Quando terminei de assistir à primeira temporada de Andor, eu estava descreditado. Como poderia ter saído algo tão bom e tão assim da fábrica de enlatados de Disney? E fiquei desconfiado… um raio não cairia duas vezes no mesmo lugar – mas caiu. A segunda temporada de Andor conseguiu ser ainda melhor que a primeira.
Com um formato não tão comum, esta edição correu com o tempo e fez a passagem de tempo dos 5 anos até a Batalha de Yavin com saltos de três em três capítulos. O início e o final ficaram um pouco mais soltos – na verdade, conectados com a temporada anterior e depois com Rogue One – mas o centro desta edição foi o Massacre de Ghorman, um dos eventos centrais, desde o antigo Cânon, para a escalada de repressão do Império.
E esse miolo contando a tragédia naquele planeta, simplesmente, foi o ápice de tudo o que já foi produzido de Star Wars na TV. Depois de bombas como Boba Fett, Ashoka e A acólita – a ainda a queda de O Mandaloriano – é muito revigorante ver que ainda dá pra fazer algo bom com Guerra nas Estrelas. Aliás, bom, adulto e relevante; com uma trama complexa e diálogos simplesmente maravilhosos.
Agradou: absolutamente tudo, mas, em especial, os diálogos
Temos aqui uma obra prima, como não me cansarei de repetir, o melhor – e mais relevante – que já foi produzido em Star Wars desde a trilogia original. E muito se explica com o principal nome por trás da produção. Se A Acólita caiu para diretores ligados à comédia romântica, tivemos a felicidade de Andor ser realizado por Tony Gilroy, o roteirista da trilogia Bourne.
A experiência dele com a complexa trama de espionagem e contrainteligência dos filmes do agente secreto desmemoriado veio a calhar quando Andor focou, justamente, nesse aspecto. O jogo de gato-e-rato do Império com os Rebeldes é extremamente bem feito, conduzido de forma a termos personagens muito inteligentes em ambos os lados – o que deixa sempre a tensão à flor da pele, sabemos que todos os envolvidos podem ter sucesso, mas também falhar, dada a competência alheia. Da mesma forma, com muito respeito a nossa inteligência, as falas expositivas são na medida para entendermos o que está acontecendo e ainda nos manter interessado.

Na ponta oposta, também as falas não expositivas são ótimas. Não há conversas propositalmente lacunares e vagas, elas são construídas sempre de uma forma em que os personagens precisam falar por meias palavras; seja porque acham que podem estar comprometidos, ou por não terem confiança no outro interlocutor, ou porque também não possuem todas as informações necessárias. Isso que permite que nós fiquemos tensos o tempo todo.
E, nesse sentido, o que Andor oferece de melhor são os diálogos. Quase todas as conversas são memoráveis: desde coisas sobre o cotidiano, como Mothma falando pra sua filha sobre se embebedar numa festa, a uma série de reflexões sobre a Revolução e revolucionários. E não são monólogos, ainda que eles também ocorram, mas a reação da outra parte é sempre importante, a filha da senadora, por exemplo, despreza totalmente a fala da mãe.
Os aspectos técnicos, como sempre, são ótimos – som e visuais impecáveis – mas a caracterização é ótima em todos os núcleos e arcos. De Ghorman, um planeta francês; a capital em Coruscant; e com muita fidelidade. Tanto os imperais quanto os Rebeldes parecem que estão na mesma época de A Nova Esperança – inclusive, era uma ideia de George Lucas lá nos anos 70 com o “futuro usado”, um futuro antigo e antiquado, para seus cenários. Andor é uma obra prima, o melhor já feito em Guerra nas Estrelas desde a trilogia original.
- O dia-a-dia da vida no universo de Star Wars retorna aqui. Vemos, por exemplo, em um capítulo Cassian e Bix fazendo compras em um mercadinho de Coruscant; ou, ainda, o cotidiano de um hospital da capital do Império.

- A caracterização de Ghorman é algo magnífico. Remetendo aos filmes da resistência francesa – uma alegoria que aparece também na primeira temporada – em todos os aspectos: roupas, localidades, cenários e até mesmo um idioma inventado.

- Trazer os personagens de Rogue One funcionou muito bem. Acho que a última trilogia de episódios ficou muito dependente das conexões com o filme, é verdade, mas as aparições pontuais do diretor Krennic, que até desconfiei no primeiro episódio, foram ótimas, assim como de Bail Organa – mesmo com outro ator – do K2 e até de personagens menores como general Draven. Ficou na medida para conectar o seriado com o resto de Star Wars sem se tornar um festival de fanservice como faz Dave Filloni.

- O romance de Cassian e Bix foi outro ponto alto; as cenas que eles fizeram juntos foram sempre tocantes e íntimas. Da mesma forma, a dinâmica do outro casal, Syril e Dedra foi boa; mesmo no ponto mais baixo – embora usá-los de alívio cômico teve eficácia irregular.

Não agradou: estrutura narrativa
Andor optou por fazer, na realidade, 4 trilogias de capítulos para esta temporada. Essa opção é inteligente por permitir, ao mesmo tempo, contar uma estória coesa e complexa, com várias camadas e saltos de tempo, e deixar espaço para outras – sem acabar com o tanto que poderíamos extrair desse grupo de personagens tão ricos quanto os de Andor. Há até menção de outros eventos fora-de-cena, como um assassinato cometido por Cassian de alguém que viu o rosto de Bix, que podem ser explorados no futuro.
Entretanto, essa opção tinha um custo alto. Em cada uma das trilogias era necessário um episódio para carregar o piano; explicar o que se passou entre um arco e outro, além de posicionar os personagens para a nova trama, se tornando um exemplar mais parado em relação aos demais. Ainda assim, em todos eles houve respeito ao nosso tempo e competência em seus objetivos narrativos.

Mas, ao mesmo tempo, houve alguns arcos e tramas desenvolvidas que ficaram mais soltas. O miolo da temporada claramente ficou com os ventos Ghorman, mas a primeira e a última estórias, ainda que boas, ficaram descoladas. Entendo que ajudam a compor o contexto do seriado, mas a primeira trilogia de episódios, referentes ao roubo do caça protótipo, ficaram bastante desconexas com os demais eventos da temporada.
Assim como todas as aparições instáveis de Saw Gerrera, estes momentos funcionaram como ilustrações pontuais para demonstrar as diferentes facções da Aliança tentando se entender. Tudo muito bom e eficaz em demonstrar esse cenário caótico de uma Revolução, mas pouco conectado com a trama geral da temporada.
- O humor oscila um pouco; logo no começo temos uma dupla de publicitários que tentam fazer uma graça, mas é algo totalmente desconexo, puxa o segundo episódio para baixo. A relação nora e sogra do Casal Imperial é mais contido e tem mais o tom do seriado, mas é dispensável. Já, ao final, com a integração de K2 e suas ironias a coisa melhora; mas isso porque os demais personagens, especialmente Cassian, se mantêm uma rocha diante de suas tiradas.
- Uma oportunidade perdida de desenvolver Saw Gerrera; seria interessante ver o personagem se radicalizando até os extremos com os eventos durante os 5 anos, entretanto, desde o começo ele já está como um extremista quase caricato.
Episódios
S02E01: One Year Later – Uma misteriosa – e muito poderosa – variante de caça TIE está em testes. Nosso protagonista, Andor, foi enviado para sequestrá-la, disfarçado de piloto de testes. Enquanto isso, em Chandrila, Mon Mothma está trabalhando duro para organizar o casamento de sua filha em uma festa extremamente luxuosa. Ao mesmo tempo, o diretor Krennic reúne os principais membros da repressão imperial para um projeto especial no planeta Ghorman.
O melhor deste primeiro episódio da temporada é o que melhor temos na série: os diálogos. A conversa, logo no começo, entre Cassian a sua comparsa na instalação imperial é excelente; especialmente porque ele é um personagem extremamente tridimensional e não sabemos se ele está sendo sincero ou a manipulando. Assim como a reunião imperial – com exceção de uma cena cômica muito dispensável e ingênua. Krennic é uma adição importante ao seriado, mas eu o acho caricato demais para um universo tão pé no chão quanto Andor, e essa tentativa de humor é um exemplo.

O núcleo de Mothma continua como na primeira temporada: personagens todos com cara feia interagindo entre si – e com os diálogos comprometidos a serem incompletos, para, assim, compor com o cenário dos rebeldes de vida dupla. Entretanto, o destaque por aqui será maior que antes, vamos ver como o seriado fará para movimentar mais a vida da senadora. Especialmente porque com Cassian, a ação não para.
Continuando com uma característica muito inteligente deste período pré-Aliança, e que ressoa com vários movimentos revolucionários da História, Andor tem seu grande plano atrapalhado exatamente por outra facção rebelde que desconhece a sua missão. Acho que aqui há uma forçada de barra também para todos parecerem burros exceto o protagonista, mas mantém esse primeiro capítulo em alta tensão do começo ao fim – ao mesmo tempo que é capaz de introduzir suficientemente bem o enredo da temporada.
Muito Bom (4,5/5)
S02E02: Sagrona Teema – Cassian corre contra o tempo enquanto continua refém de um dos grupos dos rebeldes perdidos, numa confusão prestes a explodir. Quem também está em apuros são seus “familiares”; o Império, que está fazendo uma grande auditoria no planeta onde estão escondidos, avança em sua tarefa e se aproxima dos refugiados. Enquanto tudo isso acontece, Mothma precisa manter as aparências durante as festividades, já que Tolma – que sabe de seu envolvimento político – está a chantageando.
Buscando criar uma noção forte de sincronia entre os eventos e a conexão entre os diversos núcleos, assim como a intensidade de cada um, a direção neste episódio usa um recurso arriscado: cada núcleo (Cassian, Mothma, Bix e o recém introduzido casal imperial) tem direito a uma única cena por vez. Um diálogo aqui e cortamos para um grupo andando lá; e aí segue para o protagonista tentando algo… que só vamos ver o resultado depois de cada outro grupo ter a sua cena e o ciclo rodar.
Os cortes são bem feitos – nem chega perto dos absurdos de A Acólita – mas cria um ritmo estranho que não me agradou muito; especialmente porque foi um capítulo relativamente curto, e fica uma sensação de ele estar esmagado entre o anterior e o próximo. Há uma discrepância entre os núcleos; o que é ao mesmo tempo um acerto e um erro.

Em Chandrila ainda continuamos apenas nas insinuações – Stellan Skarsgård é um gênio, melhor ator que já passou por Star Wars, ele se transforma completamente em segundos; em Mina-Rau é uma questão do cerco se fechando para uma conclusão a seguir – e o oficial imperial jack (abusador) é uma figura desprezível, mas importante, ao mostrar mais uma face do autoritarismo – enquanto em um planeta que saberemos a identidade agora (e é maravilhoso!) a desventura de Cassian tem uma resolução. Como cada núcleo está com objetivos diferentes, causa estranheza cada um ter direito a apenas uma cena por vez. Mas também, esse formato, é capaz de criar uma sequência narrativa coesa e em crescendo, e, assim, garantir nosso interesse por todo o episódio.
Bom (3/5)
S02E03: Harvest – Em Mina-Rau, os amigos de Cassian estão em risco iminente: a próxima parada do Império na auditoria do planeta é o distrito onde eles estão trabalhando e não há muita escolha exceto tentar uma fuga. No outro extremo, em Chandrila finalmente o casamento da filha de Mon Mothma será celebrado, mas o comportamento de Kolma está chegando ao limite do aceitável – duas coisas que estão destroçando o coração da futura líder da Aliança.
Um capítulo de extremos, no núcleo do matrimônio o que temos é uma sensação de melancolia e tristeza intensa. Mothma está em silêncio mas gritando por dentro para que tudo aquilo acabasse, a conversa com a filha é excelente – especialmente pela resposta da menina, que não se comove com o discurso da mãe. Há outros diálogos bons, mas aqui temos uma opção mais contemplativa como espectadores; ao vermos os belos rituais do planeta e depois observar a protagonista desabando em dança.

Diametralmente oposto é o que acontece em Mina-Rau – e temos um pequeno interregno de confronto entre sogra e nora que é um humor mais adequado ao tom da série – com o avanço dos imperiais. Tensão e suspense do começo até o final com o desespero dos rebeldes em fugir dos imperiais; e o mais interessante é que tudo fica muito singelo e elegante.
É o grande desfecho desse primeiro arco, mas a escala dos acontecimentos mantém um ar de claustrofobia: o duelo de Bix e o oficial estuprador é testemunhado apenas por ela, e, no fundo, assim como todos, estão isolados uns dos outros enfrentando suas batalhas. Não temos uma grandiosidade que poderia ser esperada do encerramento do primeiro ato da temporada, mas ainda assim não deixa de ser tudo marcante e íntimo entre nós e os personagens.
Muito Bom (4/5)
S02E04: Ever Been to Ghorman? – Um ano após os eventos do último episódio, acompanhamos como Cassian tenta levar sua vida ao lado de Bix, como um casal – o que estava apenas implícito até agora, aliás – vivendo em meio a multidão de Coruscant. Enquanto isso, em Ghorman, descobrimos que o plano do Império já está em andamento e nosso querido casal espaço-nazista tem parte integrante nele. Syril foi realocado como um importante burocrata local, mas sem sua esposa, e ele parece atrair o interesse da resistência local.

Sem pressa, a série vai estabelecendo o contexto para esse segundo ato. Parece que o formato de trios de capítulos intercalados pela passagem de tempo de um ano já havia sido anunciado, mas fui pego de surpresa. Então aqui acompanhamos um posicionamento dos personagens para esse novo arco, que aparentemente será centrado nos núcleos de Cassian e do casal 20 imperial. Mon Monthma não aparece.
Continuando com uma abordagem mais intimista com o protagonista, assistimos à triste rotina dele e de Bix, escondidos em uma casa segura, sem poder fazer muita coisa a não ser permanecer lá. Apesar de ser uma personagem forte, aqui acompanhamos como a esposa de Andor está desolada e incapaz de tomar decisões sobre sua própria vida, nem mesmo sobre o que comer – uma coisa maravilhosa do seriado é continuar mostrando esse lado cotidiano de Star Wars, que raríssimas vezes foi abordado. É um núcleo de profunda tristeza.
Já em Ghorman, que se encaminha para ser o centro deste novo arco, temos uma caracterização fantástica. Revisitando o cenário da II Guerra Mundial – assim como em Aldhani na temporada anterior – continuamos com referências à Resistência Francesa; os tons pastéis e roupas evocam um cenário dos anos 40, e a própria língua ficcional do planeta me lembra uma sonoridade da língua de Molière. Apesar de ser um episódio bem parado, é tudo muito sensível, e o seriado não perde tempo: já somos apresentados às principais peças e reviravoltas deste novo momento da temporada.
Bom (3/5)
S02E05: I Have Friends Everywhere – Cassian chega em Ghorman, sob ordens de Luthen, para avaliar o movimento de resistência; e ele rapidamente tem uma relação conflituosa com os locais – acha-os ingênuos e amadores. Enquanto isso, temos algumas outras tensas situações com o próprio Luthen, que pode ser desmascarado em breve; e com Wilmon, o amigo de Cassian que está preso com Saw Gerrera – o mais instável dos líderes rebeldes.
A caracterização de Ghorman continua excepcional; o cuidado na criação desse local é maravilhoso. Há um cuidado com todos os elementos, até com a estória inventada para o disfarce do protagonista; muito bem construída – os estilistas com um rito de passagem de ir até o planeta. Os visuais continuam ótimos, os encontros de espiões da resistência nos cafés “parisienses” são belíssimos. Completando a trama, o casal imperial continua com um alívio cômico bem dosado de acordo com o tom da série.

Quase que a totalidade do episódio é utilizado naquele planeta, com algumas interrupções através da trama de Gerrera. Não sabemos exatamente onde tudo vai se encaixar e ficamos vendidos com tudo que acontece, eu mesmo não entendi se de fato o personagem era um traidor ou se ele fez uma a “simples” substituição na equipe. Ainda assim, essa sensação de incerteza faz total sentido diante da instabilidade do personagem.
E é no núcleo de Saw que temos um diálogo maravilhoso, sobre ser revolucionário, que entra para os melhores de Star Wars. Aliás; continuamos com diálogos impecáveis. Todas as conversas aqui entre Cassian e os Ghormans são ótimas, mas até o breve encontro entre Luthen e Bix nos brinda com uma conversa tensa e ambígua; esta é a melhor característica da série.
Muito Bom (4/5)
S02E06: What a festive evening – Mesmo com a avaliação negativa de Cassian, Luthen não desiste da resistência em Ghorman e envia uma nova agente até o planeta – Vel, a prima de Mothma. A senadora, aliás, volta a aparecer neste arco quando os personagens de Coruscant convergem em uma grande festança, patrocinada pelos seus “parentes”, os sogros de sua filha. E há muita coisa em jogo neste evento, já que a escuta plantada na galeria de Sculdun está prestes a ser descoberta.
Lembrando bastante o excepcional “The Eye”, na temporada anterior, este episódio é em ritmo de “heist movie“, um filme de assalto, ao acompanharmos o sequestro da carga de armas imperiais pela resistência francesa… ou melhor, resistência de Ghorman. A reconstrução desse cenário da Segunda Guerra continua impecável, um feito e tanto conseguir fazer isso em meio a ficção científica, naves e armas laser. Quando a coisa é tão bem feita, determinados clichês se tornam bons; como o inocente que tenta passar pelo caminho ou o disparo acidental. Eles se mantém interessantes porque não são desfechos óbvios para nenhum deles.
Enquanto isso, Andor sabe balancear muito bem o tempo dedicado a cada personagem. Mothma volta justamente quando Cassian fica mais em segundo plano e seu núcleo consegue se conectar bem com outros pontos do seriado – a trama da escuta, o retorno de um grande vilão e a introdução de um importante aliado. Os diálogos aqui não me conquistaram, por sua vez. As falas são bastante corridas e fica difícil digerir o conteúdo, ainda que não seja necessário para entender o contexto (por sua vez, uma amostra de refinamento no roteiro) – e meu problema é mais com o tom e a situação dela; tentando convencer com aqueles argumentos as pessoas que se beneficiam de toda a repressão, em um evento de gala de exaltação aos próprios. Lembra a militância de políticos democratas dos EUA, por exemplo.

Há, ainda, uma sensação de que ficaram partes faltando no roteiro; precisaria de uma cena excluindo um determinado membro da resistência do assalto para justificar seu retorno (que também é súbito e serve tão somente para gerar um disparo). E , apesar de mencionarem um certo “médico” ao longo episódio, sinceramente já não me lembrava quem era ele, e acho que sua aparição não fica bem preparada para aproveitarmos a cena final.
Entretanto, esses problemas ficam completamente em segundo plano, porque o objetivo deste episódio é te manter na ponta do sofá por todo o tempo de projeção diante das conclusões dos dois roubos. O que é feito de maneira irretocável – trazer Krennic de volta naquele exato momento foi uma jogada de mestre para aumentar a tensão. A possibilidade de dar errado é crível e permanece sempre no horizonte, garantindo o episódio mais intenso da temporada.
Muito Bom (4,5/5)
S02E07: Messenger – Mais um ano se passou, e agora a rebelião está concentrando seus esforços na consolidação da base de Yavin e, assim, criar uma força armada regular. Cassian é uma peça importante nisso e está morando em seus arredores, mas Luthen entrega a ele uma nova missão: ir até Ghorman e assassinar Dedra – que agora está por lá, supervisionando a ocupação do planeta.
O formato adotado pela segunda temporada da série tem este agudo efeito colateral; é sempre necessário um episódio para posicionar os personagens no arco seguinte. Isso acaba se traduzindo em algo mais lento – e também mais curto. Ainda que, pela qualidade dos roteiros da série, consegue manter-se muito profundo. Os diálogos, novamente, são sempre tocantes – e, mais uma vez, os referentes a vida dos revolucionários. A adição da curandeira da Força é algo curioso para alimentar o lore, mas achei um pouco clichê a história da predestinação. O que surpreende, por sua vez, é apresentar o estabelecimento da base de Yavin tão cedo assim; mas pode ser explicado pela incapacidade do Império em entender o perigo representado pela Aliança, que ainda sequer existe como tal.

Mesmo mantendo a maturidade e sensibilidade do seriado, não deixa ser um capítulo muito parado que cumpre tão somente o seu objetivo de funcionar como introdução ou prólogo deste novo arco. Nesse sentido, aliás, a irregularidade de duração que os seriados de Star Wars costuma apresentar, é, finalmente, bem utilizada, com este aqui sendo um pouco mais curto que os demais justamente por sua função bem delimitada.
Bom (3,5/5)
S02E08: Who are you? – Ghorman está a ponto de ebulição. Um suposto ataque terrorista da resistência local em um porto espacial causa comoção nas autoridades imperiais pela galáxia; que acreditam piamente na versão de eles se tratarem de povo indolente. Por sua vez, no planeta, esses eventos causam intensa movimentação; mesmo com desconfianças de ter se tratado de atentado false-flag, o contexto faz com que os rebeldes fiquem ainda mais inflamados após uma mudança de estratégia dos imperiais na praça principal… e no meio disso tudo, Cassian quer completar sua missão.
Esse episódio, isoladamente, poderia constituir um filme. Algo excepcional. Para não dizer que foi perfeito; acho que o início foi um pouco corrido. A trama do atentado no porto, as implicações disso na resistência e no ímpeto dos locais poderia ter sido abordada no episódio anterior; já que neste aqui fica restrito a uns 5 minutos, se muito. Contudo, diante do que ganhamos na sequência, parece até mesquinho reclamar disso.

O foco é mostrar o Massacre de Ghorman, já mencionado como um dos momentos mais críticos da estória de Guerra nas Estrelas, mas ainda não retratado. Sem muito espaço para diálogos, o foco é no drama e na tensão; todos os personagens estão a flor da pele e o roteiro sabe trabalhar perfeitamente com isso. O término de um casal, por exemplo, é ótimo e sem precisar de muita conversa – exatamente o mesmo caminho escolhido para o encontro entre dois protagonistas, Cassian e Syril; cuja única frase é o título do capítulo e mesmo assim é capaz de nos atingir profundamente.
A ação na praça é espetacular; uma obra prima, capaz de contar exatamente como as coisas aconteceram e foram escalonando (muito diferente do início corrido que havia citado acima) até gerar um massacre. Exemplos reais de situações parecidas existem, tal como o Massacre Bananeiro na Colômbia, em 1929. Isso tudo articulando com a jornada individual de Cassian no meio daquela confusão; este episódio é o clímax de tudo que Guerra nas Estrelas já produziu na TV – e diria que desde 1983.
Excelente (5/5)
S02E09: Welcome to the Rebellion – No dia seguinte aos eventos de Ghorman, estamos em Coruscant acompanhando Mon Mothma. A senadora e seus colegas da oposição, em especial Bail Organa, entendem que chegou a hora de romper publicamente com o Império. Mas eles sabem que isso será um caminho sem volta, e Luthen aparece com Cassian para escoltar a futura líder da Aliança após seu pronunciamento contra o regime.

Totalmente focado na jornada de Mothma, que estava ausente do arco atual, acompanhamos os momentos no qual ela (e seus correligionários) percebem que chegaram a um “ponto de não retorno”. São momentos comoventes, em que conseguimos sentir o nervosismo e a apreensão dela; assim como sua decepção com o sistema político e demais parlamentares – algo que já estava claro na trilogia anterior. Sem deixar de manter todos os eventos em uma perspectiva tridimensional; desconfianças e incertezas marcam todo o episódio.
Em conjunto com a pegada mais introspectiva da senadora, temos momentos de tensão e intensidade tais quais os do Massacre de Ghorman; a fuga do senado é para deixar qualquer um na ponta do sofá. E o melhor de tudo é que essa maravilhosa sequência é justamente a responsável por possibilitar o encontro entre os dois protagonistas – que, cada um à sua maneira, se radicalizou e se filou ao movimento rebelde. Talvez seja o momento mais importante da estória do universo de Guerra nas Estrelas.
Eu esperava mais diálogos e a criação de algum tipo de laço entre os dois; mas, falando agora, parece ingenuidade. Nenhum deles têm tempo e energia para criar algo assim; a cumplicidade de ambos se traduz em ações e é capaz de ser estabelecida com falas pontuais – Cassian (e Diego Luna) está ótimo neste papel; ele começa tentando conversar com Mothma, mas rapidamente entende, exatamente que não é de palavras que ela precisa naquele momento. Difícil viver a altura do episódio anterior, mas Andor conseguiu.
Excelente (5/5)
S02E10: Make it Stop – Novamente damos um salto de tempo e, um ano depois dos últimos eventos, Luthen é abordado por seu contato dentro da Inteligência Imperial. Eles correm sério risco após descobrirem sobre a Estrela de Morte. É inevitável que o caminho contrário do vazamento seja feito e toda a rede dos rebeldes exposta. Chegou a hora do “eixo”, como ele, Luthen, foi batizado pelas autoridades, tomar precauções para o seu momento derradeiro.
Normalmente os primeiros episódios de cada um dos arcos são mais parados e singelos; mas não é o caso aqui. A decisão de sabermos que a batata dos rebeldes está assando desde a primeira cena é perfeita. Eu já havia visto algumas cenas de Dedra e Luthen, mas imaginava que era ao final da série; mas, não, partimos para a reta final de Andor já diante dessa grande derrota de cara.

Nesse sentido, o episódio, então, é uma luta para sobreviver a esse triste destino. Que fica limitada à sobrevivência de uma única personagem: Kleya, sua parceira. E aqui acompanhamos como ela quer garantir o destino mais seguro para Luthen e, finalmente, entendemos melhor a relação entre os dois através de flashbacks pontuais. Talvez o único ponto fraco foi estabelecer pouco o contexto de cada cena das memórias, pela idade aparente da personagem, alguns dos eventos poderiam ter acontecido durante a República, por exemplo.
A combinação entre emoção e tensão é perfeita; desde as primeiras cenas sabemos que estamos diante de uma corrida contra o tempo, mas a invasão do hospital, em especial, é fenomenal. Entretanto, novamente, o que rouba a cena são os diálogos, a conversa entre o rebelde e a imperial é ótima, e os pequenos cuidados para mostrar o sentimento de Kleya, como fechar as janelas da “UTI”, sem precisar falar nada são lindos; garantindo um episódio extremamente comovente.
Muito Bom (4,5/5)
S02E11: Who Else Knows? – Com a bem sucedida invasão do hospital por Kleya, os imperais estão completamente desesperados para entender a extensão do que foi comprometido. De autoproclamada heroína, Dedra é tida como uma comandante desastrada; e seus colegas correm atrás do prejuízo para capturar a antiga assistente do Eixo, que, por sua vez, tenta contato com Cassian para passar suas informações adiante.

Se, nesta última última trilogia de episódios, não começamos com o tradicional capítulo mais parado de posicionamento de personagens; ele acontece aqui. Não me entendam mal, é tudo bastante intenso, especialmente o interrogatório de Krennic com Dedra, talvez a principal imagem deste capítulo; e o diálogo final entre Kleya e Cassian na casa segura é fulminante. Assim como o episódio é muito competente em intercalar as duas disputas independentes pela mesma personagem.
Em algum ponto até achei que poderíamos cair no recurso surrado de que as ações não eram simultâneas, mas o roteiro e edição são cuidadosas para não nos deixar cair neste engano. Atuando em mínimos detalhes, como o transmissor bipando no fundo e ninguém escutando. Saber que são, de fato, ações conjuntas é o que garante a intensidade até a última cena. Não é um capítulo ruim, mas, como várias vezes acontece em todos os seriados, e, especialmente, neste formato adotado por Andor, ele é confinado a um objetivo muito pontual: conectar outros dois muito mais importantes.
Bom (3,5/5)
S02E12: Jedha, Kyber, Erso – Depois de muitas dificuldades, Cassian consegue resgatar Kleya e levá-la para Yavin; entretanto, novos obstáculos de natureza diferente se apresentam. É necessário convencer os líderes da Aliança Rebelde da necessidade de perseguir a informação que Luthen deixou ao final de sua vida.
Este episódio é praticamente um epílogo ao seriado. Temos uma ação logo no começo para o resgate de Kleya, mas, uma vez vencida, passamos a nos dedicar ao destino dos personagens e, especialmente, as conexões com Rogue One – e incrível como tudo conseguiu ficar bem encaixadinho, que trabalho excepcional, como tudo em Andor.

O roteiro é quase um estudo de personagem sobre a Aliança Rebelde. Desde as primeiras cenas vemos um grupo diverso e frequentemente rachado internamente; como não poderia ser diferente diante de sua situação. Há grupos mais agressivos, outros mais hesitantes, alguns que querem um tipo de ação e outros optam por caminhos alternativos. Toda a jornada deste final é dedicada a convencer da nobreza de Luthen e seu grupo para os demais revolucionários.
O que, sinceramente, acho que não teve o melhor dos tratamentos. Esperava mais. O que Cassian teria falado especificamente para Vel que, por sua vez, falou com Mothma para convencê-la? Da mesma forma, a última palavra ser de Bail Organa é compreensível no sentido de pender a balança, mas não fica clara a hierarquia, se é que ela existe. E a conversa entre o rei de Alderaan com Andor foi pouco inspirada, cada um falou o que quis e pronto. As coisas ficaram no piloto automático: havia a desavença sobre a Estrela da Morte porque ela deveria existir, e se resolveu porque precisava se resolver; era tudo só uma questão de uma boa conversa entre as partes.
A última sequência, acompanhando a caminhada de Andor em direção a sua U-Wing para partir em sua última missão é de arrepiar e extremamente emocionante; todos que já se engajaram em algum movimento político se identificam com a esperança, a determinação… também com os sacrifícios e desprendimentos que uma vida como aquela exige. Entretanto, esse final ficou um pouco aquém da qualidade geral do seriado, tanto que as principais conversas e cenas referentes que marcaram o encerramento são mais referentes aos anteriores que a este último episódio desta obra prima.
Muito Bom (4/5)
Pior Episódio
Sagrona Teema – Difícil escolher um episódio ruim nesta temporada – e talvez em Andor. Conforme comentamos, a estrutura narrativa desta edição acabou por sempre sacrificar uma parte de cada trilogia para posicionamento dos personagens. No início, quem carregou o piano foi este segundo capítulo; que ficou mais parado, no caso, nos personagens em Mina-Rau e Chandrila, que só esperam algo acontecer, enquanto para Cassian continuou tudo muito intenso, com um interessante equilíbrio, muito embora, a trama do roubo do caça se mostrou inócua ao final do seriado.
O que definitivamente não gostei por aqui foi realmente a edição, que reservava apenas uma cena para cada núcleo; e entrávamos em “rotação” para cada grupo. Novamente, não é um capítulo ruim, se estivesse em A Acólita ou Ahsoka, seria 6 estrelas, mas é o mais fraquinho por aqui.
Melhor episódio
Welcome to the Rebellion – Uma dúvida difícil entre este e o capítulo anterior, Who Are You?, entretanto, este aqui teve, antes de tudo, uma tarefa muito difícil de manter o tom em alta do seriado após o que eu considero ter sido o clímax de tudo já produzido em Star Wars. Mas, este aqui, por sua vez, foi o clímax de Andor, especialmente porque é, finalmente, o encontro entre os dois protagonistas que, cada um ao seu modo, se radicalizou politicamente até ingressarem na luta armada e organizada.
A tensão fica do início ao fim, e o episódio é muito regular. E, nesse sentido, melhor que o anterior, pois acho que o início dele foi um pouco corrido, careceria de uma melhor introdução para entendermos a explosão popular. Mas os dois, em conjunto com Make it Stop, na sequência, formam a melhor sequência da história de Guerra nas Estrelas na TV.
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