Arquivo X – Terceira Temporada
Nos primeiros capítulos do seriado, Arquivo X dava razão ao famoso meme de que os alienígenas ao chegar à Terra em filmes apenas veem os Estados Unidos. Todos os monstros possíveis das várias mitologias humanas estão na América do Norte, e todos os OVNIs são avistados nos céus da Virgínia ou do Kentucky.
Esta terceira temporada fez um esforço muito grande em internacionalizar a trama, especialmente o arco principal. Temos capítulos que vão mencionar os japoneses ou franceses envolvidos em alguma coisa, por exemplo, assim como em episódios avulsos falando da América do Sul ou da colônia chinesa em São Francisco.
Há erros e acertos nesse sentido; como sempre, os norte-americanos reforçam esteriótipos de outras culturas, mas também dá uma amplitude muito interessante a toda a missão e jornada dos nossos protagonistas.
Agradou: internacionalização, conexão das tramas com os protagonistas, capítulos de humor e Sr. X.
Essa internacionalização (e uma “grandização” do enredo) foi uma importante evolução do seriado, que foi muito bem elaborado na temporada, com alguns toques muito bons como os confrontos diretos entre os agentes e os membros do Sindicato; são aparições marcantes e surpreendentes. E a forma como isso sempre toca de alguma forma a vida pessoal tanto de Mulder quanto de Scully é simplesmente uma amostra de genialidade de escrita; mesmo o primeiro sendo muito mais importante para a trama geral, ainda a trajetória da segunda de alguma forma sempre é afetada ou surge de maneira marcante.
Uma grata surpresa também foram os episódios mais voltados para o humor da temporada; seja um humor mais mórbido, como o do emocionante Repouso Final de Clyde Bruckman; ou os mais explícitos, como a história das baratas assassinas ou o meta-episódio do autor que escreve sobre um caso de Arquivo X. As risadas são genuínas em piadas simples mas inteligentes, tal como a sensual doutora fissurada…. em baratas! Embora, houve um excesso de confiança nesse sentido, pois dois capítulos, Sizígia e Pântano, que tentaram puxar para a comédia não foram bem sucedidos – e até de mal gosto, dado o destino do cãozinho de Scully.

Já sem a menor gracinha, em um dos últimos capítulos da temporada, Grampeado, o enigmático Senhor X (que tem esse nome apenas por conta da forma que Mulder o contata) é ao mesmo tempo quem tenta vazar as informações para os nossos heróis e também quem precisa fazer a limpeza e a queima de arquivo. Se o personagem já era interessante na temporada anterior, aqui neste terceiro ano ele brilhou.
Não agradou: complexidade do arco principal.
Se por um lado é muito satisfatório ver os agentes enfrentando uma conspiração global, por outro, esse momento foi o ponto sem volta do seriado em relação à complexidade do arco principal. A trama vai ficando cada vez mais grandiosa e fica difícil acompanhar exatamente como ela vai andando.
Enquanto as relações da conspiração com a trajetória pessoal tanto de Mulder e Scully caminham bem – a amizade do Homem que Fuma com os pais dele, e a abdução dela, que acaba ganhando um destaque nos episódios envolvendo os japoneses são momentos ótimos – o plano de fundo fica cada vez mais confuso.
Os próprios episódios que introduzem a participação nipônica: o segundo em especial, que acaba focando mais em ação, com direito a uma cena e corrida com uma explosão ao fundo, ao final, têm uma opção de revelar não revelando absolutamente nada – como muitas vezes Arquivo X abusou e abusará ainda. Só sabemos que uma das versões é falsa porque é contada por um vilão, enquanto a segunda não passa de uma especulação muito superficial. É uma assinatura do seriado, mas precisa ser algo cuidadoso para não se virar contra os expectadores, especialmente quando a trama começa a se tornar tão grandiosa e cheia de implicações e ramificações

Embora isoladamente não seja ruim – a experiência do capítulo é ótima – as coisas vão se enfraquecendo. Com o tempo a gente nem se lembra mais o que aquelas histórias haviam contribuído com o arco principal, tudo vai meio que se mesclando na memória, você lembra certos conceitos mas não exatamente em que episódio foram apresentados. Isso vai ficando mais constante a partir de agora, pois com as dimensões globais que a conspiração toma, naturalmente, o grande quadro fica maior.
E isso começa a ficar mais agudo a partir dessa temporada; mais para frente parece que começamos a andar um pouco mais de lado que o saudável em relação ao arco principal.
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