Star Trek: Picard – 2ª Temporada – A queda de Q (e de uma série)

O inimaginável aconteceu: um imortal está para morrer. Em seu ato final, o onipotente Q decide, mais uma vez, bagunçar a linha do tempo e a vida de Jean Luc Picard, que tenta, pela segunda vez, viver sua aposentadoria. Depois de um início promissor, com uma linha do tempo alternativa onde a Terra se tornou os Estados Unidos da galáxia, poluindo, matando e conquistando todo mundo, a série foi só ladeira abaixo.

Supostamente devido à pandemia, o seriado quis economizar dinheiro em locações e efeitos especiais, e ainda preservar os atores mais idosos, como Patrick Stweart e John deLancie. Pura bobagem, Picard não teve uma temporada enxuta, como o final de The Expanse, pelo contrário. Aqui vimos uma temporada extremamente arrastada – vários foram os capítulos que não precisavam existir e vários foram os arcos repetitivos – que poderia ter metade da duração que teve.

E mais uma vez prologamos a vida de um personagem que estava descansando no céu dos grandes protagonistas da TV mas foi ressuscitado a força para viver nesse purgatório. Picard se estabelece como o pior seriado de Star Trek desde de 1966. Durante a exibição dessa desastrosa temporada, foi anunciado que para a terceira edição – a final, esperamos – todo o elenco de TNG estará de volta; que Deus tenha piedade de Jornada nas Estrelas.

Agradou: Retcons (Viajantes e Supervisores)

Provavelmente o único mérito inquestionável desta temporada foi como o seriado conseguiu encaixar a trama de um piloto falido de uma série dos anos 60, que por sua vez seria um spin-off de outra em vias de ser cancelada, de volta ao canon principal de Jornada nas Estrelas – estamos falando de Missão: Terra, da segunda temporada da Série Original, caso não estejam se lembrando.

Ficou tudo muito bem encaixadinho (ainda mais ao final da temporada, quando somos presenteados com um aparição surpresa que conecta mais um ponto nessa complexa teia com os viajantes) e todas as alusões ao episódio de origem e suas extrapolações são fantásticas. Infelizmente, o grande problema desta trama foi um mesmo que assolou a temporada como um todo.

Não agradou: reciclagem de atores e arcos narrativos, repetições, falta de ritmo geral da temporada.

As coisas já não andavam bem depois de capítulos bem mornos, mas com certeza a temporada foi pelo toda ralo quando somos apresentados a mais um personagem da família Soong interpretado por Brent Spinner – que, para ajudar, é pai de outra menina “artificial” vivida por Isa Briones. Poucas decisões foram tão ruins quanto essa, estragando de imediato todo o arco ao deixar claro o quanto ele seria previsível e repetitivo.

Depois de sairmos com a bela surpresa de vermos Guinan interpretada por uma atriz mais nova (o que acredito firmemente que ocorreu apenas por incompatibilidade da agenda de Whoopi Goldberg), somos brindados com uma taça de chorume ao ver a Supervisora interpretada por Orla Brady, que por uma simples ironia do destino e uma feliz coincidência é idêntica a romulana Laris – interesse amoroso que caiu de pára-quedas nesta temporada – de Picard.

Somos contemplados depois por uma série de revelações todo mundo já imaginava – uma constante, mas aqui com outros atores poderia ter um fôlego maior – e o andar em círculos foi a marca desta temporada. Q fala que está doente várias vezes, nossos heróis têm problemas com autoridades outras tantas vezes, o Dr. Soong tem seus planos frustrados em todas as suas tentativas… é tudo uma grande corrida em torno do próprio rabo.

Entre os episódios 4 e 8 não saímos do mesmo ponto, apenas alguns personagens são introduzidos (dentre eles, o par de Spinner e Briones) e o pouco do que é desenvolvido é também perda de tempo. Como todo o arco dos pais de Picard: a sequência envolvendo os túneis que é repetida a exaustão, desde a abertura do seriado, no final tinha pouca relação direta com o destino da mãe.

Outros graves problemas:

  • O uso de 2024: por quê? Não é raro Star Trek voltar no tempo e esquecer que, naquele período histórico, o canon já havia estabelecido outros eventos. Mas normalmente isso é “marginal”, como voltar à década de 90 e não mencionar as Guerras Eugênicas, mas aqui deliberadamente citaram várias vezes o ano como o decisivo da alteração na linha do tempo (e em São Francisco), para no final, não lembrar de absolutamente nada sobre o desenvolvido para 24 com os Bell Riots, de DS9.
  • Desperdício de Q: o personagem deveria ter um papel fundamental, já que toda a temporada acontece apenas por conta dele. Na realidade, ele aparece pouco e muito mal. A natureza de seus “problemas de saúde” não é explorada, não tem grandes diálogos, e muitos dos eventos chaves acabam sendo disparados por outros personagens (Soong e a Rainha) e não raras as vezes esquecemos que tudo ocorre por conta dele.
  • Conclusão confusa: apesar de algumas afirmações, nem mesmo o próprio roteiro entendeu se todos esses eventos foram simulacros do passado, como Q costumou fazer, ou eles realmente voltaram no tempo e o transcorrido fez parte da história da humanidade (o que levaria a muitos problemas de coerência interna).
  • Borgs, alívio cômico e carência: o arco da Rainha, que parecia muito promissor, foi descambando cada vez mais. Completamente fora de personagem, ela se tornou um ser cheio de personalidade e irônica, caminhando até se tornar um alívio cômico; quis conhecer os prazeres do mundo e terminou como um polegar comendo pilhas. Tudo isso para explicar que a espécie mais ameaçadora da galáxia é assim porque sua líder é carente. Bizarro.

Episódios

S02E01: Star Gazer – Jean Luc tenta, pela segunda vez em 1 ano, viver sua vidinha de aposentado em paz, bebendo vinhos, sacando seu dinheiro no INPS, jogando na loteria esportiva e flertando com alienígenas, mas é claro que sabemos que não será desta vez que ele irá conseguir descansar. É um início extremamente protocolar: na primeira metade do episódio temos uma interminável seqüência de cenas apenas para posicionar os personagens da temporada anterior no contexto da atual – e a (re)introdução de outra.

O fato da temporada iniciar de novo com o protagonista vivendo em paz, sem conseqüências aparentes dos acontecimentos anteriores, contribui para essa sensação de estarmos assistindo a um protocolo, um procedimento burocrático. Se para o Picard tudo voltou ao normal, precisamos de uma conversa para explicar porque um personagem não vai mais aparecer; agora precisamos de uma outra conversa para explicar o que houve com o outro; depois uma cena para explicar porque uma nave mudou de dono; mais outra para mostrar que determinada personagem que retornará ainda é lembrada pelo protagonista e assim vai…

A lentidão desse começo provavelmente obrigou a colocação de um teaser de ação nos primeiros minutos de exibição; mas que se monstra bastante competente em nos ludibriar bem, porque a nossa interpretação do que está acontecendo se demonstrará completamente errada ao final do episódio. E, exatamente, da metade para encerramento que a coisa engata e temos o rascunho de uma trama muito interessante para os próximos capítulos.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S02E02: Penitência – Após despertar numa linha do tempo alternativa, Picard tenta compreender o que houve e encontrar seus demais companheiros num mundo louco, onde a Confederação Terrestre optou por uma abordagem “agressiva” da exploração espacial. Justamente, ainda, no dia onde se celebra o feriado do Dia da Erradicação.

É sempre bom quando uma série sabe se aproveitar desse tipo de pano de fundo de realidade alternativa; e aqui temos um festival de pequenas referências e brincadeiras com as possibilidades dessa nova linha do tempo. Claro que sempre alguma ou outra coisa fica um pouco deslocada; como porquê Rios é um grande combatente militar mas tem a mesma nave cargueira ou porque a Dra. Jurati é a responsável por cuidar de prisioneiros em êxtase… mas ao final tudo vai se costurando muito bem. Embora tenha sentido falta de mais referências à TNG, por exemplo, uma menção a Dra. Crusher ter sido casada com ele, ou Riker seu braço direito nas conquistas… afinal TNG foi a vida de Picard, não PIC.

A trama caminha de forma excelente e não temos do que reclamar em ritmo ou desenvolvimento; ao contrário do capítulo anterior, não se perde tempo em posicionar (de novo) os personagens em mais um contexto – ainda que haja uma porção de conveniências de roteiro. Da mesma forma, a inserção de novos elementos também é feita de forma muito boa; seja a importância dos Borg nesse problema todo ou a questão do comportamento de Q.

Entretanto, como no capítulo anterior, ainda que não prejudique o resultado final, vemos como o Kurtzman Trek não consegue fazer humor. Isso não é um problema, se ele não tentasse tanto. A personagem de Jurati já estava muito irritante anteriormente e continua aqui com seu falatório – todo seriado novo precisa ter um estereótipo da cientista que tagarela com problemas de auto estima?

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S02E03: Assimilação – Com muitas dificuldades, nossos heróis conseguem chegar a 2024 na busca do evento que causou a alteração na linha do tempo. Entretanto, dependendo dos cálculos e poderes da rainha Borg, essa viagem teve um custo muito alto.

Um competente episódio de viagem do tempo, mas sem muita inovação, muito similar a todos os outros de viagem no tempo de Jornada nas Estrelas, com algumas pitadinhas de humor e dificuldades de alguns personagens com tecnologias do passado. A opção de dividir a equipe de campo, precisando enfrentar sozinhos as diferenças do passado desconhecido, também é um recurso muito comum em histórias dessa natureza. Foi uma inteligente conexão entre a origem de Rios e ele ser tratado como imigrante latino, ainda assim.

Os grandes momentos acabaram por ser os relacionados à Rainha Borg, com uma cena em especial que se tornará memorável para o seriado. Mas ainda assim, me incomodou um pouco como ela está cheia de personalidade, com algumas tiradas e ironias, um pouco fora de personagem. Claro que ela não é exatamente a mesma (ou mesmas) que conhecemos pois é nativa da Linha do Tempo Alterada.

Por outro lado, provavelmente o incômodo maior que deve estar afligindo a todos os trekkers é como esse 2024 não parece ser o 2024 de Past Tense (DS9) e dos Bell Riots. Em uma espécie de easter egg (que eu não percebi), aquela área onde Raffi enfrenta um assalto era um distrito santuário, mas isso apenas devido a um pôster no fundo com essa indicação. Parece ser o “nosso” 2024 e não o de ST.

Isso não é exclusividade de Picard, vale lembrar quantos capítulos se passaram nos anos 90 sem a menor sombra das Guerras Eugênicas; mas por que escolher justamente 2024 sem explorar o lore prévio?

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S02E04: Guardiã – Incapaz de entrar em contato com a equipe avançada – que tenta libertar Rios, preso pelas autoridades de 2024 – Picard vai sozinho atrás do Vigilante (Guardião) mas esbarra numa velha amiga. É engraçado que na ponta do lápis pouca coisa aconteceu neste episódio, a sinopse curta reflete isso, mas ele tem um bom ritmo.

A grande atração do capítulo fico o reencontro entre Picard e Guinan, que em uma decisão muito inteligente, é interpretada por outra atriz representando uma encarnação mais jovem da alienígena. Temos vários diálogos sempre com um grande nível de tensão e que proporcionam muitas novas abordagens a uma personagem que já era extremamente misteriosa. Ela viu as Guerras Eugênicas, viu a Terceira Guerra Mundial, o Primeiro Contato?

Um pouco mais fraco é o enredo de Rios, Raffi e Sete; mesmo transitando bem entre um drama (abordando as questões sociais e políticas atuais) e humor, no final acaba nunca chegando “lá” em nenhuma das duas abordagens; seja em fazer um belo comentário social (tudo óbvio até agora) nem arrancar uma gargalhada (apesar da interessante ironia no ônibus).

Ainda, a captura de Rios deveria ter sido solucionada aqui, não deveria ser arrastada em mais um episódio. Nesse sentido, o ritmo do episódio ser bom tem mais a ver com nossa ansiedade sobre Guinan e Picard se resolverem.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S02E05: Leve-me para a Lua – Picard me fez odiar Brent Spiner. Após perdemos tempo com uma solução muito pouco criativa da captura de Rios, somos apresentados a quem parece ser a peça central da alteração na linha do tempo; uma astronauta ancestral muito distante de Jean Luc. Apesar de uma referência magnífica, maravilhosa, fantástica a uma trama da Série Original, este seriado está trocando os pés pelas mãos.

As tramas estão se abrindo ao mesmo tempo que patinam cada vez mais; temos um novo subplot referente a uma doença ou condição de Q – que já vinha sendo aventada, é verdade – que agora trás mais um integrante da família mais famigerada (e parecida) da galáxia. Por quê? Por quê? Essa reciclagem dos atores está terrível; a tal da supervisora ser a cara de Laris já foi estranho, mas esses dois personagens que surgiram agora, pelo amor de Deus, estão fazendo o mesmo papel da edição anterior.

Caminhando em conjunto, a rainha Borg, cada vez mais fora de personagem, desenvolve poderes estranhos e incoerentes. Capaz de hackear a nave, as telecomunicações da terra, ela também desaprendeu a assimilar; e tudo isso para arrumar uma companhia. Apesar de criar uma certa tensão que dá um gás ao capítulo – curto e ainda arrastado – a personagem parece cada vez mais deslocada com os realizadores perdidos na abordagem que querem para ela; desta vez uma tentativa clara de usar a linguagem visual do terror enquanto ainda tentam tirar um humor dela e sua amiga, a Dra. Jurati.

Claro que tudo pode ser amarrado; mas até agora o seriado, apesar de uma elegante premissa, parece estar sendo construído numa estranha ordem: quero usar determinados atores e personagens e depois costuro um enredo entre eles.

Avaliação: 2 de 5.

Ruim (2/5)


S02E06: Two of One – Infiltrados na festa de lançamento da Missão Europa, nossos heróis precisam garantir que a bela astronauta Renée Picard não desista de seu trabalho – eles, obviamente, não terão caminho livre para isso. Partindo de um recurso in media res, intercalando com cenas futuras do protagonista machucado e sendo atendido, o grande mérito do episódio (e de vários outros anteriores) é criar antecipação para um determinado encontro; aqui entre familiares distantes.

Sendo muito competente nisso, você não vê a hora que tudo se resolva para que os personagens possam conversar. Entretanto, ao retirar essa roupagem de tensão, não sobra muita coisa – e a conversa nem é tão interessante assim, e deveria ter sido em francês. A utilização do famoso cientista maluco durante a festa foi muito boa; a hora que ouvimos qual Picard está sendo chamado causa um belo de um arrepio, mas ao final sua participação, ainda que central para os eventos do capítulo, é bastante superficial. Da mesma forma, é extremamente superficial a “descoberta” da sua filha; apenas agora ela calhou de vasculhar o computador do pai? Que por um acaso aquela noite ele deixou com tudo em aberto? Sendo que dado o histórico dos atores, era exatamente que todos os espectadores já esperavam, queriam enganar quem com esse mistério? A utilização de outras pessoas, não sendo Brent Spiner ou Isa Briones, poderia até dar mais fôlego a essa trama.

Com Q desaparecido deste episódio; em relação aos antagonistas, ficamos, assim, presos nessa historinha de Soong, que já sabemos exatamente o que vai acontecer, e numa trama bizarra da rainha Borg sendo usada como alívio cômico junto com Jurati, que é uma bobagem sem fim.

Avaliação: 1.5 de 5.

Muito Ruim (1,5/5)


S02E07: Monstros – Após sofrer o atropelamento, Picard luta entre a vida e a morte dentro se suas memórias, nas quais ele reencontra seu pai, o doutor Baltar, e acaba preso dentro delas – e a Supervisora Talliin tentará ajudá-lo nessa jornada. Enquanto isso, Sete e Raffi tentam encontrar Jurati, que saiu por aí com a missão de liberar endorfina em seu corpo.

Até pouco antes do final, o capítulo é uma perda de tempo. Toda a aventura dentro da cabeça de Picard, apesar de revelar mais um traço de tão icônico personagem (a doença de sua mãe) é uma bobagem. O capítulo busca “desvendar um mistério” que, na verdade, se traduz em resolver um mal entendido criado por ele mesmo.

O roteiro busca fazer várias rimas com o magnífico Tapestry, de TNG, a única outra aparição de Maurice Picard, mas todas apenas superficiais. Naquela estória, Q impõe ao capitão reviver um momento específico de seu passado para demonstrar como “a vida é feita de escolhas”, para ficarmos nos clichês. Aqui o Capitão, como resultado de um traumatismo craniano sofrido em um atropelamento, começa a ter lembranças distorcidas de um momento de sua infância e precisa de ajuda para organizá-las.

Sem ter aparição de Q dentro dessas memórias, ou de outro personagem, sem revelar qualquer informação relevante às tramas de fundo da temporada ou mesmo sem se aprofundar nos traumas de Picard; o episódio acaba depositando toda a importância em desvendar quem era tal psicólogo (algo que caiu completamente de pára-quedas) ou o monstro que atacava a ele e mãe. Uma estorinha, ainda que comovente, extremamente ensimesmada: saber quem Picard estava confundindo com quem naquela alucinação particular desse episódio.

Mais uma vez, a temporada parece ser costurada a partir de coisas que os realizadores queriam colocar. Aqui, queriam colocar uma trama de uma doença psiquiátrica da mãe e uma relação turbulenta com o pai do capitão (aliás, que ideia fixa, temos ainda Rios chamando Picard de pai), e assim o foi, apenas pelo fato de sê-lo – e para des-sê-lo em seguida pois as memórias estavam desorientadas.

Felizmente no finalzinho, temos um lore bastante interessante sobre a convivência dos El-Alurian e dos Q, mas que acaba gerando mais um problema dos viajantes do tempo com as autoridades locais (a terceira vez que isso se repete), através do detetive Dutch de The Shield. Vamos ver onde isso vai parar.

Avaliação: 1 de 5.

Muito Ruim (1/5)


S02E08: Misericórdia – Que surpresa, mais uma trama em Picard que vai do nada a lugar algum. Enquanto o almirante e Guinan são interrogados por um obstinado agente do FBI que deseja provar que eles são extraterrestres, Raffi e Sete estão no encalço da rainha borg, que está prestes a fazer um novo e importante amigo em 2024.

Apesar de diálogos muito mal escritos – eu havia entendido que Wells também era um viajante do tempo e estaria “preso no passado” assim como eles (até cheguei a achar que era o mesmo personagem de VOY interpretado por este ator), todavia Picard foi capaz de entender tudo aquilo sabe-se lá como – eu pessoalmente gostei muito da trama do agente Wells e do porquê seu interesse nos nossos protagonistas, um divertido plot twist, mas foi um arco completamente despropositado (e repetitivo).

Essa temporada é horrível em ritmo. O enredo deste episódio poderia ter sido encaixado no capítulo dedicado à prisão de Rios e o agente Wells poderia interceder para provar o que queria a partir dele, e assim os demais personagens entrarem no meio e sair daquela situação de maneira mais criativa, por exemplo. Entretanto, ficamos presos a mais 50 minutos de praticamente zero andamento no enredo. Curioso, ainda, como a personagem de Tallin é citada mas desapareceu completamente.

Novamente somos informados de um monte de coisas que já sabíamos, Q está doente, a filha de Song não é exatamente sua filha, e a Rainha Borg quer assimilar todo mundo. E mais uma vez, com péssimo ritmo, depois de não acontecer nada, ao finalzinho do episódio, coisa dos últimos 5 minutos, os eventos se aceleram para já entrarmos provavelmente no confronto final da temporada.

Avaliação: 2 de 5.

Ruim (2/5)


S02E09: Esconde-esconde – Ah, pronto, finalmente resolvido o mistério dos borg: toda a expansão deles e assimilação de quase 1/4 da galáxia ocorreu porque calhou que a rainha tinha uma personalidade carente. No penúltimo episódio da temporada, a Rainha/Jurati avança contra a La Sirena para capturar e partir com a nave para levar informações aos Borg para manter a alteração no tempo, e preparar-se para prevenir o ataque da Confederação no futuro.

Há alguns furos graves no roteiro; como, por exemplo, o momento em que Jurati (que só existe na cabeça da rainha, ou vice versa, não fica claro) interage com o holograma, assim como o plano da Rainha não é começar a assimilar o Quadrante Alpha sabe-se lá porque, mas fugir para o Delta (onde levaria 70 anos para chegar), e, especialmente, conforme pontuado pelos próprios personagens, o porquê do discurso do Dr. Soong naquele momento específico. Entretanto, por outro lado, ele também é competente em impor um belo ritmo ao episódio.

Gostei muito da opção de inverter completamente a ação que esperávamos; ao invés de defender a nave de dentro, eles o farão de fora, bem legal – nesse sentido, achei uma oportunidade perdida dos personagens não encontrarem mais armas da II Guerra Mundial para lutar (foi um toque interessante). Um pouco tirado da cartola, mas bom também, foi o holograma de combate. Por outro lado, de novo a trama familiar de Picard continua uma perda de tempo: não é que ele visitou a casa pela primeira vez desde então, ele continua morando lá “até hoje”, não faz sentido reviver essas memórias apenas agora – da mesma forma, o destino da sua mãe não estava atrelado aos túneis (mais uma grave contradição de roteiro, talvez a maior da temporada, pois diálogos estabelecem minutos antes que sim).

Apesar de achar uma bobagem o arco final da rainha, como já comentei, é dominante hoje em dia no entretenimento inserir esse tipo de discussão sobre sentimentos, e temos que conviver (mas Discovery abusa demais). Felizmente, a saída, mesmo piegas, foi muito intrigante.

Um último comentário, não gostei de alguns dos efeitos, não sei se era a minha TV ou meu streaming, mas muitas das cenas externas de tiroteio foram extremamente artificiais (em especial a que Dr. Soong aparece em frente aos soldados).

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S02E10: Despedida – Após resolver as coisas com a rainha Borg, agora resta aos nossos heróis apenas correr contra o tempo para evitar o último ato desesperado do Dr. Soong de impedir a Missão Europa e assim, aparentemente, tudo se amarra ao final do episódio. Recebemos, de fato, todas as respostas prometidas por extenso.

O episódio contém um bom ritmo, e consegue dar espaço tanto para as resoluções da temporada, quanto para aquele “epílogo”, com o desfecho dos personagens após a conclusão da estória principal. Da mesma forma temos alguns bons fechamentos, como a decisão de um personagem em não retornar, a morte de outro e uma aparição surpresa de um ícone de TNG que é capaz de amarrar maravilhosamente bem a história dos Supervisores. Isso, realmente, foi lindo, fabuloso ver o que começou como um piloto furado de outra série se conectar ao canon de Star Trek.

Os méritos acabam se encerrando por aí, todavia. De maneira nenhuma foi um final ruim; mas também longe de ser ótimo: em uma determinada cena vimos os drones sendo destruídos, e quando voltamos aos heróis uma voz ao fundo dos computadores diz algo como “drones destruídos, o plano do vilão falhou“. Esse é o quanto de inteligência o roteiro acha que nós temos, é necessário uma narração explicar para gente o que acabamos de ver.

Nesse sentido, é curioso como o episódio aparenta amarrar tudo mas ao mesmo tempo sobrevive mal a qualquer exame mais detido. A moral da temporada foi que tudo foi apenas mais um capricho de Q, em seu leito de morte, para fazer com que Picard se perdoasse pela morte da mãe como, já citamos como grande inspiração, em Tapestry de TNG. Mas, ao mesmo tempo, fica-se subentendido que tudo aquilo já era parte da Linha do Tempo original em mais um loop temporal – não tão inteligente assim – e uma parte integrante da história do universo.

Não bastasse a confusão entre ser um simulacro do passado para dar uma lição de moral em Picard (como em Tapestry) e ser uma verdadeira viagem no tempo que sempre deveria ter acontecido e aconteceu, também há furos levantados não apenas em relação ao Canon original como dentro da própria temporada. Tais como uma personagem, que aparece no primeiro capítulo, ter lembrado agora que tudo já havia acontecido – um diálogo inteligente com um foreshadowing deveria ter sido colocado – ou a mais óbvia, se isso tudo já havia acontecido antes, a autodestruição da nave não poderia ter ocorrido originalmente.

E os problemas não terminam aí; a série, se aproveitando que já tinha uma terceira temporada em contrato, resolveu explicar ao mesmo tempo que deixava outras coisas em aberto. Não exatamente um cliffhanger, o que é comum, mas apenas como se interrompesse uma conversa na metade. Eu particularmente não sou fã desse recurso, pois deixa a sensação de incompletude do episódio e da temporada. Como se eles não tivessem tanto valor assim por si sós.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


Melhor Episódio

Penitência – Diferentemente do caracterizou esta temporada, não há perda de tempo aqui. Os personagens aterrissam numa linha do tempo alternativa e distópica, e rapidamente precisam enfrentar as adversidades que não param de aparecer, enquanto já encontram uns aos outros rapidamente – não deixa de ser uma porção de conveniências de roteiro, mas eram necessárias e caem como uma luva.

Da mesma forma, o capítulo aproveita que é uma realidade efêmera para brincar com uma porção de coisas de uma linha do tempo onde a Terra e sua relação com as demais espécies lembram o real papel dos Estados Unidos do mundo (em contrapartida com os americanos acham, que a Federação é um prolongamento dos EUA no futuro), com uma porção de easter eggs.

Isso aqui enganou muita gente.

Pior Episódio

Monstros – Em um fundo do poço, o seriado já não sabia mais para onde estava indo e não parava de andar em círculos, e, para ajudar, temos um episódio dedicado a solucionar um mal-entendido criado por ele mesmo. Tentando emular Tapestry, de TNG, que é a inspiração para esta temporada toda, o episódio, além de introduzir uma tensão entre os pais de Picard, não sabe onde ir em momento algum.

Apesar de, olhando de trás para frente, a trama da mãe do almirante ser uma peça importante em tudo, durante a execução dessa narrativa, ela é péssima, culminando poucos episódios depois, quando descobrimos que o incidente revivido aqui a exaustão guarda pouca ou nenhuma relação decisiva com o seu suicídio.

O desfecho da história que se passa na mente do protagonista – o que é sempre uma porcaria – é coroada com o mistério sendo revelado depois desmentido em seguida. Que completa perda de tempo.


Jornada nas Estrelas: Picard


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

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