A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil – Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias.
Data de Lançamento: 2018 – Minha Edição: 2019 – 344 páginas
Poucas coisas se mostram tão calamitosas no Brasil quanto as políticas de segurança pública. Para não dizer nunca, raramente houve sequer um acerto ou experiência positiva: são décadas de tragédias atrás de tragédias. Numa dessas, o Massacre do Carandiru, surgiu um dos atores mais importantes da história nacional contemporânea: o PCC.
Este livro narra com exatidão, precisão e documentação a trajetória do PCC. A facção nasceu como espécie de “Sociedade de Beneficência Carcerária“, buscando quase que uma sindicalização dos presos, oferecia desde proteção contra crimes sexuais dentro da cadeia como o fornecimento das coisas mais básicas para sobrevivência: distribuindo de cobertores à papel higiênico.
A recusa de entender a forma como o PCC e outras facções nascem e crescem dentro dos presídios no país – se consolidam fornecendo mínimo apoio para a estadia carcerária, coisas que o Estado deveria e poderia facilmente fazer – é uma constante. Por décadas o Governo de São Paulo ignorou não só esses problemas como a sua própria existência. Até os atentados de 2006 (e mesmo pouco tempo depois) existiam políticos e comandantes militares que juravam de pé junto que o PCC era um mito, criado pelos criminosos para ganhar fama.
Não é difícil imaginar que esses dois, de outros tantos, erros homéricos da política de segurança pública brasileira contribuíram para transformar essa “associação beneficente” na maior facção criminosa da história do país, controlando a maior parte do tráfico de drogas não só no Brasil, como no Cone Sul da América.

A abrangência e a complexidade da trama que levou de uma coisa a outra são fantásticas. Desde episódios do dia a dia até cenas de ação dignas de Hollywood estão presentes nessas páginas. Entretanto, essa diversidade também é o ponto fraco do livro, mas não em conteúdo, e sim em forma. Os dois autores, acadêmicos, oscilam muito na narrativa do texto. Em alguns momentos falam como professores, outros como jornalistas, e outros como novelistas.
Em conjunto, essas três abordagens simultâneas dificultam um pouco a leitura, que muitas vezes parece andar em círculos. Algumas descrições de eventos aparecem desproporcionalmente, alguns episódios são repetidos à exaustão, e tudo dificulta também a compreensão cronológica da história do PCC.
Mas isso é um detalhe desta leitura que se manterá como uma das mais impactantes da minha vida. Por um lado temos a incrível burrice e cegueira (por vezes intencional) dos governos na lida com o problema – achando que crime ainda se resolve matando e prendendo, sem nunca se preocupar com o que acontece depois disso – e, por outro, há o incrível poder subterrâneo que o PCC e demais cartéis de drogas têm hoje na política nacional, refletida na eleição de milicianos em cargos chaves da República.
Muito Bom (4/5)
Uma detalhada história da principal facção criminosa do país, com farta documentação. Uma leitura muito impactante para mergulhar num assunto tão complexo que é tratado de forma tão obtusa. Por outro lado, não é uma leitura fácil por conta da diversidade de formas narrativas que os autores utilizam.
– Gegê do mangue: o ponto de partida e o final deste livro é seu assassinato, que desencadeou uma guerra entre várias alas do PCC. A ordem foi dada, executada e, em seguida, cancelada. O assassino, por sua vez, acabou sendo ele marcado de morte. Gegê era o responsável pelo transporte internacional da droga em Santos, foi suspeito de estar desviando dinheiro dessa logística.
O que é um ponto muito complexo do estudo das organizações criminosas no geral; quais os limites entre os interesses individuais e coletivos de seus membros? Este é um dilema para todas as sociedades humanas, mas no caso das facções, estar fora da lei retira uma importante baliza nesse sentido.
– Lado B: para quem morou em São Paulo nos últimos 20 anos, este livro funciona como uma espécie de Lado B da História de São Paulo no século XXI. Vários episódios dessas duas décadas referentes à segurança pública, desde os atentados de 2006 à proibição de atendimento de feridos pela PM, recebem novas abordagens.

– Bandidos na TV: a série documental do Netflix, que conta a história de Wallace Souza, apresentador de TV do Amazonas acusado de praticar crimes para ele mesmo cobrir, tem várias conexões possíveis com os temas deste livro. As crises de segurança pública no estado na época das denúncias e posteriormente foram desencadeadas pela expansão do PCC através da região norte do país.
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Se quiser expandir as mídias, o podcast Salvo Melhor Juízo tem ótimos episódios sobre a história do PCC, caso queira ir além, com convidados muito bons. Recomendo os episódios #2 – Mundo Carcerário, #17 – Violência e Criminalidade e #42 Guerra Entre Facções.
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