DIS 03×12: Há uma maré…

Jornada nas Estrelas: Discovery – Terceira Temporada


O confronto final da temporada de Discovery está em curso quando as forças da Corrente Esmeralda, infiltradas na nave, invadem o quartel-general da Federação neste agitado episódio.

O capítulo começa com um justificável deus ex machina: a súbita capacidade de uso dos túneis de transdobra, fazendo com Michael e Book cheguem na nave instantes antes da invasão. A partir daí, com uma grande escrita de roteiro, os desdobramentos se dão em três núcleos diferentes, articulados a partir desse evento.

Como de costume, o de Michael se torna o mais emotivo, especialmente ao final, mas numa direção contrária ao que normalmente ocorre. Ela toma decisões mais sóbrias e frias, o que sempre é interessante. Um outro destaque é sua primeira incursão de ataque, cujo resultado é um excelente exemplo de subversão de expectativas, algo na moda, sendo realizado de uma forma suave – sem cair na “marvelização” da coisa, com uma tiradinha ou com tudo dando errado.

Book vai ao encontro (forçado) do resto da tripulação, mantida prisioneira. E, com eles, passa a armar o principal plano de retomada da nave. Há bons momentos de ação e drama neste núcleo, entretanto, com ele ficou preso o dilema da Discovery estar sendo comandada por uma oficial de baixa patente. Por alguns momentos, é preciso apontar o porquê Tilly está no controle da nave – arco que mais uma vez é muito frágil. Todavia, o retorno de um vilão prévio, relacionado com ela, é bem legal.

Enquanto isso, o terceiro núcleo é o “ataque” de Osyraa à Federação, que passa a ter outros contornos após ser frustrado logo no começo do episódio. Provavelmente é o que mais dará polêmica já que a política é mencionada diretamente, quando a Corrente Esmeralda é associada ao capitalismo e a Federação ao anticapitalismo. A abordagem da Corrente Esmeralda, aliás, foi muito bem trabalhada neste capítulo, com a figura do cientista. Os vilões se tornaram mais tridimensionais, mais complexos, o que sempre é positivo.

Ao final, tudo vai se conectando em um episódio muito completo, e em uma grande preparação para o final da temporada.

Excelente (5/5)

Repleto de tensão e AÇÃO, consegue trabalhar muito bem a estória em três focos separados mas interligados; e deixando o terreno muito bem preparado para a conclusão da trama.

Modo de Produção: o momento de maior polêmica é quando a Corrente Esmeralda é associada ao capitalismo, e a Federação a algo diferente. Há uma freqüente confusão de capitalismo com comércio visando lucro, que é algo que também pode ser visto neste episódio. Para bom entendedor, desde a série clássica, mas em especial desde TNG, sempre esteve claro que a Federação era anticapitalista.

O que definiria então a Federação não ser Capitalista?

Não é possível fazer um resumo do que um modo de produção aqui, mas em linhas muitos gerais, o regime político e econômico nesses termos tem mais a ver com o controle e o destino da produção das riquezas. No Capitalismo, a burguesia, a classe que controla a produção, produz o excedente para jogá-lo no mercado e obter a mais-valia do trabalho necessário para a produção dessas mercadorias a mais.

No caso de Jornada nas Estrelas o que rompe com essa forma de organização social é alvo de muitas teorias. Uma das mais importantes é referente ao acesso aos replicadores. Se os replicadores – que podem produzir de comida à vestimentas, de itens domésticos à peças mecânicas, através de antimatéria – são de “patente aberta”, qualquer cidadão da federação pode ter um gratuitamente, a produção para seu sustento é controlada por cada pessoa.

Se a produção de riquezas da Federação é em maior parte, pelo menos para o cotidiano, gerida (isto é, desde o controle realização até o controle da distribuição) pelas próprios cidadãos, o capitalismo perde o sentido. O excedente, se for produzido, será produzido de acordo com as necessidades dos cidadãos, não ficará a mercê do mercado ou da necessidade de obter mais valia.

Maré: o título é uma citação de uma peça de Shakespeare chamada A Tragédia de Júlio Cesar. Que, como o nome entrega, conta sobre a História Romana, mas focada mais no dilema de Brutus que se forçado a escolher entre seu pai (adotivo), César, ou a conspiração que busca assassina-lo. “A maré” é sobre Brutos identificar as movimentações da história pra se posicionar corretamente sobre os eventos.


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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