Territórios em Conflito. São Paulo: espaço, história e política – Raquel Rolnik
Data de Lançamento: 2017 – Minha Edição: 2017 – 278 páginas
Apesar de uma certa importância política em alguns momentos na colônia e no Império, São Paulo foi por 350 anos uma pequena vila, reduzida ao que ficou conhecido como o “triângulo” – região atual entre as estações Sé, São Bento e Anhangabaú. Foi apenas no século XX que ela cresceu como cidade, e, em menos de 100 anos, se tornou a quarta maior do mundo. Esse processo de crescimento tão rápido, como não poderia ser diferente, foi caótico e conflituoso e é isso que a autora aborda neste livro.
A obra é dividida em três partes bem distintas: a primeira é uma panorâmica rápida da história da (falta de) urbanização de São Paulo, falando sobre os primórdios da cidade, mas com maior foco no século XX; a segunda, textos de intervenção – ou seja, debatendo problemas contemporâneos, determinadas leis e obras, e tomando partido – escritos em veículos de imprensa entre 2011 e 2016, e é muito interessante como forma de ver “in loco”, vamos dizer assim, o trabalho do urbanista; a terceira, de textos acadêmicos de balanço e proposições para o futuro da Paulicéia.

Pelo seu formato, são realmente panorâmicas sobre vários temas referentes ao urbanismo e história da urbanização, uma introdução às características da nossa cidade. E não teria como fazer de outra forma, afinal entender a tão bizarra malha urbana da maior cidade do hemisfério sul não é, nem de longe, um trabalho fácil. A leitura é muito rápida e agradável, e com linguagem muito acessível – exceto por um ou outro texto da terceira parte, que são direcionados ao público acadêmico.
Alguma ou outra coisa, como historiador, não concordo, como uma relação entre a deterioração do centro e a construção do metrô; outros momentos parece “ativismo sem causa”, como ser contrária às vagas de garagem em edifícios residenciais, mas, no geral, uma leitura fundamental para entender nossa cidade e seus problemas, e cobrar as soluções mais adequadas.
Excelente (4,5/5)
Uma excelente leitura introdutória, em um amplo sentido, sobre o urbanismo e sua história em são paulo, uma espécie de manual para todos que desejam pensar sobre nossa cidade. Em leitura agradável e acessível.
Cidades auto-construídas: este é um conceito chave para entendermos nossos principais problemas urbanos. Durante praticamente toda a história nacional, desde a colonização (aqui é uma herança portuguesa que percebemos facilmente ao compararmos às cidades dos nossos vizinhos) até a República Velha, as cidades cresciam sozinhas.
Isso é meio estranho, afinal como a cidade cresceria de outra forma? Mas é exatamente este o ponto, com a exceção de algumas poucas ações pontuais, nunca as cidade se preparam para crescer, elas simplesmente cresciam. Donos de grandes propriedades rurais próximas aos núcleos urbanos faziam seus próprios loteamentos e vendiam os imóveis, ou grandes empreiteiras compravam e elas loteavam de acordo com a especulação da região. Até por restrições tecnológicas, pouco havia de urbano nesses novos bairros, sem esgoto, água ou transporte.
Apenas na Era Vargas começou-se a pensar nessas periferias, mas opção foi integrá-las a partir das regularizações. Foi um ganho, mas uma medida provisória que tornou não só permanente como norteadora do crescimento urbano no Brasil, São Paulo em especial. E não é o caso apenas de favelas, há grandes bairros nobres na capital e demais municípios que cresceram assim, apesar das mordomias são bem pouco integrados. São Paulo é o sonho da urbanização Ancap tornado realidade.

Legislação que chega atrasada: algo que é do cotidiano de todas as grandes cidades do Brasil são as políticas de regularizações. Trata-se de integrar à cidade uma determinada região que antes estava a margem das políticas urbanas. Começando uma espécie de “perdão” das irregularidades que encontramos naquelas casas e ruas, ela então deve receber os serviços municipais; tais como água, luz, saneamento, coleta de lixo, transporte, correios e etc.
Embora aparentemente “democrático”, é uma prática catastrófica. Se por um lado as autoridades não multam a população e buscam oferecer serviços, elas também se eximem de prover a regularização verdadeira, tal como com pavimentação, criação espaços públicos, ou construção de conjuntos habitacionais, pro exemplo. No caso da urbanização brasileira, a presença do Estado sempre chega depois, os loteamentos e bairros novos só se tornam parte da cidade depois que estão construídos, e então corre-se atrás para integrar com o menor esforço possível o vizinhança ao resto da metrópole.
A regularização é uma espécie de eufemismo, pois o que ocorre não é reformar o bairro até atender às “regularidades” da cidade, e sim tornar seus problemas regularizados.
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