Curto-circuito: O vírus e a volta do Estado


Curto-circuito: o vírus e a volta do Estado – Laura Carvalho – Todavia

Data de Lançamento: 2020 – Minha Edição: 2020 (Kindle) – Páginas: 144


A crise econômica que se sucederá após a pandemia será uma das mais difíceis de se superar, como já estamos sentindo. Mas no Brasil o caso é especial, estamos em uma espiral de crise desde 2016 e os governos que se seguiram apenas agravaram a crise com políticas pró-cíclicas. O que isso significa? Realizar políticas econômicas de acordo com as ondas do mercado, se estiver em crise, aplica-se mais crise, ao cortar investimentos, congelar salários, privatizar serviços e estatais.

Esse conceito é uma das coisas que Laura Carvalho explica nessa obra, como sempre em uma linguagem acessível mas ainda densa.

O problema é que, como ela também aborda, essa postura de governos “funciona”, as custas de perda de poder econômico da população e perda de direitos, em crises mais cotidianas. Mas numa com as dimensões atuais é suicídio, porque o Estado é o único com disposição (e dever) e injetar dinheiro na economia. Isso deu um nó, um curto circuito, como ela chama, neste atual governo ultraliberal.

O governo que quer demolir o Estado, da saúde à educação, da Petrobrás aos Correios, vai ter que usar ele para reconstruir minimamente a economia (se quiser reconstruir o país). A autora busca, então, apontar algumas diretrizes as quais o Estado deveria se orientar para ajudar a sociedade se reerguer após a pandemia: como empreendedor, investidor, segurador social, estabilizador e prestador de serviços.

Apesar de gostar demais da Laura, não gostei tanto da obra. Não pelo conteúdo, mas provavelmente por opções editoriais; o livro faz parte de uma coleção de lançamento rápido para discutir este ano tão diferente enquanto ainda passamos por 2020.

Imagino então que por essa razão o texto pareça um pouco sem direção. As vezes é um apanhado geral sobre o tema Estado e economia, em outras, discussão sobre as implicações da pandemia. Alguns momentos o foco é sobre as políticas econômicas do atual governo, e outros ainda de propostas para o futuro.

Ou seja, parece ser bem completo, e o é mesmo! Mas não achei os temas tão bem amarrados e as vezes são discutidos sem conclusões. Quando colocamos todos esses aspectos para conversarem entre si não há muita direção. Embora a proposta geral – a de que é necessário o Estado gastar e gastar muito para tentar nos reerguer – seja clara. Ao mesmo tempo, apenas nas ultimas linhas ela arrisca apontar que o governo Bolsonaro provavelmente não fará nada do que ela discute, e quando o faz, faz de tanta má vontade que não ajuda em nada. Opção editorial?

Muito Bom (3,5/5)

Ainda que indispensável para compreender os desafios que enfrentaremos pós-pandemia e propostas para superar essa crise, o texto não tem direção, é um compilado de vários aspectos da relação entre estado e economia.

Mensalidades no Ensino Público: na discussão do papel estatal como prestador direto de serviços aos cidadãos, a autora relembra a torpe proposta que vira-e-mexe vem a tona, tanto da esquerda quanto da direita, de cobrança de mensalidade nas universidades públicas para alunos de famílias muito riscas. Para Laura, a solução seria muito mais simples, justa e eficaz à sociedade como um todo: ao invés de cobrar mensalidades e prejudicar a universalização do ensino, o ideal seria ampliar a alíquota do imposto de renda dessas famílias, já que elas são tão ricas assim, como compensação ao uso do serviço.

Coleção 2020: A editora Todavia elaborou uma coleção de ensaios de autores muito variados, desde este da economista Laura Carvalho, ao apresentador Zeca Camargo, sobre outros tão diversos temas, que estão sendo afetados no Brasil neste ano marcado pela pandemia. Aqui temos uma resenha de “Política e anti-política“.

Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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