O Jogador – Iain M. Banks
Tradução: Edmundo Barreiros – Editora Morro Branco
Ano de Lançamento: 1988 – Minha Edição: 2021 – 364 páginas
A Cultura é uma gigantesca e poderosa sociedade interplanetária. Estendendo-se por milhares de planetas, essa comunidade encarna o conceito de Fim da História. Tudo é permitido e conquistado, o que você quiser fazer ou ter, é garantido pela distribuição total dos recursos unificados através dela. A prosperidade é tamanha que até mesmo a noção de crime ou chantagem é algo difícil de seus membros entenderem.
O que restou então para os habitantes desses planetas “se fazerem homens”, isto é, enfrentar e superar dificuldades e contradições, são os jogos. Dentro da Cultura, o que gera maior reconhecimento e fama é ser um Jogador famoso.
Jogador não sabemos exatamente do quê. São citados vários tipos de jogos e o livro, deliberadamente, não deixa exatamente claro como os jogos são fisicamente, ainda que explique algumas regras, premissas ou peças. Isso é ótimo, pois o texto fica menos datado. Ainda que a obra reflita exatamente aquela estética dos anos 80 com o nascimento dos vídeo games, que pode ser vista em filmes como Tron e Jogos de Guerra, e você acaba imaginando o texto naquele contexto.
Apesar de falar de vários exemplos de jogos nas primeiras páginas, o que importa é o jogo Azad, o qual o livro se dedica quase que totalmente. Jernau Gurgeh é um dos jogadores mais famosos de toda a Cultura, mas está numa espécie de crise de meia idade, pois não encontra adversários a altura. Depois de cair numa cilada de um ressentido amigo, um robô que deseja voltar a fazer parte do Contato, instituição que faz as vezes de Forças Armadas/Corpo Diplomático da Cultura, ele se vê em uma aventura inesperada.
O Contato está em negociações com o Império de Azad, um bárbaro reino interplanetário que subjuga com mão de ferro várias raças de seu setor espacial. A habilidade de Gurgeh se torna especialmente interessante já que este Império Colonial realiza um grande torneio de um complexo jogo também chamado Azad. O desempenho dos mais de 12 mil participantes neste campeonato é o que decidirá os principais cargos de seu governo nos próximos anos, incluindo o Imperador.
O problema é que até chegar no arco do torneio, lá se vão mais de 100 páginas sem muitos atrativos. Importantes para criar uma caracterização do protagonista – Gurgeh é um excelente jogador mas tem uma personalidade que busca sempre conforto e segurança – mas tediosas, oferecem até pouco de worldbuilding para o tanto de tempo dedicado a esse verdadeiro prólogo da obra. É difícil vencer esta parte inicial, mas logo após o livro engrena de uma forma muito ágil e prazerosa – inclusive, lembrando até um ritmo de anime com a realização do torneio, arco muito comum nas obras japonesas – e, por outro lado, desenvolve muito mais a “sociologia” do Império.
Não podemos nos esquecer que este é o segundo número dentro da série Cultura, então certas características novas para o leitor já estão consolidadas do ponto de vista do autor. Mas é interessante como o objetivo da obra é menos explicar a aparente utopia da Cultura e mais explorar, e assim denunciar, o cruel Império de Azad – que acredita estar levando à civilização para a galáxia.
Não há sutileza no texto, a denúncia é direta e clara sobre o colonialismo, que ecoa muito bem, especialmente, na construção dos personagens dos oponentes de Gurgeh – ainda que uma denúncia relativamente atrasada, que critica o colonialismo do século XIX e início do XX. Da mesma forma, o autor não esconde que por trás da utopia, existem complexidade e as possíveis contradições da Cultura, ainda que não as aborde nesta obra. O que nos deixa ainda mais faminto pela possibilidade dos demais volumes cheguem também ao Brasil.
Muito Bom (4,5/5)
infelizmente demora muito a engrenar com um prólogo muito longo, mas uma vez que entra em seu principal arco ganha um ritmo ágil e se torna uma obra muito agradável, direta e capaz de te prender na leitura.
Série Cultura: constituída de 10 livros, publicados entre 1987 e 2012, até a morte do autor, a obra é composta de estórias independentes dentro desse universo ficcional e especialmente abordando a complexidade dessa sociedade utópica e sua convivência com as demais comunidades espaciais.
O Jogador é o segundo volume, trazido em primeiro lugar para o Brasil pela editora por considerá-lo mais palatável e mais fácil de compreender como introdução. E de fato, tentei ler o número anterior Consider Phlebas em inglês há alguns e tive dificuldades de compreensão, a começar pelo título. Alguns outros volumes são coletâneas de histórias ou de capítulos separados, enquanto este aqui é bem organizadinho com começo, meio e fim.

Os senhores de Triskelion – Este episódio da segunda temporada da série original de Jornada nas Estrelas foi exibido 20 anos antes da publicação de O Jogador, mas guarda semelhanças. Na trama, já revelando pontos chaves, alguns tripulantes da Enterprise são capturados por um grupo de alienígenas e forçados a lutar contra outros seres enquanto os senhores do planeta apostam nos vencedores.
Ao final do episódio, o Capitão Kirk descobre que os mestres de escravos eram seres não-corpóreos que viviam em uma espécie de estado de pós-história. Completamente saciados materialmente ao transcenderem a uma nova forma de vida sem necessidades físicas, gradualmente foram se entregando aos jogos e apostas até se viciarem nisso – e fazerem nossos heróis de vítima.
Aquele capítulo é mediano para ruim, mas o conceito é interessante e é uma discussão filosófica antiga, iniciada no século XIX, em especial por Nietzsche. Uma vez atingida a plenitude material do desenvolvimento humano, o que moveria nossa civilização adiante? As respostas são variadas, inclusive a possibilidade de estagnação, mas uma delas, vinculada às obras de Ficção Científica, indica justamente o vício em jogos e em simulações.
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