O Jogador

O Jogador – Iain M. Banks

Tradução: Edmundo Barreiros – Editora Morro Branco

Ano de Lançamento: 1988 – Minha Edição: 2021 – 364 páginas


A Cultura é uma gigantesca e poderosa sociedade interplanetária. Estendendo-se por milhares de planetas, essa comunidade encarna o conceito de Fim da História. Tudo é permitido e conquistado, o que você quiser fazer ou ter, é garantido pela distribuição total dos recursos unificados através dela. A prosperidade é tamanha que até mesmo a noção de crime ou chantagem é algo difícil de seus membros entenderem.

O que restou então para os habitantes desses planetas “se fazerem homens”, isto é, enfrentar e superar dificuldades e contradições, são os jogos. Dentro da Cultura, o que gera maior reconhecimento e fama é ser um Jogador famoso.

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The Orville (3ª temporada)

Realizar o sonho de ter sua própria série de Jornada nas Estrelas continua para Seth McFarlene. Após uma tumultuada produção da terceira temporada, cortada pela pandemia, perdendo um episódio e sofrendo com a morte de dois atores coadjuvantes, The Orville consegue chegar e entregar seu melhor ano até agora – ainda que com sensível irregularidade.

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Por uma outra Globalização

Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal – Milton Santos

Ano de Lançamento: 2000 – Minha Edição: 32ª 2021 – 194 páginas


Quem foi a escola nos anos 90 e 2000 provavelmente gastou boa parte das aulas de geografia estudando o fenômeno da globalização. Com o final da Guerra Fria e a alta conectividade no mundo, gerada pela pulverização de fronteiras e vertiginoso crescimento das telecomunicações, a humanidade estava de frente com o seu maior desafio: conviver como uma só entidade.

Paulatinamente esse debate foi cessando e a impressão que fica é que a discussão já não é mais necessária, a globalização já é o nosso cotidiano. Discuti-la é equivalente a questionar se a água é molhada ou se o sol nasce a leste, um verdadeiro fenômeno da natureza. Nada mais perigoso.

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Os acertos e os 20 melhores episódios de Star Trek: Enterprise

Apesar de encerrar o ciclo de produções que vinha ininterrupto desde 1987 e enterrar o Classic Trek, Enterprise viveu também a altura de suas irmãs e nos entregou bons momentos. Algumas histórias contadas nela, por exemplo, hoje são tão consolidadas que causa até estranheza saber que elas ainda não existiam na TOS ou TNG; como o detalhamento da história de Surak e as reformas vulcanas, ou a fundação da Federação entre Andorianos, Vulcanos e Tellaritas.

Vamos conferir o que houve de melhor neste seriado!

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Os erros e os 20 piores episódios de Star Trek: Enterprise

Enterprise teve um começo muito complicado, que acabou enterrando a série mesmo após as duas últimas temporadas maravilhosas. Mudando muito sem mudar nada naqueles seus dois primeiros anos, a série simplesmente não sabia para onde ir. Estava-se levando ao limite do desgaste uma fórmula iniciada em 1987.

Infelizmente o que não faltou ao seriado foram pontos negativos, tais como os abaixo:

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Querido Lula

Querido Lula: Cartas a um presidente na prisão – Maud Chirio (org.)

Ano de Lançamento: 2022 – Minha edição: 2022 – 232 páginas


Há momentos que olhos treinados conseguem perceber que verdadeiramente se tornarão históricos instantaneamente; um dos mais recentes foi a vigília montada por manifestantes no entorno do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo do Campo, em 2018, para impedir a prisão do ex-presidente Lula – a qual eu tomei parte durante a tarde e noite de 6 de abril. Em conjunto com familiares, amigos e conselheiros, ele decidiu se entregar no dia seguinte.

As imagens daquele dia se tornaram icônicas e percorreram o mundo; e ele ficou na prisão por mais de um ano. O tempo passou, o que já se imaginava foi revelado através da Vaza Jato, a operação para prendê-lo era, no mínimo, frágil, e motivada por interesses políticos e pessoais de juízes e promotores.

Durante os 580 dias na prisão, o ex-presidente perdeu um de seus netos e um irmão, cujo direito de ir ao velório, assegurado a todos os presos no país, foi negado e a jornada se tornou cada vez mas comovente. Uma face nova dessa comoção foi revelada em maio deste ano, 2022, com a edição deste livro, composto por uma seleção das 25 mil cartas enviadas a Lula durante o período no cárcere.

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Sliders – Dimensões Paralelas (2ª Temporada)

Um gosto amargo ao final desta segunda temporada: viver na pele as armadilhas da nostalgia é sempre desagradável. Já em apenas seu segundo ano, o seriado já exibiu fortes sinais desgaste. Trocando os pés pelas mãos, a produção teve uma inabilidade muito grande em criar novas realidades alternativas, e, em especial, saber articular as tramas nesses novos contextos imaginários.

É impressionante ver como uma primeira temporada virtualmente sem um único episódio ruim, se transformar numa bagunça de altos e baixos como os apresentados aqui em capítulos onde é completamente impossível compreender suas regras internas. Não há, também, nenhuma grande sacada ou alegoria política/social/histórica/cultural, como a sociedade matriarcal ou a dominada pelos nerds, como vimos antes.

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Star Trek: Lower Decks (2ª temporada) – divertida, mas formulaica

Quando Lower Decks surgiu, foi uma grande inovação para a franquia. Pela primeira vez em quarenta anos, Jornada nas Estrelas se aventuraria novamente em séries animadas, mas de uma forma não-ortodoxa, em uma animação para adultos (um gênero, por sua vez, que está em alta nas últimas décadas sem muita inovação). De qualquer forma, era novidade para os trekkers.

A primeira temporada entregou algo totalmente novo, através de uma chuva torrencial de referências e um ritmo muito corrido. Problemas corrigidos, pelo menos em sua maior parte. Por outro lado, o formato narrativo não mudou e a experiência foi se tornando repetitiva ainda que divertida.

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Sociedade Paliativa

Sociedade Paliativa: a dor hoje – Byung-Chul Han

Tradução: Lucas Machado – Editora Vozes

Ano de lançamento: 2020 – Minha Edição: 2021 – 115 páginas


Ao entrar em qualquer igreja católica você encontrará, adornando toda a nave principal, imagens da Via Crucis, a jornada de Cristo em caminho a sua crucificação. Carregando muito significado para os católicos, representa a martirização de Jesus, a dor que ele sofreu pela humanidade. Durante quase dois milênios, para a sociedade ocidental a dor era algo central, considerada venerável e nobre.

A partir do que Hobsbawm chama de dupla revolução (a Revolução Francesa e a Revolução Industrial) esse ideal medieval de se entregar a dor começa a mudar de significado, mas ainda é central para a humanidade. A dor passa a ser disciplinada – há locais e momentos para sentir, sofrer ou aplicar a dor – e seu símbolo é heroico – o sujeito sente muito a dor, mas a supera e mantém seu caminho.

De acordo com o filósofo coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han, na contemporaneidade nossa relação com a dor mudou completamente – agora a humanidade não quer nem mais ouvir falar em nenhum tipo de dor.

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Jornada nas Estrelas: Strange New Worlds (1ª Temporada) – O Classic Trek de volta

Quando Star Trek: Discovery estreou em 2017 um gosto amargo esteve na boca da maioria dos fãs, mesmo para quem gostou, que foi meu caso, para além dos nomes, o seriado guardava pouca semelhança com aqueles que vieram antes. Especialmente nos visuais, e na linguagem narrativa. O tempo passou, algumas coisa foram corrigidas e Discovery se aproximou mais em umas coisas e menos em outras.

Com a chegada do segundo seriado da era contemporânea, chamada de Kurtzman Trek, Picard, a amargura ficou, na realidade, azeda. Muito irregular, as coisas, apesar de contarem com alguns dos mesmos personagens de 30 anos atrás, estavam ainda mais diferentes, em especial na narrativa. Nos últimos anos, as temporadas foram transformadas (e é uma forma hegemônica no entretenimento de massa) em filmes gigantes de 10 ou mais horas repartidos em segmentos.

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Contra Amazon

Contra Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros – Jorge Carrión

Tradução: Reginal Pujol Filho e Tadeu Breda – Editora Elefante

Ano de Lançamento: 2019 – Minha Edição: 2021 – 301 páginas


Uma cena muito comum que cada vez mais parte corações é ver livrarias fechadas, desde as extintas livrarias de rua até as lojas de shopping. E nem estou indo muito longe, da livraria de uma rua florida em charmoso bairro com construções do XIX ou da Dom Quixote do Miguel de Laços de Família, falo mesmo das megastores como a FNAC da Paulista ou as redes Saraiva e Nobel nos shoppings da Zona Leste de São Paulo. Livraria se tornou um negócio inviável.

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Kenobi – 1ª Temporada – Um Livro do Universo Expandido em forma de série

Antes da compra pela Disney, tudo o que possuíamos eram exatamente os 6 filmes, o que constituía o chamado G-Canon (G de criado diretamente por George Lucas), tudo fora disso era considerado o Universo Expandido de Guerra nas Estrelas – a exceção do T-Canon, composto pelas séries animadas e algumas iniciativas multimídias como Shadows of the Empire ou Force Unleashed, mas isso é papo para outra hora. O C-Canon, o S-Canon e D-Canon compunham essa complexa teia de histórias de livros, jogos, cardgames e produtos licenciados. A LucasArts possuía um departamento chamado Holocron dedicado a manter um banco de dados e um cânon relativamente coeso das obras.

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Star Trek: Picard – 2ª Temporada – A queda de Q (e de uma série)

O inimaginável aconteceu: um imortal está para morrer. Em seu ato final, o onipotente Q decide, mais uma vez, bagunçar a linha do tempo e a vida de Jean Luc Picard, que tenta, pela segunda vez, viver sua aposentadoria. Depois de um início promissor, com uma linha do tempo alternativa onde a Terra se tornou os Estados Unidos da galáxia, poluindo, matando e conquistando todo mundo, a série foi só ladeira abaixo.

Supostamente devido à pandemia, o seriado quis economizar dinheiro em locações e efeitos especiais, e ainda preservar os atores mais idosos, como Patrick Stweart e John deLancie. Pura bobagem, Picard não teve uma temporada enxuta, como o final de The Expanse, pelo contrário. Aqui vimos uma temporada extremamente arrastada – vários foram os capítulos que não precisavam existir e vários foram os arcos repetitivos – que poderia ter metade da duração que teve.

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O Tempo em Marte

O Tempo em Marte – Philip K Dick

Tradução: Daniel Lühmann – Editora: Aleph

Ano de Lançamento: 1964 – Minha Edição: 2020 – 315 páginas


Uma das coisas mais fascinantes de ler ficção científica do miolo do século XX, especialmente anos 60 e 70, é o quanto imaginava-se que seria rápido o desenvolvimento tecnológico da humanidade – especialmente em direção ao espaço. Aqui, nesta obra de Philip Dick, o cenário é a colonização de Marte no distante ano de 1994.

Longe de ser uma empreitada glamourosa e tampouco caótica; habitar o planeta vermelho na imaginação do autor revelou-se uma um atividade extremamente medíocre. Sem encontrar grandes recursos e nenhum perigo, a colonização atraiu pessoas que queriam fugir de vidas também medíocres na Terra; uma vez no planeta estrangeiro, tentaram se tornar relevantes de maneiras ainda assim ordinárias.

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1930: O Silêncio dos Vencidos

1930: o Silêncio dos Vencidos – Memória, História e Revolução – Edgar de Decca

Ano de Lançamento: 1981 – Minha Edição: 1994/(rein)2004 – 209 páginas


Caso você pegue um livro qualquer de história do Brasil, seja um livro didático de uso na escola ou algum panorâmico em qualquer tema nacional, história econômica ou cultural, política ou social, com certeza uma das divisões dos capítulos será antes de 1930 e depois de 1930. Não apenas por iniciar o governo de Getúlio Vargas, aquele ano é tido como um momento em a história brasileira tomou um determinado caminho do qual tudo o que veio depois só poderia ter acontecido devido aos seus eventos.

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