Arquivo X
Se havia alguma dúvida que Arquivo X era uma obra prima da ficção científica, ela se dissipa nesta segunda temporada, que é quase perfeita mesmo sendo bem longa, com 25 capítulos ao todo.
Todos os episódios envelheceram muito bem. Eles foram produzidos entre 1994 e 95, e com a exceção de um especificamente, e não pela trama, mas por conta da abordagem de um estupro sofrido, as temáticas em si todas fazem sentido ainda hoje. Algumas mais, como F. Emasculata, ou Museu Vermelho, outras menos como Nossa Cidade ou Sangue, que referem-se mais a acontecimentos do passado.
Os episódios de “monstros da semana” oscilam um pouco mais, mas na maioria são muito bons, enquanto o arco principal dá um salto em ambição e desenvolvimento.
Agradou: temporada consistente tanto no arco principal quanto nos episódios isolados.
Com a trama principal mais amadurecida – diferentemente da temporada original, com resoluções sempre lacunares, nada é o que parece – aqui já há explicações e desenvolvimentos mais determinados. As coisas já começam a ser melhor detalhadas e temos uma noção melhor do quadro geral. Da mesma forma, os personagens secundários, como Skinner, Smoking Man e Sr. X são muito bem explorados, rendendo grandes momentos.

Isso tem pontos negativos. Nas temporadas mais avançadas, a coisa fica tão complexa que desanima um pouco de acompanhar, além de ficar inverossímil. Mas, por enquanto, ainda que com muita ambição, com contornos mais delimitados, e as explicações realmente falando sobre os mistérios, o aproveitamento é ótimo; especialmente quando se esboçam as conexões com a vida pessoal de Mulder.
Já os episódios isolados acabam oscilando mais aqui em relação aos do arco principal, onde não há um único capítulo ruim. Nestes outros, sim, há notáveis exemplos de pouca inspiração. Todavia, em número bem reduzido, inclusive se comparado as demais temporadas do seriado.
Não agradou: pistoleiros solitários como conselheiros principais.
Estou pronto para levar pedradas! A partir desta temporada, os pistoleiros solitários, se tornam personagens recorrentes, atuando como os principais conselheiros dos agentes. Antes de tudo, eu gosto bastante deles e os acho bastante carismáticos, mas por outro lado, quando colocado nessa posição, creio que enfraquecem a verossimilhança do seriado.
Uma das chaves do sucesso de Arquivo X é que – com exceções, claro – muitas das teorias da conspiração que a série levanta sempre são ecos de possibilidades reais levadas ao limite na ficção. A dinâmica entre os dois protagonistas é pautada nisso: um levanta a explicação mais absurda possível, a outra contrapõe com a (pseudo)ciência, e, ao final, chegamos as nossas conclusões sobre aquele mistério.
Em alguns capítulos, os agentes são assessorados ou têm contato com especialistas naquele tema, e usando os argumentos deles para certos pontos como base, elaboram alguma possibilidade mais “robusta” para explicar o inexplicável. Em o Diabo de Jersey, da temporada anterior, toda teoria de Mulder de uma “família das cavernas” vivendo no mundo atual é construída com a ajuda de um antropólogo. Ela não deixa de ser absurda, e qualquer graduando de primeiro semestre de ciências sociais teria dezenas de explicações para mostrar como aquilo não seria possível. Mas dentro do universo, um apoio de um estudioso legitima o roteiro.
Já nesta temporada, por várias vezes os protagonistas vão aos pistoleiros para obter conselhos das probabilidades sobre sua investigação. No final desta temporada, Anasazi, eles serem procurados para levar os documentos a Mulder foi uma grande utilização e tem muito sentido com a função deles de conspiracionistas, por exemplo. Entretanto, durante a temporada não foi bem assim, como em Falsa Simetria, eles terem dados sobre os zoológicos.

Nesse sentido, o momento mais absurdo é em Uma Vida, quando são eles capazes de fazer análises de DNA do sangue de Scully! Sendo que nenhum deles ali é nada profissionalmente, não é biólogo, médico ou químico, só um curioso. Você que curte Arquivo X, e é um programador ou um funcionário público mas lê bastante sobre aleatoriedades, é capaz de decodificar um genoma no seu quarto?
Em contraste, em Balão de Erlenmeyer, final da primeira temporada, é uma cientista verdadeira que apresenta as análises genéticas para Scully – dando muito mais profundidade a trama. Enquanto ficar rodando apenas entre os conspiracionistas que já são do mudinho de Mulder, pensam mais ou menos iguais, acaba enfraquecendo aquele universo ficcional.
Arquivo X
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