Mr. Robot: A Sociedade Hacker – 2ª temporada

Controle é uma ilusão“, este foi o slogan de divulgação da segunda temporada de Mr. Robot. Em vários aspectos correspondeu como uma boa sinopse.

Entretanto, apesar de um argumento inicial certeiro, nem tudo foram flores nestes 12 episódios. Pelo contrário, a série foi afetada por problemas de ritmo mais graves que até então. Agora de uma forma invertida: enquanto anteriormente a temporada começou e terminou bem, mas com um miolo um pouco sem direção, desta vez foi o inverso. Um miolo muito bom com início e final pouco interessantes.

Claro, que, realizada por gente muito competente, o caminho fez todo o sentido. Aliás, talvez sem esses elos fracos, os melhores momentos da temporada não seriam tão bons. E não tem como começar sem ser pela grande reviravolta sobre a nova rotina de Elliot, que para mim, foi ainda mais impactante que a revelação da natureza de Mr. Robot.

O que, temos que admitir, só foi possível por conta do caminho que vimos Elliot enfrentando por tantos capítulos, a maioria sendo muito tediosos. O que eu temo ter sido fatal para muitos espectadores abandonarem a série. Após deixar tantos ganchos em aberto e, em seu retorno, não só não responder, como não colocar outras coisas interessantes no lugar, foi uma forma de testar a paciência dos fãs no limite.

Quem sobreviveu à provação foi recompensado com esse plot twist arrasador, e o que se seguiu foi uma gradual perda de controle dos protagonistas com tudo que estava acontecendo: seja com o cerco apertando através das investigações policiais, seja com um outro grupo hacker assumindo a liderança das operações. Culminando numa espécie de transição entre a primeira e a próxima temporada.

Agradou: reviravolta, mudança de foco e a investigação do FBI

De bate pronto provavelmente a melhor adição fixa da segunda temporada à série foi o núcleo da investigação do FBI, em especial da agente Del Pierro. Retratada sempre como muito inteligente, em nenhum momento deixamos de acreditar que ela vai descobrir toda a trama. O que, por sua vez, sempre mantém os protagonistas em perigo constante, qualquer escorregada deles seria captada pela policial.

Por enquanto ainda há uma impressão que apenas ela é inteligente e está cercada por idiotas, o que é um clichê já bem desgastado. Isso será consertado na terceira temporada, que dará mais profundidades aos investigadores.

Este núcleo da investigação foi uma ponte muito importante. Isto pois ele estava conectado o tempo todo com os outros dois; a FSociety e o DarkArmy. Conforme vemos os protagonistas perderem o controle da situação, este segundo grupo começa a ter mais poder do que esperávamos. Esta transição é muito bem feita ao longo de toda a temporada: no início, a FSociety parece estar fugindo do FBI, o FBI começa a apertar o cerco enquanto está em contato com o DarkArmy, e, ao final, todos estão ameaçados por este. Tudo funcionado como uma verdadeira orquestra.

Mas tudo fica em segundo plano quando nos deparamos com a reviravolta principal da temporada, que ocorre bem no meio. Diferentemente da anterior, em que era necessário um esforço para conectar todas as peças e pistas fornecidas previamente para nós para encaixar a verdadeira natureza de Mr. Robot, esta aqui – também por se tratar de uma coisa ainda mais íntima da cabeça de Elliot – já é digerida imediatamente, tudo parece fazer sentido.

O custo foi alto: a reviravolta é ainda mais impactante e funciona tão bem por causa de toda a preparação dos capítulos anteriores, com pouquíssimas informações. Funciona como um grande alívio. Aquele monte de coisa desinteressante e sem direção jogada para nós, que nos incomodava profundamente, agora começam a fazer sentido. Finalmente!

Então novamente o recado: FUJA de análises e críticas antes de assistir para se preservar de spoilers, pois se você já souber este aqui provavelmente não valerá a pena assistir nada antes dele.

Não agradou: início e finais anticlimáticos; e o arco de Ângela

Todos os pontos positivos vieram a custo muito alto. Em primeiro lugar, entretanto, vamos tirar do caminho o arco da Ângela. Ela, de longe, é a personagem com o desenvolvimento mais conturbado do seriado, e esta temporada é o momento mais convulsivo dessa trajetória.

Parecia que não sabiam exatamente qual caminho desejavam que ela seguisse. Tudo foi preparado para que ela fosse o símbolo da tentativa de mudança do sistema pelas vias internas – uma analogia ao reformismo, em oposição ao anarquismo do argumento original da série.

Isso que começou a ser preparado por toda a primeira temporada, mas já temos um balde de água fria ao percebemos o quão escrota ela se tornou. De qualquer forma, essa direção é interrompida quando ela começa a agir com a FSociety, mas depois isso volta a ser seu objetivo, para ao final mais uma vez ser descartado. Foi uma longa e bastante tediosa caminhada que pareceu andar em círculos, sem norte claro – o traço dela se afundar em autoajuda, todavia, achei genial, esse gênero tão oco, que é um dos maiores sinais dos tempos deste capitalismo tardio.

E essa sensação amarga de estar patinando foi o tom final de toda temporada.

A decisão de encerrar a anterior com um anticlímax foi muito ousada e inteligente, entretanto, a ousadia deu mais um passo e esta aqui também começou com o mesmo tom. Se não bastassem as ausência de respostas, o Elliot afastado dos computadores e a Ângela esnobe deu um tom de que não apenas não teríamos informações eventos passados como também não testemunharíamos eventos futuros da revolução prometida.

Por muito pouco não abandonei o seriado após os 4 primeiros capítulos: nada além de pretensão e bizarrices ocorria. Sejamos justos de reconhecer que a Darlene carregou a série sozinha nas costas. Com a volta de Elliot aos hackings uma luz de esperança se acendeu, voltei a acompanhar com afinco, e logo com a grande revelação a série brilhou. Entretanto, uma tolerância um pouco menor com certeza fez muita gente desistir de Mr. Robot.

Após uma grande seqüência intermediária, onde a trama parecia acelerar e chegar a suas conclusões, de novo, caímos num anticlímax.

Quando temos um tiroteio numa lanchonete, e todas as peças principais estão em suas posições e a transição da trama Fsociety x ECorp para DarkArmy x Resto é completada, a história entra em suspensão. O clímax é adiado. Apenas são lançadas bases para as tramas futuras. Ao final, a sensação é que a temporada toda foi apenas essa grande transição; muito bem feita, mas também muito custosa.


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

2 comentários em “Mr. Robot: A Sociedade Hacker – 2ª temporada

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