Apontamentos sobre a teoria do autoritarismo

Apontamentos sobre a “Teoria do Autoritarismo” – Florestan Fernandes

Ano lançamento: 1979 – Minha Edição: 2019 – 165 páginas


Vencido o século XX, com a promessa de felicidade absoluta ao vivenciarmos o que seria o Fim da História, os regimes autoritários passaram se encarados como coisas do passado, totalmente superados – na retórica citada de Fukuyama ou na Samuel Huntington, eles eram anomalias causadas pela Guerra Fria. A promessa não durou muito em vários aspectos, mas nesse tema, já avançados dentro do Século XXI, percebemos que para cair em novos governos ditatoriais não precisamos de muito.

Como explicar esse novo cenário de recrudescimento das democracias burgueses mesmo sem um inimigo em comum e atentando contra esses regimes? A presença Chinesa, apesar da propaganda, não tem a menor correspondência com a União Soviética. Ela é uma concorrente comercial do grupo da OTAN, não política. Para responder este questionamento, temos aqui um clássico justamente daquele período de quando a maior parte do mundo era governado por ditaduras.

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Condição Artificial

Condição Artificial – Martha Whells

Tradução: Laura Pohl – Editora: Aleph

Ano de Lançamento: 2018 – Minha Edição: 2025 – 233 páginas


Livre de suas amarras computacionais, contratuais e morais, o nosso Muderbot decide finalmente tomar as rédeas da sua vida artificial e vai em busca de respostas sobre seu passado nebuloso no segundo livro da série Diários de um Robô Assassino. Desta vez, ele faz amizade com um transporte científico e cria uma parceria inusitada em sua nova aventura no planeta minerador no qual ele teria se voltado contra um grupo de trabalhadores.

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Lênin: uma introdução


Lênin: uma introdução – João Quartim de Moraes

Ano de Lançamento: 2024 – Minha Edição: 2024 – 139 páginas


Depois de figuras míticas ou religiosas, o russo Vladmir Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo Lênin, foi um dos seres humanos mais influentes, senão o mais influente, da História. Sua capacidade como intelectual e como político não encontram paralelo com mais ninguém, ao menos nos tempos contemporâneos; em sua curta vida de 53 anos, escreveu obras que continuam sendo discutidas até hoje e foi o líder da maior revolução no maior país que a Terra já viu.

Diante de um contexto como esse, nada mais necessário um livro de introdução a sua vida e obra, escrito pelo cientista político João Quartim de Moraes, professor da Unicamp.

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Parasite Eve


Parasite Eve – Hideaki Sena

Tradução: Ayumi Anraku – Editora: Darkside

Ano de lançamento: 1995 – Minha Edição: 2025 – 317 páginas


As mitocôndrias são responsáveis pela produção de energia dentro das células, descobertas em meados do século XIX. Entretanto, mais recentemente, também descobriu-se que elas possuem material genético próprio; o que deu força a teoria da simbiogênese, popularizada nos anos 60, na qual um dos principais motores da evolução seria que indivíduos em simbiose se transformariam em novas espécies. De acordo com essa proposta, as mitocôndrias, ou algo que as possuíam, há mais de um bilhão de anos no passado, se uniram a alguma forma de vida que deu origem à fauna e a flora terrestre.

Essa teoria faz com que elas sejam uma das coisas mais fascinantes no estudo da biologia – pelo menos é o que acha o escritor japonês Hideaki Sena. Neste livro, que foi sua estréia na profissão (originalmente ele é um cientista, doutor em farmacologia), o autor cria um drama e um monstro através de extrapolar o papel das mitocôndrias na evolução da vida no planeta.

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Diários de um robô assassino – 1ª temporada – Gen Z, TEA e robôs

Lançado em 2017, Alerta Vermelho, de Martha Wells, foi um fenômeno; arrebatando todos os prêmios de sua categoria – em especial, o Hugo e Nebulla. As vitórias de tão nobres cerimônias foram encaradas com certo ceticismo por parte do público por achar a obra curta e simplória demais; ela conta da estória de um robô de combate que consegue se rebelar do sistema, mas ele, mesmo assim, decide manter sua vida medíocre como segurança.

Mas precisamente nisso está o que conquistou os críticos e o demais leitores; é uma obra muito atual, na minha avaliação, pois pega exatamente as principais frustrações da geração Z com sua vida adulta. Isso colou tão bem que, em pouco tempo a série de livros, que já conta com 7 livros, recebeu sua adaptação televisiva em através do Apple TV, e soube manter a mesma essência dos livros.

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O Assassinato de uma Nação

O Assassinato de uma nação: como os Estados Unidos e a OTAN destruíram a Iugoslávia – Michael Parenti

Tradução: Clóvis Marques – Editora: da Vinci

Ano de Lançamento: 2002 – Minha Edição: 2023 – 238 páginas


Apesar de ter sua origem na I Guerra Mundial, fundado originalmente como o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, a Iugoslávia ficou associada ao Socialismo, implantado no país após a expulsão dos nazistas pelos Partisans. Justamente por isso, seu desmembramento foi associado ao colapso desse regime; e a península balcânica foi palco de guerras, guerras civis, limpezas étnicas, bombardeios e todo o tipo de infortúnio que advém desse cenário.

Entretanto, longe desse estigma que marcou o final de sua história, a Iugoslávia foi um dos modelos mais bem sucedidos, estáveis e democráticos de Socialismo, com uma grande organização através da autogestão. Além disso, foi uma da principais lideranças das relações internacionais do século XX, ao encabeçar o movimento dos não-alinhados. Neste livro, o cientista político estadunidense Michael Parenti, busca demonstrar como essa catástrofe, de Socialismo Democrático para total carnificina, foi fabricada.

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A Revolução Palestina de 1936 a 1939

A Revolução Palestina de 1936 a 1939: antecedentes, detalhes e análise – Ghassan Kanafani

Tradução: Letícia Bergamini Souto – Editora: Expressão Popular

Ano de Lançamento: 1972 – Minha Edição: 2024 – 122 páginas


Um dos lemas iniciais do sionismo era “uma terra sem povo para um povo sem terra“, sendo essa terra, a Palestina, com a formulação se popularizando no início do século XX. Como a região não era um local sem habitantes, o uso dessa frase é polêmica é suscita debates até hoje; mas uma prova de como sim havia um povo com terra na região é a Revolta de 1936-39 dos árabes contra o domínio britânico do local.

Neste pequeno livro, o escritor palestino Ghassan Kanafani faz uma análise dos eventos ocorridos na Palestina a partir de abril de 1936. Quando as forças britânicas prenderam e mataram al Din al-Qassam – um importante revolucionário árabe contra a colonização franco-britânica do Levante – a população palestina irrompeu em uma onda de greves nas cidades e escaramuças contra tropas britânicas no interior, movimento que ficou conhecido como a Revolução Palestina.

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Os Despossuídos

Os Despossuídos – Ursula K. Le Guin

Tradução: Susana L. de Alexandria – Editora: Aleph

Ano de Lançamento: 1974 – Minha Edição: (2ª) 2019 – 379 páginas


Após uma grande revolução de escala planetária, os Odonianos, um numeroso grupo anarquista de Urras, foi exilado em sua lua, Anarres. Ainda que habitável, esse local era uma colônia de mineração e muito pouco fértil, tanto em vida animal e vegetal; o cenário “perfeito” para a tentativa e estabelecer no poeirento planeta um mundo totalmente Anarquista.

Este é apenas o contexto de Os Despossuídos; cuja estória se movimenta quando Shevek, um importante físico de Anarres, decide desertar e mudar-se para um dos países de Urras. Apesar de um movimento voluntário e permitido por ambas as partes, seu gesto é repleto de tensão, pois sua pesquisa pode revolucionar o campo da exploração espacial.

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Star Trek: Strange New Worlds – 3ª Temporada – O Classic Trek desorientado

Quando Star Trek: Strange New Worlds chegou, fiquei muito feliz. Eu, e vários outros fãs, decretaram: o Classic Trek voltou! Veio a segunda temporada, e teve algumas coisa muito boas, mas foi um ano perigosamente medíocre, e, por isso, batizei a resenha como o Classic Trek em perigo. Infelizmente estava certo: a série escapou por muito pouco do cancelamento, mas foi renovada por apenas mais duas curtas temporadas (totalizando somente mais 16 capítulos) e nos entregou um exemplar bem fraco em 2025.

Os problemas que o seriado não só continuaram como foram agravados ou apenas mudaram de direção: se a aparição dos personagens era estranha, ela melhorou, mas o desenvolvimento deles andou de lado; e tivemos mais tempo dedicado a gente de fora da Enterprise que aos protagonistas. Ao mesmo tempo a trama envolvendo os Gorn; sequer entendemos se ela foi resolvida ou não, e, então, passamos por uma série de capítulos usando de recursos surrados e repetitivos, com autoplágios e lugares-comuns; sem foco no próprio desenvolvimento seriado. Para termos noção, apenas um dos episódios envolveu realmente a exploração de um novo planeta.

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Viva la Revolución

Viva la Revolución: a Era das utopias na América Latina – Eric Hobsbawm (Organização: Leslie Bethell)

Tradução: Pedro Maia Soares – Editora: Companhia das Letras

Ano de Lançamento: 2016 – Minha Edição: 2017 – 545 páginas


A América Latina é “um continente feito para minar a verdades convencionais […] Ela nos obrigou a encontrar sentido no que a primeira vista parece implausível. Ela proporciona o que as especulações contrafactuais jamais poderiam fazer, ou seja, uma gama genuína de resultados alternativos para situações históricas.” (p. 500) São algumas das palavras de Hobsbawm para resumir seus estudos sobre nossa região, em sua autobiografia, parcialmente reproduzidas aqui.

Apesar de nunca se considerar um estudioso do continente – para quem frequentemente se depara com sua obra, ela só começou a figurar em seus principais livros em A Era dos Extremos – sempre foi um simpático assumido dos Latinos, e, especialmente dos brasileiros. Ao menos é que nos testemunha Leslie Bethell, seu amigo e organizador desta obra, e, ele sim, grande especialista em história da LATAM.

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Muito além do grid

Muito além do gridRenaldo Leme e Alfredo Bokel (org.)

Ano de Lançamento: 2024 – Minha Edição: 2024 – 429 páginas


Algumas pessoas são capazes de ter tanta relevância e exposição em seu trabalho que conseguem se tornar sinônimos da sua profissão, no caso da cobertura da Fórmula 1 no Brasil, Reginaldo Leme, jornalista que cobre a categoria na desde os anos 70, é um exemplo disso. Originalmente pelo jornal e rádio, nos anos 80 estabeleceu-se como principal comentarista do esporte na TV Aberta – e ocupa essa posição até hoje [2025].

Neste livro de memórias, o jornalista recompõe essa trajetória tão famosa e conhecida que se mistura com a história da Fórmula 1 no Brasil. O que não necessariamente é bom.

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Andor (2ª Temporada) – O clímax de Star Wars na TV

Quando terminei de assistir à primeira temporada de Andor, eu estava descreditado. Como poderia ter saído algo tão bom e tão assim da fábrica de enlatados de Disney? E fiquei desconfiado… um raio não cairia duas vezes no mesmo lugar – mas caiu. A segunda temporada de Andor conseguiu ser ainda melhor que a primeira.

Com um formato não tão comum, esta edição correu com o tempo e fez a passagem de tempo dos 5 anos até a Batalha de Yavin com saltos de três em três capítulos. O início e o final ficaram um pouco mais soltos – na verdade, conectados com a temporada anterior e depois com Rogue One – mas o centro desta edição foi o Massacre de Ghorman, um dos eventos centrais, desde o antigo Cânon, para a escalada de repressão do Império.

E esse miolo contando a tragédia naquele planeta, simplesmente, foi o ápice de tudo o que já foi produzido de Star Wars na TV. Depois de bombas como Boba Fett, Ashoka e A acólita – a ainda a queda de O Mandaloriano – é muito revigorante ver que ainda dá pra fazer algo bom com Guerra nas Estrelas. Aliás, bom, adulto e relevante; com uma trama complexa e diálogos simplesmente maravilhosos.

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R.U.R.

R.U.R. (Os Robôs universais de Rossum) – Karel Capek

Tradução: Erick Fishuk – Editora: Aleph

Ano da Lançamento: 1920 – Minha Edição: 2024 – 253 páginas


A origem das palavras é o campo de estudo da etimologia, normalmente traçando suas raízes em idiomas como grego e latim, no caso do português, por exemplo. Recentemente, com o advento da tecnologias de mídia e informática, as palavras de origem inglesa fazem parte do nosso vocabulário – e por sua vez de seus ancestrais nas línguas germânicas e nórdicas. Uma dessas palavras seria “robô“, associado à trabalhadores mecânicos ou processos automatizados. O curioso é que, na realidade, sua origem é tcheca e remete a este livro.

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As Correntes do Espaço

As Correntes do Espaço – Isaac Asimov

Tradução: Aline Storto Pereira – Editora: Aleph

Ano de Lançamento: 1952 – Minha Edição: 2022 – 297 páginas


Isaac Asimov estava doido por escrever ficção científica com base em analogias históricas no início da sua carreira – talvez explique por que gosto tanto dele. Com a trilogia da Fundação, a alegoria era sobre a queda do Império Romano; em Pedra no Céu, com a rebelião dos zelotes; em Poeira de Estrelas, relativo a invasão mongol da Europa; já por aqui, talvez a mais aguda delas, com a estória de Florina, um planeta duramente explorado pelo vizinho Sark. Ambos habitados por humanos, tais como nós, oriundos da Terra.

Um espaçoanalista – algo próximo de um astrônomo – está desaparecido. Isso imediatamente depois de ele ter avisado as autoridades locais de que Florina estava em uma ameaça iminente de total destruição, sem conseguir explicar exatamente sua natureza. Este planeta é o único local no universo conhecido em que a misteriosa substância chamada kyrt pode ser extraída. Trata-se de uma espécie de celulose, sendo usada para uma série de variedades, mas especialmente roupas, e se tornou uma das mercadorias mais valiosas da galáxia e rendem uma fortuna aos sarkitas.

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Poeira de Estrelas

Poeira de Estrelas – Isaac Asimov

Tradução: Aline Storto Pereira – Editora Aleph

Ano de Lançamento: 1952 – Minha Edição: 2022 – 299 páginas


Depois dos contos da Fundação – transformados em uma trilogia mais adiante – que contavam o declínio da instituição que dominou toda a galáxia conhecida, Isaac Asimov deu continuidade à sua saga sobre o Império Galáctico após publicar Pedra no Céu, que contava a insatisfação da Terra de fazer parte dele. Entretanto, e aí sempre está a genialidade que separa os autores comuns dos imortais: ele não vai no óbvio. A série Império não fala sobre esse grande reino, e sim sobre sua formação.

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