Economia do Desejo. A farsa da tese neoliberal – Eduardo Moreira
Data da Lançamento: 2020 – Minha Edição: 2020 Civ. Brasileira – 94 pgs.
Dizia-se que quando uma ideia envelhece na Europa, ela vem se aposentar no Brasil. Uma que particularmente chegou com força pra curtir a velhice aqui foi o neoliberalismo; ainda que seja mais ou menos seguida no mundo todo, aqui atualmente é contrabandeada como algo inovador. Além de ser velha pra burro, essa ideia se assemelha mais a uma crença religiosa: pois diz que quanto menos a sociedade agir para tentar criar instrumentos de controles, forças naturais vão garantir a distribuição de riqueza da forma mais justa possível.
Para desconstruir isso, Eduardo Moreira nos apresenta este ensaio bem curtinho.
Mesmo sendo breve, achei que o texto oscila bastante na argumentação; em alguns momentos ele parece estar se baseando em dados ou em sua experiência como ex-banqueiro, ou usando critérios claros e realizando análises; já, em outros, parece estar tirando um pouco as coisas da cabeça dele, não no sentido de inverdades mas em argumentos muito subjetivos – inclusive com pitadas de religiosidade.
Não que essas mudanças de tom comprometam a ideia que ele está apresentando: de que a geração de bens e riquezas precisa ser gerida, organizada, sofrer intervenção de alguma forma pela sociedade.
O que compromete um pouco, por outro lado, é a confusão que ele faz ao tratar essa gestão social da riqueza como sinônimo de gestão estatal. Na verdade, em alguns trechos, o que ele faz é tratar a sociedade como sinônimo do Estado. Dessa forma, no limite, ele acaba endossando, como efeito colateral, o discurso fuleiro do livre-mercado. Pois assim, ele dá mais legitimidade a farsa que vem monopolizando os debates políticos no Brasil: um falso duelo entre Estado e Mercado.
O Estado é o instrumento que a maior parcela da sociedade tem hoje para tentar disputar o controle das riquezas ou para convertê-las em serviços públicos, mas o Estado mas também é o mesmo instrumento que os poderosos usam para manter controle da economia e atender o mercado. Ele também apresenta essa face, mas falou um elo final pois a solução não é apenas exigir participação estatal na economia
É necessário que a população pressione os representantes populares no Estado (políticos e funcionários públicos) para realizar essa gestão e distribuição das riquezas brasileiras, e não só na eleição a cada quatro anos, mas em manifestações e movimentos sociais constantemente. Pois, na outra ponta, o mercado e seus representantes fazem essa pressão incansavelmente.
Bom (3/5)
irregular e raso em alguns momentos, ainda é uma leitura importante, acessível rápida para abrir horizentes a novas formas de pensamento sobre a economia e distribuição de riquezas na sociedade.
Duas farsas desmontadas: logo nas primeiras páginas, o autor já desconstrói o tal do Ranking de Liberdade Econômica da Fundação Heritage, que estabelece uma dúzia de critérios diversos para fazer essa medição, que vão desde às taxas alfandegárias, dívida pública, funcionamento do judiciário, leis trabalhistas a corrupção no governo; mas que não tem peso entre si.
Em nosso caso, levamos nota baixas em todos os critérios; já países escandinavos, por exemplo, com grande número de serviços púbicos e leis que obrigam alocação de recursos públicos perdem esses pontos mas ganham no critérios de bom funcionamento do Estado; tais como na corrupção ou lentidão jurídica, ficando muito a nossa frente na suposta “Liberdade Econômica”, mas não pelos motivos que imaginaríamos.
A outra farsa é sobre a falta de regulamentação ser saudável aos negócios, estimulando a concorrência; ele usa como exemplo a própria internet. Uma terra sem fronteiras que hoje já é dominada por oligopólios, desde às redes sociais aos e-commerces, com plataformas de lojas vendendo por outras lojas.
Prefácio: o livro tem uma linguagem e um ritmo muito amigável, é possível ler tudo muito rapidamente, exceto o prefácio. Escrito por Luiz Gonzaga Belluzo, um dos principais intelectuais do país – e presidente do Palmeiras por um curto período de tempo – não tem absolutamente nada a ver com o resto da obra. Uma linguagem extremamente complexa e não é mais que um “melhores momentos” do livro, pode pular sem dó.
Sobre o autor: Eduardo Moreira é um caso bem curioso, é o “banqueiro que mudou de lado“, antigo sócio do BTG Pactual, o banco de Paulo Guedes. Você já deve tê-lo visto em um vídeo pela Rádio Jovem Pan onde ele critica duramente as práticas extorsivas dos bancos no Brasil.
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