Movimento 78 – Flávio Izhaki
Ano de Lançamento: 2022 – Minha Edição: 2022 – 182 páginas
A moda da tecnologia nestes anos mais recentes é a o uso da Inteligência Artificial para além do que se imaginava. Ao invés do uso mais “clássico”, referentes à otimização de trabalho ou tarefas, as IA estão sendo mobilizadas para funções “criativas”, consideradas pela filosofia ou ficção científica de até então, como as características fundamentais do ser humano, que nos distinguiriam tanto dos demais animais quanto das máquinas.
Nesta obra visionária e provocativa, o autor brasileiro projeta um futuro muito palpável, no qual uma Inteligência Artificial, cheia de personalidade, concorre à presidência de um país não especificado com a proposta de administrar a sociedade de maneira muito mais eficiente.
Verdadeiramente sabendo brincar com uma estrutura narrativa diversa, na qual passamos sobre vários momentos cronológicos durante o século XXI. Normalmente os capítulos são centrados na vida da família Kubo, de nipo-brasileiros, um jovem casal contemporâneo que tem seu primeiro filho. O pai foi diagnosticado, por um programa experimental de análises médicas baseados em Inteligência Artificial, com a chance de desenvolver uma doença e receberá um tratamento precoce. Enquanto isso, o filho, no futuro trava um debate eleitoral contra a Inteligência Artificial pela disputa presidencial.
Em meio aos curtos capítulos, são inseridos outros pequenos “contos”, por assim dizer, envolvendo as IAs, normalmente associados ao papel delas em esportes e jogos, que ajuda a contextualizar aquele mundo. As coisas podem ficar no limite de desorientação, mas isso não acontece. O texto é muito ágil e conciso, o talento do autor é grande suficiente para sabermos onde ele quer chegar com aquelas inserções. Ainda que, justamente uma essas digressões, a que se passa na segunda guerra mundial, é o ponto mais baixo do livro, despropositado e piegas.
O livro é rápido e curto, e que se limita mais a provocar – você que precisa conectar alguns dos pontos. O olhar de Flávio Izhaki é cirúrgico nas observações, facilitando muito a reflexão do leitor – o que particularmente gostei muito foi o comportamento da IA candidata, longe do robô clássico e racional, ele se comporta muito mais como um troll de internet, como um robô raivoso de twitter.
Ao final, há um pouco de frustração porque o texto praticamente não responde a nenhuma das provocações levantadas, e teríamos vontade de saber determinadas conclusões; como a causa do destino do pai, o resultado da eleição, a história das Copas do Mundo (mobilizar o futebol nessa discussão foi um toque maravilhoso que só poderia partir de uma obra nacional), mas o trabalho de Movimento 78 de despertar essa preocupação do futuro da humanidade e as IA é feito de forma brilhante.
Muito Bom (4,5/5)
Um texto muito ágil e provocativo em uma questão muito atual, com uma estrutura narrativa diferenciada e com um olhar muito aguçado do autor – enriquecido com contexto brasileiro.
Futebol e IA – O livro escolhe abrir o texto com um evento ocorrido na Copa do Mundo, fantástico. Acaba sendo uma coisa mais marginal, mas as poucas inserções do tema são ótimas. Na principal delas, fica-se subentendido o papel das IA na administração dos times; e é uma discussão interessante. Já há muito que o futebol foi ser tornando cada vez mais padronizado; e as copas do mundo são grande exemplos disso.
Diferentemente dos certames disputado no século XX, no qual as diferentes seleções demonstravam características únicas refletindo o estilo de jogo dos campeonatos regionais de seus países; com a globalização avançando a cavalo sobre o esporte, especialmente após a Lei Bozman, que acabou com o passe e permitiu que jogadores nativos da União Europeia não contassem como estrangeiros nas ligas da UEFA, as coisas são cada vez mais parecidas.
Constituiu-se uma determinada “cartilha” para o despenho de alto nível do futebol (disputado na Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália) que se mostrou superior aos demais países, e as disputa entre os clubes e as seleções se transformou numa disputa em quem segue melhor esse padrão. Mais eficiente, mais valioso, mais famoso, com mais alcance, com certeza, mas isso é “bom”?
Uma pergunta que este livro ajuda a fazer.
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