Jornada nas Estrelas: TOS – A Série Clássica
Continuamos com a observação de que a ordem de produção não é a mesma de exibição. A primeira está pelos números e a segunda, que você vai encontrar em streamings e lançamentos de mídia doméstica, é a ordem do texto.
S02E05: Tempo de Loucura – Spock perde a linha dentro da nave; o comandante passa a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço, que apenas se agrava, em conjunto com sua saúde que vai se debilitando. A única forma de salvar o vulcano é levá-lo de volta ao seu planeta natal, onde encontrará sua… noiva?
É uma das histórias mais clássicas de Jornada nas Estrelas. Aqui foram criados conceitos e personagens que se firmaram como dos mais recorrentes e importantes de toda a franquia; ao mesmo tempo que é um capítulo ótimo do começo ao fim, com uma porção de reviravoltas.
Excelente (5/5)
S02E04: O Lamento por Adônis – A Enterprise é agarrada por uma mão verde gigante no meio do espaço. Quer sinopse melhor que essa?

Essa mão na realidade é a “mão de Deus”, no caso de um antigo deus grego. Em um estilo de “eram os deuses astronautas?” bem pioneiro, temos aqui um capítulo bastante interessante e surpreendentemente comovente ao seu final. O seriado dá uma importante reviravolta para não mostrar sinais de sua idade: inicialmente dependendo da muleta tão usada anteriormente, do problema que se resolve quando a mulher do capítulo se apaixona, a coisa muda um pouco de figura; o que gostei de ver.
Uma nota curiosa sobre sua personagem é que a tenente Palamas realiza o trabalho que aqui entenderíamos como o de uma historiadora (bem diferente do papel da tenente McGivers de Semente do Espaço), entretanto, ela é uma antropóloga. Isso é um sintoma da forma como as ciências humanas se desenvolveram nos Estados Unidos; fica a dica do texto abaixo:
Falling Skies e a noção americana de História
Na luta entre humanos e alienígenas que invadiram a Terra, o herói é um professor de história. Uma honra? Mais ou menos. Além dos problemas de Falling Skies, a História, como disciplina, nos EUA é vista de forma bem diferente.
Por fim, um destaque à dublagem brasileira da VTI Rio, que adicionou um efeito à – já excelente – voz de adônis para dar seu ar de divindade, ausente no áudio original.
Muito Bom (4/5)
S02E08: Nômade – Eu já vi isso antes, ou melhor, depois… a Enterprise se depara com uma outra nave extremamente poderosa que vem destruindo tudo o que vê pela frente. Mas quando a examinam de perto, descobrem que se trata de uma velha sonda espacial terrestre. Este roteiro seria autoplagiado 15 anos depois em The Motion Picture, o primeiro dos longas.
E por isso, infelizmente, é inevitável comparar ambas as produções e o episódio fatalmente empalidece diante daquele que era, então, o filme mais caro da história. De toda forma, é um capítulo sólido, interessante e capaz de manter o espectador interessado até o final. Muito embora o final se torne repetitivo com o recurso de “talk to death” que acontece em media dúzia de vezes na Série Clássica: levar as inteligências artificiais a se confundirem e se perdem em sua própria lógica, o que era bem característico da Ficção Científica do período.
Bom (3/5)
S02E10: O Reflexo no Espelho – Este provavelmente é um dos capítulos individualmente mais influentes do gênero e da TV como um todo. Após um acidente no transporte, Kirk, McCoy, Uhura e Scotty são enviados a uma Enterprise “do avesso”, em que os protagonistas, na realidade, são vilões e ameaçam destruir o planeta no qual estão orbitando.
Não é a toa a rasgação de seda: tudo aqui é bem encaixadinho e todo o conceito por trás é interessantíssimo. Gerou um subplot referente ao Universo Espelho (como ficou conhecido esse mundo onde os humanos são os malignos) que perpassa os seriados até hoje; além de render paródias, referências e inspirações por toda a Ficção Científica.
Para além de seu legado, o episódio não deixa de ser tenso e intrigante em todos os momentos e, muito importante, conta com personagens muito tridimensionais. Coisa que, futuramente, acredito que as demais estórias do Espelho tenham errado na mão. Aqui entendemos que eles vivem naquele determinado contexto social de brutalidade e selvageria que seria uma trajetória possível pra humanidade; mas com o passar do tempo, as revisitações nesse mundo paralelo se perdem cada vez mais na caricatura da coisa ficando mais inverossímil e, consequentemente, enfraquecendo, na minha opinião.
Excelente (5/5)
S02E09: O Fruto Proibido – Nove oficiais descem à superfície de um para uma missão de exploração, desses nove, 5 vestem uniforme vermelho. Ao final da aventura, houve 4 baixas; qual a cor da camisa desses quatro?
Neste capítulo, que é tido como o inaugural da maldição dos camisas vermelhas, nossos heróis acabam entrando em contato com uma espécie alienígena composta por alguns punhados de habitantes em um planeta paradisíaco – temperatura sempre amena, pessoas bonitas, alimentos abundantes e crença no poderoso Vaal. O capitão Kirk até poderia deixar tudo assim, mas acontece alguma coisa ou outra e eles ficam presos no planeta.
Dependendo exclusivamente de uma metáfora capenga com a história bíblica do Éden, o roteiro não nos apresenta mínimas explicações do que está acontecendo e apenas temos que aceitar que os protagonistas tomem ações bastante controversas para se salvar. Além disso, são introduzidos alguns elementos soltos sobre os perigos naturais do planeta – que contradizem a premissa de se tratar de uma versão do Paraíso, aliás – para criar uma espécie de trama B referente ao confronto interno de Kirk com relação ao perigo que submete seus oficias, que, ao final, soam superficiais (inclusive após a morte de um deles, bem ao começo, ele faz uma brincadeira com McCoy).

Não que todo episódio precise de profundas reflexões filosóficas, mas este próprio se propõe a algo assim com toda sua alegoria bíblica, e pela polêmica da resolução final – levantada pelos próprios personagens, que se incomodaram com o que fizeram.
Muito Ruim (1/5)
S02E06: A arma do Juízo Final – Nesta releitura de Moby Dick, a Enterprise encontra outra nave de sua classe, a Constellation, completamente destruída e, tentando entender o que aconteceu, encontram nela um único sobrevivente: seu comandante, o Comodoro Decker.
Nesta, que é uma das mais icônicas histórias de Jornada nas Estrelas, temos de tudo um pouco; desde ao drama à ação. Quem rouba a cena é o personagem de Decker (que é o pai de Will Decker, o Capitão da Enterprise em The Motion Picture). Atormentado pela tragédia com sua nave, ele faz de tudo para tentar reparar seu erro, criando um personagem extremamente comovente em todo o episódio, que é fantástico, muito embora, acho a solução final um pouco óbvia demais para não ter sido pensada desde o começo. De toda forma, o que vale aqui é a jornada.
Excelente (5/5)
S02E01: Dia das Bruxas – Ainda bem que não estrearam a segunda temporada com essa coisa sem pé nem cabeça: um raríssimo episódio dedicado a uma data específica (holiday special) em Star Trek, o que o próprio título em português denuncia. Em uma missão exploratória de rotina, membros da tripulação somem e um morre, cabe ao Capitão, Spock e McCoy investigarem o que houve, mas chegando lá são recebidos por três cabeças de bruxas flutuantes… … ?
Não sou contra o tema do capítulo em si, inclusive ele começa bem divertido, com bruxas, casas mal assombradas, masmorras, gatos pretos (toda a utilização do gato é divertidíssima) num ar bem humorado e que, para nós, acaba ficando mais debochado pois lembra o episódio do Chaves em que entram na casa da Dona Clotilde.

Entretanto, a trama de fundo utilizada para costurar isso tudo é bem mais ou menos no roteiro. Apesar de bons conceitos aqui e ali, como os antagonistas se rendendo aos sentimentos humanos, não há muitas explicações das suas motivações e do porquê da temática de halloween; apenas temos que aceitar o que os protagonistas vão deduzindo em conclusões pela metade.
O que eu achei mais assustador foi exatamente a cena final, com os dois seres completamente bizarros em stop-motion.
Ruim (2/5)
S02E12: Eu, Mudd – E lá vamos nós outra vez. A Enterprise é sequestrada por um androide disfarçado entre a tripulação, que leva a nave até um remoto planeta repleto de outros robôs, e “liderando” eles está ninguém menos que Harry Mudd – entre aspas porque logicamente não é exatamente assim que a música está tocando, dada a natureza do personagem.
Diferentemente da sua primeira aparição, este episódio contém um argumento razoável por trás das trapalhadas de Mudd, e verdadeiramente se trata de uma Ficção Científica. Há um humor datado aqui e ali, inevitável, mas é um roteiro divertido e inteligente inclusive para encaixar a solução dos problemas através de cenas de comédia – simplório, claro, devido aos objetivos cômicos da produção.
Bom (3/5)
S02E02: Metamorfose – Transportando, em numa nave auxiliar, uma importante diplomata que se encontra muito doente, nossos três protagonistas, Kirk, Spock e McCoy são raptados por um estranho fenômeno especial e vão parar em um estranho planeta habitado por um único homem – curiosamente um muito importante para a história da humanidade.
É preciso dizer que se trata de um episódio muito surpreendente. Numa trama que introduz um dos personagens mais importantes deste universo ficcional, começamos com um enigma espacial que logo se transforma num puro romance. O mais admirável é que toda essa transição entre mistério e amor é extremamente bem conduzida, o capítulo flui muito bem.
Por outro lado, o roteiro é um muito mela cueca. Algumas frases por demais melosas, pitadas filosóficas tiradas de uma música de Leandro e Leonardo, como “quem nunca amou, nunca viveu de verdade“, são constantes, e toda a história é extravagante demais para criar o clima amoroso. Especialmente devido à diálogos pouco sutis para desenvolver o romance: tais quais comentários aleatórios de “isso parece amor” ou “eu apenas abro meu coração e ele vem”, mas, em especial, pesando a mão na trilha sonora.
Há, ainda algumas bizarrices: tal como a entidade ter uma “identidade feminina” lida pelo tradutor, e, pelo amor de deus, como tudo se tratar de uma espécie de Síndrome de Estocolmo. O que, claro não é possível cobrar do seriado, já que esse estado psicológico ainda não havia sido diagnosticado pela literatura médica; ele só aparece em 1974 (o capítulo foi ao ar em 1967) após ser demonstrado por reféns de um assalto em Estocolmo e notado por um psicólogo sueco. Muito embora, retrospectivamente, há muitos casos famosos que poderiam ser classificados assim e, mesmo antes, nos anos 1940, já havia psicólogos, notadamente nos EUA que haviam observado comportamentos afetivos de vítimas de abusos por seus abusadores.
Mediano (2,5/5)
S02E15: O Caminho para Babel – Assim foi dia em que conhecemos os pais de Spock; provavelmente uma das coisas mais aguardadas pelos expectadores originais da TOS. A Enterprise foi escolhida como nave que transportará delegados da Federação a caminho de uma tensa conferência no planeta Babel, e cada um com seus diferentes interesses pode gerar problemas dentro da nave.

São duas tramas paralelas transcorrendo aqui, o que não é muito comum na Série Clássica: a Conferência de Babel e o Embaixador Sarek, e as duas com um excelente equilíbrio tanto de tempo de tela quanto de peso na trama; contribuindo com a introdução deste casal que, mal sabiam eles, retornariam décadas depois tanto para os filmes quanto para seriados no século seguinte.
Meu incômodo é com a resolução do mistério do crime cometido dentro da nave. Incômodo no sentido em que não há um preparo ou introdução dos responsáveis pelos ataques, nem um mísero diálogo. Da forma como se apresenta a resolução (que surge após excelentes seqüências, todavia), soa como quase que um mal entendido que nem era pra tudo isso. Kirk pergunta a Spock “quem foi, então? já que não era quem a gente achava.”, Spock responde “ah, uns caras aí Jim, uns que a gente nunca falou antes” e fica por isso mesmo.
Muito Bom (4,5/5)
S02E03: O sucessor – A Federação está interessada nos ricos recursos naturais de Capela IV. Dr. McCoy havia feito o primeiro contato com os nativos, uma raça de orgulhosos e altos guerreiros, e agora leva o resto da tripulação para negociar a exploração do local. Entretanto, uma outra potência interestelar também está de olho no planeta.
Gosto deste capítulo por ser uma dos principais a fazer alegoria com a Guerra Fria (e explicita que os Klingon originalmente eram uma referência à União Soviética) ao contrapor a “liberdade” oferecida pela exploração do planeta pela Federação à opressão da exploração por parte dos antagonistas. Provavelmente se havia algum tripulante latino americano na Enterprise, Kirk o deixou a bordo da nave durante esta missão.
É uma história bastante divertida, em ação e mesmo em comédia pontual entre McCoy e uma nativa; o problema fica com a resolução, fazendo pouco sentido uma série de decisões que os personagens tomam ao final (por que ela é perdoada, por que o invasor tem um piti?). O mais curioso, na realidade, é perceber que esse povo em específico funcionou como quase uma prequel ao que os Klingon se tornariam a partir dos filmes e da TNG. Continuando com a metáfora da colonização, daria pra gente dizer que a assimilação cultural no caso foi dos explorados sobre os exploradores, rs.
Muito Bom (4/5)
S02E11: Anos Mortais – Ao realizar uma parada de reabastecimento numa pequena colônia, a tripulação descobre seus habitantes mortos de velhice; rapidamente alguns dos que tiveram contato com as vítimas também desenvolvem os sintomas.
Para dar mais sustância a uma trama que seria bem linear e cuja essência já era, e continua sendo, repetida a exaustão em seriados de Ficção Científica – tentar reverter os efeitos da “doença” – a Enterprise está transportando um Comodoro “de escrivaninha” como passageiro na nave. Isso gera algumas implicações assim que integrantes chave da tripulação começam a demonstrar os sintomas e uma trama relativamente tensa tem lugar a partir disso.
Entretanto, esse é o único aspecto mais interessante do capítulo; já que ele foca numa visão tipicamente americana da velhice; senilidade e debilidade física. Rapidamente os personagens vão se tornando caricaturas de idosos; confundindo e esquecendo coisas uma atrás da outra, por exemplo, e ficamos apenas por aí, sem nenhuma reflexão ou drama relacionado ao desafio do envelhecimento ou da morte.
Muito Ruim (1/5)
S02E18: Obsessão – Numa missão planetária, Capitão Kirk sente um cheiro familiar e desconfia que esbarrou numa criatura de fumaça que o atacou muitos antes, no início de sua carreira. Com a simplicidade da série clássica, afinal é um monstro de gelo seco, este capítulo consegue entreter bem do começo ao final, com uma abordagem não tão comum na TOS de in media res (começar na história com ela já caminhando).
Mais uma estória com alegorias a Moby Dick nesta temporada. O roteiro acaba criando muita carga dramática para um enredo que seria forte por si só. Primeiramente, apesar de parecer estar em rotina, a Enterprise, de repente, precisa encontrar uma outra nave com uma carga de remédios que, por sua vez, é rapidamente perecível; depois temos Spock e McCoy organizando um pequeno motim e, ainda, o filho de um outro personagem muito importante está na nave e ganha lugar privilegiado na busca pela criatura.

Ficou um pouco bagunçado colocar tanta coisa junta pendurada em um argumento bastante claro e direto. Tanto fica exagerada a carga dramática que as resoluções se tornam banais: os dois oficiais aceitam a primeira justificativa dada por Kirk e os remédios, aparentemente, não eram tão perecíveis assim. Menos seria mais aqui; era só tirar a questão dos remédios e focar na preocupação dos oficiais com a obsessão do capitão.
Bom (3/5)
S02E07: Um lobo entre cordeiros – Desfrutando de uma bela licença em um planeta completamente dedicado a aproveitar a vida, Scotty é acusado de um frio assassinato e o Capitão Kirk tentará provar sua inocência. O episódio começa e fica morno por boa parte do tempo, com várias convenções da temática tanto do “personagem-que-sabemos-que-é-inocente” quanto dos “crimes-cometidos-em-locais-fechados“, que já existiam à época.
Entretanto, nos últimos 15 minutos a coisa muda de figura. Uma determinada fala bem estranha de uma personagem, a princípio desconexa, falando de assassinos do passado, começa a tomar contornos cada vez mais malucos e interessantes.
O problema é que, além do caminho até esse final exótico ser chato, há alguns recursos muito fracos e preguiçosos que o roteiro emprega para ir, no limite, enrolando até a hora da grande revelação. Primeiro eles ficam onde estão, depois chegam a um acordo de ir para a nave, e, o pior, na nave há equipamentos simplesmente mágicos! Acessando completamente as memórias de qualquer usuário e determinando com exatidão científica entre verdade e mentira.
Com um recurso são onipotente como esse, qualquer enredo é dispensável. Faltou bastante refino do roteiro aqui apesar da ideia bizarra com potencial.
Ruim (2/5)
S02E13: Problemas aos pingos – Imortalizado após o capítulo de Deep Space Nine, este episódio que já era divertido se tornou um xodó ainda maior. A Enterprise é desviada de sua função por um pedido de prioridade máxima em uma estação espacial para realizar a segurança de uma importante carga alimentícia. O Capitão Kirk não concorda com a missão e fica de má vontade, e enquanto isso tudo ocorre, uns inofensivos pets chamados pingos são adquiridos pelos personagens.

Há pouco o que falar tamanha a fama; é tudo muito legal, afinal, ainda é um episódio com os Klingon e há uma razoável trama política por trás de tudo, muito embora o foco seja cômico. Todavia, uma reclamação que tenho é a estranha trilha sonora. A maior parte do capítulo é embalado pelo tema do seriado em ritmos diferentes e que não condizem com o tom cômico do roteiro.
Excelente (5/5)
S02E17: Os Senhores de Triskelion – Um aparente acidente no tele-transporte faz com que Kirk, Checov e Uhura se materializem em um estranho planeta onde eles se juntam a um pequeno grupo de escravos; enquanto isso a Enterprise busca por qualquer pista de sua localização. No núcleo que permanece na nave, há interessantes conversas e embates entre McCoy e Spock sobre como tentar resgatá-los.
Com boa vontade é possível encontrar várias referências filosóficas do argumento deste episódio; o vício na aposta como uma “degeneração” do último homem – em estado de Fim da História – é um tema até mesmo recorrente na Ficção Científica (como na série Cultura de Ian Banks) e provavelmente este foi uma das abordagens pioneiras disso.
Entretanto, como roteiro não é tão cabeça assim. Tudo acaba dependendo muito de sequências cafonas de mulheres se apaixonando por Kirk, como na primeira temporada; embora a resolução não dependa disso. E, sobre o desfecho, acabei esperando que haveria uma estratégia de Kirk por trás da contra-proposta, mas foi realmente apenas uma decisão de aposta na força bruta. O saldo acaba sendo positivo por alguns momentos marcantes que sempre pintam entre os mais lembrados da TOS.
Mediano (2,5/5)
S02E20: Um Pedaço de Ação – Na busca por vestígios de uma nave desaparecida há 100 anos, a tripulação encontra um planeta em que seus habitantes vivem num simulacro dos Estados Unidos da década de 1920 e nossos heróis estarão mais elegantes que nunca.

É um de meus episódios favoritos e acho uma pena que seu argumento não tenha sido retomado outras vezes; é uma das violações da primeira diretriz mais interessantes de todas as séries. Claro que se pensarmos um pouquinho a mais do que foi apresentado, veríamos que não seria possível a sociedade se desenvolver e sobreviver daquele jeito, mas a premissa compensa. Inclusive foi uma das primeiras concebidas por Roddeberry.
Há uma tensão bem distribuída ao longo do roteiro conforme as dificuldades se apresentam aos protagonistas apesar de uma resolução partir de um recurso bélico Deus Ex Machina da Enterprise (e que jamais aparecerá novamente em Jornada nas Estrelas).
Excelente (5/5)
S02E19: A Síndrome de Imunidade – Isso sim é um capítulo clássico de cabo a rabo: a Enterprise enfrenta amebas espaciais!
O comecinho é um pouco desencontrado; se apresentando como um drama centrado em Spock, e são apresentadas algumas características novas referentes à telepatia dos Vulcanos – toda a trama começa com o desaparecimento de uma nave vulcana – que gradualmente perdem importância no roteiro e não serão revisitadas. Esse início tem alguns pontos altos; tal como o debate acerca de que muitas mortes não causam empatia na humanidade quanto mortes individuais, que é genial. Uma pena que esse dilema é muito pouco conectado com a espinha dorsal do capítulo.
Com relação a ela, temos todo um argumento e visuais muito clássicos. Digo aqui no sentido de se trata de algo bastante antigo, em narrativa e arte, bem tratado e, justamente, por ser muito ensimesmado no mundo da Ficção Científica não tropeça em preconceitos ou pensamentos retrógrados. Assim, o fato de ser datado cria um charme exatamente em cima do envelhecimento da coisa.

Bom (3,5/5)
S02E16: Uma guerra particular – Provavelmente o grande capítulo em que temos alegorias à Guerra Fria; a Federação visita um planeta conhecido por ser muito primitivo e pacífico, mas que, agora, está armado até os dentes com mosquetes e pistolas. Sem muita surpresa, os Klingon estão envolvidos.
Diretamente criticando a Guerra do Vietnã, é um capítulo de história bastante interessante embora não seja tão profundo quando almeja, isto pois fica sempre pontuado que os errados são os adversários (seria necessário mais tridimensionalidade da Federação aqui para esse tema e alegoria em especial).
O ritmo do roteiro é bom, colocando os protagonistas em perigo de forma bem encadeada e capaz de manter a tensão até o final. Mas o ponto fraco me pareceu a trama “romântica”; que é um pouco confusa devido à natureza sobrenatural da personagem de Nona. Algo que fica deslocado com o teor do resto do episódio, que é focado no desenvolvimento tecnológico armamentista. Entretanto, desfecho da personagem é irônico e inteligente.
(Os cenários desde episódios me lembram muito a série do Zorro. rs)
Muito Bom (4/5)
S02E22: Retorno ao Amanhã – Ao responder um sinal de socorro vindo de um planeta desabitado e desolado, a Enterprise é contatada por seres superiores que precisam da ajuda dos humanos: eles estão com a consciência aprisionada em receptáculos e precisam construir novos corpos robóticos a partir dos corpos dos nossos heróis emprestados. Claro que isso não tem como dar certo.
É um episódio clássico da série clássica, com o perdão da redundância; alienígenas com poderes divinos, uma civilização desaparecida, e o capitão Kirk beijando belas moças. Há alguns elementos repetitivos aqui, mas é uma história sólida que conta com bom desempenho de todos os atores envolvidos (auxiliados na dublagem brasileira que adicionou efeitos nas vozes) e um envolvente drama.

O que me incomodou é o constante recurso de que uma civilização que teria explorado o espaço anteriormente e gerado, dentre outras, a humanidade. Isso está aqui para justificar a compatibilidade entre os corpos, mas é uma desculpa constante da TOS e desta temporada.
Bom (3/5)
S02E23: Padrões de Força – A Federação perdeu contato com um pesquisador historiador enviado ao planeta Ekos, mas ao se aproximar dele, a Enterprise é atacada com um potente míssil nucelar. A investigação do ocorrido faz com que nossos heróis se vejam num mundo alienígena controlado por Nazistas.
Eu gosto bastante desse episódio devido as suas premissas; a interferência do historiador para controlar o desenvolvimento de uma determinada sociedade; e a tentativa fracassada de usar a força do fascismo para o “bem”. O roteiro é bom também, mas chama a atenção o conveniente e cada vez maior número de infiltrados no regime, que aparecem de acordo com a necessidade dos protagonistas.
Entretanto, é tudo extremamente raso. Provavelmente para aumentar o alcance e para reaproveitar objetos de cena, foram utilizados os mesmos símbolos, nomes, uniformes do nazismo. Teria sido muito mais rico (e daria mais verossimilhança) apontar como os Ekosianos inventaram seu próprio fascismo.
Da mesma forma, as conclusões são todas controversas, para dizer o mínimo; por um lado eles realmente compram a propaganda do próprio nazismo, que se via como o regime mais eficiente econômica e tecnologicamente jamais visto. Algo o que já era questionado nos anos 60 com a influente obra Ascenção e Queda do Terceiro Reich, lançado exatamente nos EUA; demonstrando como a Alemanha não tinha, por exemplo, menos corrupção ou problemas sociais que outras potências do período, especialmente no desenrolar da guerra. Mas ainda assim, se o objetivo era fazer uma crítica ao regime, o roteiro deveria demonstrar como NÃO funciona bem, e não endossar que o negócio era bom apesar de controverso.

Nesse sentido, a fala final de Kirk não faz o menor sentido: o problema não seriam os indivíduos e ideário nazistas, e sim a estrutura autoritária do regime, que proporcionou muito poder a poucas pessoas, mas essas pessoas eram quem senão os nazistas? Pessoas com a cabeça gestada onde senão no Partido Nazista? Que chegaram no poder como senão através da força do Partido Nazista?
Bom (3/5)
S02E21: Por Qualquer Outro Nome – Após responder um sinal de socorro vindo de um pacato planeta, a tripulação da Enteprise se vê refém de seres intergalácticos com raios paralisantes que não têm das melhores intenções com eles e nem com a nossa galáxia.
Apesar do nível da ameaça, é um capítulo bem café com leite e até voltado ao humor em seu desfecho. Muito diferente da proposta original, que envolveria cenas de tortura e execuções. É legal, mas acho que perde-se um pouco o tom durante o desenvolvimento. Essa transição da grande ameaça de seres monstruosos para a comicidade não é tão suave pois o capítulo perde a noção do tempo da coisa toda. O desfecho deveria ser antes de ultrapassar a barreira, não depois; da mesma forma parece que passaram-se dias para um núcleo (o de McCoy) e horas para outro (o de Scotty). Fazendo com que as coisas se resolvam parcialmente apenas em tela; a nave não retorna à Via Láctea e nem a tripulação é “curada”.
Bom (3/5)

S02E25: A Glória de Ômega – Você sabia que caso o mundo não seja dominado pelos Estados Unidos, nós vamos voltar à Idade da Pedra? Sem entrar em muitos detalhes, essa é a moral deste episódio que começa quando a Enterprise encontra a Exter, uma nave também da mesma classe, com todos os tripulantes mortos (transformados em farelo). Ao descer à superfície, descobrimos um planeta governado por uma civilização asiática constantemente ameaçada por bárbaros brancos.
Lá no fundo, bem lá no fundo, temos uma interessante linha narrativa sobre a Primeira Diretriz, a tragédia do Capitão, e analogias a massacres cometidos contra os indígenas pelos americanos. Provavelmente alguma inspiração na história do explorador espanhol Ponce de Léon. Entretanto, esse desenvolvimento vai sendo combinado com uma bizarra estória de Choque de Civilizações, ufanismo americano, xenofobia, racismo; até mesmo nos anos 60 foi um capítulo considerado controverso.
Além de muito ruim, no geral, com uma história confusa mesclando três argumentos diferentes (a primeira diretriz; a cura da doença; e a origem daquela civilização) é um enredo que teria mais cara de Além da Imaginação (Twilight Zone) que de Jornada nas Estrelas. E o pior é que em cima de um roteiro completamente maluco mas pretensioso, a solução para todos os problemas é depositado numa – surpresa! – luta até a morte entre Kirk e o antagonista.
Ele foi um dos candidatos ao segundo piloto do seriado; não era exatamente o mesmo roteiro, mas provavelmente fosse este aqui o escolhido, esse blog aqui dificilmente existiria.
Muito Ruim (1/5)
S02E24: O Computador Supremo – A Unidade Positrônica M5 é capaz de operar uma nave normalmente composta de 400 tripulantes sozinha. Não a toa, a Enterprise é a nave escolhida para o teste do super computador, que será conduzido durante Jogos de Guerra contra outras naves de sua classe. É claro que isso não vai terminar bem.
Eu gosto bastante do arco do Dr. Daystrorm, e a mescla de seu verdadeiro estudo de personagem que se desenvolve aqui com o argumento principal do episódio é excelente. Entretanto, o comportamento do computador foi a saída mais fácil possível: ele se rebelou, e o pior, sem motivo. Mas para justificar tal mudança injetam um outro componente mais solto, das emoções humanas programadas nele.
Dentro do próprio roteiro havia elementos ali para um desenvolvimento muito mais sofisticado: como o M5 cortando energia do suporte de vida, por exemplo; ele poderia tentar sacrificar a tripulação para vencer os jogos de guerra. Ao final também tudo acaba sendo resolvido com o recurso do Kirk usando a lógica do robô contra ele mesmo, mas de uma forma um rasteira, que gera debates até hoje da questão da pena de morte na Federação, ou do M5 acreditar em Deus.
Mediano (2,5/5)
S02E14: Pão e Circo – Uma temática repetida nesta segunda temporada, nossos heróis: ao buscar pistas de uma nave desaparecida, encontram um planeta similar à Terra. Mas neste aqui a humanidade se desenvolveu tendo como modelo de sociedade o Império Romano. Há umas grandes sacadas, como a questão dos direitos trabalhistas conquistados por uma determinada classe social, mas o capítulo fica preso a um recorte específico, dentro da questão do escravagismo numa sociedade avançada, que é os dos gladiadores (era um subgênero de filmes bastante popular naquele momento, após o lançamento do blockbuster Spartacus, em 1960), mas seria um desejo de ver essa questão expandida.

Tudo se encaminhava para um desfecho previsível, numa, como sempre, luta até morte de Kirk, mas supreendentemente há outra saída juntando dois personagens coadjuvantes. A Primeira Diretriz vai ganhando contornos importantes nos últimos episódios, mas aqui provavelmente é o melhor e mais dramático uso dela. Ainda, há elementos de uma espécie de “triângulo amoroso” entre Kirk, Merik e Claudius que mantém a tensão elevada até o final – assim como mortes de personagens importantes.
O único ponto que me desagrada é o tom piegas da questão do cristianismo se desenvolvendo no planeta. Não exatamente isso em si, na realidade, é muito elegante o surgimento de um monoteísmo dentro de um planeta ainda preso no Império Romano; e os possíveis desdobramentos disso. No senso comum, o cristianismo é tido como uma das causas do fim daquela Civilização, o que não é exatamente assim.
Mas para além do debate acadêmico, o problema é algo comum aos seriados de ficção científica, desde sempre pelo visto: o roteiro quer fazer algum comentário, crítica ou analogia ao cristianismo mas não quer identificar exatamente do que se trata para evitar polêmicas. Sendo necessário tergiversar a questão, ou, pior, prejudicar decisivamente o roteiro para deixar claro mas não explícito – neste caso, a necessidade de pontuar que os habitantes estão falando inglês no Império Romano para poder trabalhar com o trocadilho dos “filhos do sol” (children of the sun) com “filhos do filho [de Deus]” (children of the son). Na versão dublada fica mais elegante porque tudo fica no campo da analogia, que deveria ser o adotado, já na versão original, é um trocadilho medíocre.
Assim, por fim, mais uma vez, seria mais interessante tudo ser analogia. Como em Padrões de Força, seria muito mais rico os nativos daquele planeta criar uma civilização parecida com Roma mas dotada de símbolos próprios – e seria até mais interessante para o roteiro, pois seria uma descoberta do expectador.
Muito Bom (4/5)
S02E26: Missão: Terra – Quando assisti este episódio pela primeira vez já havia achado tudo muito estranho mesmo décadas antes de tomar conhecimento de sua história: temendo um cancelamento de Jornada nas Estrelas, Roddenberry tentou criar um spinoff, introduzindo sua história e protagonista aqui. Um humano treinado por alienígenas retornando a Terra é interceptado pela Enterprise, que voltou no tempo para estudos históricos sobre o ano de 1968.
Tendo praticamente mais tempo de tela para o personagem especial, Gary Seven, e se passando inteiramente em 1968 o capítulo causa profundo estranhamento, parecendo realmente uma outra série na qual Kirk e Spock estão participando. A trama é mais ingênua que de costume e aos nossos olhos de meio século depois, muito datada e previsível. Mesmo para o período imagino que não foi muito inovadora ao usar um tema muito popular do momento, explorado a exaustão na ficção científica da Guerra Fria.

Ruim (2/5)
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