No início da terceira temporada de Picard, lembro de ver um meme no qual ela era um “cavalo de tróia”, no qual estariam escondidas as oitavas temporadas de a Nova Geração e Deep Space Nine. Acabou não sendo bem por aí; após uma segunda temporada que foi a pior produção já feita em Jornada nas Estrelas, precisou-se fazer de tudo para tentar fazer as pazes com os fãs – o futuro de outras séries está em jogo (neste período, Discovery foi cancelada, vamos nos lembrar).
Isso rendeu mais pontos positivos que negativos, com certeza. Entretanto, acho que foram feitos sacrifícios que não precisariam existir se as temporadas anteriores fossem melhores, e não haveria esse desespero de tentar levantar a série em sua despedida.
Agradou: usando a nostalgia de forma orgânica e respeito pelo conteúdo original.
As primeiras produções do Kurtzman Trek, o período de séries iniciados após o reboot de 2009, lideradas por esse cineasta, eram marcadas por um profundo desrespeito ao material de origem. Emprestando não muito mais que nomes do Classic Trek, havia a noção que estava tudo ultrapassado, dos visuais à narrativa, do arquétipos dos personagens ao lore. Tudo precisava ser atualizado.
Em Discovery isso aconteceu de forma muito intensa, o universo ficcional era praticamente irreconhecível em sua primeira temporada. Mas poderia ser algo justificável, já que era uma série totalmente original. A coisa ficou ainda pior em Picard: tratar-se-ia de uma continuação, mas desprezou totalmente o conteúdo de TNG. Ao final, em meio ao esgoto em que se encontrava com a terrível temporada anterior, os produtores, ainda durante a exibição dos pavorosos episódios finais daquele ano, anunciaram que o elenco original estaria presente na edição final de Picard.
Fiquei com medo mesmo assim; basta ver o que foi feito com Seven of Nine; de uma humana com orientada por resquícios da rigidez borg, para uma justiceira renegada (?). A moda do entretenimento pop da época era a tal de “subversão de expectativas” e personagens frustrados, se você esperava que ela fosse uma grande oficial da Frota, certeza não seria esse o destino. Nesse contexto, o que será que aprontariam com a tripulação da Enterprise D?

A respost, felizmente, a foi boa, com exceção do desvio de Bervely Crusher, justamente o qual movimenta a trama, devido ao nascimento do seu filho, todos estavam onde esperávamos, continuando seu trabalho na Frota – inclusive Seven, agora. As reviravoltas e mudanças foram introduzidas de forma orgânica sem abusar da “subversão”. O dilema de Seven, sim uma brilhante oficial, como gostaríamos, mas em ser reconhecida por seu nome de humana ou de borg, é um perfeito exemplo de como manter a personagem de forma esperada, mas ainda assim com questões problemáticas.
Apostando na nostalgia, precisou-se inventar desculpas para reunião de outros antigas personagens e vermos cenários familiares. E, no geral, foi feito de forma orgânica. A primeira visita ao museu da Frota se encaixava perfeitamente na estória, como meio de buscar um dispositivo especial para a nave. Assim como o arco de (mais uma) ressureição de Data, também foi legal e rendeu um duelo “mental” fantástico.
Ainda assim, apesar dessa organicidade em conectar os pontos e basear o enredo na nostalgia gerar uma temporada muito regular, sem nenhum episódio ruim; por outro lado, não se permitiu voar longe e também não tivemos nenhum grande episódio, com a série seguindo com o freio de mão puxado pelo fanservice.
Não agradou: enredo com cara de filme e fanservice exagerado.
Os primeiros episódios da temporada foram de muita desconfiança, não apenas porque a temporada anterior foi horrível, mas também porque esta aqui começou com ritmo parecido. Ficamos os quatro primeiros episódios presos numa mesma estória e num mesmo cenário, acumulando “mistérios”, com direito a uma cena pra lá de estranha de Beverly Crusher olhando para a câmera sem dizer nada (parecia falta de orçamento para mais um ator com fala), apenas para garantir um gancho.
Ao final da temporada fez mais sentido: esta edição teve um ritmo narrativo de filme em três atos 1) a luta na nebulosa, 2) a luta contra os metamorfos e 3) a luta contra o real inimigo. Particularmente, uma opção que está popular no momento, mas não me agrada – faça-se um filme então. No caso específico de Picard, o que ficou mais latente como problema, foi como o terceiro ato, referente aos grandes vilões, foi muito apressado. Uma série de pontos de interrogações ficaram aos expectadores nos últimos dois episódios – e conexão entre os metaformos e seus manipuladores foi totalmente frágil, para dizer o mínimo.
Perdeu-se espaço para desenvolver mais o lore de todos aqueles personagens que foram introduzidos ou reintroduzidos nesta terceira temporada. O primeiro ano de Picard, se muito fraco, teve um cuidado de criar todo um contexto referente aos Romulanos após a destruição de seu planeta (em ST09), que era muito interessante – o ponto fraco era a relação disso com os sintéticos e os borg. Na segunda temporada, foi tudo errado, vamos fingir que não houve.

E, nesta, houve a sensação de desperdício dos personagens e até mesmo daquele contexto: o que houve com a Enterprise F? Porque Ro Laren aparece em um único episódio? A Sirena desapareceu? Como Seven virou comandante tão rápido? Por quê não uma história mais elaborada e mais falas para Capitão Shaw, que ficou relegado à tiradas sarcásticas? Uma sequência de perguntas e coisas que poderiam ser melhores abordadas se acumula.
As raízes estão, primeiro, na estrutura narrativa de longa metragem, que inibe muitos desvios no caminho, e segundo, no foco no fanservice e na nostalgia. Depois de temporadas péssimas, Picard tentou desesperadamente fazer as pazes com os fãs, trazer todo o elenco principal de TNG de volta foi o primeiro (e desejado) passo; apresentar novamente os metamorfos, legal; dar uma nova ressureição para Data e seus irmãos, bom, fez sentido… mas a bola de neve foi se acumulando chegou até ao ponto da Enterprise D voltar a ativa.
Queríamos ver tudo isso, mas também coisas novas. Se antes havia o meme de que esta seria a oitava temporada de TNG e DS9, no final não foi uma coisa nem outra: os metamorfos eram só um intermediário e os personagens da Nova Geração continuaram sem desfecho.
Outras coisas pontuais que me incomodaram:
- O arco de Raffi e do atentado terrorista – entendi que foi diversionismo, mas as repostas que ela conseguiu com a ajuda de Worf (o envolvimento dos Metamorfos) também foram obtidas pela tripulação na Titan sem a ajuda deles. Ficou algo inócuo.
- Enterprise G – Além de nos privar uma estória sobre a Enterprise F (que acaba por se tornar a menos significante das Enterprises), me pareceu mais uma coisa forçada. Além de mexer, de graça, na cronologia. Em Azati Prime, da quarta temporada de ENT, estabelece-se que no século XXVI existirá, em uma linha do tempo alternativa, a Enterprise J, uma nave gigantesca que lutou contra a invasão dos construtores de esferas antes da Guerra Fria Temporal. Só há agora espaço para duas naves, H e I, em duzentos anos.
- Apagamento dos personagens anteriores – esta terceira temporada quase foi um reboot do seriado. Apenas Raffi, dentre os originais se mantiveram, e ainda de forma muito marginal, sem ela a história seria totalmente igual. Mas o que houve com a Rainha Borg do bem na pele da Dra. Jurati? E com Laris? Juntando-se com a ressureição de um determinado ser, é como se todas as temporadas anteriores fossem jogadas no lixo. Elas até mereciam isso, mas já que assistimos àquela porcaria, merecíamos conclusões.
- Rogue Picard – Pela terceira temporada consecutiva, por motivos, diferentes o protagonista é obrigado a agir por fora dos canais oficiais da Frota. Não é que a temática do seriado seja que Picard abandou a frota permanentemente; mas sim que todo início de edição patina-se e acham uma desculpa para ele ter que agir como rogue agent.
- Acendam as luzes – Toda a temporada foi escura demais, não apenas em iluminação, mas em toda a direção de arte. Inclusive nos uniformes, que são modificados entre um episódio e outro para modelos mais escuros ainda em alguns personagens.
- Cena pós-créditos – recurso que já está batido e deveria voltar para o fundo do baú. E ainda é usado de maneira idiota, com a ressureição de um personagem o qual a série gastou toda uma temporada para matar.
Episódios
(títulos em português retirados do catálogo do Prime Video)
S03E01 – A Nova Geração – Pelo terceiro ano consecutivo, Picard deseja viver sua aposentaria em paz e pretende fazer uma viagem com a sua nova namorada, a romulana Laris. Entretanto, ele é contatado pela Dra. Crusher, que, por alguma razão misteriosa, está vivendo solitária nos confins da galáxia e ainda sendo perseguida por uma civilização ainda não determinada. Para ajudar sua amiga, o Almirante se reúne com o Capitão Riker e inicia sua aventura final.
Após o fracasso retumbante da última temporada (e o baixo nível geral do seriado), nitidamente a produção tentou apelar para uma abordagem mais “fan-friendly“, mais amigável, querendo dar aos fãs o que eles gostariam de ver; a começar pelos primeiros segundos de tela, que emulam os créditos iniciais dos filmes. Isso é legal, claro, e, em especial, acho que todo mundo realizou o sonho de ver Seven of Nine como uma oficial da frota.

Ainda assim, é digno de desconfiança, iniciando pelo título, que não faz muito sentido a não ser funcionar como um fan-service de falar “olhem!! agora sim TNG terá uma continuação, esqueçam tudo o que se passou“. Da mesma forma, é a terceira temporada consecutiva em que é necessário fazer as coisas sem a Frota saber.
Nesse sentido, apesar de agradável, de ser bom veros antigos personagens retornando a tela e mostrar o que queremos ver, ainda tenho ressalvas de ser apenas uma temporada tão fraca narrativamente quanto as demais, com as mesmas premissas e caminhos, apenas recheada desse presentinhos aos fãs. E aí, qualquer semelhança com o terceiro filme da trilogia sequel de Star Wars não será mera coincidência.
Muito Bom (4/5)
S03E02: Encerrar – Picard e Riker estão na nave médica da dra. Crusher, tentando ganhar tempo para sobreviver à invasão (e ao petulante filho de sua amiga), enquanto Seven of Nine tenta convencer o capitão Shaw a arriscar a Titan para resgatar os velhos oficiais.
A trama de Raffi, que nem havia citado na sinopse anterior ganha um fôlego para ser palco da introdução de um antigo personagem de TNG que volta a ativa. Ainda acho acho bem fraquinho e sinceramente essa personagem é a mais dispensável do seriado; gosto da atriz desde Lei & Ordem SVU (que sempre sofre de Typecasting, para alguém com personalidade problemática), mas seu arco continua andando em círculos.
O seriado volta a apresentar problemas de ritmo; o episódio é divertido e tenso por todo o tempo, entretanto, a situação já era algo que deveria ter sido resolvido neste episódio. A trama principal fica amarrada com os mesmos dilemas de sempre: uma vilã que fala demais, e os protagonistas tentando antecipar a reviravolta final – que culmina numa cena muito estranha com a atriz, Gattes McFadden, totalmente muda encarando a câmera por vários segundos.

Ao final você sai com um gosto amargo que as coisas vão se arrastar mais do que o necessário e a perseguição continuará a ocorrer.
Bom (3/5)
S03E03: 17 segundos – Perdidos dentro da nebulosa, nossos heróis tentam de toda a forma conseguir escapar de Vadic, mas são constantemente surpreendidos por armamentos cada vez mais poderosos da vilã. Enquanto isso, Raffi, acompanhada de Worf, tenta obter mais informações sobre o atentado com a arma de portal contra a Federação.
Como havia “previsto”, no capítulo anterior, a solução do primeiro episódio ainda não foi resolvida e continuamos com os mesmos cenários desde os primeiros minutos do seriado – que vão continuar também adentro do quarto episódio. É um outro estilo narrativo, tudo bem entendo, mas são apenas 10 semanas no total; e Picard já é um seriado cronicamente problemático em ritmo.
Especialmente porque a trama continua andando a passos de formiga, agora Beverly acordou e finalmente há a conversa sobre seu relacionamento e seu filho – coisa que poderia ter rolado antes. Da mesma forma, continuamos não sabendo o porquê da perseguição contra ela e Jack. E, ainda, as inserções do núcleo de Raffi e Worf são tão pontuais e curtas que pouco ajudam na compreensão – a identidade dos reais vilões acabou sendo revelada na Titan antes da descoberta deles.

O capítulo em si não é parado, há algumas boas reviravoltas, como uma troca de comando, a repulsa da tripulação por nossos heróis, e a discussão entre os antigos oficiais – assim como a inserção da sabotagem cria uma nova linha de mistério durante o episódio. O que chama mais a atenção, é claro, é a descoberta da presença de determinada raça de volta em Star Trek.
Bom (3,5/5)
S03E04: Situação sem vitória – A Titan está literalmente afundando na gravidade da estranha nebulosa que ela se meteu, sem energia suficiente nossos heróis precisam descobrir alguma forma de sair de lá – isso enquanto lidam com o sabotador metaformo que está a solta na nave.
Todo o capítulo é permeado por um bom cenário – no qual, finalmente, a escuridão faz sentido, com a embarcação nas últimas reservas de energia. Gosto muito de situações análogas entre embarcações marítimas e espaciais, quando bem feitas, que é o caso. Um novo inimigo acima dos metamorfos é apresentado e achei um pouco extravagante toda a forma de contato e a coisa meio satânica envolvida, veremos onde isso vai chegar.

Dentro da tensão, há espaço para boas interações entre os personagens em vários bons diálogos – a história de origem do Capitão Shaw faz sentido e se encaixa bem na sua relação com Picard e Seven, mas não é a primeira vez que exatamente o mesmo arco envolvendo os borg é abordado. Da mesma forma, ainda não engoli muito bem a história de Jack Crusher, tudo muito sofrido e triste, mas, de graça, porque tinha que ser assim para dar um drama. Tinha pai e mãe vivos, bem sucedidos, que o amavam ou o amariam – mas, por razões de roteiro, não foi assim que aconteceu.
Lembrando a boa forma do Classic Trek, temos uma análise dos personagens sobre a situação e uma forma de resolver tudo com uma bela pitada de pseudo-ciência, que é pra isso, afinal, que assistimos Jornada nas Estrelas.
Muito Bom (4/5)
S03E05: Impostores – Nossos heróis estão são e salvos após escaparem de Vadic, e agora é esperar pela cavalaria chegar e lidar com as consequências da aventura. Bom, mais ou menos. Assim que o reforço da Frota chega, as coisas ficam estranhas, incluindo o comportamento de uma velha conhecida e companheira de Picard.
O roteiro é bom em equilibrar tensão e explicações, muita ação ao mesmo tempo em que somos apresentados a informações importantes do pano de fundo geral desta edição. A seqüência final, apesar da reviravolta não ser tão inesperada assim, é um crescendo de tensão que sempre me agrada e faz bem aos personagens.
Por outro lado, acho que o episódio acaba usando de algumas muletas; tais quais: 1) o capitão Shaw continua sendo inconveniente – ainda que seu humor seja bastante autêntico, um dos poucos personagens irônicos que funciona bem nesta fase do Trek – 2) o personagem misterioso, Jack, continua tomando ações misteriosas; e 3) todas as “reviravoltas” da reunião entre Raffi, Worf e o gangster são extremamente previsíveis.
O encontro entre Ro Laren e Picard é grandioso (a personagem é muito marcante, mesmo tendo apenas 8 aparições) e os diálogos entre os dois são muito bons, entretanto, poderia termos nos focado apenas nessa desconfiança íntima deles; de aceitação de um ao outro e suas decisões de vida. Infelizmente, perdemos tempão para saber se Laren era uma metamorfo infiltrada. Uma bobagem, e mais uma muleta/clichê utilizado.
A experiência é muito positiva, todavia. Minha única preocupação é a mesma desde os capítulos anteriores, esse episódio que praticamente apresenta a trama da temporada no geral, e estamos na metade. Deveria ser, no máximo o terceiro capítulo; talvez terminemos o ano com um gosto amargo que teria mais lenha para queimar – assim como Ro Laren.
Muito Bom (4,5/5)
S03E06: Recompensa – A Titan escapa da perseguição da Frota e reencontra Raffi e Worf, que possuem a informação de que a resposta para os mistérios de agora pode estar no Instituto Daystorm. Para se infriltrar na mais avançada instituição científica da Federação, eles buscarão ajuda de mais um velho amigo que está rodeado de naves memoráveis.
Será que não daria para chegar num acordo e pedir para que as duas primeiras temporadas de Picard sejam apagadas de todos os streamings do mundo, e os originais físicos, se é que existem, incinerados? Este episódio consegue reintroduzir dois personagens de TNG de forma muito mais palatável e fan-friendly que toda a série até agora. A ideia da terceira ressureição de um personagem foi a mais sensata até agora, e mais orgânica. Gostei também a dinâmica entre Geordi e suas filhas.
Um banho de nostalgia bem feita – ainda estou inconformado que teve naves de todas as séries menos a NX01, absurdo! – e toda a jornada até o museu fez sentido (pegar determinada tecnologia para a nave). Mesmo sendo um episódio mais parado, ainda é uma experiência muito divertida.
Não entendi se a explicação para as alucinações de Jack era aquela mesma, a doença herdada, mas desapareceram. Foi tudo meia boca, e um ponto que acredito que esteja patinando ainda é a força dos vilões, que talvez explique esse determinado desfecho. Os metamorfos estão virtualmente imbatíveis, completamente indetectáveis, capazes de reconstituir membros, dominaram toda a Frota e tem uma nave (que aparentemente já havia sido destruída) com todas as armas possíveis do universo – não poderia ter ainda um infiltrado entre os heróis.
Muito Bom (4/5)
S03E07: Dominion – Após várias tentativas frustradas de conseguir apoio na luta contra os metamorfos infiltrados na frota, nossos heróis decidem mudar a estratégia e atrair Vadic para uma armadilha dentro da Titan. Tudo é bonito no papel, mas um antigo vilão acaba aparecendo na hora H e atrapalhando todos os planos.

Um capítulo de puro suspense e ação do início ao fim, desde a conversa apreensiva com o antigo amigo, ao desfecho inesperado. E o roteiro é muito competente em manter todas essas reviravoltas minimamente imprevisíveis, é claro que a gente sabe que nenhum protagonista vai morrer, mas são momentos importantes e inesperados de virada. O capítulo também é bom em incluir mais algumas respostas, ao explicar a surpreendente origem desses novos metamorfos, mas, por outro lado, patina nesse mesmo tema – seres “normais” estão sendo convertidos em metamorfos? Todos os outros tripulantes da nave de Vadic calharam de estar se disfarçando de outra espécie ou foram convertidos? Aqueles espécimes são de antes ou depois do fim da guerra? Como eles sabem que a Federação teria roubado a cura?
Algumas respostas chegam mas mais perguntas se acumulam; a natureza de Jack Crusher volta a ficar misteriosa – as teorias do momento são de que ele é um Pah-Wraith, os inimigos dos profetas de DS9, mas a impressão é que ele tem um Sharingan mesmo; e o grande vilão, diante a nova origem dos metamorfos, continua mais misterioso.
Ao mesmo tempo, apesar de ter achado convincente o retorno de Data, neste episódio Lore funcionar como o Deus Ex Machina às avessas, foi forçado – por que ele estava conectado ao computador central da Titan mesmo? Ainda não entendi também porque subitamente alguns personagens pararam de usar uniforme (Seven e o Capitão Shaw). Um bom e tenso episódio repleto de ação mas que patina ao dar explicações e em momentos decisivos.
Bom (3,5/5)
S03E08: Rendição – Com Vadic no controle da Titan, nossos heróis precisam tomar medidas cada vez mais drásticas para tentar retomar o controle, incluindo tentar reativar Data e usar as bizarras e inexplicáveis habilidades de Jack Crusher.

O principal ponto frágil deste ato foi o súbito aparecimento de Worf e Raffi (que estão de posse de um inexplicável shuttle com capacidade de camuflagem – o dispositivo Klingon foi transferido da Titan para ele? E a La Sirena?). O arco dos dois, desde o começo, foi bastante marginal e continua mal organizado. Incluindo a capacidade de Raffi de derrotar na pancadaria um grupo de guardas, incompreensível, tal como a infiltração deles na Shrike.
Por sua vez, o ponto alto são as lembranças de Data passadas para Lore; uma inteligente saída para esse conflito e o nascimento de um novo personagem, gostei bastante. A conversa franca entre Troi e Riker também foi boa: profunda e comovente. E, finalmente, a ameaça de Vadic terminar foi um alívio. O grande duelo entre os irmãos robóticos será um dos mais memoráveis da série, mas o resto do capítulo é um tanto simplório – a dupla de “agentes secretos” mata todo mundo que vê pela frente e retomar o controle da nave permite matar o resto (escotilha de evacuação na ponte?)
Bom (3,5/5)
S03E09: Vox – Nossos heróis começam a montar definitivamente o quebra-cabeça da grande conspiração na Frota, e o papel de Jack Crusher nisso tudo. Desesperados, decidem levar a Titan direto até a Terra, local onde centenas de naves “inimigas” estarão reunidas, para tentar contar o que sabem – uma assustadora verdade. Uma véspera de final da série um tanto quanto apressado; com muita informação atrás da outra e situações apresentadas de supetão.
Surpreendentemente inteligente foi a explicação do plano secreto envolvendo o corpo e Picard e a infiltração entre os oficiais da Frota; fiquei boquiaberto. Por outro lado, ainda achando muito extravagantes as conexões envolvendo o passado borg do capitão, que esticam a corda ao extremo; todos os que se recuperam da assimilação são potenciais transmissores, receptores? É que conforme os personagens vão explicando, fica tudo encaixadinho; só um exame mais aprofundado, levando em conta todo o cânon, causa estranheza.
O que me incomodou foi mais uma vez o clichê da grande da grande invenção furada de um almirante na direção de naves autônomas – quantas vezes esse tema já foi utilizado? E também foi algo de supetão, não houve uma preparação para essa invenção do Dia da Fronteira ao longo da temporada ou mesmo neste episódio. Simplesmente estava lá na hora.

Por fim, o retorno de uma determinada nave achei fanservice demais – que é o tom da temporada, tentando reconquistar o público – mas de uma forma mais orgânica, já que o museu e a possibilidade de naves antigas retornarem já era uma bola levantada previamente. Claro que seria mais sóbrio utilizar alguma outra que não tivesse sido destruída, como a Voyager ou a Defiant (São Paulo), essa última até faria mais sentido por ter uma tripulação reduzida e ter uma característica mais bélica.
Muito Bom (4/5)
S03E10 – A Última Geração – No comando da sua velha e honrada e amiga, Enterprise D, a tripulação original de TNG segue em velocidade máxima para a Terra tentando impedir a destruição da Federação. Entretanto, no meio do caminho eles encontram um moribundo cubo borg escondido na atmosfera de Júpiter.
O cerne da ação do episódio é muito bem organizada; temos dois núcleos, um “original” de Picard lutando como pode na órbita da Terra, e o original de TNG atrás da origem do sinal borg. Uma pergunta sempre surge em variados momentos de Jornada nas Estrelas, como que subitamente naves operadas por centenas de pessoas conseguem batalhar em grande desempenho com meia dúzia de pessoas, é o caso da Titan e da Enterprise D, mas vamos deixar para lá.
Tudo é bem coordenado e interessante, nos aspectos espaciais, as manobras dentro do cubo borg à lá Estrela da Morte II são maravilhosas, assim como no corpo a corpo, com a retomada da Titan com as criativas armas de transporte. A solução final é bacana também, um aspecto mais íntimo dos personagens – embora a passagem de tempo da temporada seja confusa, seria o suficiente para criar esse laço entre Jack e Jean Luc?
Ainda assim, esse esqueleto do episódio aguenta muito bem. Os variados problemas estão presentes nas explicações e conclusões.

O cubo borg habitado por cadáveres é um cenário maravilhoso, mas de onde surgiu essa turma? Quem os derrotou? O que Picard fez que a rainha menciona como envenenamento? Os super-metaformos tão ameaçadores eram apenas intermediários? Porque tinham tanto medo dos borg naquele estado? Diferentemente do episódio anterior, que, apesar de esticar muito a corda, as coisas se encaixavam, aqui as pontas soltas se acumulam – não vou nem comentar a ressurreição de um determinado personagem (mais um renascido) no pós-créditos (e pós créditos no final da série?).
Aliás, é nesse ponto que vemos todos os problemas principais do seriado e da temporada. A trama, que na realidade, tem cara de um roteiro de filme, dado o espaço de tempo e situações diminutas, foi estruturada em possibilitar aparecer os personagens e referências de TNG; colocando eles e depois preenchendo com um enredo de fundo. Não é um mal por si só, mas acaba virando quando, no caso da Enterprise D, houve um filme (Generations) criado para que se passasse o bastão da Enterprise A, para a B, para a D e para a E. E quando Q revive, toda uma temporada apenas para dar sentido a sua morte (mal feito, ainda assim), e agora tudo é jogado para o alto.
A sorte dos produtores, é que estávamos carentes de ver justamente esses rostos e cenários familiares, e as várias perguntas sem respostas e fanservice barato se tornam pequenas perto da diversão proporcionada.
Muito Bom (4/5)
Melhor episódio
Impostores – Após quatro longos episódios com um cenário e tema repetitivos, este quinto capítulo nos presenteia com a reaparição de Ro Laren e finalmente abre o enredo de fundo, o que estávamos precisando. A conspiração e a trama principal da temporada são, finalmente, reveladas e isso conquistado através de um grande ritmo, com bastante tensão e uma sequência final muito boa. Infelizmente, depende muito de várias muletas e clichês para se manter tenso, incluindo perder um tempo precioso de Ro no episódio com um mistério inócuo sobre ela ser uma infiltrada.

Acredito que Recompensa, vem em seguida, na visita ao museu da Frota, foi uma forma muito inteligente de apelar para a nostalgia de maneira orgânica e soube usar nossa carência de classic trek a seu favor.
Pior Episódio
Encerrar – Se o final da temporada pecou em forçar no fanservice, o início pecou, justamente, no que havia de pior nas temporadas anteriores de Picard; no ritmo. São 4 longos episódios protelando exatamente a mesma situação e cenário; sem revelar muita coisa, apenas acumulando mistérios. Este segundo capítulo, foi o mais fraco, ao meu ver, pois é centrado totalmente em enrolar por mais episódio todos os mistérios e questionamentos levantados pelo capítulo anterior.
Muito parecido também, 17 segundos, vem na sequência e continua não resolvendo e enrolando o mesmo cenário iniciado na estréia da temporada – incluindo a péssima explicação do Holodeck funcionar naquele momento, que até já existia em VOY, mas não deixa de ser idiota.
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