Jornada nas Estrelas: TOS – 1ª Temporada

Chegou o dia de cometer a heresia das heresias trekker: comentar sobre a série original, ou TOS (The Original Series). Até por conta da santidade do material envolvido, mas sua própria idade, vamos diretos aos capítulos sem muitos comentários gerais da temporada que pouco fazem sentido depois de tantas décadas – a própria lógica de produção dos seriados é muito diferente para analisar uma temporada. Algum ou outro apontamento estará no post sobre o melhor e o pior do ano.

Jornadas nas Estrelas: A Série Original

Exceto pelo piloto, os capítulos estão na ordem de exibição original, preservada nos catálogos de streaming e lançamentos em mídia física. Na Série Original, isso não corresponde nem à ordem cronológica interna, nem à ordem de produção – esta última será a numérica.


S00E01: A Jaula – Pensem em um episódio piloto que chega dando tapa na cara e chute nas portas ao entrar em sua casa. A nave, ainda comandada pelo capitão Pike, 10 anos antes dos eventos principais do seriado, faz contato com um grupo de sobreviventes humanos, em um planeta desolado, vítimas de um acidente ocorrido décadas atrás, todos em perfeita saúde. Não demora para que tudo seja desmascarado.

É um dos roteiros mais complexos de toda a franquia e justamente por isso foi recusado à época pela emissora, apesar de promissor. Tente explicar o episódio para alguém que não é íntimo de Star Trek; você vai entender o que pensaram na época. Mas também, justamente por isso, é um dos melhores de todos os tempos, tanto no argumento, quanto cenas e roteiro.

Felizmente, a estória se tornou canônica e foi reutilizada na própria primeira temporada, como veremos abaixo – transformando seus protagonistas, Capitão Pike e a Imediata “Número 1”, em personagens reais (que estão em vias de receber seu próprio seriado após 56 anos). Como episódio avulso, foi exibido apenas em 1988, 23 anos depois de sua produção.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E05: O sal da Terra – Numa missão de rotina, a Enterprise é enviada a um planeta habitado apenas por um arqueólogo e sua esposa – que, por um acaso, é uma ex-namorada do Dr. McCoy – para fazer exames periódicos e fornecer qualquer apoio necessário a eles. Entretanto, uma vez em solo, tripulantes começam a ser assassinados em circunstâncias estranhas.

O primeiro capítulo a ir ao ar! É relativamente pouco ambicioso se comparado a grandes estórias contadas pela TOS, mas foi escolhido para ser a estréia justamente por ser mais claro e ter um vilão alienígena específico. De fato, não deixa de ser um capítulo simplório, mas tem algumas sacadas muito inteligentes quando trabalha com as capacidades da criatura em modificar sua aparência dentro de certos critérios.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S01E07: O estranho Charlie – Um capítulo bem bizarro por várias razões; desde às cenas de cantorias ao suposto adolescente de 17 anos que parece ter uns 40, lembra um pouco os atores de Chaves interpretando as crianças (ele tinha 26 durante as filmagens). Este jovem foi encontrado após 14 anos perdido em um planeta deserto mas que teria sido habitado por uma grande civilização no passado, e a Enterprise precisa levá-lo de volta à humanidade, entretanto, ele está longe de ser um adolescente normal.

A estória tem algumas premissas muito interessantes logo no início, referentes a como ele sobreviveu no planeta, ao destino da espécie que lá habitava e era considerada extinta. Entretanto, essas perguntas acabam passando esquecidas por boa parte do capítulo, que foca em cima da puberdade do personagem, que conhece o amor juvenil, e o uso de seus poderes. Apesar de render até alguns diálogos engraçados com os protagonistas não sabendo conversar sobre esse assunto com ele, é tudo uma bobagem. Felizmente, ao final, os mistérios originais são reatados e o enredo todo fecha muito bem em uma cena comovente.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S01E01: Onde nenhum homem jamais esteve – Este é o segundo piloto, da série, mas exibido apenas como o terceiro episódio da temporada (imagino o nó na cabeça de quem assistiu em 1966 pois há sensíveis diferenças visuais) e consideravelmente inferior ao primeiro piloto. Ao chegar nos “limites da galáxia”, a Enterprise é atingida por algum fenômeno inexplicável que atinge alguns tripulantes com alta capacidade extra-sensorial.

Ainda há elementos interessantes, como discussões sobre autores clássicos, e cenas de ação muito bem dirigidas para o período. Entretanto, o desenvolvimento é tedioso e bem previsível, relativo a temática do homem que se sente Deus (especialmente porque na ordem de exibição, se tornou um argumento repetitivo). O desfecho também é súbito e custei a acreditar que era definitivo. Ainda assim, tinha uma pegada muito atual em relação às temáticas da Ficção Científica da época, especialmente literária, inclusive sendo aprovado por Isaac Asimov, e sua recepção foi positiva o suficiente para o seriado ser produzido.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S01E06: Tempo de Nudez – Por conta da fama deste episódio, mas especialmente, seus autoplágios posteriores, muito inferiores, confesso que fui re-assistir com um grande preconceito. Felizmente, muito infundado. Já começamos com o visual das cenas iniciais na instalação planetária, que é lindo!

Ao investigar uma estação de pesquisa onde todos os membros estavam mortos por causas estranhas, a tripulação da Enterprise sofre com uma doença que altera o comportamento das pessoas. Apesar de uma desculpa bem ridícula para a infecção do primeiro tripulante, a premissa serve para um profundo desenvolvimento dos personagens. Alguns em tons mais cômicos outros em tons mais dramáticos – estes últimos o grande destaque. A tristeza de Spock com relação aos sentimentos por sua mãe é um ponto alto de todo o seriado.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S01E04: O Inimigo Interior – Após uma interferência no equipamento de transporte, o Capitão Kirk é dividido em duas pessoas diferentes, com personalidades muito distintas. Uma premissa absurda para um enredo tedioso e que é um exemplar nítido de capítulo mau envelhecido por razões de roteiro: a primeira das atitudes do Kirk Agressivo é tentar estuprar a Ordenança Rand.

É uma saia justa de você não saber se o capítulo era progressivo à época ao colocar esse tema em discussão – e de fato acho que era por aí mesmo -entretanto, ao final da história, ela é induzida a, no fundo, admirar aquela personalidade como uma parte grandiosa do capitão. A idade pesou para TOS aqui.

Para além desse grave problema, reconhecido até pelos atores pouco tempo depois, a situação é inversa aqui com relação a Tempo de Nudez: os acidentes de transporte foram autoplagiados por várias vezes em séries seguintes, e o resultado foi muito melhor. O episódio acaba sendo centrado numa discussão muito superficial de psicologia e filosofia, de diferentes “partes” do homem, a má e a boa, e as virtudes de cada uma… ST poderia fazer mais e, de fato, o fez.

(eu particularmente adorei o cachorrinho alienígena, rs)

Avaliação: 2 de 5.

Ruim (2/5)


S01E03: As Mulheres de Mudd – Ao salvar uma nave da destruição, a Enterprise acaba também sofrendo sérios problemas e precisa se reabastecer de Dilítio. Entretanto, a questão maior é que a tripulação da pequena nave salva é composta por um contrabandista e três mulheres, traficadas por eles, que não vão ajudar nossos heróis nessa dificuldade.

O único ponto positivo é a construção do roteiro, que tem uma coerência interna relativamente boa e tudo se amarra até o final. Entretanto, apenas isso. De resto é pura bobagem, até mesmo para os padrões dos anos 60. O plot device científico aqui seria uma pílula que deixa as pessoas mais bonitas, meu Deus.

Para termos ideia do quão ruim ele é, a grande discussão filosófica, que no episódio anterior se dava entre o bem e o mal presentes em uma mesma pessoa, aqui é centrada no debate do que seria uma mulher para se divertir e uma mulher para casar. Sim, exatamente isso. Ao final, Capitão convence que dá para fazer as duas coisas com a mesma pessoa e recebe elogios do Dr. McCoy como um grande tratamento médico da questão.

Avaliação: 0.5 de 5.

Horrível (0,5/5)


S01E09: E as meninas, de que são feitas? – No capítulo em que o Tropeço original da Família Adams clássica faz sua ponta em Jornada nas Estrelas, nossos protagonistas tentam contato com um arqueólogo desaparecido há 5 anos, no último planeta em que ele visitou. Por coincidência, ele foi noivo da Enfermeira Chapel, e era dado como desaparecido até agora… quando ele responde informando que se refugiou nas profundezas daquele mundo desolado.

É um roteiro com um argumento bastante interessante, e toda a discussão sobre o destino de determinadas civilizações, que algo que me fascina bastante, finalmente retorna desde o piloto. Observando a ordem de exibição, acredito que é o primeiro capítulo mais “cabeça” da série.

Há alguns furinhos aqui e ali – por exemplo, de onde saiu o molde para uma das personagens? que aliás é a pergunta do título se repararmos – mas é uma estória bem sólida, tanto em desenvolvimento quanto em moral. Apesar de muito Kirk-centrado, possui um incomum destaque para uma personagem secundária da nave (ainda que interpretada pela mulher “do dono”, não custa lembrar).

Avaliação: 3.5 de 5.

Bom (3,5/5)


S01E11: Miri – Crianças assassinas! A Enterprise descobre um planeta idêntico a Terra, mas em um estado pós-apocalíptico. Após explorarem um pouco, nossos heróis percebem que o que restou da humanidade naquele lugar foram algumas crianças agressivas.

Jornadas nas Estrelas encontra O Senhor das Moscas aqui neste capítulo duro e perturbador pelo seu retrato das crianças – ele inclusive foi censurado no Reino Unido por quase 20 anos. Há uma interessante explicação científica por trás de todos os eventos, entretanto a questão do planeta “clone” do nosso é completamente despropositado. O capítulo não é ruim, mas a primeira vez que eu vi Miri fiquei extremamente decepcionado com o resultado.

Não sei se havia alguma alegoria com relação aos boomers – os nascidos no pós guerra – que agora se tornavam os adolescentes, “rebeldes sem causa”, mas sinceramente não peguei. De acordo com o Memory Alpha, a razão foi apenas conveniência e contenção de custos com relação aos visuais e roteiro, em não precisar criar uma civilização inteiramente nova.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S01E10 – O Punhal Imaginário – Ah! Os bons tempos de comando de Kirk, que em menos de um minuto de programa está dando esporro num coitado que está tentando transportar uma carga de uma Colônia Penal. Nessa carga, está escondido um criminoso que pede asilo na Enterprise após experiências traumáticas na prisão – considerada um modelo de tratamento humanizado aos presos.

A premissa do capítulo é bastante ousada ao discutir tratamento de prisioneiros; se hoje ainda há quem entenda que o sistema prisional é feito apenas para punir, que dirá meio século atrás. Entretanto, o episódio acaba focando em um aparelho específico sem muitas implicações para além do seu papel para a satisfação pessoal de um personagem. Poderiam, por exemplo, fazer alguma conexão com os prisioneiros sofrendo com trabalho forçado ou com algum uso específico e manipulado para eles (tal como os melhorados geneticamente em DS9).

O grande destaque do capítulo é a introdução de um determinado ritual vulcano. Além do próprio experimento que o capitão é submetido, no qual Shatner faz um bom trabalho, especialmente no pós sessões. Ainda há um interessante enrosco amoroso de Kirk com uma psiquiatra – que, claro, é uma mulher belíssima e jovem. Mas, ao final, o roteiro termina com uma discussão sobre a solidão humana, que não havia sido abordada em nenhum momento até justamente nos últimos diálogos, nos deixando meio perdidos quanto à moral ou mesmo o argumento principal da estória.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S01E02: O Ardil Carbonite – Numa exploração rotineira, a Enterprise esbarra em um estranho objeto que fica a cercando, impedindo sua movimentação. E, ao lidar com esse problema, nossos heróis criam um mal entendido com uma poderosa e assustadora civilização alienígena.

Apesar de um final com um visual bizarro, o capítulo consegue se manter tenso praticamente desde a primeira cena e o foco é depositado nas reações dos personagens àquelas dificuldades e situações – numa amostra muito boa do estilo de comando típico de Kirk. E ele é mais atemporal que muito do que vimos até agora, com poucas referência a temas que ficam mais datados, como relacionamentos amorosos ou sexuais.

Na ordem de produção, este foi apenas o segundo (logo depois de “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”) e é muito interessante como ele é muito bem delimitado tanto nos comportamentos dos personagens; e contendo uma pegada de enredo já bem exemplar. Por conta dos efeitos especiais, sua exibição precisou ser adiada por mais de uma vez, infelizmente.

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S01E15: A Coleção, parte 1 – Poucas decisões na história da TV foram tão inteligentes quando esta aqui; o piloto do seriado se torna canônico e é integrado à história de TOS; assistimos a ele junto dos personagens. Nesta primeira parte, descobrimos que o capitão Pike sofreu um acidente e está confinado à uma cadeira de rodas em estado quase vegetativo.

Conseguiram tornar um episódio já muito complexo em algo ainda mais inteligente, com as artimanhas de Spock para disparar todos os acontecimentos. Consistindo aqui em mais conteúdo original que na segunda parte; não sei exatamente explicar o porquê mas a cena final de Kirk pensando sozinho na sala, sob a narração de Spock me arrepia até hoje.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E16: A Coleção, parte 2 – Em sua continuação, passamos a compreender melhor a missão de Talos IV e finalmente entender o que Spock deseja com toda aquela trama. Esta segunda parte acaba sendo inferior à primeira por depender mais de conteúdo retirado de A Jaula, boa parte do tempo de tela é dedicado a assistir o piloto junto com os demais personagens – aliás, algumas cenas deletadas acabam excluindo a participação do Dr. McCoy e Scotty por aqui, que acabam sumindo do julgamento.

Além disso, há dois plot twist nos instantes finais que não gostei; primeiro uma interrupção na transmissão, despropositada, e outro referente à natureza de certo personagem, exagerada. Ambos impactam no perdão que todos ganham ao final, ficando tudo muito súbito. Entretanto, o encerramento é satisfatório e, especialmente, o enredo do piloto acaba ficando muito mais inteligível desta forma, em dois episódios.

Avaliação: 4.5 de 5.

Muito Bom (4,5/5)


S01E12: A Consciência do Rei – Kirk é contatado por um velho amigo que alega ter encontrado um criminoso de guerra que era dado como morto, e ele estaria disfarçado como um membro de uma companhia de Teatro. Muito dependente de diálogos e dramas – a trilha sonora é muito ímpar nesse sentido, parece um desenho animado, sempre acompanhando de forma aguda cada sentimento representado em tela – o episódio foi um dos menos bem recebidos da primeira temporada.

Isso, por outro lado, não quer dizer que seja ruim. Muito pelo contrário, é uma história muito interessante, muito adulta e muito atemporal com falas excelentes. Tanto em plano de fundo, toda a história de Tarsus IV e seu massacre, quanto em desenvolvimento, com elegantes referências a obras clássicas. Um porém é que me parecia óbvio que em algum momento o antagonista jogaria na cara de Kirk ele ter sido um dos sobreviventes e ter sido bem sucedido, o que legitimaria sua justificativa, mas não houve, infelizmente.

(um destaque à dublagem nacional da VTI Rio que fez um trabalho fenomenal com as vozes e a adaptação das falas, especialmente de Karidian).

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S01E08: O Equilíbrio do Terror – Poucos capítulos são tão clássicos e únicos quanto este aqui em TOS; na introdução dos Romulanos, a Enterprise vai investigar os estranhos ataques sofridos por uma série de bases na Zona Neutra, uma fronteira entre a Federação (Terra, naquele momento) e seus piores inimigos.

Até pelo peso que essa civilização terá nas futuras séries, ela está quase que irreconhecível aqui – uma pena, porque acho que os uniformes, apesar de toscos, são bem mais interessantes que os da era TNG – praticamente a única similaridade é a aparência e o essencial do lore. Foi fabuloso apresentá-los como parentes dos vulcanos, assim como é fantástica toda essa noção desse inimigo oculto; apesar de ser muito inverossímil a Federação não conhecer sua identidade (Enterprise fez um grande retcon de todo esse episódio). Infelizmente, como não era costumeiro da época ter tramas serializadas, esse mistério sobre sua origem se resolve aqui mas poderia durar mais alguns episódios.

Sobre o capítulo em si, é uma das grandes obras primas de Jornada nas Estrelas. É a primeira vez que vimos a Enterprise realmente em batalha e isso é demais! Entretanto, é também a única vez que vimos acontecer desta forma; apesar de legal, é um pouco fora-de-lugar. Isso se deve porque a história é a adaptação para o espaço de A Raposa do Mar, um filme de muito sucesso à época; contando sobre o duelo entre um navio americano e um submarino alemão na II Guerra Mundial – e que gerou uma febre de filmes de submarinos nos anos 60.

O resultado é maravilhoso, tudo o que foi criado para poder encaixar esse argumento na Ficção Científica é fenomenal. A história do casamento, entretanto, é realmente um ponto fraco, especialmente o desfecho – que foi alterado do roteiro original, bem menos dramalhão.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E17: A Licença – Ao encontrar um planeta dE aparência paradisíaca, o Dr. McCoy sugere que toda a tripulação aproveite para descansar um pouco. Não dá muito certo. Uma vez na superfície, todo mundo por lá começa ter uma série de alucinações absurdas mas bem reais.

Saber que o roteiro deste episódio foi escrito por três pessoas diferentes tentando corrigir problemas um do outro – mudando de mão após as filmagens começarem – explica muita coisa. Um dos protagonistas literalmente morre na história, e volta com a explicação que “consertaram” ele, e todo mundo aceita; ou uma personagem troca de roupa depois destroca para a anterior. No geral, é tudo muito fraco e, especialmente, chato; temos mais de 6 minutos de uma luta física, sem razão, entre Kirk e um outro personagem (no meio de uma trama de comédia, vale lembrar).

Ao final temos uma explicação razoavelmente satisfatória, bem ao estilo da série original, mas não compensa, nem de longe, o tempo perdido.

Avaliação: 1 de 5.

Muito Ruim (1/5)


S01E13: O Primeiro Comando – A popularidade do personagem de Spock incentivou a produção do seriado a criar um capítulo em que ele estivesse no comando de uma equipe. Aqui, os tripulantes da nave auxiliar Galileo acabam sofrendo um acidente e caindo em um perigoso planeta; comandado pelo vulcano eles precisam sobreviver e tentar escapar pois a Enterprise, envolvida em outra missão, não pode esperar.

Contando com personagens secundários muito interessantes, tanto os tripulantes que estão no planeta (surpreendente como cada um ali tem falas e personalidade), quanto o comissário a bordo da nave; este é um dos melhores exemplares de estudo de personagem de todo do seriado. Apesar de protagonista, Spock não está livre de controvérsia e algumas de suas decisões se mostram erradas tanto para resolver os problemas como para comandar seus colegas.

E, apesar de centrado completamente no relacionamento entre os personagens, a estória não deixa de apresentar elementos clássicos da TOS, como fenômenos científicos e uma ameaçadora espécie alienígena; é um exemplar perfeito de Jornada na Estrelas.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E18: O Senhor de Gothos – Nesta espécie de “prequel espiritual” do personagem de Q, a Enterprise tem o azar de encontrar um ser onipotente que, coincidentemente, é fascinado pela Terra do século XIX e suas guerras – as quais ele observa de seu planeta, e deseja brincar com a tripulação.

É uma história com um objetivo muito específico: mostrar como o futuro proposto por Roddenberry era pacifista, em todos o sentidos, inclusive superando a glorificação do passado militar. E ele encontrou uma forma muito criativa de fazer isso, especialmente na questão do déficit temporal (que usa números confusos já que o canon de Star Trek ainda não estava bem estabelecido).

Seria um episódio com um tom cômico mas pelo roteiro nem tanto, especialmente se você já sabe o final, é tedioso. Para nós, por conta do maravilhoso trabalho da dublagem da VTI Rio, que fez uma voz e adaptações muito boas para Trelane – no original, o personagem é bem mais monótono – ele ganha mais valor de “replay” pelo humor empregado.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S01E19: Arena – O famigerado episódio da pior cena de luta da história da TV – e é difícil defender aquilo. Mas, antes de tudo, temos um argumento e roteiro muito bons: nossos heróis são surpreendidos por uma violenta civilização alienígena ao tentar transportar suprimentos para uma distante colônia da Federação. Na perseguição à nave dos agressores, uma terceira raça interfere nessa disputa e cria meios alternativos para o fim da batalha.

O roteiro é tão bom que as cenas de luta são realmente bem escritas, observando a ordem dos acontecimentos, percebe-se como tudo é concatenado e coerente. Entretanto, é pessimamente dirigido e coreografado – a primeira pancadaria, que é trecho escolhido para ilustrar “a pior cena”, parece que é feita em câmera lenta. Provavelmente a fantasia de Gorn não permitia movimentos elaborados e rendeu o andar meio de Frankenstein ou zumbi para o alienígena, além de movimentos muito limitados e pouco naturais.

Faltou tato da direção para bolar situações diferentes levando em conta esses problemas; rendendo cenas muito ruins que invariavelmente puxam pra baixo o capítulo apesar do bom roteiro. E mesmo ele tem seus problemas, pois há um diálogo cortado – referentes às intenções dos Metrons – que também compromete a compreensão geral.

Avaliação: 2.5 de 5.

Mediano (2,5/5)


S01E21: O Amanhã é ontem – Sabe quando alguma ficção científica troca os pés pelas mãos com viagem no tempo? Em Jornada nas Estrelas aqui se inicia essa tradição; é a primeira, de muitas vezes, que isso acontece, quando a Enterprise é mandada acidentalmente para o passado, em 1969 (que era até futuro para a exibição original em janeiro de 67). Um piloto é enviado para investigar a aparição de um misterioso OVNI, e vai parar dentro da nave, iniciando uma série de, literalmente, contratempos para nossos heróis.

É válido destacar o pioneirismo de tratar com esse tema de viagem temporal, entretanto a história, seja o motivo da viagem temporal quanto as implicações dela para o passado da Terra, é pouco inspirada. Também incomoda muito a falta de coerência dos personagens com as situações que eles enfrentam: assim que tudo começa, eles dizem ser cautelosos sobre o que contar para o “hóspede”… mas em seguida já contam tudo, deixam andar pela nave, até, o mais grave de todas as revelações, deixam ele saber o porquê precisam devolvê-lo.

Para coroar a inabilidade com as viagens no tempo, é completamente incompreensível como a resolução final apagou a memória dos envolvidos.

Avaliação: 2 de 5.

Ruim (2/5)


S01E14: Corte Marcial – Apesar dos pesares, um acidente de trabalho que levou a morte de um dos tripulantes da Enterprise não significaria mais que dor para familiares e amigos, além de uma montanha de papelada para o comando da Frota. Entretanto, logo aparecem indícios que apontaria para culpa do acidente no Capitão Kirk, e um inquérito é instaurado.

Um clássico episódio de courtroom drama, e muito bom, por sinal. O roteiro é hábil em encaixar o drama do acidente, a tensão entre Kirk e o Comodoro Stone, e a história pessoal do Capitão com a vítima. Ainda há espaço para destaque de ambos os advogados, personagens interessantes.

Alterações no roteiro posteriores ao início das filmagens se fazem sentir e rendem alguns estranhamentos: um personagem simplesmente desaparece no clímax do episódio após dizer, exatamente, que precisa fazer outra coisa melhor naquela mesma hora; e outro, que está em cena mas não aparece. Mesmo assim, o desenvolver do inquérito e da investigação conta com boas e bem realizadas reviravoltas, que caminham para o final satisfatório (inclusive com relação ao mui ocupado personagem desaparecido).

Avaliação: 4 de 5.

Muito Bom (4/5)


S01E22: A Hora Rubra – Eu me lembrava deste episódio aqui como se fossem dois separados – e é mais ou menos isso mesmo. Curiosamente, o título brasileiro opta por uma parte, enquanto o original, The Return of the Archons, foca na segunda estória. Até os primeiros 15 minutos, a tripulação investiga o “festival” da hora rubra, quando todo tipo de violência é cometida e tolerada naquele planeta, no qual a nave Archon desaparecera 100 anos atrás. E aqui são lançados alguns conceitos interessantes, como os “turistas” do festival, ele ser obrigatório, ou opcional para determinados grupos sociais.

Entretanto, passado o tempo, todo mundo esquece completamente o que aconteceu. O foco muda para o estranho comportamento da população, que age como zumbis, controlada por um onisciente ser chamado Landru. Por sua vez, esta trama também é bastante interessante e ela que ganha maior desenvolvimento até ser resolvida de forma satisfatória.

Merecia seu lugar entre as estórias mais icônicas de TOS, mas não tem como perdoar esse deslize de esquecer completamente 1/4 do episódio que fica avulso com relação a tudo que ocorre depois. Provavelmente teria a ver com alguma reprogramação geral de Landru ou uma válvula de escape da população dominada, mas era melhor se os roteiristas tivessem explicado isso, o que seria facilmente realizável com um único diálogo.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S01E24: A Semente do Espaço – Um capítulo que dispensa apresentações: a Enterprise encontra a deriva no espaço uma nave chamada Botany Bay, tripulada por humanos em suspensão criogênica por dois séculos – mas não são homens comuns, e, dentre eles, Khan!

Estamos falando da introdução de um dos maiores vilões de todos os tempos da TV (e até do cinema futuramente), que é impecável em caracterização e interpretação por parte de Ricardo Montalban. Tudo é muito bem feito desde o começo, o mistério e o desenvolvimento são excepcionais. Há uma extravagância aqui e acolá (os movimentos de Khan para ter sua força extra, por exemplo), mas é excelente em cada segundo. Todo o conceito de “reviver” um grande ditador ou líder controverso do passado é fantástico.

Eu particularmente tenho um profundo incômodo com este capítulo, com o retrato ridículo da historiadora, que é uma espécie de antiquária. Mas está é a visão dos americanos do que é História, ainda hoje inclusive; imaginemos há 50 anos. E, tenho que dar o braço a torcer, se encaixa perfeitamente no roteiro.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E23 – Um Gosto do Armagedom – Pela segunda vez em cinqüenta anos, a Federação tenta estabelecer relações diplomáticas com Eminiar VII, e pela segunda vez eles alegam não poder receber os emissários por estarem envolvidos numa guerra. Não aceitando não como resposta, a Enterprise vai até lá e demora a compreender como a tal guerra funciona, e isso é, literalmente, fatal.

É um dos meus episódios favoritos e uma das melhores alegorias que Jornada nas Estrelas já fez, neste caso à sociedade moderna se acostumar com os conflitos da mesma forma que se distancia deles – tá em Hobsbawm isso, turma, o Roddeberry estava com as leituras em dia, rs. Além da inteligente trama, há bastante tensão e ação – além de belos visuais.

Todavia, há algumas coisas que me incomodam com relação às saídas encontradas para driblar as prisões dos personagens. Em um momento vimos uma habilidade absurda de Spock que resolveria qualquer situação em qualquer capítulo – e que não aparece mais, ainda bem; e, em outro momento, um mal estar e um tropeço possibilita que toda uma sala cheia de pessoas se torne reféns.

Avaliação: 4.5 de 5.

Muito Bom (4,5/5)


S01E25: Deste lado do Paraíso – Poucas coisas são tão gracinha em Jornada nas Estrelas como ver o Spock apaixonado. E isso acontece aqui, quando a Enterprise encontra uma colônia habitada por saudáveis e felizes humanos, mas que deveriam estar todos mortos por conta da intensa radiação do planeta.

No balanço, o episódio se torna um pouco ambicioso, ao levantar questões morais muito profundas sobre, justamente, ambição e desejo intrínsecos à humanidade e seu desenvolvimento. Seria uma proposta muito boa, mas me pareceu motivada por um problema aquém da complexidade da moral do roteiro – especialmente a solução encontrada, que até remete bem ao dilema de felicidade x tristeza, na qual Kirk é “quase” imune a tudo que está havendo apenas por motivos de plot armor (porque o roteiro precisa que o protagonista resista).

Entretanto, o capítulo compensa pelo drama amoroso de Spock; apesar de cenas bem bizarras dele se pendurando numa árvore, nos últimos minutos sua reação e diálogos com Leila são emocionantes.

Avaliação: 3 de 5.

Bom (3/5)


S01E26: O Demônio da Escuridão – Com razão é um dos queridinhos da série original, e tido frequentemente como um capítulo emblemático do que simboliza Star Trek. Uma operação de mineração está sendo vítima de ataques de uma criatura misteriosa em seus túneis, mais de 50 mortes ocorrem até que a Enterprise aparece para ajudar.

Antes de tudo, é necessário vencer um pouco o preconceito quanto a visuais toscos, mas passado isso, é tudo tão perfeitinho: o mistério, as posições e situações nas quais os personagens são colocados, as motivações da criatura, a solução final… é a utopia de Jornada nas Estrelas em seu auge. Claro que isso tem um efeito colateral, é um episódio pouco ousado, sem reviravoltas ou dilemas e sem grandes questões filosóficas por trás.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E27: Missão de misericórdia – Na estréia dos Klingons, nossos heróis são enviados a Organia, um planeta pacato e pouco desenvolvido que foi pego em uma trama internacional, ou melhor, interplanetária. Em um local estratégico, ele está no centro de uma disputa entre a Federação e seus inimigos; os Klingon desejam ocupar o planeta; governá-lo com a mão de ferro, e Kirk espera liderar algum tipo de resistência.

Tudo fica ainda mais confuso porque os organianos aparentemente não estão nem aí tanto para um quanto para outro.

Não apenas pela (falta de) maquiagem, os mais queridos antagonistas de Star Trek estão irreconhecíveis aqui; numa mistura de brutalidade, frieza e polidez. Uma clara analogia à Guerra Fria e à União Soviética, vemos eles falando sobre coletividade e vigilância – e nesse sentido acho até um ponto baixo de Roddeberry, uma crítica ingênua; nenhum tipo de ocupação ou apoio soviético a regimes por mais contraditórios que fossem funcionou como o retrato (nem de americanos em posição análoga).

Entretanto, vencendo esse comentário histórico e social, é um episódio muito bom; os Klingons se apresentam implacáveis e extremamente perigosos e o mistério envolvendo os organianos permanece intrigante até o final – e genuinamente ficamos preocupados com o destino de Kirk e Spock. O capítulo, deve, todavia, ao falar tanto de grandiosas guerras e batalhas espaciais sem sequer apresentar imagens das naves rivais (apenas miniaturas super distantes).

Avaliação: 4.5 de 5.

Muito Bom (4,5/5)


S01E20: O Fator Alternativo – Aos 42 minutos e 40 segundos, Lazarus diz: “É difícil de explicar, Capitão“; faço minhas as palavras dele.

Avaliação: 1.5 de 5.

Muito Ruim (1,5/5)


S01E28: A Cidade a beira da Eternidade – O clássicos dos clássicos, o melhor episódio de Jornada nas Estrelas de todos os tempos. O Dr. McCoy acidentalmente acaba sofrendo uma overdose de um alucinógeno, e de todos os lugares do universo, justo em cima de um planeta que possui um portal do tempo; completamente alucinado ele pula nesse portal, e é seguido por Kirk e Spock ao passado da Terra.

É algo que dispensa comentários, não é a toda toda a exaltação. É uma história interessante, intrigante, tensa, emocionante e comovente. Mas não é minha favorita; acho um pouco desconexas a trama inicial, sobre a overdose, e tudo o que se desenvolve no passado. Claro que isso são apenas pequininas coisas do porquê não é o que mais gosto.

Avaliação: 5 de 5.

Excelente (5/5)


S01E29: Operação: Aniquilar! – Vamos conhecer o irmão do capitão Kirk, sua cunhada e seu sobrinho numa feliz aventura de família. Bom, não é bem assim: a colônia em que eles moram está na rota de um estranho fenômeno que dizima civilização após civilização através de um colapso auto destrutivo daqueles planetas, e a Enterprise vai a caminho tentar entender e evitar isso.

Há uma porção de conceitos e recursos interessantes aqui, apesar dos singelos “efeitos especiais”, bem toscos, que acabam gerando um ar de filme B. A própria premissa das civilizações destruídas é fascinante, assim como o comportamento das pessoas e, especialmente, a forma de dominação. Tudo vai se desenvolvendo muito bem numa pegada entre o pós-apocalítico e drama, e a resolução final é interessante.

Entretanto, o roteiro deixa a dever uma melhor explicação dos propósitos e motivações dos “antagonistas”. Não há um aprofundamento, ainda que breve, do porquê daquele comportamento, qual o objetivo, e até da razão dos padrões e rotas identificados. Apenas argumentam que são diferentes demais para começar a entendermos… um golpe baixo.

Avaliação: 3.5 de 5.

Bom (3,5/5)


S01E20: O Fator Alternativo – Aos 42 minutos e 40 segundos, Lazarus diz: “É difícil de explicar, Capitão“; faço minhas as palavras dele.

Brincadeiras a parte, neste infame episódio, a Enterprise se vê no centro de um bizarro acontecimento que aparentemente cancela a existência da realidade por alguns segundos – e tudo isso tem a ver com um cientista maluco que se joga de uma pedra.

É uma estória sem pé nem cabeça em que absolutamente tudo fica mal explicado; se torna até difícil saber por onde começar. O fenômeno do teaser é absolutamente ambicioso, e rapidamente – sabe-se se lá o porquê – vira um prelúdio a uma invasão de ninguém sabe quem. Os antagonistas fazem pouco ou nenhum sentido: um puxou o outro? São seres vivos normais? Existia alguma coisa que de fato fora destruída naquele planeta?

Quando os próprios personagens desistem de explicar o que está havendo, é porque tá complicado; ao menos, como até o próprio Kirk fala, a idéia central que se caso se encontrem é o fim do cosmos, fica clara. Há boas idéias aqui. eu, particularmente, acho que com um roteiro melhor escrito e organizado, seria um belo episódio – até mesmo as bizarras cenas de “batalhas interdimensionais”.

Avaliação: 1.5 de 5.

Muito Ruim (1,5/5)

Jornada nas Estrelas: A Série Original


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Publicado por Lucas Palma

Paulistano, desde que me lembro por gente fascinado pelas possibilidades do futuro, em games, filmes e seriados, herança paterna e materna. Para surpresa geral, ao final da juventude descobri fascínio também justamente pelo oposto, me graduando e mestrando em História, pela Universidade Federal de São Paulo. Sou autor de Palavras de Revolução e Guerra: Discursos da Imprensa Paulista em 1932.

Um comentário em “Jornada nas Estrelas: TOS – 1ª Temporada

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