Balas de Washington: uma história da CIA, golpes e assassinatos. Vijay Prashad
Expressão Popular – Tradução: Rafael Tatemoto
Lançamento Original: 2020 – Minha Edição: 2020 – Páginas: 164
“Por que nos Estados Unidos nunca houve um golpe de estado? Pois lá não existe embaixada americana.” É uma piada antiga que poderia ser muito bem a epígrafe deste livro, mas é lembrada em um ponto.
Lançado este ano, o subtítulo é autoexplicativo: uma retrospectiva de como os EUA foram destruindo países e movimentos sociais de maneira a atender seus interesses – isto é, de suas empresas e poderosos – por todo o globo. Um conteúdo de primeira, mas na forma achei um pouco confuso; está organizado em “partes” por eixos temáticos mas, também em progressão cronológica de certa forma, me pareceu sem uma linha muito direta do que leva onde. As vezes o texto parece andar em círculos, em outras desconectado, a impressão é de informações diversas compiladas.
Independente disso, uma leitura muito acessível – o autor é bastante didático em todos os momentos com linguagem convidativa – informativa – uma viagem por vários países – e chocante – em especial os trechos sobre o Haiti.

Devido a amplitude da proposta, achei o livro curto, aproximadamente 150 páginas. Ele não explica exatamente como as operações e golpes ocorreram, na maioria das vezes uma descrição panorâmica, de quem fez o quê quando. Informa, claro, mas especialmente em casos mais impactantes, há uma frustração de não saber mais. Pelo subtítulo, que pelo que pesquisei, é de autoria da tradução brasileira (uma bola fora da editora), imaginei que talvez houvessem mais detalhes ou descrições de bastidores, que aparece apenas em casos pontuais como Guatemala, Haiti e Indonésia.
De toda forma, é como um belo sumário das intervenções americanas nos últimos cem anos, o que é especialmente caro para o atual momento brasileiro de alinhamento automático aos nossos principais carrascos. (4/5)
MUITO BOM (4/5)
LINGUAGEM ACESSÍVEL E MUITO INFORMATIVO. MAS RESUMIDO DEMAIS PARA A PROPOSTA – O QUE PODE ATENDER QUEM QUER UMA LEITURA RÁPIDA.
República das ONGs: Entre as páginas 139 e 143, o autor descreve a situação Haiti nas últimas décadas. Após ser devastado por vários golpes de estado e desastres naturais, o Estado Haitiano praticamente deixou de existir. A “caridade internacional” passou a sustentar o país. Supostamente para facilitar a ajuda, o governo foi sucessivamente reformado para facilitar a atuação das ONGs, que não pagam impostos nem taxas de importação.
Devido à debilidade do Estado nacional, as ONGs passaram a fornecer os serviços básicos, desde educação, a saúde e alimentação. Com regimes especiais e subsídios aprovados pelo parlamento americano, as ONGs importam dos EUA tudo o que distribuem. Dessa forma, nada, nem alimento (ele cita em especial a produção de arroz), é produzido no Haiti. Isso faz com que o país seja cada vez mais incapaz de gerar empregos e arrecadação.
“Seja patriota, mate um padre“: este era o lema da extrema direita em El Salvador, durante os anos 70 e 80. Os clérigos da Igreja Católica no país eram muito ligados à Teologia da Libertação, levando a uma campanha de extermínio em massa de padres, feiras e ordenados em geral com requintes de crueldade. Tudo endossado, financiado e treinado pela CIA; um caso foi o estupro, tortura e morte de quatro freiras americanas, em 1980. O que levou ao rompimento das relações do país com o Governo Carter, reatado logo que Reagan assumiu o poder com uma injeção ainda maior de dinheiro.
Sobre o Autor: Indiano, esse é comunistão raiz. Comprometido em especial com a análise e combate às intervenções americanas e de demais potências nos países do terceiro mundo.
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