Quando acaba o século XX – Lilia Moritz Schawrcz
Data de Lançamento: 2020 – Minha Edição: 2020 – 27 páginas
Uma coisa que nenhum historiador admite mas ama brincar, é de criar marcos cronológicos. Desde coisas cotidianas, como dizer que o fracasso da Copa de 2006 acabou com o estilo de Seleção brasileira clássica, até fazer isso profissionalmente.
O caso mais famoso e que fez referências que se tornaram consolidadas para historiadores do mundo todo é Eric Hobsbawm, que delimita o século XIX como o longo século burguês, de 1789 até 1914, e o breve século XX, de 1914 até 1991. Neste rápido ensaio, Lilia Schwarcz propõe apontar como a atual pandemia marcaria o fim do século XX.
Na realidade, o livro é menos uma análise e mais uma espécie de denúncia da forma pouco inteligente como a humanidade e o Brasil, em especial, está lidando com a pandemia e crises subsequentes. Neste sentido, um texto agradável, curto e louvável – inclusive por ser disponibilizado gratuitamente pela editora nas plataformas digitais.

Por outro lado, como análise, o ensaio é problemático e bem estranho em certos aspectos. Ela parte dos marcos de Hobsbawm para ignorá-los completamente logo em seguida, algo que salta logo de cara: o historiador britânico estabelece o século XX entre 1914 e já com final em 1991, na queda da União Soviética. Ela argumenta que o século passado é marcado pelos anos de 1918 até 2020.
Para além da “querela das datas“, isso é extremamente significativo: para Hobsbawm, o XIX foi o longo século burguês, de consolidação do atual sistema econômico, iniciado pelas Revoluções Francesa e Industrial, e o XX o breve século pois marca tanto a crítica como a derrocada da contestação desse mundo burguês. A Primeira Guerra Mundial, em 1914, inaugurando a carnificina em escala nunca antes vista, escancara as contradições que o aumento exponencial de produção gerava, e com ela vem a Revolução Russa, propondo com o Socialismo um novo mundo além do mundo burguês. O século vinte termina junto com a URSS, porque com ela acaba justamente com a grande contestação ao sistema burguês.
Para Schwarcz as contestações ao sistema nunca foram marcos.
Ela argumenta que o século XX foi o século da esperança na tecnologia como forma do desenvolvimento humano e apenas agora essa “verdade” está sendo questionada através do péssimo enfrentamento à pandemia. Isto é, toda a história do século XX, com suas guerras, conflitos, ditaduras, revoluções e Independências, fora então uma grande caminhada conjunta de melhoria humana no atual sistema após o desastre das guerras mundiais – por isso também ela altera o início de 14, começo da guerra, para 18, final.
Não é possível que uma intelectual de tamanho peso quanto ela tenha feito uma má interpretação de Hobsbawm; mas talvez se trate um forte posicionamento político.
Mediano (2,5/5)
Para além dos nobres propósitos de enfrentamento da crise deflagrada pela pandemia mundial, um ensaio problemático que parte de marcos que ela mesma ignora em seguida. Contendo uma mensagem chapa-branca revestida de crítica.
As Eras de Hobsbawm: a grande obra da vida do historiador foi sua coleção sobre as Eras, os três primeiros volumes escritos nos anos 60 e 70 focaram no longo século burguês. Contando como o mundo se transformou de uma organização feudal para uma capitalista; em a Era das Revoluções (1798-1848), a Era do Capital (1848-1875) e a Era dos Impérios (1875-1914). Com títulos bem explicativos, apresenta as revoluções que derrubaram o feudalismo, o desenvolvimento do capitalismo na Europa, e sua expansão mundial através dos Impérios Coloniais.

O último volume, a Era dos Extremos (1914-1991), já foi escrito nos anos 90 meio que de improviso, no sentido de ser construído contemporaneamente aos acontecimentos (afinal, ele nasceu em 1917 e praticamente viveu todo o período) quando o autor avaliou que após a queda da União Soviética estaríamos entrando em outro século.
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