ABCdário da Revolução Republicana de 1817 – Maria de Betânia Corrêa de Araújo (org.)
Data de Lançamento: 2017 – Minha Edição: 2017 – 116 páginas
No período da Independência, apesar das decisões estarem concentradas no Rio, um grande centro de agitação foi Recife. Palco da Confederação do Equador pouco tempo depois, cinco anos antes do grito do Ipiranga, a capital pernambucana foi o centro de uma revolta não tão famosa, bem mais breve mas muito progressista, pedindo autonomia e República.
“É essa história que é contada por meio de um dicionário de 68 verbetes ricamente ilustrado. Este formato requer um papel mais ativo do leitor; mesmo para mim, que sou da História, meu conhecimento da Revolta era bem raso. Não era o caso de aprender do zero, mas fora o contexto histórico, pouco eu sabia e o livro foi bem competente nesse sentido apesar da minha opção de ler “em linha reta”.

Com isso eu quero dizer ler um item atrás do outro, pela ordem alfabética. E neste caso não há muita coerência na leitura: os personagens, conceitos e eventos não estão nem por ordem cronológica nem temática. O dicionário oferece uma alternativa muito mais interessante: em cada verbete as palavras que levam a outros verbetes estão destacadas, então o leitor pode decidir pular àqueles que estão relacionados um com o outro.
Os verbetes são verdadeiras obras de arte de historiografia, compostos por uma rápida explicação dos autores, uma ou mais ilustrações que são um show a parte, todas belíssimas, e, muito importante, uma fonte da época referente àquela palavra. Somos apresentados a algum texto do período que fala sobre aquele tema ou, melhor ainda, ver a palavra do verbete sendo utilizado em alguma obra de 1817 – que é a forma mais verossímil de fonte para elaboração de dicionários históricos.
Ao final, em uma edição muito bonita, com uma leitura muito agradável, temos uma grande panorâmica do movimento de 1817 em Pernambuco, frequentemente esquecido.

Aliás, esquecido até mesmo em Recife. Consegui o livro no Museu da Cidade, o Forte das Cinco Pontas. O local foi central tanto em 1817 como na Confederação do Equador, entretanto, cerca de 90% do local é dedicado à ocupação holandesa. O que é uma constante na cidade; a imensa maioria dos espaços culturais vivem numa ode eterna aos Países Baixos. É muito triste ver uma região tão rica de história, história de luta por Independência e Autonomia brasileira, ser tomada pela narrativa de que seu auge foi ter sido colônia de outra potência – tão exploradora quanto Portugal.
Excelente (5/5)
Um livro com uma pesquisa impecável, trazendo diversas fontes do período para contar a história deste episódio frequentemente esquecido de nossa história através de uma leitura muito agradável. Não só acessível mas direcionado a não-especialistas, sem perder o rigor acadêmico
Henriques: na época, aproximadamente um terço dos homens negros, escravos e livres, de Recife tinha este nome. Isto porque dentre os líderes da campanha de expulsão dos holandeses do Nordeste, havia um militar negro chamado Henrique Dias. Posteriormente na Colônia os batalhões compostos por soldados negros tradicionalmente passaram a se chamar Batalhões/Regimentos dos Henriques. Em Pernambuco, os Henriques aderiram tanto à revolta de 1817 quanto a de 1824.

Suassunas: os irmãos de Paula Cavalcante de Albuquerque transformaram seu Engenho, chamado Suassuna, próximo à Olinda, em uma espécie de loja maçônica (originalmente locais de discussão das idéias iluministas na França), recebendo várias personalidades locais para esse tipo de discussão. Os encontros foram denunciados por um conhecido em 1801, e o inquérito instalado acabou batizando essas reuniões de Conspiração dos Suassunas, que estaria tramando uma Independência Pernambucana.
Há dúvidas se essa Conspiração existiu ou se foi apenas uma forma de difamar as reuniões sediadas pelos irmãos em seu engenho, e os acusados foram inocentados nos anos seguintes. De toda forma, todos os membros que ainda estavam vivos em 1817 aderiram à rebelião.
Revolta dos Padres: outro nome por qual esta revolução ficou conhecida, devido a suas principais lideranças serem clérigos. Em 1800 passou a funcionar o Seminário de Olinda, que foi uma dos primeiros ensaios se estabelecer uma instituição de ensino superior no Brasil. O contato dos seminaristas com as obras iluministas importadas da Europa desenvolveu neles os anseios revolucionários.
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