“O ano é dois mil duzentos e cinqüenta e oito, e o nome do lugar é Babylon 5“. Uma frase que causa arrepios em todos os fãs da Ficção Científica. Eu particularmente ainda era muito criança na época da exibição original da série, que veio por aqui no finado canal USA com uma grade irregular apenas aos sábados – o bom e velho sábado SciFi, no qual também acompanhei Sliders: dimensões paralelas – e não conseguia apreciar como deveria essa obra que acabou ficando perdida no passado do gênero.
Felizmente consegui ter acesso ao seriado, mas assistir não é uma tarefa fácil – visualmente o seriado envelheceu muito mal. Houve um pequeno retrabalho em 2021 mas não é o que estou conseguindo assistir, e pelo que observei, não houve ganhos grandes. Além da imagem, o seriado à época foi pioneiro em utilizar apenas efeitos de computador (CGI), e eles são ainda muito primitivos. Lembram muito os seriados inteiramente em CGI dos anos 90 (Beast Wars, Guerreiros das Sombras…).
É uma barreira difícil, não vou negar, mas superável e permitirá você a acompanhar uma das maiores obras da Ficção Científica.
Agradou: Pioneirismo e roteiros
Em um mundo onde modelos e miniaturas eram as principais matérias primas dos efeitos especiais e os seriados se organizam em tom episódico, com histórias isoladas em cada semana, uma brava série resolveu revolucionar. Babylon 5 decidiu por empregar apenas computação gráfica em seus efeitos e se estruturou em um único grande arco narrativo.
A sensação de assisti-la é totalmente paradoxal; em visuais é uma série extremamente envelhecida, os recursos gráficos são muito primitivos, lembrando sequência de CGI de jogos de DOS – afinal, foram produzidas por um conjunto de 24 computadores Commodore Amiga; mas em enredo uma série muito moderna. Seu impacto no gênero foi imediato, Deep Space Nine adotou uma estrutura idêntica logo em seguida.

Ainda é um produto de seu tempo – como bom historiador eu digo que não existe nada a frente do seu tempo – o que se deixa transparecer por vários temas noventistas em seus episódios e toda a caracterização da humanidade como os EUA nos Espaço (um mundo que seria descendente de Independence Day, por exemplo). Por outro lado, a estrutura narrativa é a que mais se aproxima do ideal para meu gosto; episódios fechados com elementos conectados entre si contando uma grande história ao fundo.
Qualidade atingida tão somente devido ao ótimos roteiros. Nem todos os episódios são bons – pelo contrário, em especial os mais perdidos nos anos 90, são bem fracos – mas praticamente todos são bem escritos. Adotando a mesma estratégia de suas contemporâneas da Ficção Científica, Babylon 5 costuma estruturar os capítulos em tramas A e B (as vezes C e D); mas, com raríssimas exceções, elas são todas muito bem conectadas e não há coisa avulsa.
A excelência dos roteiros faz com que muito rapidamente confiemos na série; nada é jogado por acaso para nós e nada será uma ponta solta.
Não Agradou: Militarismo, americanismo e ritmo dos primeiros capítulos
Gosto de comparar Babylon 5 não apenas com Deep Space Nine, mas também com Stargate SG1. Contemporâneas apenas em seus momentos finais, as duas séries têm algumas similaridades, embora não acredite que esta não seria a comparação desejada pelos produtores B5. Apesar de se passarem 200 anos de diferença uma da outra, a abordagem das duas acaba sendo parecida – em especial porque B5 nos trás um futuro muito pé no chão, no qual podemos encontrar… ou melhor, nos falta utopias e futurismo para se distanciar.
Mas ainda esse não é o ponto mais comum; e sim o fato que quem organiza as aventuras espaciais dos heróis são as Forças Armadas. O SG1 é um grupo ligado diretamente à Força Aérea americana, e a equipe da Babylon 5 é formada por militares da Força Terrestre – algo de caráter planetário só no nome. A série é totalmente incompetente em dar ares internacionais ao time, a estação é 100% administrada como se fosse pelos militares dos EUA. Até agora não entendi porque não há um embaixador terrestre para negociar com os demais diplomatas; quem negocia também é o comandante da estação? Ele é um embaixador?
Isso não é apenas esquerdismo de minha parte; em vários momentos, mas em especial no capítulo duplo, A Voice in the Wilderness, a trama é enfraquecida devido a essa questão. Se em SG1 tínhamos Daniel Jackson e Samantha Carter como os representantes científicos (e civis), que possuíam seus interesses mais “puros”, de um lado, e o comando militar, que raramente aparecia, com o interesse mais “bruto”, com Jack O’Neil e o próprio general Hammond como intermediários entre os dois campos; em B5 só temos o lado militar da questão.

Dessa forma, os núcleos são apenas dos militares esclarecidos (os protagonistas) contra os militares burros e os civis mesquinhos. Capítulo atrás de capítulo temos políticos que não entendem a nobreza dos atos de Sinclair; os militares não compreendem nada e os políticos não se importam, e isso se repete infinitamente – e enfraquece um seriado tão adulto. E é uma mensagem de fundo direitista (aqui me entrego ao esquerdismo de novo).
Por fim, os primeiro episódios tinham um ritmo estranho; no qual sempre pareciam que eles tinham epílogos, muitas vezes mais de um. Parecia que as coisas iriam terminar, e temos um corte, com uma outra cena, mais um corte em preto, e outra cena… com o tempo foi corrigido, mas era uma sensação estranha.
Melhor Episódio
Babylon Squared – Estou fiquei surpreso com o destino de uma das estações já serem revelados na primeira temporada, e, especialmente, em um único capítulo. B5 é uma série bastante sóbria com relação ao científico do Sci Fi, e é divertido quando eles se deixam entregar a algo mais próximo de Jornada nas Estrelas. Quando escutei Táquions, já sabia que ia gostar desse episódio – e tenho um fraco por capítulos envolvendo encarnações anteriores dos protagonistas (E² é meu capítulo favorito da terceira temporada de Enterprise, e spoiler, Yesterday’s Enterprise é o da terceira temporada de TNG).

O final da temporada, Chrysalis também é excelente, mas os ganchos o deixam um degrau abaixo com relação a algo mais fechadinho – em especial a trama envolvendo, justamente, o casulo. Signs and Portents é um episódio muito importante e muito bom também, entretanto acredito que as visões premonitórias acabem o enfraquecendo um pouco.
Em seguida, o primeiro capítulo, Midnight on the Firing Line, introduz bem a série mesmo não sendo o piloto, mas ainda é muita informação para assimilar e ficamos perdidos. DeathWalker, no meio da temporada, começa despretensioso e se encaminha para uma história bastante pesada e complexa.
Poderiam ser melhores – 1) Believers – apresenta um dilema médico que teria potencial para ser melhor se não esbarasse justamente em seus próprios preconceitos, ao tratar desde o primeiro segundo de tela os alienígenas como ignorantes. 2) A Voice in the Wilderness – apesar de grandioso, o capítulo duplo enfraquece num dos principais calcanhares de Aquiles do seriado; a disputa apenas militar pelo mistério nos privou de uma estória que poderia ser orientada mais pela aventura e ficção científica. 3) The Quality of Mercy – o complexo conceito da morte de personalidade é deixado apenas como plano de fundo para assistirmos ao arco piegas de uma curandeira que não sabe bem o que está fazendo.
Pior Episódio
Born to the purple – Este episódio me fez desistir de assistir na primeira tentativa de mergulhar no universo de Babylon 5. Toda maturidade e complexidade atribuídas ao seriado não estão presentes aqui, que é apenas um amontado de clichês de Uma Linda Mulher. Da mesma forma, logo em seguida, em The Parliament of Dreams, uma trama que poderia ser complexa, envolvendo o simpósio religioso na estação, é desperdiçado num arco cômico sobre a paronia de G’Kar.

Já na reta final da temporada, temos uma dupla episódios muito fracos em sequência. Com a história de um lutador renegado que se envolve em um oculto torneio de artes marciais, temos O Grande Dragão Branco com Jean-Claude Van Damme – quem dera. TKO é um bobagem do começo ao fim, sabendo que não poderia ser violento e nem ir muito longe, é uma perda de tempo.
Em seguida, com Grail, uma trama totalmente sem pé nem cabeça envolvendo a busca pelo Santo Graal que sabe-se lá Deus o porquê passa pela estação espacial – seriam os deuses astronautas?
Os essenciais
Importante repetir que Babylon 5 é uma pioneira série de arco único, então todo episódio possui uma contribuição ao enredo geral e lore da série. Ainda assim, é possível uma visão panorâmica, já que o seriado já envelheceu muito visualmente e assistir ele inteiro acaba sendo apenas para os aficionados.
Todos os selecionados são momentos onde informações chaves são apresentadas, como a introdução do psíquico Bester em Mind War, os Guardiões em The War Prayer, o misterioso papel de Sinclar no final da guerra em Sky Full of Stars, a ambígua posição da humanidade no cenário político em DeathWalker… e assim sucessivamente até a reta final, na qual todo capítulo apresenta uma importante peça do quebra cabeças.
X | Midnight on the Firing Line | Excelente | Melhores |
Soul Hunter | Muito Bom | ||
Born to the purple | Muito Ruim | Piores | |
Infection | Mediano | ||
The Parliament of Dreams | Muito Ruim | Piores | |
X | Mind War | Muito Bom | |
X | The War Prayer | Muito Bom | |
X | And the Sky full of stars | Bom | |
X | DeathWalker | Muito Bom | Melhores |
Believers | Bom | ||
Survivors | Mediano | ||
X | By any means necessary | Bom | |
X | Sings and Portents | Excelente | |
TKO | Muito Ruim | Piores | |
Grail | Ruim | Piores | |
X | Eyes | Bom | |
X | Legacies | Bom | |
X | A Voice in the Wilderness (parte 1) | Muito Bom | |
X | A voice in the Wilderness (parte 2) | Bom | |
X | Babylon Squared | Excelente | Melhores |
The Quality of Mercy | Mediano | ||
X | Chysalis |
Babylon 5
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Um comentário em “Babylon 5 – 1ª Temporada – Uma Série Pioneira”