The Expanse – 6ª Temporada
Uma série com uma história tão conturbada quanto seu próprio enredo, The Expanse chega ao final nesta sexta temporada. Cobrindo os eventos do sexto livro da série (Babilônia em Cinzas), foi uma edição muito curta, com apenas 6 episódios que foram bem feitos o suficiente – ainda que gostaríamos de mais – para encerrar o seriado de forma satisfatória.
Pelo menos por enquanto, já que ainda sobrou história pra contar e o seriado já voltou da morte antes.
Agradou: concisão para a temporada final, qualidade e regularidade.
Sabendo que havia pouco dinheiro para concluir a série; os realizadores souberam exatamente onde investir para encerrar a história de forma satisfatória em desfecho e qualidade. A primeira decisão foi reduzir o número de episódios e adequá-los ao orçamento menor.
Isso gerou uma regularidade muito grande; não houve um único episódio ruim em toda a temporada. Caso houvesse a decisão de fazer 7 ou 8 capítulos com a mesma verba, provavelmente teríamos que amargar um bottle show (episódios em espaço reduzido e poucos personagens) em algum deles, por exemplo, ou algum com aquele tipo de roteiro em que nada acontece.
Com exceção de uma linha narrativa específica, a produção soube exatamente o que contar e o que exibir no pouco tempo que tinha; uma decisão de não mostrar uma batalha ou encerrá-la com uma mensagem pode até frustrar de certo modo, entretanto é compreensível e não deixa o capítulo esmorecer. O resultado foi uma temporada final muito consciente das suas limitações e elegante ao enfrentá-las.
Não agradou: pouca duração e pouco escopo; não desenvolvimento da trama nas colônias.
Apesar de entendermos as necessidades dos realizadores em tornar a temporada tão concisa; não deixa de ser extremamente triste saber que não houve mais orçamento (e nem renovação para mais uma temporada) para a despedida do seriado. Algumas coisas me deixaram bastante incomodado; como a morte de um líder da OPA (Dawes) ser apenas mencionada de supetão em um único diálogo – problemas em trazer o ator de volta, que viu sua popularidade disparar.
E, nesse sentido, apesar de trazer uma aparição surpresa aqui e ali, a série perdeu em complexidade, pois poucos personagens estavam agindo. Nesse sentido o escopo do seriado foi menor; The Expanse sempre foi competente em mostrar como “as pessoas comuns” eram afetadas pela grande trama, coisa que foi menos presente aqui – por necessidade, já entendemos – em que apenas as lideranças estão agindo. Todo esse papel do “plebeu” ficou concentrado na interessante personagem da chefe de estação de Ceres. E foi um sopro de vida na história da OPA que, esvaziada, parecia ter se tornado apenas um grupo de piratas.

Dada a pressa para condensar tudo o que faltava ser dito, foi necessário deixar um pouco para trás algumas coisas da temporada anterior. Poucas ou nenhuma referência à acontecimentos anteriores foram feitos, você que deveria lembrar ou deduzir as conexões ao ver. O Almirante Duarte, por exemplo, ele havia sido mencionado rapidamente ao final da quinta temporada, mas para nós apenas devemos deduzir que ele era o líder da Frota Marciana roubada anteriormente – eventos também que não foram rememorados. Por um lado é o seriado acreditando que somos inteligentes o suficiente para deduzir tudo, mas, por outro, enfraquece os personagens.
Da mesma forma, ainda que aparecendo em todo o episódio e mencionada o tempo todo, o arco da Protomolécula foi dado como encerrado. Hora ou outra alguém fala que tal coisa foi desenvolvida com a ajuda dela, mas tudo fica apressado, no sentido que “já passamos por isso”. Entretanto, ao mesmo tempo, a estória nas colônias além-do-anel não passa de um teaser (muito intrigante, sem desmerecer) do que poderia ter sido uma próxima temporada e do que teria a ver com a protomolécula (o cerne da série).
Episódios
S06E01: Cães Estranhos – A Terra está em total caos; os ataques de meteoros direcionados ao planeta não cessaram em meses, e os danos em cidades e fontes de alimentos foram avassaladores. Os restos da Frota Terrestre trabalham em conjunto com o que sobrou da Marciana; pelo outro lado, cada vez mais naves piratas e independentes, assim como estações espaciais, se juntam à Marinha Livre de Marco Inaros. Enquanto isso, nossos protagonistas, em missão de reconhecimento, sofrem uma emboscada de naves inimigas.
O capítulo começa com um ritmo oscilante, com relativamente poucas referências ao que testemunhamos no ano anterior; é difícil ir relembrando e voltar ao clima, mas, como vários episódios iniciais de temporadas de The Expanse, há muita coisa acontecendo em vários fronts ao mesmo tempo. Por outro lado, voltamos a um outro clima do começo do seriado que é o desânimo, todos os personagens não querem fazer o que estão fazendo, falam isso literalmente muitas vezes; fica quase contagiante e a vontade é de desligar a TV. Não é possível que ninguém não perceba isso ao revisar o roteiro.

Apesar disso; um punhado de coisas vão acontecendo e se desdobrando rapidamente e o episódio ganha corpo. Ao repensar a temporada toda, havia confundido que os eventos deste aqui haviam se passado em dois capítulos. Algumas decisões narrativas, que não sei se encontram respaldo nos livros, me incomodaram profundamente: a OPA agora se tornou apenas um grupo pirata, abandonando a luta pela liberdade; aqui optaram por uma morte fora de cena para um personagem da velha guarda do grupo que é muito decepcionante.
Bom (3,5/5)
S06E02: Azure Dragon – De posse de importantes dados, a Rocinante é capaz de rastrear a nave que é responsável pelo lançamento dos asteróides em direção à Terra. Enquanto isso, fortes rusgas começam a ficar claras dentro da OPA, que agora unifica todos os belters sob Marco Inaros; carismático mas alvo de desconfiança.
Mais focado, este episódio acontecem menos coisas em volume mas ganha em drama e ação com personagens mais motivados; a dinâmica na Rocinante ganha mais corpo com uma integrante mais animada. A chegada do núcleo de Drummer também eleva o seriado por parte da OPA, dando vida à organização Belter. Especialmente nesta temporada, ela parece andar em círculos tanto dentro da história como para nós, espectadores, que estamos presos ao “carisma” dele e de seu filho e temos apenas que aceitar que é isso que está conquistando todo mundo.

Bom (3/5)
S06E03: Projeção de Força – Após acabar com a ameaça dos ataques à Terra, a ONU e a Marte avançam sobre as estações do cinturão e ocupam Ceres, a maior e principal. Entretanto, uma vez lá, descobrem que ela está em ruínas – destruição causada pelo próprio Iranos. Falando sobre o antagonista principal, ele e a Rocinante podem se encontrar para uma feroz batalha!
Gostei muito de toda questão em Ceres, foi uma reviravolta calma e extremamente inteligente. E com implicações para todos os núcleos; espero que a personagem da chefe de estação tenha algum destaque nos próximos desdobramentos. E, ao mesmo tempo em que Drummer ainda engatinha na construção de sua força, temos muita ação dentro da Rocinante e uma batalha espacial excepcional.
Enquanto isso, de fundo, mesmo muito devagar a trama que se passa além dos anéis vai se tornando muito interessante.
Muito Bom (4,5/5)
S06E04: Desconfiança – Enquanto a crise apenas se agrava em Ceres, a tripulação da Rocinante faz alguns reparos na nave e Holden acaba sendo confrontado por sua decisão final do episódio anterior. Ainda, Inaros e seu filho estão em um momento bastante conflituoso, o comando do líder rebelde está em xeque – especialmente porque Drummer chega a um de seus depósitos secretos.
É um capítulo recheado de bons diálogos e uma ação pontual no núcleo de Camina, que vem ganhando cada vez mais força, mas ainda pareceu exagerado de certa forma. Gostei bastante de todos os desdobramentos que aconteceram por aqui, exceto pelo “documentário” da jornalista Monica Stuart, muito óbvio e piegas, mas que causa profundo incômodo nos demais personagens sabe-se lá como. Dentro da nave dos nossos protagonistas é tudo bem escrito, mas ainda acho que Steven Strait (ator de James Holden) tem um alto carisma negativo que tira força de certas cenas – tal como a conversa entre ele e Amos no casco da nave.
Bom (3/5)
S06E05: A Nossa Luta – Todo mundo chega até Ceres, onde todos os protagonistas se encontram para definir os termos da busca por Iranos; o principal problema é convencer Drummer a entrar no esforços de guerra dos internos.

Dependendo basicamente de diálogos, acaba se tornando um capítulo de preparação para o desfecho do seriado; bastante centrado na personagem de Camina que se torna a protagonista de The Expanse por hoje. Temos ela confrontando seus subordinados, Naomi e, finalmente, o encontro que o roteiro vai nos antecipando desde o começo, entre ela e Avasarala. Eu gostei muito da parte visual desse tête-à-tête, a caminhada da secretaria geral e o local da conversa, excelentes. Mas esperava algumas falas mais complexas de um encontro do qual se gasta muito tempo construindo.
Bom (3/5)
S06E06: Cinzas da Babilônia – Inaros está perto do portão e pode escapar de vez caso consiga atravessar para outro sistema planetário; as forças combinadas de combate se dividem três grupos para atacar a frota do vilão, também dividida em três. Enquanto isso, a Rocinante fará um ataque surpresa dentro do espaço do anel para capturar os canhões que defendem a entrada do local.
Foi um final bastante elegante. Sabendo que precisavam ser muito concisos com o desfecho do seriado, não houve perda de tempo e nem mesmo muita ambição que permitisse pontas soltas demais; o escopo das coisas foi o suficiente assim como suas resoluções. Claro que isso, por outro lado, deu um certo ar de pressa com tudo o que se desenrolava, mas não acredito que tenha comprometido – por exemplo, quando a batalha principal entre as duas maiores frotas envolvida aparece apenas numa mensagem recebida avisando que ela acabou, não deixa de ser decepcionante, mas, ao mesmo tempo, completamente compreensível.
O tempo de tela foi bem gasto numa interessante e agitada invasão às instalações inimigas que, felizmente, foi bem explicada previamente. Digo isso porque no desenrolar as coisas ficaram um pouco confusas conforme elas foram acontecendo, apesar de serem cenas bonitas, legais e emocionantes. Mas tudo isso era prévio ao combate final; o qual restou-se pouco tempo para resolver, gerando a necessidade do roteiro apresentar uma saída anticlimática para a vitória dos heróis; ainda que inteligente e, especialmente, convincente já que a informação chave havia sido martelada nos dois últimos capítulos.

Por outro lado, faltou ousadia. Nenhuma grande morte ou perda (no momento em que uma morte parecia se avizinhar, literalmente um outro personagem avisa que vai morrer antes) como também não houve grandes reviravoltas. O que é facilmente explicado pelo fato que esse não foi o final da história contada por The Expanse, que recentemente chegou até o final, no nono livro, lançado em finais de 2021 (e a série chegou até o sexto volume).
Nesse sentido, também não deixa de ser decepcionante não termos revelações mínimas sobre o que aconteceu na colônia avançada. Entendo que não havia tempo e que ficou mais ou menos subtendido que se passou por lá, mas talvez fosse o caso de deixar menos lacunar. A questão daquele objeto em órbita poderia ter ficado como um easter egg, no fundo das cenas, por exemplo, e o foco apenas nos “cães estranhos” – que de fato foi o que quase aconteceu, mas algumas opções de cenas foram até desleais conosco sendo que eles sabiam que nada sobre ele seria abordado.
Excelente (5/5)
Melhor episódio
Cinzas da Babilônia – Conseguiu fazer mágica para fechar uma história tão complexa em um espaço de tempo tão curto, conforme disse logo acima, para não ficar repetitivo. Mas gostaria de destacar uma cena muito boa: quando Inaros recebe a notícia vinda das colônias além do anel, e fica tomado pelo desespero mas ele é interrompido pelo filho: rapidamente ele muda de expressão e faz um inflamado discurso à tripulação.
Um grande e necessário momento para compreendemos melhor o personagem se tornou o grande vilão do seriado.

Pior Episódio
Desconfiança – Não chega a ser ruim, pois não há episódio ruim nesta temporada. Entretanto, aqui temos um grave problema escancarado que acho ser o elo fraco da série; o ator responsável pelo protagonista. A cena da discussão entre ele e Amos no casco da nave é péssima e perde completamente a força pela opção (ou limitação) do ator em transformar a amargura do personagem numa demonstração de ser “durão”, no grito, que é péssima.
O núcleo de Camina vai ganhando corpo mas achei o tempo de tela exagerado para toda a invasão no cargueiro, com além do tiroteio o acidente com a carga, por exemplo. Deveria ter sido uma coisa ou outra. Outro ponto negativo é toda a trama das reportagens feitas para falar “a verdade” do que a Terra está passando com os ataques; tudo fica extremamente piegas e resumido a uma cena da personagem da pastora Anna falando obviedades.
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