Jango e Eu – Darcy Ribeiro
Ano de Lançamento: 2010 (1996) – Minha Edição: 2010 – 107 páginas
Provavelmente a frase mais célebre que Darcy ribeiro nos deixou é a qual ele afirma que seu maior alívio foi fazer parte dos vencidos da História nacional, ou quase isso. Ele relata várias de suas empreitadas na política brasileira – tais como reforma universitária, campanha pela alfabetização, proteção aos indígenas – e que, em todas, foi derrotado. E provavelmente o momento em que mais esteve próximo de fazer vencer suas bandeiras foi o período em que se tornou o político mais importante do país depois do presidente da República.
Entre junho de 1963 e abril de 1964, o antropólogo foi ministro da Casa Civil de João Goulart até os instantes final do governo derrubado pelo golpe militar. Já havia sido ministro da educação de Jango no ano anterior e acabou se tornando uma das pessoas mais importantes do país naquele início da década; membro de um seleto grupo que desejou, como nenhum outro, desenvolver e pensar o Brasil.
Nesta pequena etapa de suas memórias, ele relata, exatamente como o título adianta, sua relação com o presidente.
Não entrando especificamente na seara do golpe, questão a qual há um outro volume dedicado, Darcy conta sua visão de quem era Jango e o que ele pretendia para o Brasil; alguns episódios que presenciou junto ao presidente; e de seus dias como ministro da casa civil.
É possível identificarmos a profunda admiração que ele possuía pelo governante, um traço constante do livro. Mas ainda mais, o que marca o texto é o tom de amargura e tristeza ao lembrar aqueles dias no qual ele, e seus pares, compuseram aquele governo – que teria tudo para ser o mais relevante da história brasileira – e queriam transformar o país, mas foram severamente impedidos. Ainda que não trate do golpe, o que marcou seu período no poder foram sucessivos transtornos e crises políticas.
Outro relato de um ministro de Jango
1964 na visão do ministro do Trabalho de João Goulart
Uma longa e comovente leitura de um importante integrante do Governo Jango, que faz uma narração dos eventos políticos do país entre 1954 e 1964 tentando explicar a tragédia se abateu sobre o país naquele primeiro de abril.
Há algumas curiosidades reveladas aqui, como uma acusação que ele sofreu de ter fugido do Brasil com 10 milhões de dólares em espécie após o golpe; ou o fato de que seu telefone com linha direta para o gabinete do presidente estar grampeado pelos EUA – os serviços de telecomunicações tinham sido instalados por empresas americanas como “presente”. Mas também ele não poupa críticas àqueles que ele acreditava que deveriam ter apoiado o governo que fez parte, como a pretensa burguesia nacional ou mesmo os movimentos de esquerda que desestabilizavam Jango.
De toda forma, o que temos é um texto muito pessoal – dá até para imaginar ele falando as frases, escutando sua voz na cabeça – tanto em suas análises como estrutura; há alguns pensamentos incompletos e determinados saltos que até confundem a leitura. Mesmo assim, é sempre rápida e prazerosa, perfeita ao formato de bolso desta coleção, apesar de contar a história de uma das mais tristes derrotas do Brasil.
Bom (3/5)
Um texto pessoal que compõe as memórias uma figura magistral da nossa história; mas fica no meio do caminho entre análises importantes do autor ou revelação de memórias íntimas de sua vida, sem emplacar em nenhum.
Allende: Darcy relata que já no exílio, ao lado de Jango, recebeu a visita de Salvador Allende – não indicando o local, mas provavelmente no Uruguai – então senador. O futuro presidente do Chile, e que, como João Goulart, também sofreria um golpe de estado orquestrado pela direita nacional e pelos Estados Unidos, conversou com os dois e lamentava muito a queda de seu governo.
Allende dizia que nem mesmo Jango compreendia o impacto que a queda do Governo Brasileiro – em especial, da queda lei da remessa de lucros, que limitava a quantidade de dinheiro que poderia ser enviada ao exterior. Para ele, um triunfo de João Goulart no poder significaria uma vitória enorme para a América Latina ao passo que uma derrota enorme para o imperialismo.
Dream Team ministerial: em suas memórias, Darcy aponta que as pessoas reunidas por João Goulart para compor seu governo foi, provavelmente, o mais relevante que já existiu. Empenhado em realizar as reformas de base e transformar o Brasil, Jango trouxe ao poder além de Darcy Ribeiro na Educação na Casa Civil; o economista Celso Furtado foi ministro do planejamento; Almino Affonso na pasta do Trabalho; San Tiago Dantas nas Relações Exteriores e Fazenda; Ulysses Guimarães no Comércio Exterior; Tancredo Neves na Justiça, Fazenda e como Primeiro Ministro; Paulo de Tarso na Educação; embora não tão famoso, o médico Wilson Fadul é lembrado em vários dos depoimentos do período.
Mesmo figuras bastante relevantes da direita nacional, que posteriormente passaram a apoiar o golpe ou o regime militar também compuseram o gabinete de Jango em algum momento; Affonso Arinos como Chanceler; o empresário José Ermínio de Moraes na Agricultura; e o banqueiro Walther Moreira Salles na Fazenda.
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