mais polêmicas que a Enterprise já participou, ao contrabandear uma poderosa arma secreta para ajudar um planeta que está em guerra contra seu vizinho.
A missão da Enterprise é bem interessante, e tem um jeitão de Classic Trek – o que supostamente SNW tenta trazer – do começo ao fim, da natureza da arma até a solução encontrada; da mesma forma, a premissa do documentário tem algum potencial. Entretanto, as coisas já começam a dar errado logo de cara: a introdução sobre o planeta e o contexto do conflito são apenas textos rápidos na tela e o capítulo tenta brincar ao fazer uma censura sobre os reais motivos ou interesses da Federação sobre a disputa entre os dois planetas.
Sempre quando teríamos algum aprofundamento do pano de fundo, há algum corte com a tal da “censura”. E o problema é que essa brincadeira é só isso mesmo, uma brincadeira – tudo é óbvio o tempo todo. Os personagens estão contrariados apenas porque deveriam estar mesmo, são a Frota Estelar; e como todos os já fãs compartilham daquela crença, não há impacto algum para nós. O interessante seria, justamente, saber do dilema que eles passaram, do que a Federação abriu mão para tomar aquela decisão tão nobre. Como não sabemos do que se tratou; não há muito mais do que esperar que os personagens tomem as decisões que esperamos – a redundância é proposital.

Para piorar, a explicação da investigação e do documentário é a pior possível: o jornalista só apresentou seus questionamentos porque tinha uma pirraça pessoal com a Frota, algo que beira o Anti-intelectualismo, tão associado a movimentos fascistas. Ridículo; em especial o card no começo, no qual o documentário foi divulgado pela transparência dos eventos, mas a única coisa que vimos que a frota decidiu divulgar é a parte no qual seus membros são muito virtuosos. Miraram em um episódio inspiracional, mas o o resultado é algo tão somente masturbatório.
Mediano (2,5/5)
S03E08: Four and a half vulcans – Um planeta pré-dobra está em apuros, e a única civilização alienígena que seus habitantes conhecem são os vulcanos. Para ajudá-los, uma equipe da Enterprise passará por uma rápida modificação genética como disfarce… entretanto, as coisas saem um pouco de controle neste capítulo que, novamente, usará essa espécie alienígena como alívio cômico.
Já fui de má vontade com este episódio, a recepção foi extremamente negativa, mas confesso que gostei do comecinho. O pretexto para a missão, o lore, a eficiência… foi bem divertido; as premissas teriam como sustentar o episódio mesmo sendo algo repetitivo. Entretanto, tem uma coisa que derruba totalmente o episódio: o elenco está muito, mas muito mal, interpretando vulcanos.

Ninguém convence em momento algum; a impressão é que todos são personagens imitando vulcanos por sacanagem. Mesmo sendo um capítulo cômico, passa do limite, porque, primeiro, simplesmente a piada não é essa, e, depois, são muitos personagens com esse comportamento e a coisa vai saturando.
Poderíamos ter um a um decidindo retornar a humanos, por exemplo. Mas, ao contrário, o acontece é ter elementos adicionados: um ex-namorado, também vulcano, de Una (é uma piada que poderia ser engraçada em outro episódio); o destino da capitão Batel relacionado a um superior vulcano; e até Kirk aparece sem a menor explicação e o capítulo termina abusando demais a nossa boa vontade.
Ruim (1,5/5)
S03E09: Terrarium – Durante uma missão de observação astronômica, a Tenente Ortegas se voluntaria para pilotar uma nave auxiliar o mais perto o possível para pegar dados mais corretos; entretanto, ela é pesa de um buraco-de-minhoca e cai em uma lua totalmente desolada. Uma vez naquele local inóspito, ela precisará lutar para sobreviver – e, inclusive, lutar contra seus preconceitos.
Difícil segurar os spoilers porque é a premissa do episódio e, ao mesmo tempo, seu principal problema: temos aqui a mesma trama de Inimigo Meu – e de O Inimigo (TNG S03E07) e de Amanhecer (ENT S02E13) – uma vez naquele local condenado, Ortegas encontrará uma outra criatura presa lá… um Gorn, e precisará trabalhar com ele para tentar ter alguma chance de sobrevivência.

O episódio não oferece nada de novo para essa trama tão surrada; há algumas características interessantes – a postura não belicosa da parte não humana é uma sacada incomum – e momentos divertidos – uma espécie descobrindo os jogos de tabuleiro uma da outra, mas a cartilha é rigorosamente a mesma que já vimos trocentas vezes. O que diferencia é o final, surpreendente e triste, que assegura que esse capítulo não será esquecido.
Embora me refira ao final dos eventos envolvendo os personagens, porque a “revelação” de quem estava monitorando não sobrevive a uma segunda reflexão de como aquilo se encaixa: o Gorn caiu de propósito lá também? Aparentemente foi muito tempo de um pro outro, estavam esperando um humano? Poderia ser qualquer outra espécie? Pensaram em Arena (TOS S01E19), mas guardam pouca coisa em comum e a referência ficou forçada.
Bom (3/5)
S03E10: New life and new civilizations – O doutor Korby entra em contato pedido ajuda da Enterprise para investigar novas pistas da sua busca pela imortalidade; enquanto isso, na nave, a equipe médica, com a ajuda de Scotty, descobrem que há algo estranho na memória do teletransporte. Temos aqui a continuação do quinto capítulo da temporada, com a conclusão sobre os “fantasmas” aprisionados nos orbes e o destino do Alferes Gamble.
Este capítulo foi escrito como um possível Series Finale enquanto a renovação ainda era negociada pela produção; e mostra esses sinais diante de uma correria e uma mistura de vários temas e conceitos. O roteiro é manco; os personagens têm dificuldades para chegar em um determinado local, e aí eles o fazem com uma rápida artimanha; para depois, no corte, seguinte já estão na Enterprise. O que foi sentido pelos roteiristas: foi preciso colocar um diálogo para que os tripulantes se expliquem que não tinham mais nada para fazer lá no planeta mesmo. Da mesma forma, no início do episódio fica estabelecido que os locais não gostam da Federação, portanto seria necessário disfarce; mas depois disso eles conseguem ir e voltar do planeta sem precisar se esconder; assim como esse problema não aparece ao colocar duas naves da Frota para disparar contra o próprio planeta.

Ainda assim, temos os grandes elefantes na sala que são os destinos dos Capitães. A explicação do porquê Batel ganhou seus superpoderes é tão corrida que causaria até tontura: o mal primordial, o combate contra mal primordial; memória genética; flores; gorns… dá até para entender, mas exige aceitar certos saltos de raciocínio que só por muito amor à Jornada nas Estrelas, mesmo. Para ajudar, temos uma longa sequência sobre uma vida inteira vivida na mente de Pike que não fez absolutamente sentido algum e é repetitiva – o segundo season finale com esse recurso, sendo muito inferior ao primeiro.
Ficou bonitinho e comovente, mas este episódio é completa uma bagunça de temas e conceitos, espremidos para terminar o seriado: vamos fazer um recap da vida do Pike, vamos fazer alguma coisa pro Spock e o Kirk ser amigos, precisamos tirar a namorada do Pike; fechar os gorn e os fantasmas… felizmente, não foi o caso, primeiro porque a série vai continuar, ainda que bem curtinha, e, segundo, seria um final bem fraco.
Mediano (2,5/5)
Pior Episódio
Wedding Bell Blues – Um episódio que resume bem os problemas enfrentados pelo seriado nesta temporada. Dependendo totalmente de uma piada que já foi usada trocentas vezes, o capítulo ainda consegue ser bagunçado mesmo sendo um violão de uma corda só. Há uma questão da “entidade” assumir a forma de vários alienígenas diferentes toda vez que Spock a vê, que não é abordada em momento algum; da mesma forma, não explica-se o que quebra o “feitiço” sob o qual todos estão. Para tentar consertar algo que está nitidamente confuso, colocam uma referência à série original que não é nada mais que uma mera referência – algo que será feito mais de uma vez neste ano.

Foi uma disputa dura entre este aqui e o Four and a half vulcans, mas este último, que me pareceu o mais desagradável a maioria dos fãs, eu acho é um pouquinho mais original e poderia ter aguentado melhor se o elenco não fosse tão mal interpretado os vulcanos. E, apesar de não ser tão ruim, o final, New Life and New Civilizations é muito decepcionante.
Melhor Episódio
The sehlat who ate its tail – Sendo bem sincero, é o único episódio desta temporada que vale a pena ser assistido por alguém que já não está de boa vontade com Strange New Worlds. Temos aqui um belo desenvolvimento do personagem de Kirk, algo que, apesar de ser o protagonista de sua época, foi raramente possível dada às indiossincracias de William Shatner. Desta vez podemos ver como seu jeito impulsivo e fora-das-regras teve consequências em sua carreira e administrar esses seus traços fez parte da sua construção como comandante – e o ator, tão contextado, foi bem demais aqui.

Outro além dele que é legal dar uma olhadinha é justamente a abertura da temporada, Hegemony parte II, que nos apresenta alguns novos elementos do lore dos Gorn.
Star Trek: Strange New Worlds
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